REITOR DA UFRB Paulo Gabriel Soledade Nacif DIRETOR DO CAHL Xavier Vatin PROFESSORES RESPONSÁVEIS Péricles Diniz e Robério Marcelo EDITORA CHEFE Lenise Luz MONITORIA Priscila Vasconcelos REVISÃO GERAL Lélia Maria Sampaio REVISORES Janaina França Joaquim Bamberg Larissa Araújo EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA Janaína Carine Josiane Nascimento DIAGRAMAÇÃO Joaquim Bamberg Laiana Matos Rosalvo Marques FOTÓGRAFOS Janaína França / Laiana Matos/ Layla Scher/ Lenise Luz REPORTERES Janaína Carine/ Janaina França / Joaquim Bamberg/ Josiane Nascimento/ Juliana Rezende/ Laiana Matos/ Larissa Araújo/ Layla Scher/ Lenise Luz/ Lorena Morais/ Rodrigo Valverde COLABORADORES Fernada Rocha Marília Marques Taiane Nazaré
Ineditorial
Nem só de samba vive o Recôncavo
Refletir sobre o Recôncavo baiano é sempre um exercício intrigante. A região possui um tecido histórico e cultural riquíssimo, foi decisiva sua participação na luta pela independência do país. Aqui foram erguidos imponentes engenhos, sobrados, igrejas, foram trazidos povos africanos para trabalhar em plantações de cana de açúcar e posteriormente nas de fumo. Africanos de várias etnias, cultos, culturas e línguas. É neste contexto de (des)encontros que se conforma o patrimônio *João de Moraes Filho cultural afro-barroco que hoje conhecemos. É bem verdade que a “cultura viva” revelada nas filarmônicas, nas festas de carnaval, em Maragojipe, no Bembé do Mercado de Santo Amaro, em maio, no São João e seu delicioso licor de jenipapo, no 25 de junho, na Festa da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, e nas diversas nações de terreiros de Candomblé, começaram a ter reconhecimento público do valor patrimonial que se constituem recentemente, através de intervenções do IPHAN (Ministério da Cultura) e do IPAC (Secretaria de Cultura da Bahia). Durante um longo período, ao menos nos últimos 40 anos, o tema tem sido pauta de reflexões e expectativas da população no que se refere ao desenvolvimento local. A partir de 2003, o Ministério da Cultura tem promovido uma série de intervenções através de programas que tem transformado a região. O exemplo mais veemente é o Monumenta, que em Cachoeira modificou o cenário de ruínas da cidade, segundo maior parque arquitetônico barroco da Bahia, abaixo apenas de Salvador – Centro Histórico. Um dos mais importantes investimentos surgiu há cinco anos, a UFRB, que em pouco tempo tem transformado não só a realidade dos municípios onde seus campi se instalaram, mas a perspectiva de jovens que vão mostrando ao Recôncavo uma força motriz capaz de contribuir decisivamente com as implementações iniciadas pelo Governo Federal e Estadual e terá continuidade com o PAC das cidades históricas. A gestão dos baianos Gilberto Gil e Juca Ferreira no Ministério da Cultura (2003-2010) colocou em marcha um processo democrático de organização cultural no país que refletiu nos Estados e municípios uma soma de esforços para tornar o assunto tema de política pública. Neste contexto, foi discutido o Plano e o Sistema Nacional de Cultura, fortalecendo as políticas culturais do Estados e promovendo nos municípios brasileiros debates necessários para formação de Conselhos, Fundos e Secretarias Municipais de Cultura. No Recôncavo, no âmbito das políticas municipais, este reflexo se dá de forma lenta, porém contínua. O coletivo de Secretários de Cultura do Recôncavo tem se reunido constantemente a fim de discutir e implementar estratégias para o desenvolvimento local e sustentável do território, através de políticas de longa duração. Fica claro, portanto, que o Recôncavo baiano, palco de tantas lutas, vitórias, riquezas culturais e naturais, é também cenário de um processo de transformação sócio-cultural respaldado na educação e na cultura. Estas intervenções de âmbito nacional e estadual nos mostram o quanto estes dois segmentos têm assumido um papel cada vez mais central na agenda política do país, motivando alguns municípios a construir políticas específicas que atendam a estas demandas, como em Cachoeira e São Felix, que através da formação de conselhos de cultura buscam equacionar alguns problemas já mencionados. Ainda que se percebam avanços, os desafios impostos atualmente comprometem não só a juventude, grupos, expressões, produtores e gestores culturais, artistas, políticos e empresários, mas toda sociedade civil organizada. Parafraseando Dona Dalva do Samba, finalizo estas breves observações do Recôncavo, que agora se vê em um importante momento de transformação que tende a configurar na democracia participativa seu desejo de mudança: “levanta povo, venha ver o samba de roda e dendê. Levanta povo, venha cá, o samba de roda botou pra quebrar”. O Recôncavo tem o samba no pé e a mente na imensidão. *Professor, poeta, gestor cultural, Mestrando em Cultura e Sociedade – Pós-Cultura/IHAC/UFBa. Ex-Secretário de Cultura e Turismo de Cachoeira.
Carta ao leitor
Os retratos de um Recôncavo
Nesta edição o tema em foco é a Cultura. Colocamos em evidência o multiculturalismo do Recôncavo e suas diversidades. A gastronomia, a musicalidade, manifestações culturais, a arquitetura, arte e, essencialmente, sua gente com a força e graciosidade que só o povo do Recôncavo tem! Para a equipe Reverso Cultura, fugir do padrão formal que um jornal impresso tem foi um desafio. Abordar os diferentes vieses do tema de maneira mais livre foi uma experiência e tanto, principalmente pela preocupação em manter o compromisso com a informação que o jornalismo deve ter. Agradecemos a todos os editores, repórteres, fotógrafos e colaboradores que deram a esta edição um olhar particular da região a qual estamos inseridos. Agradecemos também ao cachoeirano João de Moraes, especialista da área de cultura, que recebeu muito bem o convite para escrever para o nosso ineditorial, que conta um pouco dessa riqueza cultural da região. Falar de Recôncavo é falar de uma cultura particular e plural, cultura de um grupo e de uma só pessoa, que constrói sua própria identidade. Foi a partir da particularidade de cada um de nossa equipe que produzimos um Reverso com a nossa cara!
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Aprecie nosso olhar e boa leitura! A editora.
Luísa Mahin
EXPEDIENTE
MULHER Duas mulheres guerreiras do Recôncavo contam suas histórias
TRIBOS Conheça grupos do cenário underground de Cachoeira
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TRILHAS Navegue pela rota turística do Paraguaçu
GALERIA
Saiba mais sobre o FLICA e dicas de livros, filmes, música e pintura
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06 Laiana Matos
Taiane Nazaré
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GASTRONOMIA
História e receita da Maniçoba
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08 FÉ
A Reza de Santo Antônio em Saubara
Lenise Luz
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SOBE O SOM
Entrevista com o cantor de reggae Edson Gomes
Janaína França
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IDENTIDADE
A riqueza e a democratização na cultura do cachoeirano Caminhos e memórias do Paraguaçu
Tombamento. Afinal, o que isso realmente significa para Cachoeira?
Joaquim Bamberg Há muito tempo fala-se sobre este assunto. Talvez até mais que quarenta anos, quando foi oficialmente reconhecida como “Cidade Monumento Nacional”. Reconhecimento mais que merecido, não só pelo seu rico conjunto arquitetônico, mas pela sua importância histórica. Cachoeira foi palco de decisivas batalhas pela Independência. Mas o que se viu nos anos seguintes ao tombamento foi o abandono, o agravamento da decadência do acervo arquitetônico. Já naquela época podiam ser vistos casarões de 100, 200 anos em ruínas. Hoje a situação não é diferente. Dezenas de edificações ainda permanecem em péssimo estado de conservação. Embora agora existam iniciativas como o programa Monumenta (que recupera o patrimônio cultural e urbano), a morosidade brasileira - o bom e velho “empurrar com a barriga” - ainda reina. Obras que demoram muito além do tempo previsto para entrega, processo de seleção excludente, critérios pouco transparentes e a grande burocracia
contribuem para a permanência do atual estado. Há o que comemorar nesses 40 anos? Sim, mas muito ainda precisa ser feito. Certa vez, não faz muito tempo, eu estava fotografando um velho casarão em ruínas, quando uma simpática senhora, que visitava a cidade a turismo me falou, “não entendo como ainda tem tanto prédio caindo aqui, faz tempo que a cidade foi tombada.” Mesmo depois de quatro décadas, Cachoeira não tem o devido prestígio e zelo que merece. A cidade, mesmo recebendo milhares de visitantes todo ano, não explora o potencial turístico à altura de sua grandiosidade. Falta infraestrutura, falta criar uma consciência de preservação no cidadão, faltam quartos para hospedar os visitantes, falta segurança. O tombamento significa muito mais do que manter as estruturas e fachadas de prédios históricos, é aliar desenvolvimento e modernidade com o mais importante: assegurar que a cultura de um povo de lutas e conquistas se perpetue para gerações futuras.
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Mulher
Guerreiras do Recôncavo
Mãe: um ser de amor infinito, protetora e orgulhosa da sua prole. Defensora e maior fã que um filho pode ter em toda sua vida. Guerreira e batalhadora faz de tudo para o bem estar e saúde da sua amada cria. A melhor amiga, a fiel companheira, aquela que tem o perdão no coração. O mês de maio foi o mês das mães, uma das figuras mais importantes de nossas vidas. Por conta disso, o Reverso conta a história de duas mulheres batalhadoras do Recôncavo. Por que não prestigiar as heroínas mais conhecidas por nós?
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Quando cheguei à casa de dona Maria Natividade Pereira Oliveira, um belo sítio localizado no povoado do Alecrim - zona rural de Cachoeira - encontrei-a no “cantinho da paz”, um espaço da casa dedicado à família e amigos. É também uma espécie de cantinho de recordações, com telas dos familiares e amigos. Ela diz ser o melhor lugar da casa. Recebeu-me de braços abertos com um largo sorriso enfeitando o rosto e foi logo dizendo: “Deus te abençoe, minha filha”. Dona Mariinha, como é chamada carinhosamente por todos, tem 81 anos, nasceu em São Félix e tem muita história para contar. Apesar da cadeira de rodas, dona Mariinha está sempre sorrindo. Empurra a própria cadeira sem muito esforço e faz questão de comandar as atividades da casa, que ela gosta que esteja sempre cheia. Na época em que morava em São Félix, ela costurava num ateliê. Em 1954, com 25 anos, casou e foi morar em Candeias por conta do emprego do marido, teve cinco filhos que, segundo ela, nunca deram trabalho. Tudo ia bem até que seu marido, no golpe de 1964, foi demitido da empresa que trabalhava. A partir daí dona Mariinha lutou para conseguir criar todos os filhos. Com o marido desempregado, passou a costurar em casa para ajudar no orçamento e não ficar longe das crianças. Tempos depois, com os filhos já adolescentes, começaram a aparecer sintomas do que mais tarde viria a deixá-la numa cadeira de rodas.
Dores e fraqueza nas pernas, vários exames foram feitos e uma doença neurológica foi diagnosticada. Assim, ela passou a usar um andador. Felizmente seu marido já estava empregado e recebeu anistia. Todos os problemas pareciam resolvidos e compraram um terreno nos arredores de Cachoeira - a chácara Oliveira -onde vivem até hoje. No entanto, a força que dona Mariinha fazia para sustentar o corpo no andador começou a prejudicar os músculos de seus braços, a única alternativa foi passar para a cadeira de rodas. Apesar de tudo, ela seguiu em frente com vontade de viver e nunca abandonou o sorriso, graças também ao amor dos filhos e amigos que hoje enchem a sua casa de alegria a cada data comemorativa. Com cinco filhos, quinze netos e oito bisnetos, o coração de dona Mariinha ainda tem espaço para muitas crianças. Todo Natal ela alegra inúmeras crianças da comunidade do Alecrim com a campanha dos “Amigos Solidários da Chácara Oliveira”. Ela pede a todos que frequentam a sua casa para doarem brinquedos para crianças de até 12 anos. É feito um cadastro para ter o controle da quantidade de brinquedos que serão comprados para as meninas e para os meninos. Alguns dias antes do Natal é realizada uma festa na chácara com direito a música, pipoqueiro e tudo que criança gosta. “Se faltar brinquedo, eu dou um jeito de comprar, o que não pode é alguma criança ficar sem presente”.
Taiane Nazaré
Mãe realizada
Larissa Araújo
Dona Mariinha no seu cantinho predileto da casa
“Ela seguiu em frente com vontade de viver e nunca abandonou o sorriso” Ela me fala empolgada sobre o projeto. Além das crianças, as mães também podem ser presenteadas através de sorteios. Alguns dias antes do Natal é realizada uma festa na chácara com direito a música, pipoqueiro e tudo que criança gosta. “Se faltar brinquedo, eu dou um jeito de comprar, o que não pode é alguma criança ficar sem presente”. Ela me fala empolgada sobre o projeto. Além das crianças, as mães também podem ser presenteadas através de sorteios. Dona Mariinha hoje conquistou tudo que um dia pediu a Deus, é uma mulher realizada. Para ela é tempo de retribuir.
Mãe protetora
GASTRÔ
Quem vê o sorriso no rosto de Jadsiane Cruz dos Santos não imagina a batalha diária que ela vive parar cuidar de todos os filhos. Aos 27 anos, Jade é mãe de 4 filhos: três meninos e uma menina. Nascida em Cachoeira, desde muito nova já lutava por uma vida melhor, vendia frutas na época da escola e ainda aguentava a crítica dos colegas. Aos 19 casou e um ano seguinte já teve o primeiro filho. Neste período trabalhou numa empresa e fez faxinas. Quando estava com 22 anos e a sua terceira filha completou 6 meses de vida, uma reviravolta aconteceu no cotidiano da família. A pequena começou a sentir dores no corpo, não conseguia ficar de pé nem sentar, chorava o tempo inteiro. Jade levou a filha a vários médicos, fez muitos exames, suspeitaram de muitas doenças, mas nada foi diagnosticado. Três meses depois com uma ressonância magnética o câncer foi detectado, um neuroblastoma na coluna, câncer comum em crianças pequenas.A partir desse dia a luta pela vida da pequena começou. Jade foi morar em Salvador com a filha, enquanto o marido e os outros filhos ficaram em Cachoeira. Todos os dias ela levava a filha para o hospital para fazer a quimioterapia, das 7h às 19h. Com o passar dos dias, a saudade foi apertando e ela resolveu alugar um quartinho no bairro Curuzu e levar toda a família. Foram tempos difíceis, nessa época ela e o marido estavam desempregados.
Quando eu lembro da folha da mandioca, mãe...
O sabor e o segredo da maniçoba
Layla Scher
Layla Scher
Taiane Nazaré
Nos dois anos de tratamento, com tanta preocupação e sofrimento, Jade desenvolveu problemas de pressão. Durante esse período, já ao final do tratamento, ela teve o seu quarto filho e nem sabia que estava grávida! Três dias depois estava no hospital com o recém-nascido para acompanhar o tratamento da filha. Tratamento finalizado, a família voltou para Cachoeira.
A Maniçoba, também conhecida como feijoada paraense, é um dos pratos da culinária baiana. De origem indígena, era preparada quando iam festejar algum acontecimento importante. O aspecto visual não é um dos melhores, mas o sabor... hum! Na cidade de Cachoeira é o prato mais famoso e muito procurado por turistas e os próprios cachoeiranos. O preparo não chega a ser difícil, mas fazer maniçoba dá muito trabalho. A maniva, folha da mandioca brava, deve ser lavada até retirar todo o sumo. Após lavada, é preciso ferventar por três vezes, pois a folha contém ácido cianídrico (uma substância venenosa) e, por isso, deve ser cozida por várias horas. Um segredo: o cozimento deve ser feito sem a tampa para que a toxina evapore mais rápido. Depois da tratada, acrescenta-se água na panela e é hora de colocar primeiro as carnes secas – de cozimento mais demorado. Depois de meia hora, acrescenta-se carne de boi defumada, toucinho, bacon, linguiça, paio e costela. Quando todas as carnes estiverem no ponto, pode se preparar para comer: a maniçoba está pronta! E para os paladares mais peculiares: coloque uma concha de leite de castanha do pará novinha para acentuar o sabor. Deve ser servida com arroz branco ou farinha, uma pimentinha também vai bem. Curiosidade: A maniçoba criada pelos indígenas já sofreu influência dos colonizadores brancos, que acrescentaram os defumados. Hoje em dia, esta iguaria é preparada com os mesmos ingredientes utilizados para o preparo da feijoada, só que o feijão foi substituído pela maniva.
Jade, retrato de uma mãe dedicada
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Laiana Matos
Dança
É também uma disputa de mexer os quadris. e art a o cad cada de 60, nifi sig Estados Unidos na dé Hip Hop tem como gem com negros dos apenas 15 ori a tem , su vo e no Tev é e. to ad en vid vim de criati s. Na Bahia o mo ela fav e país - o s o eto o gu tod s ge no izado que abran especificamente na cidade te de um grupo organ em ten viv e ver a qu rs um é pe e rap ia nc os anos de existê o divulgada, mas uc po ncavo é, é cô da Re ain no o te trib for a , ltura musical mais cu A Posses. Em Cachoeira . ilo est gado do gin e to en to reconhecim através do can lutam por um melhor raízes africanas, que s da ora us dif a rod de sem dúvida, o samba utou na Filhinha ou não esc propaga a sua história. , quem não conhece Do lva Da na Do ói? de a Oz mb co Quem nunca foi no Sa Black, Braza Villy ou Pa já ouviu falar em Moura Edson Gomes? Você
O
Berimbau, mixagens Moisés, conhecido como Moura Black, começou a gostar de rap ainda pequeno, quando sua mãe comprou uma televisão em preto e branco: “uma sineral!”, enfatizou nostálgico. Sintonizando os canais, apareceu a antiga TV Manchete com o programa Furacão 2000. Isso em 1987, desde então ficou fascinado com o estilo.
Moura fazia um curso técnico, mas deu um tempo e fez do Hip Hop seu estilo de vida. Na sua casa, montou seu estúdio: o computador, fone de ouvido e aparelho de som, que são instrumentos fundamentais para criar suas bases. No seu trabalho pude perceber ritmos típicos da região, como o som do berimbal, tambor e atabaque, mesclados as pesadas batidas americanas e mixagens. Ele me diz que estuda bastante literatura e atualidade para refletir sobre o mundo e, sobretudo, Cachoeira. Isso serve de inspiração para suas composições inteligentes com o objetivo de fazer as pessoas pensarem o lugar em que vivem.
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No Parque de Exposições em Salvador, houve um evento da CUFA - Central Única das Favelas do Rio de Janeiro, que contou com a presença de MV Bill. “Ele curtiu o meu show e disse que não conhecia esse outro lado de Cachoeira, achava que era só samba de roda”. Disse Moura Black sobre o dia em que conheceu MV Bill.
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e batidas americanas
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Misturar...
faz parte!
“E aí, não quer dar uma canja, não?” Essa era a pergunta mais frequente que um amigo de Moura, Carlos Bahia, fazia para ele. O irônico é que Carlos tocava numa banda de pagode. Sim, pagode! Mas misturar faz parte e Moura fazia algumas participações nas bandas dos amigos. Através de Carlos, Moura conheceu Braza Villy que também curtia o som. Eles participam de um coletivo, o PCA - Preto Consciente Atual, em que se discutem e compõem sobre a realidade da região, mas sem uma periodicidade de ensaios.
Resistência através da música
ista ao v e r t n e Em r Suzart i m a S , o s Rever ouco da p m u a l fa o ritmo m o c o ã ç rela eto que e o proj . ministra Reverso: Como se deu seu o contato com o Grupo GAMGE?
Braza Villy, que recebeu esse apelido da avó por causa da capital do Congo - Congo-Brazzaville, passou um tempo em Salvador participando de bandas de lata, como Raízes da África e Raio Solar. Fez parcerias com o Olodum, Timbalada e Carlinhos Brown, elaborou composições para axé, reggae e samba reggae. Ele já escutava rap, mas foi com o pessoal do bairro de Cosme de Farias, em Salvador, que teve um contato mais forte com o Hip Hop, no grupo Negros do Quilombo. Logo estava compondo com o pessoal.
Samir Suzart: Fui convidado a fazer parte da oficina do GAMGE há uns 4 anos, porque já tinha feito jazz e dança de rua em Cachoeira e fiz parte de um grupo durante dez anos, a Companhia Duanas de ritmos. Já estava afastado quando fui convidado, eles disseram que queriam fazer uma atividade mais voltada para o Hip Hop e para a Black Music. E em decorrência do desejo deles, fomos nos aprimorando cada vez mais.
Braza comentou que este é o estilo que mais se identificava, por conta da maneira que se aborda a realidade. Teve também influência de bandas como Racionais, Braço da Justiça e MV Biil. Os ensaios e reuniões com a galera acontecem em sua casa, pois o grupo não dispõe de espaço próprio. As apresentações de Hip Hop acontecem, mas isso não impede que eles dêem uma “canja” nos shows dos amigos, não importando o estilo musical.
R: E o movimento Hip Hop aqui em Cachoeira?
“Quando a banda é conhecida, tem nome, é pela resistência daqueles que acompanham a trajetória, que aplaudem, apoiam e incentivam. Por parte do governo é ilusão esperar este apoio, principalmente para as bandas locais”,
disse Brazza.
Enquanto as bandas nacionais que se apresentam em Cachoeira têm um cachê altíssimo, os rappers da cidade têm que locar espaço, caixa de som, pagar para se apresentar. Percebi na conversa com Moura Black e Brazza Villy, que a falta de colaboração por parte das autoridades é comum aos grupos sem representatividade perante a sociedade. Isso gera um preconceito que é divulgado sem nenhum pensamento crítico.
Parcerias A relação com outros estilos é uma parceria mútua, a exemplo da tribo do skate - uma galera que escuta muito o Hip Hop para praticar o esporte. O estilo desses grupos expressa a realidade sem uma forma padronizada do transmitir. O que vale é falar a verdade. Um apoiando o outro em busca da reflexão sobre como nossos direitos estão sendo conduzidos e tratados. A tribo do skate também é um grupo pouco conhecido pela comunidade de Cachoeira. Geovane Allan, o Paco, participou de um grupo há algum tempo, com mais ou menos 10 integrantes, que agora estão afastados, porém, pensam em retomar a atividade. Paco está articulando com os parceiros essa volta do hobby e tenta por em prática alguns planos antigos. A turma não tem um nome, no entanto, tem planos de propor às autoridades alguns projetos para a comunidade, entre eles o de oferecer oficinas do esporte.
Hip Hop como estilo alternativo de dança O coletivo que abordamos até então, é composto basicamente por rappers. contudo, existem no município, grupos que praticam também a dança: O GAMGE – Grupo de Apoio ao Menor Gotas de Esperança - trabalha com meninos e meninas de Cachoeira em atividades artísticas que visam uma melhor formação educacional e humana. A oficina de dança de Hip Hop surgiu por parte dos alunos numa conversa com o professor Samir Suzart, que durante dez anos fez parte do grupo Companhia Duanas Ritmos – onde aprendeu jazz e dança de rua.
SS: Eu particularmente ainda acho muito fraco, conheço um pessoal do PCA, que faz um trabalho há um tempo mais que é um grupo muito “underground” e tem também o Brazza Villy, que é um compositor e já concorreu no Festival de música junina aqui em Cachoeira.
R: Na oficina só acontece a dança? SS: Na dança a gente trabalha o companheirismo e valores que podemos adquirir no convívio em grupo, não só a dança em si. Temos aulas de crescimento pessoal e acompanhamento psicológico, são propostas do grupo com objetivo de tentar diminuir o número de jovens nas ruas, abordando assuntos da realidade.
R: O Grupo que você ensina já participou de algum campeonato? SS: Já. Tem o Festival de Dança do Recôncavo, em São Félix, que acontece geralmente no segundo semestre, ao todo participamos de 4 edições, ganhamos uma vez e ficamos duas vezes em segundo lugar.
R: O que o grupo espera do futuro? SS: Eu vejo que o GAMGE, o Hip Hop então, ajudam a desenvolver uma capacidade que muitas vezes as pessoas acham que não tem. Hoje eu vejo garotos que podem me substituir tranquilamente, isso é sinal de que está dando certo o projeto.
R: E a comunidade, como você vê a relação com o Hip Hop? Há aceitação? SS: Ao Hip Hop em si, eu acho que não. Apesar da gente dançar o Hip Hop, a gente não prega a questão do gueto, os valores são outros e vão além da cultura do estilo, embora ela esteja também impressa nisso, mas eu acho que a comunidade valoriza mais pela questão dos jovens estarem incluídos em uma atividade que os afastam das ruas, lhes dando uma ocupação.
R: E o incentivo por parte das autoridades? SS: O GAMGE dia 12 de maio completou 14 anos e eu acho que é muito pouco, eu falo como morador de Cachoeira, eu acho muito pouco o apoio que eles recebem pelas autoridades por fazer um trabalho direto com a comunidade. E em relação ao Hip Hop em Cachoeira é a mesma coisa, não há espaço.
O
Recôncavo Baiano tem uma cultura versada, principalmente, nas raízes africanas e no sincretismo que se deu no encontro com as religiões que, hoje, compõem um pouco da cara do Brasil. A religiosidade tem uma força muito grande na organização cultural dessas cidades, e não só as religiões de matrizes africanas dominam este campo. A igreja católica também tem a sua porcentagem. Quando não está sincretizada com as manifestações afro-brasileiras, essa religião ganha uma dimensão independente maior. Em Saubara existe uma manifestação cultural voltada para o catolicismo visando valorizar o costume dos saubarenses: a reza de Santo Antônio - realizada desde 2006
Juliana Rezende
pelo Grupo Melhor Idade – formada por pessoas da terceira idade. “Aqui a maioria das famílias rezam ‘Santo Antônio’ ou tem um filho ou filha com o nome em homenagem ao Santo ‘Antônio ou Antonia’”, disse dona Maurícia Moreira Vital da Silva, para justificar o costume. Por conta da hospitalização de Nilinho, coordenador do Grupo da Melhor Idade, dona Maurícia, com o apoio de Rosildo Moreira do Rosário escreveu um projeto para apreciação da FUNCEB Fundação Cultural do Estado da Bahia, intitulado “5ª Reza de Santo Antonio de Saubara”.
Como na cidade as famílias tinham o costume de “rezar o Santo Antônio” em casa, resolveram se juntar e fazer uma grande reza na praça publica no dia 13 de junho. Segundo dona Maurícia, a festividade do Santo Antônio tem a participação das manifestações culturais de Saubara, de 11 a 13 de junho, regados aos grupos de samba de roda, Barquinha e a Chegança e comidas típicas juninas, gerenciada pelas pessoas da Melhor Idade, que produzem os alimentos e vendem para seu benefício.
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Lenise Luz
Lenise Luz
Lenise Luz
Religiosidade
a Santo Antônio
Fé e Devoção
Caminhos
Saindo do Porto de Cachoeira, próximo a rua 25 de junho, temos em vista como será a trajetória de barco pelas águas do Paraguaçu. A viagem começa pela manhã, horário em que as águas ainda estão navegáveis e que permite ter além de uma ida, uma volta tranquila, sem perturbações nas águas. O principal propósito da viagem é, sem dúvidas, os caminhos e as memórias do Paraguaçu. Conhecer e desmistificar um pouco da história que esse trajeto conta. Rota que, nem sempre é lembrada, mas sempre presente no dia a dia do povo do Recôncavo. A primeira parada é o Engenho Vitória, um dos mais importantes engenhos de açúcar do Brasil Império. Esse trecho do rio é cheio de memórias de um povo aprisionado, no entanto, um povo que luta e de alegria inabalável.
A MÚSICA MEDE O NÍVEL CULTURAL DE UMA REGIÃO?
Sobe o som
Uma conversa com o cantor e compositor do Recôncavo Edson Gomes
Janaína Carine Um artista cachoeirano que se destacou pela música foi Edson Gomes. O cantor e compositor de reggae nasceu em setembro de 1955 e iniciou sua carreira em 1985, no Festival Canta Bahia de Feira de Santana. Seu primeiro hit nacional foi música Samarina, lançada em 1988. Daí em diante este cantor conquistou espaço e respeito no meio musical. Edson Gomes fala ao Reverso um pouco sobre sua carreira e dos diversos fatores sociais que tanto critica em algumas canções:
Edson Gomes: Prejudica um pouco ou talvez até muito. O reggae é realmente associado à maconha, então eu, como artista de reggae, sinto na pele a desvalorização e às vezes não somos valorizados exatamente por esse estigma que propaga a música à maconha. R.: Você já fez composições para outros grupos? EG: A única composição que eu fiz foi para o seriado Ó PAI Ó, Mercado Branco. Mas várias pessoas gravaram músicas minhas, como Sarajane quando estava no auge. Gravou Rastafari, Histórias do Brasil... Mas compor exclusivamente para outros artistas, não. R.: Você já fez composições para outros grupos? EG: A única composição que eu fiz foi para o seriado Ó PAI Ó, Mercado Branco. Mas várias pessoas gravaram músicas minhas, como Sarajane quando estava no auge. Gravou Rastafari, Histórias do Brasil... Mas compor exclusivamente para outros artistas, não. R.: Como você está vendo o mercado musical de nosso país nesse momento? EG: Uma lástima. Eu acho que a música brasileira praticamente acabou. Nós aqui da Bahia somos uns dos responsáveis por isso.
Pois as músicas que estão fazendo aqui são de uma péssima qualidade. Ou seja, estão exterminando a boa música brasileira. Para mim é o fim dos tempos. R.: Percebemos que nas letras de algumas músicas vários setores da Sociedade são criticados. O que você nos diz sobre esses fatores? Já foi vítima ou é somente uma forma de protesto?
EG: Nós somos vítimas diariamente do preconceito. Eu já fui discriminado e inclusive a música Barrados é um fato verídico. Eu morava no Cabula, bairro de Salvador, estava indo em direção ao meu carro e uma senhora branca quando me avistou protegeu a bolsa. Todos nós que entramos numa repartição bancária, mesmo os vigilantes sendo negros, ficam mais espertos com a gente. Só não somos discriminados quando somos conhecidos. A minha música é uma forma de protesto mesmo.
Fernanda Rocha
Reverso: A sociedade costuma associar o reggae à maconha. Você acha que isso faz com que a mídia não dê tanta atenção ao gênero como mereceria?
R.: Como você vê os cantores daqui do Recôncavo no cenário da música? EG: Aqueles que fazem a “garapa” são apadrinhados pelo sistema. Aqueles que não querem protestar nada são os que normalmente estão trabalhando, estão com a agenda cheia, tem os maiores cachês. O que vejo é somente uma andorinha resistindo e protestando, enquanto os demais que estão ganhando dinheiro não estão nem aí para os problemas. As pessoas estão conhecendo as minhas músicas de protesto de 88 e 89 agora. Bob Marley, por exemplo, tem 30 anos de morto e ninguém supera, os jovens vão crescendo querendo ouvi-lo. Porque é música! Mexe com os sentimentos das pessoas verdadeiramente.
R.: Em suma, pra você qual é a importância da música para a sociedade em si? A letra induz ou não os indivíduos, seja ela no caráter ou mesmo no comportamento? EG: A música é de suma importância quando é real (fala a verdade). Auxilia os indivíduos no conhecimento, ajuda a idealizar a forma da maneira de pensar, induzem as pessoas à meditação, e é usada para reivindicar os direitos. Através da música podemos medir a situação e o nível cultural de uma nação. Por isso digo que o nível cultural do nosso país é péssimo. Todo mundo gosta de música, nós vemos uma multidão atrás dos trios. É esse o nível cultural do nosso país. Portanto, a música é de grande importância para nossa sociedade.
e memórias do Paraguaçu Histórias de escravos que trouxeram o ritmo, a dança e a religião. Parte da cultura de uma região que chamamos Recôncavo, parte da cultura de um país. Seguindo viagem, agora a caminho de Coqueiros, nos deparamos mais uma vez com as paisagens do deste rio cheio de memórias. Bancos de areia, vegetação, pássaros que brincam com a água e a beleza do próprio rio. Depois de todos os deslumbres do trecho, chegamos finalmente ao destino: Coqueiros. Distrito de Maragogipe, Coqueiros expressa a partir da cerâmica as raízes de gerações. O trabalho com o barro e a arte de dar forma a ele é um aprendizado dos ancestrais desse povo que caracterizam a identidade da região. As artesãs, aproximadamente 40 mulheres, dão
seguimento a essa memória coletiva. Em Maragogipe, temos uma vista digna de ser Recôncavo. A cada trecho de água, a cada parada, uma história que encanta e conta. A cidade, exatamente no ponto de encontro do rio Paraguaçu com o rio Guaí, é conhecida por seu porto que até hoje é ponto de parada de embarcações. A região era habitada por índios da tribo marag-gyp, “rio dos mosquitos”, presentes em quantidade por cercada de manguezais. O nome foi adaptado e posteriormente deu nome a cidade. A viagem segue até o nosso último destino: São Francisco do Paraguaçu. A região era habitada pelos índios tupinambás e a partir da segunda metade do século XVI foi ocupado pelos portugueses. Lá encontramos o primeiro convento a ser
estabelecido no Brasil, o de Santo Antônio do Paraguaçu, que hoje é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O convento foi testemunha das lutas dos baianos contra a invasão holandesa à Bahia e também funcionou como um pequeno hospital com enfermaria. Depois de tantas histórias e memórias, retornamos à Cachoeira, nosso ponto de partida. Mas depois de toda essa trajetória de luta que esse rio presenciou, é impossível encará-lo da mesma forma: sem a reverência que a ele é devida. O Paraguaçu, um dos símbolos do Recôncavo, conta e encanta com as histórias de um povo com a identidade estampada na pele, no rosto e na fala.
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Literatura
Rodrigo Valverde
Galeria
A banda, incialmente formada em Itabuna no ano de 2006, vem ganhado espaço no Recôncavo. Um rock que mistura garagem,reggae, dub e mpb nas suas apresentações musicais. Atualmente a banda é composta por Saulo Leal (vocal e guitarra), Bebel (baixo) e Gets (bateria). Se a curiosidade bater, visite: www.myspace/bandatiouzo.com
por Janaína França
Luz, câmera... Ação! Leon Sampaio, 23 anos, aluno do 6º semestre de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), se inspirou em duas musas para criar A Eternidade, um curta-metragem. A primeira musa, Cachoeira – cidade em que passou a residir – e a segunda, São Félix. As cidades gêmeas, que revelam tanto da vida do interior, com suas luzes em outono, o som das filarmônicas e uma pitada caprichada de boemia, inspiraram o estudante a construir um roteiro sobre o amor impossível. Poderia ser clichê se não fosse pela beleza das cidades e se o amor retratado não fosse dramatizado por duas pessoas da terceira idade. O filme foi produzido em 2009 de forma independente, no segundo semestre de Leon na Universidade. Demorou outro semestre para ser editado e em 2010 rodou por festivais. Foi ganhador de dois prêmios: O melhor curta baiano, do Festival de Cinema Universitário, e Prêmio do Júri pelo Salão de Artes Audiovisuais do Recôncavo. Mais informações: >> www.filmeaeternidade.blogspot.com
Divulgação
Cachoeira receberá entre os dias 16 e 21 de agosto a Festa Internacional Literária de Cachoeira, ou FLICA. O evento foi um dos 19 projetos baianos contemplados pelo edital Oi Futuro 2011, divulgado em 21 de março. A festa literária - o primeiro evento do tipo na região - acontecerá nos moldes das famosas Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP) e Festa Literária Internacional de Pernambuco (FLIPORTO). As expectativas são grandes, pois se espera um grande público nacional e internacional, já que o evento acontece logo após a tradicional festa da Boa Morte. O evento baiano terá palestras e mesas de debate com 35 autores locais, nacionais e internacionais, que acontecerão na tenda climatizada no centro da cidade e no auditório da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A programação ainda conta com quinze atrações musicais para os seis dias de evento. Os shows acontecerão em um palco flutuante montado sobre o Rio Paraguaçu. Segundo a organização, os objetivos da FLICA são descentralizar ações culturais da capital baiana estimulando o debate literário na região, inserir no calendário turístico cultural baiano um conceito inédito de “Festa Literária” e, principalmente, incentivar o turismo na região, valorizando assim, o patrimônio étnico-cultural e histórico de Cachoeira. Apesar do tamanho do evento, a divulgação local é muito tímida. Apenas uma parcela pequena da população cachoeirana está a par do evento. O estudante cachoeirano Matheus Mascarenhas, 21, diz que nem ouviu falar “dessa tal de FLICA”, mas espera que seja “massa” por causa dos shows. Em contrapartida, boa parte dos estudantes e professores do Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL) da UFRB está ciente do evento e muito animada com a sua realização. O estudante de jornalismo Fernando Mota, 22, afirma que além de ser muito importante para uma cidade como Cachoeira, a FLICA vai aumentar consideravelmente o turismo na região. A FLICA confirmou a Oi como seu primeiro patrocinador. Atualmente, a produção está direcionada para a captação de outros apoiadores e para a confirmação das programações literária e musical, que serão divulgadas entre maio e junho.
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Literatura & Arte
Tio Maruzo
Nos Moldes da
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Ordep Serra, 67 anos é um dos maiores antropólogos da Bahia. Viveu um período da sua vida em Cachoeira. Além disso é ganhador bicampeão do prêmio nacional de literatura (Braskem) da Academia Baiana de Letras (ABL) em 2008 e 2010. Ordep traz em seu livro Sete Portas, contos sobre as cidades de Cachoeira e São Félix. Com uma narrativa leve, madura e um tanto engraçada ele conta “causos” das duas cidadezinhas pitorescas. Revela na sua narrativa um pouco do misticismo que as cidades gêmeas exalam, o modo de viver antigo misturado ao atual desses lugares. Suas personagens são bem desenhadas quanto ao perfil do homem do recôncavo, seu jeito de falar e seus costumes.
Escola Pública A música aproxima as pessoas! Foi o que aconteceu com os integrantes da banda Escola Pública. Uma reunião de colegas da UFRB mostrou afinidade na hora que os primeiros acordes foram tocados, assim de brincadeira. Hoje a banda (com dois anos e meio) já tem um perfil mais sério, de estilo ainda indefinido, algo, talvez, meio samba rock and roll. Com repertório próprio, a Escola Pública, traz em suas letras críticas à sociedade em suas formas de política e construção social. Falam do modelo de exploração e esvaziamento da imagem através da mídia e da forma de manipulação negativa que esta exerce. Além disso, em outras combinações de notas, traz também o sentimento, as emoções e a religiosidade – muito marcante e que exala o Recôncavo. A banda é composta por Breno Tsokas (baixo e percussão), Ícaro de Oliveira (cavaquinho e violão), Pedro Patrocínio (voz e violão), Lucas Pereira (bateria), Flávio Santos (trompete) e pelas backing vocals Joana Almeida e Camila Yallouz. No dia 18 de junho será colocado em redes sociais seu primeiro clipe, elaborado por um grupo da disciplina Produção de Cinema da UFRB. A música escolhida foi Socorro, meu Deus! Por trazer elementos da mídia cotidiana - principalmente os programas sensacionalistas – comuns no modo de se informar das pessoas.
Leon Sampaio
Mais informações: www.bandaescolapublica.wordpress.com
Janaína França
Sete Portas
“Um pinguinho de tinta cai no pedacinho azul do papel...” Renato Kyguera, nascido e residente de Cachoeira, 31 anos, sempre gostou de desenhar. Aos 5 anos os lápis de cor e os papéis eram seus amigos íntimos. Este laço, com o passar do tempo, só foi se estreitando. Na escola era sempre “o cara” e a galera o idolatrava, porque fazer o que nem todo mundo sabe, te dá destaque. Sempre gostou dos detalhes das pessoas, do rosto e da expressão. Assim, se interessou pelo efeito das tintas. Foi mais complicado, claro. Lápis é mais firme, tinta... Bem, tinta se espalha toda e faz bagunça na tela. Pintou alguns quadros que depois de considerar horríveis jogou fora. Renato considera seu primeiro quadro a pintura de um menino com o qual sonhou: “eu precisava registrar a expressão dele, para não esquecer depois”. Foi assim que Kyguera, autodidata, entrou no mundo da pintura. Ele revela que se inspirava nos trabalhos expostos no Pouso da Palavra e em outras galerias de Artes Plásticas, inclusive em algumas de Salvador. Até que um dia, curioso, foi ao Pouso e perguntou como se fazia para ele ter os quadros dele expostos. Apresentou alguns trabalhos e ouviu de Damário Dacruz: “ridículo, mas satisfatório”. “Não sei ouvir a opinião dos outros”, Renato revela, e diz que talvez tenha sido por isso que não desanimou quando ouviu a crítica de Damário. O mais incrível é que nunca usou o dinheiro da arte para outra coisa que não fosse arte. O dinheiro conseguido pelos quadros que vendeu em todos os seus 10 anos de pintor, sempre foi usado para comprar mais material para outras pinturas. Arte pela arte, literalmente. Afinal, o produzir dele é por paixão, hobby, afinidade. Como ele fala: “sempre foi por prazer”.
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História, música, cor e samba no pé! Marília Marques
Identidade
O que Cachoeira tem?
Josiane Nascimento “Cachoeira, ô terrinha boa!” Foi o que ouvi de um turista enquanto fazia esta matéria. E quando eu perguntei o que ele mais gostava, respondeu sem hesitar: “Ora, a cultura”. As manifestações culturais são a arte de cultivar a identidade que caracteriza e representa a “cara” da sociedade. No Recôncavo baiano, a diversidade cultural deriva principalmente da interação do sincretismo religioso: a mistura das religiões afro-brasileiras com o catolicismo. “A terrinha boa” citada no início do texto vem da força do povo para manter suas
tradições vivas e presentes. É assim que Cachoeira exibe sua diversidade: do tradicional Samba de Roda, passando pelas Filarmônicas e Feiras Populares, até as comemorações do dia 25 de junho, que festeja as guerras de Independência da Bahia. Todos esses movimentos comunicam-se com o povo e é ele que melhor expressa a cultura. Minha mãe sempre diz que "bom mesmo é conversar com os mais velhos”. Particularmente, acho que ela tem razão, pois são eles que sabem contar as histórias que compõem o imaginário popular, len-
das, fantasias ou coisas do cotidiano. São eles quem cantam, vendem nas feiras livres, trabalham e todo dia contribuem na perpetuação cultural. A expressão da cidade vem da felicidade das pessoas em forma do som típico ou nas fantasias para as festas. Assim, essas manifestações reproduzem uma vontade comum: a reunião de gostos que exala e chama as pessoas a se juntarem, a compartilhar um sentimento envolvente. É essa alegria de estar junto que reflete na formação de uma identidade. As novas gerações já enxergam a importância de manter vivas as tradições, mas de um jeito próprio reformulam e adequam uma realidade diferente da de seus
antecedentes. Os projetos culturais também ajudam a entender o passado com o pé no presente e construindo o futuro. A cultura não é algo programado e regulamentado, é muito mais. As manifestações culturais representam o dia a dia de cada pessoa que habita a cidade. As pessoas crescem vendo, ouvindo e sentindo os movimentos da cultura que encantam. Por isso não é difícil de ver em cada canto de Cachoeira alguém sambando, fazendo um batuque ou, simplesmente, mostrando o que Cachoeira tem!
Democratizar, popularizar, avançar com a cultura!
Eleições do Conselho Municipal de Cultura de Cachoeira marcadas para dia 5 de junho
Lorena Morais A Secretaria de Cultura e Turismo de Cachoeira definiu para 5 de junho as eleições para a escolha dos representantes do Conselho Municipal de Cultura, com local a ser escolhido. As eleições serão abertas e decididas por cada segmento, que deve ser composto por oito membros representantes da sociedade civil e sete do poder público, com mandato de dois e um ano, respectivamente. A decisão foi discutida em audiência pública realizada no dia 4 de maio, na Câmara Municipal,
mediada pelo secretário de Cultura e Turismo Lourival Trindade. A criação do conselho é um dos critérios exigidos pelo decreto lei nº 876/2010, que “dispõe sobre a criação do sistema municipal de cultura e dá outras providências”. No artigo 4º, por exemplo, são definidas algumas das suas finalidades: como formulação de políticas e diretrizes para o Plano Municipal de Cultura; garantir a cidadania cultural; defesa dos patrimônios culturais e artísticos do município; fiscal do Fundo de Cultural, entre outras atribuições.
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