Revista Endorfina 7

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na academia

Do bruto ao

utilitário Recém-desembarcado no Brasil, o Kettlebell transformou a sua própria ascendência para ganhar apelo nas academias Por Ricardo Gomes

A

inda uma partícula estranha no universo fitness, o Kettlebell inicia uma invasão tácita nas academias brasileiras. Sem fazer muito barulho, a complexa técnica com pesos esféricos é objeto de interesse entre os admiradores da musculação e instrutores. Com séries recheadas de variações e escalas de dificuldades, o Kettlebell é dono de muitos trunfos, alguns deles inalcançáveis em outros tipos de exercícios. Mas antes que o distinto leitor julgue a modalidade como mais uma invencionice fadada ao descrédito, é preciso recorrer à história. O Kettlebell tem suas raízes na Europa do século XIV, onde homens esbanjavam toda a sua virilidade e potência ao empregarem bolas de ferro como pesos. As apresentações – geralmente em feiras e mercados - faziam relativo sucesso, a ponto de renderem atividades e jogos, que firmemente arrebanhavam multidões curiosas. Grande parte do território europeu seguiu o rastro dos russos e também adotaram suas versões dos shows halterofilistas. Até então, a única notável finalidade do Kettlebell era colocar à prova a força humana. Cansados de exibicionismo barato, os russos czares iniciaram uma cruzada científica em busca de outras serventias para aquela atividade com bolas maciças. E não tardaram a encontrar. A primeira descoberta, no entanto, foi para uso bélico. Anexada a uma alça, o Kettlebell, ou Gyria, tornou-se acessório de fundamental importância para os guerreiros rus32

sos em meio a treinos e batalhas territoriais. O manuseio da peça auxiliava no ganho de resistência e força. Tanto é que os militantes eram cunhados como “Strongman”, “girevik” ou “Kettlebell man”, tamanha eram as suas compleições físicas. Essa é só uma fração da história. O Kettlebell como se conhece hoje não tem nada de marcial. Quem deu um novo verniz às esferas de metal foi Pavel Tsatsouline, padroeiro do Kettlebell Training nos Estados Unidos. E foi na terra do Tio Sam que a antiga modalidade czarina virou uma patente, um grande aliado na coexistência entre mente sã e corpo perfeito. No Brasil, o Kettlebell modernizado chegou somente em 2007, graças a astúcia de Alexandre Franco, proprietário da Kettlebell Brasil Treinamento Esportivo e a GAFF Rendimento Esportivo & Qualidade de Vida, que baseia as primeiras demonstrações técnicas no Rio de Janeiro. Alexandre teve o “estalo” de trazer o método às academias do país após anos de consultoria com Jason Brown, da Kettlebell Athletics (instalada na Filadélfia), e Jeffs Fields, da Strong to the Core Training Solutions (Nova Iorque), dois dos bastiões do Kettlebell no mundo. Na América do Norte, a aceitação do Kettlebell foi vagarosa, mas nos últimos anos o cenário mudou. As academias que dispõem de aparato profissional para as aulas têm recebido um número vertiginoso de novos entusiastas. O fenômeno deve se repetir por aqui. Pelo meWWW.PORTALENDORFINA.COM

nos é esse o diagnóstico de Cida Conti, diretora da Escola Fitness e coordenadora da FITPRO (Fitness Programs). “Embora os primeiros relatos indiquem que o kettlebell trate-se de uma ferramenta usada há séculos, podemos considerar que seja algo novo no universo da atividade física atual. Assim que tivermos mais informações veiculadas sobre o assunto e assim que as pessoas perceberem que o kettlebell trabalha o corpo de forma integrada, muitos optarão por complementar suas rotinas de treino ou até mesmo substituí-las por esta fantástica ferramenta”. Incensado pelos seus praticantes, nebuloso para os desavisados. Para colocar uma pedra sobre qualquer suspeita e aclarar as reais competências do Kettlebell, ai vai um breve inventário: adestrado corretamente, produz trabalho de força em grande amplitude de movimento. Essa amplitude de movimento avantajada provoca o stretch reflex, o que aumenta a capacidade do corpo humano de produzir força, movimentação e agilidade; expõe fraquezas individuais e promove correções de assimetria corporal. Como a maioria dos gestos executados no kettlebell training é feita unilateralmente, assimetrias e compensações são muito mais fáceis de serem detectadas; auxilia no desenvolvimento de estruturas articulares fortes e flexíveis. Kettlebell training exige muito que as articulações se estabilizem dinamicamente, o que reduz o potencial de lesão e permite maior eficiência na produção de forca


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