O Jesus que eu nunca conheci - Philip Yancey

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trabalhadores temporários para a colheita. O dia se passou, e lá pela décima primeira hora ele recrutou um último grupo de trabalhadores, que só tinha uma hora ainda para provar o seu valor. Na versão conhecida da história, os atrasados recuperaram o tempo perdido trabalhando tanto que o capataz decidiu recompensá-los com todo o pagamento de um dia. A versão de Jesus, entretanto, nada diz acerca da diligência dos trabalhadores. Acentua, em vez disso, a generosidade do empregador — Deus — que derrama a sua graça sobre veteranos e recém-chegados igualmente. Ninguém é enganado, e todos são recompensados, muito além do que mereciam. Apesar desse destaque sobre a graça, ninguém poderia acusar Jesus de diluir a santidade de Deus. Eu teria igualmente tropeçado sobre a verdade que Jesus proclamava, verdade muito mais intransigente do que a ensinada pelos escrupulosos rabinos do seu tempo. Os mestres contemporâneos lutaram para “não impor uma restrição à comunidade, a não ser que na maioria ela fosse capaz de suportá-la”. Jesus não tinha tais reservas. Alargou o homicídio para incluir a ira, o adultério para incluir a concupiscência, o roubo para incluir a cobiça. “Sede vós, pois, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que está nos céus”, ele disse, estabelecendo um padrão ético que ninguém podia atingir. Como Elton Trueblood observou, todos os símbolos maiores que Jesus utilizou tinham uma qualidade severa, quase ofensiva: o jugo do fardo, o cálice do sofrimento, a toalha do servo e finalmente a cruz da execução. Era preciso “fazer as contas dos gastos”, disse Jesus, advertindo qualquer um que se atrevesse a seguilo. Um rabino moderno chamado Jacob Neusner,


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