Revista CULT (parcial) - 129

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Filosofia

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Livros Confrontações éticas De 1951 a 1979, Vladimir Jankélevitch (1903-1985) foi responsável pela cátedra de filosofia moral na Sorbonne, onde influenciou uma geração de estudantes em aulas que entrelaçavam metafísica, moral e uma singular paixão pela música (também musicólogo, Jankélevitch publicou ensaios sobre a obra de Debussy, Fauré, Liszt e Ravel). Em O paradoxo da moral (1981), sua última publicação filosófica que pode ser considerada o sumário de suas idéias no campo daquilo que o autor classifica como “o primeiro problema da filosofia”, parte-se de uma definição negativa, dizendo o que a filosofia moral não é, para em seguida fundar as bases de uma especulação crítica sobre o descompasso entre a ação e o dever moral; especulação marcada sobretudo pela clivagem entre “libertários” e “puritanos” no pós-1968. O estilo enérgico de Jankélevitch envolve frases como “A violenta reação de rejeição aos valores normativos não é uma cólera moral ao revés, nem caricatura de indignação moral, é antes o frenesi de uma consciência desdobrada, crucificada, dilacerada por sua insolúvel contradição. Quanto mais o valor é aparentemente sagrado e reverenciado como tal, mais escandalosas as manifestações do nojo cínico: cuspir, vomitar e expelir!” Para o filósofo, enfim, a tomada de posição moral não admite nenhuma neutralidade. • O paradoxo da moral • Vladimir Jankélevitch • Trad.: Eduardo Brandão • (Editora Martins Fontes) 240 págs • R$ 37,50

Primeiro Sartre Publicado originalmente em 1936, este primeiro livro de Sartre examina o estatuto do conceito de imagem nos grandes sistemas metafísicos, desde Descartes a Husserl. O jovem professor de filosofia, em sua fase pré-existencialista, já evidenciava o espírito fenomenológico de sua época que, segundo Jean Wahl, respondia ao desejo de “retorno ao dado concreto”, na ontologia e na teoria do conhecimento. No livro, Sartre procura dissociar, entre os diversos modos de existência, a existência como coisa e a existência como imagens, e contrapõe-se às definições de imagem presentes em Descartes, Leibniz, Hume, Bergson, realizando assim uma breve história do problema da imaginação. Para Sartre, imagem é um certo tipo de consciência, é consciência de alguma coisa, concepção que, próxima à de Husserl, o levaria a empreender uma descrição fenomenológica da estrutura “imagem”, de seus modos de aparição, que resultaria no ensaio de 1940, O imaginário. • A imaginação • Jean-Paul Sartre • Trad.: Paulo Neves • (LP&M) • 144 págs. • R$ 11

Novas ordens do mundo Os ciclos de seminários, dirigidos por Adauto Novaes, constituem provavelmente o evento mais importante da agenda intelectual brasileira. Pesquisadores de diferentes áreas reunem-se anualmente para debater temas atuais do pensamento contemporâneo cuja polêmica transborda as fronteiras acadêmicas (basta lembrar a repercussão em torno da edição de 2005, O silêncio dos intelectuais). Os livros que resultam dos seminários oferecem assim um quadro substancioso da produção crítica recente. A edição de 2007, sob o título Mutações – novas configurações do mundo, é a última parte da trilogia Cultura e tempos de incerteza, que além das duas citadas, incluiu O esquecimento da política (2006). Aqui, o eixo da discussão localiza-se no diagnóstico do esvaziamento valorativo da política e de crenças partilhadas, e de um conseqüente estágio hegemônico da tecnociência. Ou seja, a autonomia da técnica, ao reduzir as idéias a sua dimensão instrumental, torna todo o plano do saber parasitário da ciência. Como escreve Novaes, “mutações são passagens de um estado de coisas a outro que nos deixam à deriva, quando as trilhas são pouco confiáveis, em particular se forem abertas, como acontece hoje, não pelo trabalho do pensamento, mas pela técnica”. Um seminário sobre mutações é, para o organizador, um irresistível convite a erros e acertos, pois o caráter excessivamente transitivo dos acontecimentos atuais condiciona os próprios deslocamentos conceituais na filosofia e na antropologia. Procura-se avaliar portanto o conceito de mutação sob múltiplas perspectivas, desde a biologia e a física, até a arte, a política e os costumes. • Mutações: Ensaios sobre as novas configurações do mundo • Org.: Adauto Novaes (Edições SESC-SP/ Editora Agir) • 464 págs. • R$ 59,90 32


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