Economia e filosofia na escola austriaca

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mais, que deve ser antecipada no plano, menos volátil e mais previsível e portanto mais plausível o processo de coordenação social. Mas a epistemologia “racionalista” de Mises trabalha apenas com a lógica a priori da ação na análise da consistência entre planos, enquanto Weber usa de modo mais freqüente os argumentos metodológicos do Verstehen e o conceito de tipo ideal. O plano subjetivo individual para Mises só é conhecido pelo teórico na medida em que seus elementos são revelados pela execução do plano na forma de ações concatenadas. Já em Weber há todo um aparato de análise dos elementos constituintes do plano pelo exercício do Verstehen antes mesmo que a ação seja executada. Mais uma vez lembramos ao leitor que esses pontos epistemológicos só serão bem compreendidos após os capítulos em que se discorre sobre a epistemologia de um autor austríaco em particular. Mantida a mesma observação no caso de Hayek, vejamos essa última concepção particular da natureza das instituições. A teoria das instituições de Hayek não pretende lidar com instituições naturais concretas que tenham uma existência objetiva. Ele fornece uma reconstrução abstrata das instituições com base na identificação de um padrão geral que dê conta de seus aspectos básicos. O padrão em si mesmo é resultado das abstrações que se processam na mente do investigador e que, portanto, estão condicionadas aos processos cognitivos inerentes à ordem sensorial. O estudo das instituições pressupõe portanto uma “teoria da mente” que busque o entendimento da relação entre os esquemas de conceitos e o mundo externo. Há uma interação dinâmica entre os esquemas mentais e os dados do mundo externo que resulta num processo evolutivo de reformulação do conhecimento à medida que a mente se modifica sob a ação de elementos externos. A compreensão desse ponto requer o estudo do “subjetivismo evolucionista”, objeto do capítulo 4. Vemos portanto que Menger, Mises e Hayek não oferecem exatamente o mesmo modelo de instituições sociais. A consideração da base epistemológica em cada qual esclarece algo dessas diferenças; há também diferenças práticas sobre o papel que cada um deles atribui às instituições. Menger acredita que as instituições orgânicas são benéficas à sociedade, mas ele não segue autores alemães que lhes fazem uma exaltação conservadora unilateral. Cabe à ciência resolver, em cada caso, a questão de se aceitar ou não a instituição orgânica, mas para isso é necessária uma perfeita compreensão de seu papel, não se tomando de antemão uma posição contrária a ela. Hayek, embora enalteça a instituição do mercado, critica a idéia de que as 27


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