Continente #129 - Naïf

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con especial ti nen te reproduções: ricardo moura

Página anterior 9 crisaldo morais Além de artista com estilo marcante, ele foi um articulador do naïf no Brasil Nestas páginas

10 militão dos santos Composições em que os folguedos populares são retratados fazem parte do acervo do artista 11 edmar fernandes Representante da nova geração de naïfs pernambucanos, ele começou como ceramista

populares, essa marca também perpassa uma produção pictórica de diferentes peculiaridades. Bajado se consagrou pela alma de cronista. Ivonaldo, 68 anos, tornou-se conhecido por explorar o cotidiano de criaturas pitorescas, num meio rural cheio de frutas, folhas e tons. Crisaldo Morais, por sua vez, deixou uma pintura de veia moderna, na qual habitam figuras míticas e personagens da cultura popular, quase sempre de contornos redondos e angelicais, em cores chapadas e intensas. Mas sua contribuição foi além da tela, tendo sido ele um importante colecionador e articulador dos artistas naïfs brasileiros. Queria erguer um museu especializado no gênero, mas faleceu em 1997, sem concretizá-lo. Se Crisaldo tivesse conseguido montar um museu naïf em Pernambuco, certamente não faltaria acervo: Zé Som, José Barbosa, Chico Laranjeira, Edmar Fernandes, Laura Francisca, Mary Gondim, Alcides Santos, Régis Loureiro, Elza... A lista de artistas pernambucanos é longa e, ao contrário do que alguns acreditam, não estagnou. No Recife, na Zona da Mata ou no Sertão, novos nomes surgem, oferecendo ao público as suas visões generosas do mundo. É do comum que extraem delicadeza e poesia, quase sempre sem grandes pretensões. Cronistas, poetas, repórteres ou contistas visuais, os naïfs transformam arte em narrativa e contam um pouco daquilo que os olhos captam de dentro e de fora, ao seu redor. “Ele fez a posse da primeira mulher a assumir a presidência da República no Brasil. Só um artista naïf pode fazer isso. De certa forma, acho que ele ajuda a contar história”, ressalta Sérgio Oliveira, referindo-se à tela pitoresca que, pelas mãos de Militão, retrata a chegada de Dilma Rousseff ao poder – o artista é representado pela sua galeria Arte Maior, no Recife.

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Para o galerista, Militão é o melhor naïf que possui em seu acervo: “É bemacabado, criativo, cheio de detalhes. Não é qualquer um que faz, não”, avalia. Há quem torça o nariz ao conceito de “bem-acabado”, no gênero aqui tratado, preferindo expressões mais “puras” (outra qualificação controversa) e “espontâneas”, que apresentam formas brutas de construção pictórica. É o caso de Vilma Eid, dona da Galeria Estação (SP), que não gosta do adjetivo naïf e provavelmente não classificaria Militão da mesma forma que Sérgio. Ainda que não se considere uma especialista do assunto, a professora e curadora Maria do Carmo Nino pondera que há talentos dignos de um naïf autêntico. Não têm aprendizado

artístico algum, mas são donos de uma pintura de qualidade. Como exemplo, cita Antônio Poteiro, artista português radicado no Brasil. Por outro lado, ela chama a atenção para os artistas que tentam mimetizar o estilo naïf, figurando-se mais como uma maneira de trabalhar da qual se apropria do que um exemplar genuíno do gênero. Parece compartilhar da visão de Vilma.

AUTOAPRENDIZADO

Trabalhando dia e noite na casa da Rua Cachoeira, na Imbiribeira (Recife), Militão não se preocupa muito com isso e acha que a denominação naïf lhe cai muito bem. “Temos que colocar um nome em tudo. Senão, como identificaríamos as coisas na vida?”,

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