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Viver é melhor
Em defesa da Vida,
contra o suicídio
Somente em 2020, os casos de depressão e ansiedade, reconhecidos fatores de risco para a saúde mental, aumentaram mais de 25% em todo o mundo
DA REDAÇÃO
Em 10 de dezembro de 1993, Dia Internacional dos Direitos Humanos, o fraterno convite da Legião da Boa Vontade (LBV) levou, conforme noticiou a Folha da Tarde, 150 mil pessoas ao Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo/SP, para o I Encontro Viver é Melhor!, em grande atuação ecumênica da Instituição. Na oportunidade, sob a liderança de José de Paiva Netto, presidente da LBV, a multidão ecoou a urgente mensagem de perseverança, de modo que a triste ideia de suicídio jamais seja considerada por ninguém, mesmo diante dos maiores desafios.
Defender a preservação da Vida, como há décadas faz a Entidade, é ação mais do que necessária, a qual é fortalecida com a campanha internacional Setembro Amarelo, que incentiva os cidadãos a se manter bem informados sobre o assunto, a buscar auxílio na rede de apoio e a também prestá-lo solidariamente àqueles que convivem com a ideação suicida.
Passados 30 anos daquele memorável marco, a prevenção ao problema continua sendo imperiosa, pois, na verdade, o Brasil vive uma segunda pandemia. Dessa vez, na saúde mental, tantas vezes negligenciada. De acordo com o DataSUS, o total de óbitos no país por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos: foi de sete mil para 14 mil. Isso desconsiderando as ocorrências que não foram notificadas. É mais do que uma morte por hora. Aqui um ponto importante: a Associação Brasileira de Psiquiatria estima que 96,8% dos casos estão relacionados a transtornos
Suicídio no mundo
800 MIL 75%
casos ao ano deles ocorrem em países emergentes e pobres
A cada 30 segundos, uma pessoa se mata Para cada suicídio, estima-se outras 20 tentativas não consumadas
Fonte: Organização Mundial da Saúde.
8o
O Brasil é o 8o país com a maior taxa de ocorrências
“O suicídio é um ato que infalivelmente golpeia a Alma de quem o pratica. Ao chegar ao Outro Lado, ela vai encontrar-se mais viva do que nunca, a padecer opressivas aflições por ter fugido de sua responsabilidade terrena. Convém assinalar que sempre alguém fica ferido e/ou abandonado com a deserção da pessoa amada ou amiga, em quem confiava, seja aqui ou no Mundo da Verdade.”
PAIVA NETTO
Presidente da Legião da Boa Vontade
shutterstock.com
“O suicídio não resolve as angústias de ninguém.”
ALZIRO ZARUR (1914-1979)
Saudoso fundador da LBV
Reforçando a rede de apoio
O “Plano de Ação Integral de Saúde Mental 2013–2030”, a maior revisão sobre saúde mental desde a virada do século, estabelece diretrizes para que governos, acadêmicos, profissionais de saúde e toda a sociedade civil consigam contribuir efetivamente para melhorar a atenção dada a essa área. O relatório faz várias recomendações de ação, agrupadas em três caminhos para a transformação. São eles:
1. Aprofundar o valor e o compromis-
so que damos à saúde mental. Exemplo: aumentar os investimentos nela, buscando políticas e práticas firmadas em evidências e estabelecendo sistemas robustos de informação e monitoramento.
2. Reorganizar os entornos que influenciam a saúde mental, incluindo lares, comunidades, escolas, locais de trabalho e
serviços de atendimento. Exemplo: introduzir nas escolas programas de aprendizagem social e emocional enquanto se combate o bullying.
3. Reforçar a atenção à saúde mental mudando lugares, modalidades e pessoas que oferecem e recebem os serviços. Exemplo: incluir o uso de tecnologias digitais para apoiar a autoajuda guiada e não guiada e para fornecer atendimento remoto.
mentais. Para se ter ideia, nossa nação é a que revela a maior prevalência de depressão na América Latina e é também a que possui mais pessoas ansiosas do globo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), prezar pelo bem-estar mental é, de fato, condição preponderante na luta contra o suicídio. Pacientes com estado grave de saúde mental morrem, em média, 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente em razão de doenças físicas evitáveis. Muitos transtornos geram intensa dor emocional, forte sentimento de culpa, vazio, angústia e raiva, o que pode levar o indivíduo a acreditar, erroneamente, que tirar a própria vida acabará com o sofrimento. Desigualdades sociais e econômicas, emergências de saúde pública, guerra e crise climática estão entre as ameaças estruturais globais à saúde mental. Além disso, estigma, discriminação e a violação de direitos humanos contra pessoas com esse tipo de problema, infelizmente, ainda são comuns.
Os mais vulneráveis são os que correm maior risco de desenvolver transtornos e os menos propensos a receber serviços adequados. Mais de 70% dos portadores de psicose em todo o mundo não têm acesso aos serviços de saúde mental. Enquanto 70% dos enfermos em países de alta renda são tratados, nos mais pobres esse número cai drasticamente para 12%. Mesmo nas nações mais ricas, apenas um terço dos depressivos recebe cuidados formais.
NOVA ESTRATÉGIA DE AÇÃO
Com base nas evidências mais recentes e apresentando exemplos de boas práticas, o “Plano de Ação Integral de Saúde Mental 2013–2030”, divulgado em junho deste ano pela OMS, destaca a relevância de se aprofundar o valor e o compromisso dado à saúde mental, de se remodelar os ambientes que a influenciam e de se fortalecer os sistemas que devem zelar por ela.
Fique de olho nestes sinais
Se identificar um ou outro comportamento listado a seguir, é preciso tomar atitude quanto antes. Você pode salvar a vida de uma criança ou de um adolescente.
( 1 ) | Afastamento dos familiares e amigos
( 2 ) | Perda de interesse por atividades das quais gostava
( 3 ) | Mudança no horário habitual do sono
( 4 ) | Comentários autodepreciativos
( 5 ) | Disforia (estado caracterizado por ansiedade, depressão e inquietude)
( 6 ) | Falas recorrentes sobre a morte
( 7 ) | Queda no rendimento escolar
( 8 ) | Reprovação em vestibular ou no ano letivo
( 9 ) | Desilusão romântico-amorosa
( 10 ) | Repulsa quanto à aparência física
O que fazer?
Em nenhum momento, use estas frases: “isso é bobagem”; “você não tem motivos para sofrer”; “você está fazendo drama”; e “isso é frescura sua”.
Cultive o hábito da oração dentro do lar, com leituras edificantes e músicas que tornem o ambiente fortalecido.
Não deixe para resolver amanhã: dedique toda atenção à criança ou ao jovem no momento em que perceber um desses comportamentos.
Crie laços de confiança para falar sobre os problemas deles.
Estabeleça um diálogo permanente e demonstre que a vida dele importa.
Procure apoio médico especializado (psicológico e psiquiátrico). Além do tratamento fornecido em planos de saúde, a rede pública e os hospitais filantrópicos oferecem o cuidado adequado.
Fale com frequência: “Eu estou com você e vou ajudá-lo no que precisar!”
Pergunte abertamente: “O que você pensa sobre esse tema?”
O Centro de Valorização da Vida possui uma linha nacional gratuita, disponível 24 horas por dia, para receber ligações de pessoas que estejam pensando em tirar a própria vida. Basta ligar para o número 188.
Cinco conteúdos que você precisa conhecer sobre a prevenção ao suicídio
LIVRO A Missão dos Setenta e o “lobo invisível” (Paiva Netto)
https://goo.gl/ UDmZe2 VÍDEO “Qual é o destino das pessoas que se suicidam?”
https://goo.gl/ XWCLrL
ENTREVISTA O jornalista da TV Globo André Trigueiro alerta contra o suicídio
https://goo. gl/8hQVxj RADIONOVELA Memórias de um suicida, de Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984) https://goo.gl/ TmtrQH
MATÉRIA “O que acontece com quem se suicida?”
https://goo.gl/ f73XRt
De acordo com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, “todos conhecemos alguém afetado por transtornos mentais. A boa saúde mental traduz-se em boa saúde física; e este novo relatório é um argumento convincente para a mudança. Os vínculos indissolúveis entre saúde mental e saúde pública, direitos humanos e desenvolvimento socioeconômico significam que a transformação de políticas e práticas em saúde mental pode trazer benefícios reais e substantivos para pessoas, comunidades e países em todos os lugares. O investimento em saúde mental é um investimento em uma vida e em um futuro melhores para todos”.
Os 194 Estados-Membros da OMS assinaram o referido plano, comprometendo-se com metas mundiais para melhorar as obrigações nessa importante área. Os progressos parciais alcançados na última década provam que a mudança é possível, mas precisa ocorrer mais rapidamente. Durante muito tempo, o segmento tem sido um dos mais desprezados da saúde pública, recebendo uma ínfima parte da atenção e dos recursos de que necessita.
Na perspectiva de Dévora Kestel, diretora do Departamento de Saúde Mental e Uso de Substâncias da OMS, “todo país tem ampla oportunidade de fazer progressos significativos em direção a uma melhor saúde mental para sua população, seja formulando políticas e leis sobre saúde mental mais sólidas, ou introduzindo a saúde mental nos seguros médicos, fomentando e fortalecendo os serviços comunitários da área ou integrando a saúde mental à atenção geral à saúde, escolas e penitenciárias. O relatório inclui muitos exemplos que mostram que mudanças estratégicas podem produzir uma melhora considerável”.
Fonte: Informações do site oficial das Nações Unidas no Brasil (brasil.un.org/pt-br).