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Ivete Nenflidio
Santo André - SP RETIRANTE
Escritora, produtora e articuladora cultural de Santo André, recentemente foi selecionada pelo Prêmio Off Flip 2021, nas categorias Conto e Crônica.
Das bandas do norte, da terra vermelha Margaridas e Joaquins morrem jovens Corpo finda como a desguarnecida lavoura Terra de seres desprezados, cacimbas vazias Gentes com olhos de fome e escassa colheita A estiagem é severa, ano após ano de intensas lamúrias Terra rachada, terra estreita Desafortunado pássaro do livramento Triste melodia de muitos lamentos Noites dolorosas de nuvens tempestuosas Anunciam um cruciante tempo Tempo da desventura Tempo da carência Da gastura Da contingência Nas bandas de lá, amplidão celeste Não tem chuva, nem um pranto Triste seca, crianças com fome Corpo que some São bravos, são guerreiros Lágrimas secam no rosto do ancião Sertanejo nordestino Na festa do padroeiro procura acalmar o [coração] Na procissão um miúdo corpo pagão Mirrado falecido passa em vão Homem cristão Velhas com velas nas mãos, sem lágrimas não banham o chão Patativa rasante, triste pássaro do sertão Cantoria triste Partiste Fugiste Tanta dor, um aperto no coração Mais uma seca, tempo de privação Lavadeiras rezam a Ave-Maria Mães cantam suas queixas nas romarias São Severinos, são Marias Lágrimas do silêncio Água turva, terrível prenúncio Vai! Busca teu destino! Como os pássaros migratórios Voa... busca outras terras! Quiçá uma casa estrangeira Uma vida ligeira Triste sina Se ocupam de sol, vento e céu Povo de fé, pedem a Deus Mas a chuva não vem... Couro queimado, só fogaréu Mísera lamentação, que cena cruel A seca mata o bicho, mata o homem Naquelas bandas não tem Noel.