Revista Quentin

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Rosineide, a Nê, teve a benção da mãe só aos 30 anos.

um ano ela conheceu a Camila, com quem dividiu sua vida e sua casa por nove anos. “A primeira pessoa para quem contei foi a minha irmã, morrendo de medo dela não gostar mais de mim. E ela falou que agora ela me amava mais ainda, porque a gente não tinha mais segredo”, conta. A mãe de Camila começou a desconfiar, até que um dia a expulsou de casa e a moça foi morar junto com Nê. Com 24 anos, ainda morando com a mãe, disse que era uma amiga que havia sido expulsa de casa, em um mês foram morar sozinhas com o pretexto de ficarem mais próximas do trabalho.

Após seis anos de relação ela descobriu várias traições de Camila e já não aguentava a situação. Foi quando voltou a morar com mãe. “Na época minha mãe era faxineira na casa dela, e me via definhando de um lado e ela de outro”, recorda. Na intenção de registrar a história vivida ao longo de seis anos, ela fez uma tatuagem com o nome das duas no ombro direito. “Não me arrependo, vivi com ela dos 24 aos 33 anos, não adianta querer apagar a tatuagem, ela não vai sair da minha vida”, afirma. No final de 2007, reataram o relacionamento. Véspera de réveillon, família reunida, as duas muito felizes, não esperavam pelo que estava por vir. “Com o guardanapo na mão, minha mãe veio em minha direção, e olhando dentro dos meus olhos disse: Dessa vez eu desejo que você seja feliz. Fiquei sem saber o que fazer, com os olhos marejando, ela olha pra nós e fala: E não é porque agora vocês sabem que eu sei, porque eu sei há muito tempo, que vocês irão mudar, quero que continuem como sempre foram, discretas, respeitando os demais”, conta. A sensação era de ter tirado um peso enorme das costas, pois, durante muitos anos ela havia convivido com aquele sentimento reprimido, escondendo do mundo o que era realmente, e somente aos 30 anos teve a benção de sua mãe. O relacionamento durou mais três anos, tentaram continuar de onde haviam parado, mas algumas coisas por mais que tentamos reacender não são mais possíveis, e assim terminou a história de nove anos, de intensidade, de entregas e de amor. Nê ainda afirma que o grande amor de sua vida foi a Suzana, aquela morena que ela deixou lá em Bandeirantes, com quem ela aprendeu a amar, a chorar por amor, a dividir sua vida e seu espaço.

Eu “as” declaro...

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alar em sexualidade há 20 anos era algo restrito e escasso, imagine fazer parte da cultura homossexual numa época cheia de revoltas e revoluções, mais difícil ainda. A homossexualidade sempre se fez presente na história, porém com registros de períodos de aceitação maior ou menor dessas relações afetivas. Até meados dos anos 70, as expressões entre pessoas do mesmo sexo chegaram a ser consideradas doenças, isso só acabou quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) a excluiu de sua lista de enfermidades. A pesquisa do Datafolha realizada em 2007 repetiu questões feitas há quase dez anos, apresentou uma mudança significativa nas atitudes dos brasileiros com relação à sexualidade. Os números de rejeição à homessexualidade caíram de forma

O grupo de amigas comemora a aprovação da união homoafetiva


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