Continente #096 - Cuba

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Tomás Gutiérrez Alea, um dos mais importantes cineastas cubanos

REPORTAGEM

Fatos históricos em seis documentários Para marcar esta efeméride, a Europa Filmes lança no mercado uma série de seis DVDs que podem suprir a curiosidade sobre alguns fatos históricos da ilha revolucionária. Com direção do italiano Gianni Miná, os documentários utilizam entrevistas e imagens de várias épocas, em estilo próximo do televisivo e às vezes certas declarações e imagens são usadas em mais de um deles. Outra crítica que se pode fazer é a de que os documentários se prendem demais à visão oficial (a voz do povo raramente é ouvida, o que talvez tenha ocorrido por restrições governamentais). É de toda maneira uma boa fonte de informação sobre os assuntos retratados. Os títulos são: Um dia com Fidel, Fidel – Revelações sobre Che, Cuba – 30 anos depois, Che – 40 anos depois, O Papa e Fidel, Marcos – Estamos aqui.

o Estado funcionava como agente financiador de experimentos estéticos, que revelaram ao mundo, por exemplo, a montagem expressiva que Sergei Eiseinstein “realizou” em O encouraçado Pontemkim, a teoria do fotograma do mesmo Eiseinstein, apresentada em clássicos como Outubro e A greve e o princípio do câmera-olho, de Dziga Vertov, em seu O homem com a câmera. A aproximação aconteceu, também, quando o diretor russo Mikhail Kalatozov dirigiu Soy Cuba, que serviu como divulgação da Revolução Cubana, e que mostra a Cuba dos tempos de Fulgencio Batista até a chegada de Fidel Castro ao poder. Logo na abertura do filme, vemos soldados americanos em bordéis cubanos dizendo: “Com dinheiro, pode-se tudo em Havana”. Não deixa de ser verdade. No entanto, o que parece premente, em Soy Cuba, é a lucidez com que as histórias vão povoando a tela, fazendo com que tenhamos um painel incompleto e, por isso, encantador dos personagens da ilha. A segunda história trata de relatar o sonho do camponês cubano e a opressão nos canaviais. Acompanhamos, em seguida, uma mobilização estudantil a favor da revolução e, por fim, vemos a transformação de um homem em guerrilheiro. Há no filme o que os marxistas poderiam chamar de um existencialismo mate-

rial, a partir da dor e da constatação diante da vida e dos rumos das forças econômicas. Um dos personagens, ao rezar para que a cana-de-açúcar cresça, pensa: “Antes, eu pensava que a coisa mais assustadora na vida seria a morte. Agora, bem sei. A coisa mais assustadora na vida é a vida”. Embebido de política e, também, de rum e latinidade, o cinema cubano também teve um toque “dos trópicos”. Em Cuba, vemos uma aproximação das temáticas políticas com uma clara vocação para o melodrama. Um dos filmes que mais encenam este tipo de aproximação é Lucía, de Humberto Solás. É de 1968 e, junto a Memórias do subdesenvolvimento, parece ser a “coroação” da chamada Era de Ouro do Cinema Cubano, que tomou os 10 primeiros anos após a revolução. Em Lucía, acompanhamos três histórias de mulheres, nos anos de 1895, 1933 e 1960, que demonstram a vocação feminina para o engajamento de emancipação política. Ao se centrar em personagens femininas, o diretor Humberto Solás acaba tocando em pontos ligados à visibilidade da mulher no cenário latino-americano. O final dos anos 60 marcou a aproximação entre os cinemas cubano e brasileiro. Amigo pessoal do diretor do Instituto Cubano del Arte y Industria Cinematográficos (Icaic), Alfredo

18 x Continente • DEZ 2008

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