traduzindo o conceito queer para transviado, por exemplo, com todas as especificidades que a realidade nacional demanda. Entre a teoria e o cotidiano, a academia e as ruas, na última década, vemos germinar e se consolidar uma nova linguagem musical, comportamental e estética. Dois fatores que possibilitaram a efervescência de novos artistas dessa cena musical, sem dúvida, foram a internet e a produção musical independente. As redes sociais digitais possibilitaram ferramentas de marketing e produção, essenciais para o surgimento da cena musical independente. Hoje, muitas casas de shows adotam o critério de número de seguidores de determinado artista para contratá-lo. A matemática de likes e players no Facebook e outras mídias digitais determinam a que lugares um determinado artista consegue chegar. A internet aproxima o público do artista a ponto de compartilhar sua intimidade, de se sentir parte daquilo. Sem falar no salto de proximidade entre estar na web e chegar até as mídias tradicionais. Utilizando as ferramentas cada vez mais atualizadas de comunicação instantânea, artistas de todo país encontraram espaço na indústria fonográfica brasileira. A cena independente paulistana, surgida nos anos 2010, tem posição privilegiada nesse movimento musical. Em decorrência de processos econômicos e de políticas culturais como Proac, editais, pontos de cultura, e incentivos estatais no país nos últimos quinze anos, especialmente realizados durante os anos de governo Lula, gerou-se uma abertura no sistema para o surgimento dessa cena independente. São Paulo centraliza oportunidades à sustentação e divulgação de trabalhos musicais autorais, sem a interferência das grandes gravadoras. Também é um espaço privilegiado de encontro de diversas vertentes estéticas. Por isso, na história dos artistas a seguir, veremos a frequência da migração para a capital paulista como uma maneira de desenvolver a carreira independente. Essa cena musical atual, que vem desconstruindo o conceito de gênero no palco, levanta questões que interseccionam também raça e classe; questões como identidade, ocupação de espaços privilegiados, feminismo, a luta contra o machismo, contra o racismo e contra as opressões do estado e das religiões, que também estão em pauta. Nas páginas a seguir, você terá contato com experiências múltiplas e muito doloridas, que levaram esses e essas artistas a chegarem onde estão.
amostra, oreprodução proibida VOZ ES T R A N SC ED E N TE S
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