Aracaju Magazine 135

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ARTIGO

O sósia, o médico e * Por Adalberto Goulart

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ou eu mesmo, não parece? Como passa rápido este tal de tempo… Eu tinha dezesseis anos quando tirei a minha carteira de identidade. Sim, é verdade, faz trinta e quatro anos. Mas e daí? Está mais conservada que a de muitos garotos por aí. Nem precisa ser um fisionomista tão bom para saber que sou eu mesmo, não é? Precisa. Humm... Pior do que isso, agora é lei, no máximo dez anos! Pra viajar então, nem adianta discutir. Fala sério leitor, que tanta lei é essa? Não pode fumar, não pode beber, criança

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não pode comer doce, RG expira com dez anos, máximo de 60km/h, câmeras caça-multas, câmeras de vigilância espalhadas pela cidade (Orwell tinha razão), mas eu não quero participar do Big Brother! Parafernália dos diabos, vivia-se melhor sem tudo isso... Desabafo a parte, vou ao shopping fazer nova carteira de identidade - já tinha feito outra há uns dez anos, mas me roubaram no Pré-caju e nenhuma câmera de vigilância viu, lembram? Vá bem cedinho que você é liberado logo, me disse um amigo no Château Blanc Restaurant. Fui. Cheguei lá supercedão, já tinha uns quatro na minha frente e olha que apertei o passo para chegar na frente daquele que estacionou o carro junto comigo. Achei que não precisaria Certidão de Casamento, afinal homem não muda de nome. Precisava. Voltei pra casa rapidinho, peguei e retornei. Chegou a minha vez e a atendente me disse que eu precisaria ir ao Instituto de Identificação, porque a minha carteira era de São Paulo e a de Sergipe haviam me roubado no Pré-caju, e me deu um papelzinho com o endereço. Não é ali na Rua Duque de Caxias? Não, agora é na Adélia Franco, continuação da Hermes Fontes, do lado direito, depois do Íbis. Perfeito, mas hoje não dá mais. Agora já sei, é fácil. Noutro dia, saí cedo de casa e

lá fui em busca de me identificar. Procurei, encontrei, mas não tinha onde estacionar o carro, parei numa ruazinha atrás. Já suando, em frente ao Instituto, fui abordado por uma moça: Foto, Senhor? Obrigado, disse. Dessa vez fui mais esperto, levei as fotos. Quando entrei no prédio havia centenas de pessoas! Dei meia-volta, mas antes perguntei a que horas fechava. Às 13h. Meio-dia e pouco passei por lá, enfrentando um trânsito horrível e um sol de rachar. Agora vai ser tranqüilo, todo mundo já foi embora, pensei. Estaciono o carro na ruazinha, vou suando, chego e... a mesma multidão! Já sei, che-

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