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Ueslei Marcelino/Agência Reuters
Prezado(a) leitor(a), O inspirador desta revista, Darcy Ribeiro, recebeu uma emocionante homenagem dos índios que habitam o Alto Xingu. O milenar ritual do Kuarup foi dedicado a ele. Em carta, Paulo Ribeiro, sobrinho do fundador da UnB, conta como foi a cerimônia
O ÚLTIMO ADEUS a DARCY Darcy Ribeiro completaria 90 anos em outubro. Colecionou ao longo da vida prêmios e reconhecimento. Vaidoso, falava de cada um deles com carinho, respeito e gratidão. O mais singular deles foi o Kuarup, realizado pelo povo yawalapíti, no Alto Xingu. Junto com o Marechal Rondon, Eduardo Galvão e os irmãos Villas-Bôas, Darcy foi um dos autores do projeto de lei de criação do Parque Indígena do Xingu. Por dez anos, atuando como antropólogo e etnólogo, Darcy viveu entre diferentes etnias do Pantanal e da Amazônia, com o propósito de salvá-las. Foi graças à criação do Parque que o povo yawalapíti, à época com 12 membros, não foi extinto. Os povos xinguanos acreditam que num dia negro, quando apenas os vagalumes iluminavam o mundo, uma mulher deu à luz dois filhos: o sol e a lua, gêmeos em forma de gente. Quando a mãe morreu, o sol decidiu homenageá-la com um ritual em que a alegria e o lamento andassem de mãos dadas. Assim nasceu o Kuarup. Desde tempos imemoriais, sempre que um índio célebre morre e,
revista de jorNalismo cieNtífico e cultural da uNiversidade de Brasília
O tronco que foi a última morada de Darcy nesta terra está exposto no Memorial Darcy Ribeiro, o Beijódromo, construído em 2010 para dar continuidade aos projetos do professor, prosseguir as suas lutas. Darcy continua responsabilizando a cada um de nós, seus multiplicadores, a tarefa de fazer o Brasil dar certo. Paulo Ribeiro Presidente da Fundação Darcy Ribeiro
Nº 11 · juNho e julho de 2012
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Como meninas e meninos aprendem a viver num mundo que harmonize crescimento econômico e preservação ambiental
ISSN 2176-638X
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de vez em quando, um respeitável homem branco, ele ganha esse ritual fúnebre como homenagem. Acredita-se que, enquanto os parentes e amigos “choram até a tristeza secar”, a alma do morto retorna e encarna no tronco de madeira kuarup, de onde segue para os céus. Assim, este ano, os índios libertaram Darcy de todos os problemas que ainda os afligem. Um último carinho para sua alma e o desejo sincero que ela, um dia, habite um novo ser, um novo índio: íntegro, dono de todo o potencial de beleza, força e simplicidade que Darcy, homem branco, um dia vislumbrou.
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