Revista Código #8 - Dez/2019

Page 62

das com câncer. Entre 2004 e 2017, mais 21 pessoas foram diagnosticadas com a doença na mesma região. Pelo menos 39 pessoas da região da Rua 26-A, no Setor Aeroporto, hoje chamada de Rua Francisca da Costa Cunha, já tiveram a doença. A maioria morreu e alguns ainda enfrentam as complicações, residindo nos mesmos locais da época. A Rua 26-A foi um dos principais focos de radiação na época, já que abrigava o ferro-velho de Devair Alves Ferreira, nos lotes 29 e 30 da Quadra Z. Ele foi o primeiro a comprar as peças do aparelho que continha a cápsula de Césio. “Não é fácil apagar da memória tudo que aconteceu. Os moradores que ainda vivem na região da cidade

Reprodução/O Popular

ram o assunto. A Revista IstoÉ, por exemplo, fez uma capa afirmando “Goiânia Nunca Mais”. A apresentadora Hebe Camargo fez um discurso bem questionável. Foram situações de falta de informação e acirramento do preconceito. Por muito tempo, pessoas de Goiânia foram mal vistas ou mal tratadas em outros locais”. Destaca Galtiery. As famílias que foram atingidas, direta ou indiretamente, continuam tendo de fazer exames periódicos e tendo um acompanhamento médico, porque as sequelas do contato com o material radioativo podem surgir décadas depois da exposição. Além disso, existem pessoas que guardam no corpo marcas e cicatrizes do contato que tiveram com as partículas de césio. Entre 1987 e 2004, 18 pessoas foram diagnostica-

onde o acidente ocorreu ainda preservam as lembranças da época e os relatos são ricos em detalhes. Muitos perderam casas, objetos, roupas e fotos da família. Tudo teve de ser descartado e virou resíduo nuclear”, conta o repórter. Galtiery ressalta a importância de rememorar o caso e não deixar que toda a situação caia no limbo do esquecimento, para que novas gerações possam conhecer a história. “Em suma, é como se o acidente com o Césio-137 tivesse deixado uma lição – dura e trágica, mas uma lição – para que ele não se repita jamais. A total desinformação, a negligência do setor público e o despreparo não só facilitaram com que tudo ocorresse, como também acentuaram os efeitos da tragédia. Afinal, foram 16 dias entre a abertura da cápsula e a identificação de que, de fato, tratava-se de um acidente radiológico. Foi um marco trágico e triste na história da cidade e do Brasil, com repercussão mundial”.

O Veredito

População forma fila no Estádio Olímpico, em Goiânia, para medição dos níveis de radioatividade. 62

Galtiery relata que a cada reportagem sobre o caso, novas histórias surgem, e mostram a importância de manter e preservar a memória do acidente, com relatos e ângulos diferentes. Um dos momentos mais marcantes para o repórter é uma história que ainda não Revista Código | Cruzeiro do Sul


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.