Revista Código #8 - Dez/2019

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“magia negra” e “satanismo” ganhavam destaque nas matérias, alimentando a comoção pública. Os acusados, ainda sem julgamento, eram chamados de “bruxos” e “bárbaros”, nas manchetes das matérias publicadas na época. O sobrenome Abagge tem destaque fundamental no caso do menino, pois Celina Abagge e sua filha Beatriz, respectivamente esposa e filha do então prefeito da cidade, foram acusadas posteriormente pelo assassinato da criança. Além das duas, outras cinco pessoas foram indiciadas: Airton Bardelli, Davi dos Santos Soares, Francisco Sérgio Cristofolini, Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula Ferreira. Em 1993, as mulheres da família Abagge tiveram sua narrativa considerada em um veículo de comunicação. A “Folha de Londrina” publicou uma entrevista exclusiva, na qual elas revelam pela primeira vez à imprensa sua versão dos acontecimentos, alegando ter sofrido torturas para confessar o crime. A matéria foi assinada pela jornalista Mônica Santanna. Em 1996, a jornalista Vânia Mara Welte foi responsável por um dossiê, publicado no jornal curitibano “Hora H”, sobre o caso. Foram 17 reportagens de autoria de Vânia, publicadas no jornal entre junho e outubro daquele ano. A cobertura da jornalista venceu o Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria Regional Sul. Novembro de 2019

As reportagens premiadas De todas as reportagens feitas sobre o caso, durante todos esses anos, sem dúvida as que mais se destacaram foram as reportagens de autoria da jornalista Vânia Mara Welte, que até hoje é a única mulher paranaense a ganhar o prêmio Esso de jornalismo. As reportagens foram publicadas no jornal da capital do estado, quatro anos após os acontecimentos. Durante as reportagens, Welte entrevistou membros da família, pessoas que conviveram com os Abagge, oficiais de Justiça e indivíduos diretamente ligados ao Caso Evandro, além dos familiartes de Leandro Bossi, outra criança desaparecida em Guaratuba no mesmo período. A jornalista decidiu tomar rumos que nenhuma outra reportagem havia exposto sobre o caso. A to invés de acusar e

culpar as ditas “bruxas”, Vânia decidiu ouvir sua história e dar-lhes o benefício da dúvida ao desenvolver uma série de reportagens que buscava mostrar quem eram Celina e Beatriz. A sequência tem início em setembro de 1996, quando Welte apresenta 12 perguntas sobre o Caso Evandro que ainda não tinham solução. Após quatro anos, a situação das Abagge era a prisão domiciliar e outros quatro acusados continuavam presos em regime fechado, todos ainda sem julgamento. A primeira entrevistada é Sheila Abagge, filha de Celina e irmã de Beatriz. Sheila conta sobre o impacto que a prisão e o julgamento prévio da mãe e da irmã causaram na vida de todos os integrantes da família e como foi prejudicial para cada um deles conviver com o peso de ter seu sobrenome associado ao crime. A primeira reportagem segue com um relato de Aní65


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