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V OCÊ CONHECE O GRUPO H APAX, DO RIO DE JANEIRO ? Sim, eles são maravilhosos. Escreveram “Pode” no GPS, em quatro bairros do Rio, ali pela Lagoa. E eles tem um trabalho chamado “burro-sem-rabo”, que é uma sucata, um sucatão com som, e um engenheiro que trabalha com eles transformou o sinal do GPS em som. Ao mesmo tempo que ele vai trocando som, eles vão fazendo o mapeamento por onde eles estão passando. E eles dizem que a deriva é o DJ. É o caminho que vai fazendo o som e vai agregando pessoas. Eles fundem uma dimensão low-tech, de baixa tecnologia, sucatão com alta tecnologia, localização, GPS, celular. A DERIVA É UMA QUESTÃO IMPORTANTE QUE ESTÁ RESSURGINDO HOJE, NÃO? Há uma influência direta dos situacionistas, dos dadaístas, da arte do andar, das psicogeografias. Então eu posso fazer mapas dos mais diversos. Desde mapas sobre a dengue no Brasil, e revelar isso, fazer isso de forma colaborativa. Ou a taxa de dióxido de carbono, tem um grupo londrino que faz isso, as pessoas andam com sensores e cada pessoa é um sensor, e que você produz um mapa independente das instituições oficiais, que você dá ali exatamente a taxa de CO2 em determinados lugares da cidade. Então essas tecnologias permitem tornar visíveis alguns aspectos da vida social que passam despercebidos ou que são controlados apenas pelas instituições oficiais. É de novo uma potência bottom up, de baixo para cima, que emergem com essas tecnologias novas e móveis. E COMO VOCÊ VÊ O PAPEL DO BRASIL NISSO? O nosso desafio é como é que nós vamos fazer algo que não seja reprodução do que é feito nos Estados Unidos e na Europa, que tenha essa cara do Brasil. A cara do Brasil também é algo difícil de achar, não é? O que é essa cara brasileira? Nós somos um país de uma identidade multifacetada, do norte ao sul as diferenças são muito grandes. Então pensar em algo tipicamente brasileiro é algo difícil, mas eu acho que é brincar um pouco, jogar um pouco com as nossas carências. É isso que daria o tom mais brasileiro, é não querer fazer uma coisa muito limpa, muito certinha, aproveitar um pouco a nossa precariedade, as nossas diversas formas de exclusão. A reciclagem, um pouco essa coisa de aproveitar sucata e tentar tirar daí algo que expresse, um pouco não se privando de utilizar as tecnologias de ponta e os sistemas mais atuais, mas que reflita um pouco a realidade brasileira, não só na forma como na temática 146


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