Uma história íntima do desenho fernando chuí dissert de mestrado

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Uma História Íntima do Desenho

Como na maior parte das oficinas, tenho clareza de que a grande maioria das pessoas que vem a freqüentá-las não virá a seguir uma carreira artística ou sequer virá a desenvolver obra pessoal. Contudo é claro para mim que a arte não deve ser pensada na educação somente para artistas, mas como um processo revelador e construtor do ser humano em qualquer meio. Como bem expressado por Eva Furnari, constato que a diferença básica que vejo entre a experiência de arte vivida por artistas e a experiência de arte vivida por pessoas que não se encaminham para isto se percebe no desejo do sujeito. Respondi a Grassmann que todas as minhas ações como docente nos cursos livres visavam somente uma única finalidade: estimular os alunos a desenharem ao máximo, ou seja, estimular ao máximo o desejo de desenho de cada um dos alunos. Acima de tudo, não creio em desenvolvimento de linguagem sem uma experiência intensa, nem creio em uma suposta qualidade estética sem uma larga quantidade de produção (algo improvável de ocorrer em um curso de 24 horas de duração como foi o caso de minhas turmas observadas). Minha experiência de docência nos cursos livres de fundamentos do desenho com grupos heterogêneos de curta duração me fez entender a delicada questão que se situa entre técnica e expressão pessoal. Abordar esse tema com tão pouco tempo para o desenvolvimento de processos é travar constantes e múltiplos conflitos: do amor à arte com a idéia da aplicação utilitária; da expressão artística individual com o aprendizado de conceitos; da liberdade como princípio com a disciplina como método. A fala de Alexandre Jubran me fez perceber a dificuldade de inserção do ensino técnico do desenho no contexto de instituições de ensino superior. E a conversa com Edith Derdyk me apontou outra forma de pensar a educação do desenho, sob a perspectiva do artista como propositor a partir de sua própria teoria e poética pessoal. Marcelo, Paulo, José, Guto, Eduardo, Ana, Maria, Alexandre, Edith e Eva descobriram o desenho de maneiras bastante particulares. Estou certo que, se fosse possível a pesquisa sobre a intimidade do aprendizado de tantos artistas mais, outras questões viriam quiçá a se multiplicar nesse texto. Estimular e não obstruir o desejo (ou o que venho chamando de sentimento de “magia” do desenho) - não importando por que vias pedagógicas - é o que creio ser a principal função de um professor de artes. Igualmente não constato o desenvolvimento de estilos pessoais – ou a dita auto-expressão - sem um processo 196


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