Fornecedores Hospitalares - Ed. 172

Page 14

Entrevista

Se eu tivesse um filho, guardaria o cordão umbilical. Como cidadão, gostaria de aumentar o arsenal de opções para o caso de uma doença genética

do mercado e o acesso fácil ao crédito. Quando esta onda passou, muitas empresas faliram, mas hoje algumas estão de volta e vivem apenas de fornecer soluções para a área. No Brasil, já há duas companhias que se dedicam exclusivamente ao desenvolvimento de softwares para bioinformática. O grande desafio para estas empresas é sobreviver nesta cultura de código aberto. A experiência mostra que uma companhia desenvolve um software e, dentro de um ano, uma solução semelhante surge em código aberto. É duro competir com isso. Uma saída para manter-se no mercado é desenvolver não só a ferramenta, mas também a estratégia, buscando explorar o problema junto com o cliente e oferecer o software e a infraestrutura para uma determinada linha de pesquisa ou atividade. FH: Em nível global, qual é a posição do Brasil com relação ao uso da bioinformática? Souza: O Brasil está bem. Embora tenha um número pequeno de pesquisadores, já que nossa comunidade científica é menor, a iniciativa genômica, desde os anos 1990, é bastante ativa e formou massa crítica. Hoje já há dois programas de doutorado na área, um de mestrado e uma sociedade de bioinformática que reúne centenas de participantes em seus encontros. Em nível global, acredito em uma nova revolução no sequenciamento genético em três anos, com novas máquinas e tecnologias para lidar com esta quantidade descomunal de informações. Para se ter uma ideia, quando o Projeto Genoma começou, o orçamento era de US$ 2 bilhões e o sequenciamento levou anos para ser concluído. Hoje, é possível sequenciar o genoma em duas semanas, a um custo de US$ 30 mil. Por outro lado, o grande volume de dados e aplicações do sequenciamento gera um gargalo de profissionais nesta área, o que coloca a Bioinformática como uma carreira promissora. No Brasil, a tendência é que esta deixe de ser uma especialidade apenas acadêmica e passe a ser também comercial. FH: Algum dia o sequenciamento genético será acessível à grande maioria da população ou este será sempre um procedimento de alto custo? Souza: Acredito que o sequenciamento genético tende a se tornar cada vez mais barato, chegando a US$ 1 mil, o que o tornará acessível a uma parcela maior da população.

14

lay_entrevista 14

Com isso, podemos imaginar que vá aparecer uma empresa brasileira de sequenciamento genético para o usuário final, a exemplo do que já existe nos Estados Unidos com a 23andMe, por exemplo. FH: E qual é sua opinião sobre empresas como a 23andMe, que começam a oferecer o sequenciamento genético à população/consumidor final? Este tipo de exame é realmente útil às pessoas? Souza: Há aspectos éticos e legais a serem considerados, como a proteção da informação e a busca por garantias, como a de que as empresas não usarão o sequenciamento genético para excluir usuários dos planos de saúde ou cobrar valores muito elevados de quem tem predisposição a alguma doença. Nos Estados Unidos, já há uma lei que regulamenta isso, mas no Brasil isso ainda não existe. Outro dilema é o que fazer com a informação quando se identifica o risco de o paciente desenvolver uma doença incurável. A doença de Huttington, por exemplo, que provoca desordem neurológica, já pode ser identificada em bebês, embora só se manifeste entre adultos e idosos, mas não tem cura. Quando existe uma solução, a exemplo da identificação da predisposição ao câncer de mama, acho válido informar a paciente, mesmo que ela opte por um método de prevenção radical, como a mastectomia antes do aparecimento do tumor. FH: O senhor acha válida esta busca direta por informações, ou acredita que o exame só deveria ser feito se houvesse recomendação médica?

revista Fornecedores Hospitalares

04.02.10 18:06:02


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.