Darcy Nº 15

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RefleXão

O trabalho de mestrado também permitiu à pesquisadora Fabiana Urani desenvolver um senso mais crítico quanto ao ensino de ciências no Brasil. Índices como o Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), com base em números de 2012, apontam a estagnação da educação científica no país — a média nacional na prova de ciências se manteve em 405 pontos nos exames de 2009 e 2012, por exemplo. Nos últimos seis anos, o índice mostra que o Brasil foi o 39º em crescimento nas notas em ciências. Países como Albânia e Cazaquistão avançaram mais rapidamente. A professora ainda acredita que esses resultados traduzem a falta de interesse dos alunos pela disciplina. Outro exemplo da deficiência do ensino científico no Brasil é o baixo número de cientistas no país: pouco mais de 128 mil, segundo levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnologia (CNPq), em 2010. De acordo com a orientadora Patrícia Fernandes, a metodologia atual de ensino sufoca a curiosidade natural da

criança, desestimulando o interesse espontâneo pela disciplina. “Parece que hoje a escola está a serviço de uma instituição superior. Ensinamos ciências para a universidade, o que tira do estudante a escolha de ser outra coisa que não universitário”, analisa a especialista. Os laboratórios, que deveriam estimular a experimentação, nem sempre cumprem esse papel. “Na sala, as crianças sentam e só absorvem o conteúdo que o professor joga sobre elas. Nos laboratórios, elas só podem assistir e, quando participam, apenas misturam elementos como se fossem receita de bolo, sem entender como a reação que acabaram de ver aconteceu.” Perceber que os alunos de fato aprenderam, para a pesquisadora Fabiana Urani, é o melhor retorno que se pode receber. “É uma alegria muito grande e enormemente gratificante perceber o carinho dos alunos, ver que aquilo ensinado foi útil, de alguma forma, na vida deles”, conta, emocionada. Ela garante que continuará ensinando e pretende seguir os estudos na área de ciências, emendando com um doutorado. “Não tem jeito, sou professora por vocação.”

BRasil e df no Pisa O Programa Internacional de Avaliação de Alunos, elaborado pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) desde o ano 2000, é repetido a cada triênio, com o objetivo de melhorar políticas e resultados educacionais. distrito federal | Nos resultados de 2012, o Distrito Federal obteve 422 pontos — acima da média nacional, que foi de 402 pontos. A capital federal também teve o segundo maior desempenho em ciências, com 423 pontos, ficando atrás apenas do Espírito Santo. No Pisa de 2009, a média do DF foi de 439. Em 2006, foi 447. Apesar da queda nos últimos anos, o DF apresenta a maior média no índice dentre as unidades da federação. Brasil | O país registrou aumento de apenas um ponto entre os exames de 2009 e 2012, e ainda é um dos últimos no ranking global. Ficou na 58ª posição. Na prova de ciências, os estudantes brasileiros marcaram 405 pontos, repetindo o desempenho do último exame. No índice de 2012, 61% dos estudantes ficaram no patamar de “baixo desempenho”. Os alunos demonstraram capacidade de apresentar apenas explicações científicas óbvias e seguir evidências explícitas.

A pesquisadora Fabiana Urani catalogou as experiências executadas com os alunos em um módulo didático, disponível na internet. Para acessar, escaneie o QR Code acima.

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