Revista Extrabom | Edição 5

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VIDA adiava um pouco seu sonho de chegar ao Teatro Bolshoi, ela cursou Administração de Empresas e Educação Física e fez pós-graduação em Gestão Estratégica de Pessoas e Prescrição do Exercício Físico para Saúde e Treinamento. Sua vida mudou da água para o vinho quando, em uma viagem para se aperfeiçoar no balé, ela desafivelou o cinto de segurança momentos antes de capotar o carro. Solta dentro do veículo, foi jogada de um lado a outro, para cima e para baixo, diversas vezes. Presa ao banco, talvez não tivesse fraturado a coluna vertebral. “Às vezes, quando falo, a pessoa olha com aquela carinha de triste, tipo assim: ‘tadinha, que pena’. Trato logo de dizer: ‘Por quê?’. E daí parto logo para o impacto: ‘Sou feliz! Nasci para isso!’. A pessoa ouve como um absurdo, horror, para dizer o mínimo. Amo a minha história e tenho muito respeito por ela. Não tenho nenhum problema em falar sobre isso, pois é algo absolutamente resolvido pra mim. Aliás, trabalhando com crianças, não tem um só minuto em que não tenho que falar sobre a minha história. O que importa é a visão das coisas; as coisas não importam. Eu sou feliz, e a causa disso sou eu”, revela Mariana, que atualmente também atua como atriz, colunista de jornal, professora universitária, técnica e árbitra de ginástica artística, além de personal. Sim, personal, com um monte de alunos que não têm deficiência alguma. “Penso que muitas pessoas se limitam demais. Não me vejo

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MARIANA REIS, ATRIZ, COLUNISTA DE JORNAL, PROFESSORA UNIVERSITÁRIA, TÉCNICA E ÁRBITRA DE GINÁSTICA ARTÍSTICA, ALÉM DE PERSONAL.

diferente de ninguém que batalha, almeja e acredita. Apenas fui desafiada pelo destino a fazer as mesmas coisas de maneiras diferentes. Na verdade, fui desafiada a usar um pouco mais do potencial que todos nós temos. A forma como realizo ou organizo minha vida é que talvez cause esse uau”, revela Mariana sobre suas competências. “Ser cadeirante não é problema. Problema é a falta de acessibilidade. Existindo, faço de tudo. Aliás, não só eu, mas qualquer um com algum tipo de deficiência, seja ela auditiva, física, visual. Acessibilidade tem de se tornar cultura, hábito, uso comum, da mesma forma como o cinto de segurança se tornou”, afirma. Seja por sua atuação profissional, seja por sua militância nas questões acerca de acessibilidade, Mariana sabe como ninguém quais são os benefícios que o esporte traz à saúde física, mental e para o convívio das pessoas, inclusive as com deficiência. “Todo mundo sabe que a prática regular de exercícios fortalece os músculos e aumenta a resistência.

E para as pessoas com deficiência, praticar esportes pode representar muito mais que saúde. A atividade física e esportiva ajuda as crianças, jovens e adultos com deficiência a adquirirem, além de autonomia e independência, o resgate da autoestima, autoconfiança, relações pessoais e equilíbrio emocional. Mesmo quem tem uma deficiência severa pode praticar esportes, claro, sob a orientação de professores capacitados e habilitados. O exercício físico previne as complicações secundárias à deficiência e impulsiona o indivíduo a descobrir que é possível ter uma vida normal e saudável.” Praticar atividade física ou até mesmo um esporte, como no caso de Geisiane, é uma forma que pessoas com deficiência têm de redescobrirem a vida em seu sentido mais amplo. Basta começar para ver que a prática pode, sim, levá-las muito mais longe do que imaginam, seja viajando junto com uma seleção, por exemplo, seja olhando para dentro de si e enxergando possibilidades que até então eram desconhecidas.


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