Revista Biomassa BR Ed 26

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riqueza do pais e m 0,06% do PIB (medido em PPP), isto é US$ 1.92 bilhões todo o ano, o que acumula um total de US$ 77 bilhões até 2050. Apesar desses números parecerem razoáveis, devemos lembrar que estes são os custos para o cenário de uso otimizado das tecnologias e que os valores representam o valor médio de vários cenários avaliados pelo IPCC. Assim, o gasto acumulado do Brasil pode ser de até US$ 192 bilhões até 2050, segundo o cenário mais pessimista, se conseguirmos otimizar as tecnologias. Porém, o resultado mais interessante do estudo vem exatamente dessa falta de otimização. Os resultados ótimos dependem muito do uso de algumas tecnologias estratégicas como a CCS, o uso da biomassa como fonte energética, o uso do vento e energia solar e o uso da energia nuclear. A maior parte dessas tecnologias têm sido rejeitadas pela sociedade e isso implica em aumento dos custos de mitigação. Por exemplo, caso CCS só possa ser usada em pequena escala, os custos aumentarão

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em média em 140%; se o mesmo ocorrer c o m b i o massa, os custos aument a m em 60%, para uma estabilização em 450 ppm. Já o uso muito limitado da energia nuclear, e do vento e solar, implicam em aumentos pouco expressivos, da ordem de 10%. A conclusão óbvia desses custos é a extraordinária relevância da biomassa como insumo energético para o mundo. Isso ocorre porque se pode fazer CCS ao usar a biomassa, já que na preparação de etanol do milho e da cana, via fermentação, se produz CO2 em quantidade mássica semelhante a quantidade do biocombustível, e na geração de bioeletricidade da cana se produz CO2 pela combustão do bagaço e resíduos. Por outro lado, apenas o uso da biomassa como fonte limpa em substituição aos combustíveis fósseis implica em redução de 60% dos custos da mitigação. Ora, somando-se a contribuição do CCS e da biomassa, concluímos que o não uso em grande escala desse energético pode aumentar o esforço financeiro global em até 3 vezes, passando assim de uma despesa anual global média de US$ 66 para algo por volta de US$ 200 bilhões. Convém notar que a tecnologia de CCS aplicada à fermentação do etanol

é extremamente simples e já está sendo praticada em escala comercial no estado de Illinois nos Estados Unidos. CCS da biomassa é a tecnologia mais considerada nos cenários futuros porque pode permitir um saldo negativo de CO2, quando se usa o etanol e a bioeletricidade da cana. A geração de eletricidade exportada à rede elétrica a partir da cana já ocorre em cerca de 100 usinas no Brasil (25% do total) e o resultado econômico é muito favorável ao produtor, como se pode notar pelos leilões de eletricidade. Além disso, a produção de bioeletricidade de forma mais eficiente está também disponível, como se observa em fábricas de papel e celulose em países nórdicos e os ganhos econômicos vão estimulá-las nas próximas usinas a serem construídas. A cana de açúcar, por suas virtudes, elimina uma pergunta frequente feita nas análises de biomassa para fins energéticos – “precisamos de biomassa para gerar bioeletricidade ou biocombustível”. A resposta evidente é “para as duas finalidades “pois podemos obter os dois energéticos de uso final a partir da mesma matéria-prima, reduzindo a extensão de terra plantada e aproveitando de forma ampla e otimizada a energia disponível na planta e produzida de forma limpa pelo Sol. Concluímos então, que biocombustíveis têm grande espaço na matriz energética mundial, porém há biocombustíveis de maior interesse para a sociedade que outros. Em particular, a cana de açúcar se demonstra a líder nessa missão, considerando os indicadores que atual-

mente são usados e, principalmente, aqueles associados às emissões de GEE que deverão ser cada vez mais relevantes. A vista desses fatos e considerando as necessidades de combustível do Brasil no curto prazo, nos parece iminente nova corrida ao etanol, e espero que a cana seja devidamente explorada em todas as suas qualidades físicas e nos aspectos políticos do meio ambiente que nosso país tem muito a faturar. REFERÊNCIAS BIG-ANEEL – Banco de Informação de Geração, Agência Nacional de Energia Elétrica, 2015, http://www.aneel.gov.br/ aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoGeracaoTipo.asp?tipo=5&ger=Combustivel&principal=Biomassa EPA – United States Environment Protection Agency, 2010. Renewable Fuel Standard Program (RFS2) Regulatory Impact Analysis, Assessment and Standards Division, Office of Transportation and Air Quality, EPA-420-R-10-006, Fevereiro 2010. Harsono, S. S. e B. Subronto, 2013. Land-Use Implications to Energy Balances and Greenhouse Gas Emissions on Biodiesel from Palm Oil Production in Indonesia, Journal of Central European Agriculture, 2013, 14(2), p.35-46 IEA – International Energy Agency, 2015. https://www.iea.org/topics/renewables/ subtopics/bioenergy/ IPCC, 2014. Climate Change 2014: Mitigation of Climate Change. Contribution of Working Group III to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Edenhofer, O., R. Pichs-Madruga, Y. Sokona, E. Farahani, S. Kadner, K. Seyboth, A. Adler, I. Baum, S. Brunner, P. Eickemeier, B. Kriemann, J. Savolainen, S. Schlömer, C. von Stechow, T. Zwickel and J.C. Minx (eds.)]. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA. Macedo, I.C., J.E.A. Seabra and J.E.A.R. Silva, 2008. Greenhouse gases emissions in the production and use of ethanol from sugarcane in Brazil: 2005/2006 averages and a prediction for 2020. Biomass and Bioenergy USDA-United States Department of Agriculture, 2010. 2008 Energy Balance for Corn-Ethanol Industry, Agricultural Economic Report Number 846, Junho 2010, ww.usda.gov/oce/reports/energy/2008Ethanol_June_final.pdf US-IEA – United States Information Energy Agencyhttps://www.eia.gov/ cfapps/ipdbproject/iedindex3.cfm?tid=79&pid=80&aid=1&cid=regions&syid=2000&eyid=2012&unit=TBPD.


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