Resistance magazine 9

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Uma simples reclamação_BERNARDO FABRICA Estes são os fatos: na nossa vida nunca teremos férias no espaço. Nunca teremos uma daquelas mochilas com um motor a jato todas fixes que vimos sempre nos filmes, muito menos um carro voador. A SIDA muito provavelmente não terá cura definitiva antes da nossa morte, a gripe comum igualmente, o cancro muito menos. Isto não vos incomoda? Em Portugal morrem por ano em acidentes de automóvel aproximadamente 1000 pessoas. Ou melhor, aquilo que a chamamos acidentes. Nós metemo-nos conscientemente dentro de balas que podem pesar até 3 toneladas, que não somos capazes de controlar a 100% e depois questionamonos como é que algo pode correr mal. Podem-se estar a perguntar por que razão estou eu a reclamar com isto. Afinal o mundo não é perfeito, nunca o foi, e provavelmente nunca o será. Sim, ainda existem crianças a morrer de diarreia devido a consumo de água pouco potável, mas que fazer? Acontece que vivemos no século XXI. Para todos os efeitos vivemos

no futuro. Temos máquinas nos nossos bolsos que nos mantêm contatáveis a toda a hora. Temos computadores com milhentas vezes mais poder de processamento que aqueles que levaram o homem à Lua em ’69. Podemos ligar-nos a uma rede que quebra qualquer fronteira, nos dá qualquer informação que queiramos. Não há muito tempo atrás uma mensagem demorava meses a atravessar o mundo. Qualquer pensamento estúpido de qualquer indivíduo pode atravessar o globo numa questão de segundos. Imaginámos sempre o futuro com carros voadores, escravas sexuais robôs (ok, isto talvez só eu), viagens interestelares e nem nos damos ao trabalho de olhar para os nossos Iphones. Nascemos com eles? Não. Nós somos personagens de ficção científica, nós vivemos no futuro. Mas onde está a minha pistola de raios? As minhas férias na Lua? A minha nave espacial? Este não é o futuro que nos foi prometido, alguém o roubou… Ninguém se pergunta quem?

D. Sebastião ou José Sócrates?_DANIEL MATOS Mitos: numa manhã de nevoeiro? Enganese pois o caro leitor que acha possível isto acontecer com o regresso de D. Sebastião. É uma história bonita mas não passa de orvalho, humidade e manhãs sem sol, pois o verdadeiro retornado regressou num dia limpo, com muito sol e com uma chuvinha ao cair da noite. Está feito o anúncio... resta saber se o homem vai mesmo aparecer. Chama-se José, como o pai de Jesus, e a sua aparição tem um q.b. de santidade, pois acontece dias depois de o novo papa ser eleito (claramente um sinal de Deus), e no qual a revolta social e a crise parecem piores do que nunca. Eis que volta, José Sócrates, com o nome de filósofo grego e um bonito primeiro nome, aparece vestido de comentador político (a segunda aparição mais usada pelos santos de Deus, a seguir à virgem Maria) e vem conhecer o céu e o esplendor da televisão pública, depois de crucificado pelos Portugueses. Já se sabia que era um Mártir, já se sabia que estava em Paris a perceber os porquês da sua crucificação e até que tinha enviado um seu discípulo (também ele perito em cursos instantâneos), um tal de Miguel Relvas, e por fim volta para ser canonizado pela RTP, televisão (ainda) do

estado. Talvez aí Miguel Relvas tenha por objectivo ajudar na santificação do seu ídolo. Sócrates, Socrátes, Trocaste, Socras ou Socas, nomes carinhosos dados pelo seu querido e religioso povo, promete não receber qualquer remuneração pelo seu comentário político (excepto aquelas viagenzinhas para Paris, alimentação e todas essas “pequenas coisas”), o que é de louvar, uma coisa que hoje em dia apenas os santos conseguem fazer, nessa consciência de não cuspir no prato que já comeu. Sócrates não quer meter qualquer euro ao bolso porque os tem ocupados: no esquerdo terá o seu primeiro diploma universitário realmente válido (será?) e no direito terá rendimentos extra do governo que liderou enquanto pôde e o FMI não lhe cortava os subsídios. É um princípio da gatunagem: ladrão não rouba ladrão. Sinceramente, na minha singela opinião, José não terá dificuldades para se habituar a este clima político, uma vez que o país continua com a corda ao pescoço, o primeiro ministro não faz nada de especial para resolver a crise, há sempre alguém no governo que gosta de fazer umas brincadeiras e umas gaffes (ah e os cursos que tira!) e Cavaco Silva continua a falar imenso. É neste ambiente familiar

que José Sócrates regressa activamente a Portugal. No entanto terá um trabalho árduo, José Sócrates, uma vez que se vê ligeiramente ultrapassado pelo seu discípulo Miguel Relvas no âmbito das gaffes políticas e do seu curso. Terá de se esforçar, mas com determinação pode obter vitórias importantes neste campo, pois estará mais tempo exposto a falar de coisas que julga conhecer. Há ainda Cavaco Silva que tecerá sempre duras considerações sobre coisa nenhuma, o que pode levar a silêncios dolorosos que José não está habituado a enfrentar. José Sócrates não terá no entanto o chefe da oposição a enfrentar, que sempre conseguiu ludibriar as aspirações de José e que conseguiu incendiar as suas palavras. Falo, claro, de Marcelo Rebelo de Sousa, o professor que não descansa e que já não fala na RTP, tendo optado pela TVI. Percebe-se a posição de Marcelo, uma vez que alguma cultura tinha de ser dada à TVI nestes últimos anos. Cabe agora decidir ao leitor se vai consentir a ascensão de José, Superstar, ou vai continuar a escutar cultura e comentário do líder da oposição a qualquer governo, Marcelo. Será no mínimo espectacular a disputa das audiências. Salvé José!

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