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Edição Especial - Setembro de 2016
preconceito com hiv é desinformação Mesmo em perspectiva de informação, inclusão e debate, pacientes soropositivos ainda são alvo de discriminação Autores: Amanda Zerede, Christian Presa e Kamilla Yohanna Ribeiro O vírus HIV é o causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids), que deteriora o sistema imunológico. Pela danificação das células de proteção ao organismo, cria-se disposição para contrair vários tipos de infecções, conhecidas como “oportunistas”. Submersa em preconceito, foi causadora de muitas vítimas fatais nos anos 80 e 90. Inúmeras situações marcaram a cronologia da aids no Brasil e no mundo, como a morte dos
1988, mas só iniciou o tratamento em 2000, quando desenvolveu a aids pela falta de medicação. Por conta de uma neurotoxoplasmose, que afetou todo o sistema nervoso, Janaína esteve entre a vida e a morte. Quando questionada sobre o motivo de não ter iniciado o tratamento imediatamente, ela foi taxativa: medo da reação da família. “Eu não queria dar esse desgosto para a minha mãe. A minha mãe foi tudo na minha vida, então eu achava que seria um baque muito forte, como foi, né? Eu quase morri.” No entanto, ela diz que a família a apoiou totalmente durante o tratamento. Para Janaina, o preconceito é um reflexo da falta de informação sobre a doença, mas surpreende ao dizer que nunca foi alvo direto de discriminação. “Não me afeta. Um psicólogo me disse uma vez que eu sou tão doida que não ligo para o preconceito”, ri, ao relembrar. Ela entende que a quebra do preconceito é um processo lento e admite que tentou ignorar o diagnóstico logo que recebeu a confirmação de que era soropositiva. “Eu tive [preconceito], mas lá em 1988, quando a gente não sabia o que era a aids. E muitas pessoas hoje ainda não sabem que aids é uma coisa e HIV é outra”, reforça. Simone Rodrigues de Oliveira, 41, conheceu a história de Janaína na Casa de Emaús. “Hoje eu consigo contar para as pessoas que tenho HIV por causa da Jana”, declara. A artesã descobriu ser soropositiva em abril de 1999 ao realizar exames durante a gestação e diz que foi muito difícil aceitar o diagnóstico. “Eu quis até me matar, mas daí pensei muito no meu filho.” Por conta de um sangramento horas antes do parto, o menino, hoje com 16 anos, contraiu o HIV por transmissão vertical.
A segurança sempre em primeiro lugar
Thais R. Dias
cantores Cazuza, Renato Russo e Freddie Mercury. Hoje, no entanto, a aids dificilmente mata graças ao tratamento antirretroviral, que diminui ao máximo a carga viral no organismo do paciente infectado. Juntamente com a medicação, campanhas de conscientização tomaram espaço no mundo inteiro. Mesmo com o método avançado – o Brasil é referência mundial no combate de HIV/aids –, o preconceito ainda é um fator que impede muitos pacientes infectados de iniciarem o tratamento. Em entrevista concedida ao “EM.com.br” em fevereiro deste ano, o infectologista e diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, foi enfático ao dizer que “o que ainda mata por Aids no Brasil não é a falta do medicamento nem as sequelas do tratamento prolongado, mas sim o diagnóstico tardio”. Janaína Nascimento de Souza, aposentada de 44 anos, frequenta um grupo de apoio para soropositivos da Casa de Emaús, entidade dedicada a atender pacientes com HIV/aids. Janaína tem o vírus desde
“O paciente nunca deve pensar é o fim da linha. Há toda uma vida pela frente”
Simone diz que, ao contrário dela, o filho teve várias doenças oportunistas e em uma dessas ocasiões uma situação de preconceito a marcou. “Certo dia, estávamos no HU [Hospital Universitário] e comecei a prestar atenção que chegava marmita para os demais pacientes do quarto e para nós chegava marmitex [marmita em quantidade reduzida], e aquilo começou a me intrigar. Então perguntei o porquê daquilo e a funcionária respondeu que a gente deveria estar num quarto isolado e não no meio de pacientes ‘comuns’”, relembra, revoltada. A situação foi resolvida por meio de uma reclamação junto à direção do hospital. Nesse episódio, Simone percebeu a importância de ter total conhecimento sobre a aids, para também rebater comentários preconceituosos.
Apesar de compreender a escolha do paciente de se preservar, Mírian ressalta a cultura do anonimato como um fator negativo. “Por que [o paciente] tem que se esconder?”, questiona. “É uma doença como outra qualquer!”, diz, comparando a aids com o diabetes ou a hipertensão. “Se não cuidar do diabete, você vai ter problema. Você pode morrer. E a mesma coisa é o HIV: se você não cuidar, você pode morrer. É sério, mas se você cuidar a sua vida vai ser normal.” SOBRE O VÍRUS Descoberto nos anos 1970, o HIV provocou os primeiros casos confirmados nos EUA, Haiti e África Central em 1978, definidos como aids em 1982 quando se classificou a doença. No Brasil, o vírus chegou em 1980. O médico especialista em infectologia Luiz Jorge Moreira Neto explica que a doença tem a capacidade de lesar as células linfócitos CD4. Neto reforça que, para evitar maiores danos, o paciente deve iniciar o tratamento assim que receber o diagnóstico. PESQUISA O professor de virologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Denes Armando Bertolini, é doutor em doenças infecciosas e parasitárias e há quatro anos realiza pesquisas sobre verificação de mutação de resistência aos tratamentos do HIV, além da caracterização do genótipo do vírus. Nas pesquisas, ele, juntamente com os colaboradores, faz a monitoração da resistência do vírus aos medicamentos. “O vírus entra e se transforma para se adaptar ao corpo, então ele é diferente de pessoa para pessoa”, explica.
Um conselho que a artesã dá a quem acabou de receber o diagnóstico é a autorreflexão. “Os portadores devem olhar para dentro de si e dizer ‘eu não sou melhor e nem pior do que ninguém’. Têm que encarar o problema de frente sem achar que morreram”, diz. ANONIMATO É NEGATIVO A psicóloga Mírian Regina Bortoloci atende casos de DSTs/aids no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Maringá desde 2005 e destaca que a luta contra o preconceito é diária. “São em pequenas situações que a gente pode usar para combater isso, porque qualquer tipo de preconceito é ruim. A gente vê cada comentário e pensa ‘poxa, quanto já se caminhou e as pessoas ainda têm esse tipo de pensamento’”, diz ela.
Simone (esq.) e Janaína (dir.) na Casa de Emaús
Christian Presa
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INCLUSÃO SOCIAL É LEI, MAS AUTISMO AINDA É TABU Desinformação é a principal forma de preconceito; aplicativos educativos auxiliam no desenvolvimento de autistas Autores: Amanda Domingues; Juliana Nicolini; Letícia Tristão; Lucas Martinez e Rodrigo Lucas Fabiana Scarante Morales, moradora do Jardim Alvorada, região norte de Maringá, é mãe de Eduarda Scarante Morales, 5 anos. A criança foi diagnosticada com autismo aos dois anos e meio. Segundo Fabiana, desde o primeiro mês de vida da filha já identificava comportamentos diferentes. “O pescoço dela era molinho demais, eu percebia que
não era assim com as outras crianças. Ela também não respondia aos estímulos como os outros bebês, mandar beijinho e dar tchau, por exemplo”, explica. Eduarda frequenta a Associação Maringaense de Autismo (AMA) e o ensino regular. De acordo com a mãe, a menina se desenvolveu muito com relação à socialização depois que passou a frequentar a escola pública, “foi um divisor de águas na vida dela”, conta. A menina fez aula de natação e gosta muito
Crianças participantes da AMA brincando na parte aberta do local. é necessário que os educadores descubram as habilidades deles. Isso contribuirá para a redução das dificuldades, além de melhorar o desempenho. “A equipe que atende a criança com o transtorno deve descobrir como a aprendizagem dela acontece, se é por meio da oralidade ou por meio de imagens. Assim, a estimulação e mediação acontecem de forma natural para o aluno”, afirma. Segundo Fabiana Morales, a discriminação é evidente, “meu marido percebe os olhares atravessados”, relata. De acordo com especialistas, a falta de informação da sociedade acaba refletindo na discriminação sofrida pelos autistas e pela família. “Uma vez no ponto de ônibus uma senhora começou a conversar com a Eduarda e ela não respondia. Eu expliquei que ela é autista e a mulher me falou: ‘mas nem parece que ela não enxerga’”, conta Fabiana. Embora ainda tenha que conviver com situações como essa, ela diz não ter do que reclamar com relação ao tratamento na escola. “Ela [Eduarda] é sempre incluída em todas as atividades, participa do jeitinho dela, mas, participa.” Fabiana diz que conhece outras mães de autistas de outros Estados e afirma: “Maringá ainda tem muito o que melhorar, mas se comparado a outros lugares, aqui é primeiro mundo. Não esperava tanta dedicação na escola municipal.” O acompanhante especializado em escolas regulares é assegurado por lei, desde março, Eduarda tem a professora concursada ao lado dela nas aulas. “Está em fase de adaptação ainda, mas não tenho do que reclamar”, diz a mãe. Segundo a pós-doutora em educação especial Nerli Nonato Ribeiro Mori, não se discute
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de jogos virtuais educativos. “Ela tem dificuldade com coordenação motora física, e por causa do touch dos aparelhos, ela melhorou”, relata a mãe. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do desenvolvimento neurológico evidenciado por dificuldades na comunicação e relação social, além da identificação de comportamentos repetitivos e metódicos. O diagnóstico do autismo é clínico e se baseia nas manifestações. “Se a criança apresenta um atraso na linguagem, já liga um alerta para o autismo.” É o que afirma o neurologista infantil Pedro Henrique Bressan Leite. De acordo com a psicopedagoga Natália Tamara da Silva Santos, são características do autista a dificuldade no desenvolvimento da linguagem, não manter contato visual efetivo, ter interesses restritos e apego à rotina. “Porém, é importante ressaltar que cada autista apresenta essas características de forma diferenciada”, completa a pedagoga. De acordo com ela, os autistas, têm muita dificuldade de aprender. Para diminuir esse impacto
Juliana Nicolini
mais se deve ou não haver inclusão, pois é prevista por lei. O que falta é efetivar o que já está formatado. A formação acadêmica peca nesse âmbito, tendo em vista que a carga horária na disciplina de necessidades especiais é de 34 horas. “Mesmo tendo avançado tanto em termos de lei, temos pouca discussão nas universidades”, pontua. Marta Lúcia Croce concorda com o posicionamento de Nerli. Ela é pedagoga, foi coordenadora do Projeto de Inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais da Universidade Estadual de Maringá (UEM) de 2007 a 2011, e afirma que alunos de pedagogia se formam com pouca iniciação para inclusão. “As disciplinas teóricas que envolvem a educação inclusiva ainda não são o suficiente.” Ainda segundo a pedagoga, a falta de informação e importância por parte da mídia sobre o autismo são fatores que contribuem para que o assunto ainda seja tabu. LISTA DE ESPERA A Associação Maringaense de Autistas (AMA) atende cerca de 85 famílias de Maringá e região e a lista de espera é grande. O trabalho da AMA é focado na alfabetização e socialização de crianças com o Transtorno do Espectro Autista. As atividades são desenvolvidas de acordo com a dificuldade do aluno. Para isso, cada sala abriga apenas seis crianças, pois os professores precisam se envolver com eles individualmente. De acordo com André Senna, coordenador da AMA, a associação tem o objetivo de preparar a criança autista para integrar o ensino regular, oferecendo conteúdos da grade padrão, além de aulas compor-
tamentais e prática de esportes. “Temos o projeto de golfe que foi adaptado para os autistas e, nos jogos escolares do Paraná, a AMA está em segundo lugar nessa modalidade”, complementa. Segundo a psicóloga Daniela Devico, da AMA, a instituição também realiza intervenções com a família, para auxiliar na abordagem dos pais com as crianças em casa. O autista frequenta a AMA para desenvolver habilidades e ser auxiliado nas dificuldades. Por causa dos problemas na comunicação, o ensino para o autista deve ser regado com o dobro de atenção. “Temos projetos de leitura e de escrita que a psicopedagoga aplica. O trabalho é com figuras de jogos e assim as crianças são alfabetizadas”, acrescenta a psicóloga.
“Não se discute mais se deve ou não haver inclusão, pois é prevista por lei” Os aplicativos educativos são uma alternativa interessante e produtiva para a aprendizagem dos autistas. Jesher Heliel Rodrigues desenvolveu um aplicativo para Android como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), com o objetivo de auxiliar autistas na alfabetização. “Como eu via a dificuldade que minha irmã tinha com meu sobrinho em ensinar o alfabeto e associar palavras, decidi fazer um aplicativo voltado para os autistas”, explica. O aplicativo
Edição Especial - Setembro de 2016 “Olhar. Tocar. Ouvir” (Oto) foi testado na AMA e teve boa aceitação pelas crianças que ainda não haviam desenvolvido a leitura. Oto é um alfabeto colorido pelo qual a criança clica na letra que ela quer e o aplicativo retorna um som relacionando a letra do alfabeto a algum objeto/animal. Por exemplo: “A de abelha”, “B de bola”. “Assim, a criança faz a relação da fonética e aprende a maneira certa de falar”, aponta Rodrigues. De acordo com a psicóloga Daniela Devico, Oto foi substituído por outros. “[Mas] temos aplicativos coloridos que chamam bastante a atenção do aluno para que a aprendizagem ocorra com mais facilidade”, salienta. Segundo com a psicopedagoga Natália Tamara da Silva Santos, a inclusão social de crianças com o transtorno não exige mudança na estrutura física das escolas. Entretanto, os professores e a equipe pedagógica precisam ser capacitados para atender crianças com TEA. São alunos com necessidades especiais e precisam de atenção maior, tendo em vista as
dificuldades na comunicação. “Todas as pessoas, inclusive os alunos, precisam entender os limites e especificidades da criança, tendo sempre em mente que devem incluir e não excluir”, explica. GENÉTICO O neurologista Pedro Bressan Leite diz que não existe comprovação que os casos de autismo sejam de origem genética. No entanto, “se na família existem casos, as chances de um filho nascer com autismo aumentam”, completa. Os graus do autismo podem ser divididos em leve, moderado e grave. Mas a avaliação varia de profissional para profissional. É o que afirma Maria José Alves de Carvalho, moradora do Parque das Laranjeiras, região norte de Maringá, e mãe de três filhas, duas diagnosticadas com autismo. “Costumo não me apegar a isso de grau, mas a grosso modo, uma tem o nível de compreensão mais comprometido que a outra”, afirma. As irmãs Beatriz Alves de
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Carvalho, de 6 anos e Sabrina Alves de Carvalho, de 5, frequentam a AMA e o ensino regular. Segundo Maria José, a relação delas com a família é boa até certo ponto. “As disputas entre elas são constantes e a dificuldade de compartilhar também”, conta. A interação social do autista é complicada pela dificuldade na comunicação, mas quando eles conseguem selecionar e assumir determinada amizade, “são carinhosos e dedicados”, confirma a mãe. De acordo com ela, a inclusão das meninas foi tranquila e cada uma também tem um professor de apoio em sala de aula. A psicopedagoga Natália Santos observa que para que a inclusão ocorra de fato, é preciso delimitar que não é o autista que deve se adaptar à escola regular, e, sim, a escola se adequar às necessidades do aluno. “O âmbito escolar precisa conhecer e entender o TEA para que todos participem, sem infringir os limites do aluno com autismo”, ressalta.
Mesmo incluídos pelo esporte, paratletas ainda têm obstáculos Reconhecimento da sociedade e investimento necessário são os maiores desafios de um atleta com deficiência Autores: Adryellen Andrade, Camila Lúcio, Jefferson Martins, Larissa Malaghini , Lucas Schimmack
“Quando estudava na época do 1° grau, era dispensado das aulas de educação física. Então, tive a iniciativa própria de pedir ao professor para eu poder fazer um trabalho escrito e depois apresentar para a turma sobre a modalidade que ele estava ensinando. Não queria me sentir excluído”, comenta Douglas Ventura Soares, 35 anos, cadeirante, vice-campeão paranaense de basquete em cadeira de rodas em 2015, vice-campeão brasileiro de handebol em cadeira de rodas em 2014. Campeão paranaense de handebol em cadeira de rodas em 2011, 2014 e 2015. Todos aqueles que têm algum tipo de deficiência sentem-se ou já sentiram-se excluídos e, na maioria das vezes, encontram no esporte a inclusão social. Por meio da atividade esportiva, as pessoas com deficiência começam a conviver com outras nas mesmas condições. “Quando se tem alguma dificuldade, a primeira coisa que a gente faz é se isolar, pois nos vemos como diferentes. No contexto esportivo tem outras pessoas que estão na mesma situação, ou piores, e que estão vivendo muito melhor”, conta o doutor em psicologia social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Leonardo Oliveira. Ele diz que a sociedade tem dificuldade de lidar com a deficiência e que é difícil não olhar diferente para eles. Por isso, mesmo se integrando por meio do esporte, os paratletas ainda encontram obstáculos. Mauro Fernando Santoro, 34 anos, tem paralisia cerebral e pratica bocha há 10 anos. Ele é hexacampeão do Regional Sul de Bocha Paralímpica e foi vice-campeão brasileiro em 2015. Já sofreu preconceito, repetidas vezes. “No começo sofri muito, saía para ir à escola e o pessoal começava [a falar] ‘olha o aleijadinho’. Já aconteceu de motoristas desligarem o itinerário em cima [do ônibus] para não me levar. Já cai até da plataforma”, relata. O psicólogo Leonardo Oliveira diz que há muito a ser melhorado. Uma parte da sociedade faz vista grossa pelo fato de enxergarem os deficientes como um grupo de menor expressão na sociedade. É muito mais as pessoas que enxergam os deficientes como diferentes. “Para eles [os deficientes] é normal, a vida deles é aquilo. Esses atletas paralím-
Beatriz representa a seleção brasileira de natação paralímpica nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016 picos já são muito acostumados com a situação física deles, então não há necessidade de tratá-los como um diferente”, explica. Um exemplo da pouca visibilidade são as Paralímpiadas. Os jogos começaram dia 7 deste mês e foi pouco noticiado pela mídia sobre a preparação dos paratletas antes do evento, diferentemente das Olímpiadas. Os Jogos Paralímpicos está reunindo
“Sofri muito, saía para ir para a escola e o pessoal começava [a falar] ‘olha o aleijadinho’”
atletas de 176 países no Rio de Janeiro e ainda não recebeu a divulgação que a importância do evento exige. Na última Paralímpiada, em 2012 (Londres), o Brasil ocupou a sétima colocação no ranking com 43 medalhas e mesmo assim a mídia não divulgou muito. O psicólogo diz que para os paratletas é muito gratificante ter esse reconhecimento. A
Lucas Schimmack
transmissão do esporte paralímpico na TV é pouco mencionada. Só é transmitido quando alguém ganha alguma prova e mesmo assim ainda é difícil. Por esse ponto já demonstra um pouco como a sociedade vê o esporte paralímpico. “Se eu falar que sou professor do Neymar todo mundo vai saber quem é. Agora se eu falar que sou professor da Terezinha Guilhermina, por exemplo, vou precisar explicar quem ela é”, compara. Hoje, a reabilitação está muito mais acessível as pessoas com a deficiência, seja física ou mental. O professor de fisioterapia Fernando Mendes diz que boa parte dos deficientes praticam a atividade física como uma forma de reinserção na sociedade e muitas vezes para melhorar a condição física, porque o esporte liga muita a questão coletiva à reintegração e integração social. Muitos paratletas têm a deficiência adquirida por um trauma. Por exemplo, um acidente de carro, de moto vai ser necessário uma reabilitação. “Ela [a reabilitação] não é direcionada para ser um atleta, ela é direcionada para ele se readaptar para uma função de uma marcha. Na medida com que ele
Edição Especial - Setembro de 2016 vai avançando no processo de reabilitação física, ele encontra o esporte adaptado”, explica. Douglas Ventura treina três vezes por semana e na maioria das vezes usa o transporte público como meio de locomoção. Ele diz que a maior dificuldade para a prática de esporte adaptado é a situação financeira para a modalidade dele. “Não é um esporte barato. Uma cadeira de rodas profissional pode custar de 15 a 20 mil reais. Não é como comprar um tênis em uma loja e bater uma bola em quadra. Tem que ter um equipamento sob medida.” O professor de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutor em Atividade Física Adaptada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Décio Roberto Calegari diz que o apoio, reconhecimento e credibilidade da sociedade maringaense foi conquistado muito rápido. “Com essa questão do apoio do Ministério Público do Trabalho ao projeto nosso via lei de cotas, nós estamos gerando empregabilidade, que é uma coisa que eles não tinham”, explica. “Os que não têm renda tem benefício governamental e agora estão conseguindo uma condição melhor de treino”, complementa. O que eles levaram para conquistar em Toledo [316 km de Maringá] em 10 anos, aqui conseguiram em três. “O Conade vem ajudando a gente a criar certa visibilidade, mas, mesmo assim, ainda acho que eles ignoram muito”, complementa Douglas Ventura. De acordo com a gerente de Esportes Paralímpicos, Cynthia Catarina de Oliveira o deficiente que
pratica esporte tem independência e uma qualidade de vida melhor. Todos os atletas têm essa independência, com exceção de quem pratica bocha com paralisia cerebral severa. “A comunidade de deficientes vem crescendo. Sempre tem deficientes que procuram uma modalidade para praticar. Isso faz com que eles saiam do quadro de depressão e vê que a vida continua após um diagnostico”, diz Cynthia. A gerência de esportes paralímpicos de Maringá era associada à gerência do esporte de rendimentos até 2013. A pedido do Conade, criou-se uma gerência voltada para o esporte paralímpico. “Maringá foi a primeira cidade do Paraná a ter a gerência”, complementa. Quem buscou o esporte como apoio contra as barreiras da deficiência foram as gêmeas Débora e Beatriz Carneiro, de 17 anos. As meninas têm deficiência intelectual e nadam na categoria S14. “O primeiro campeonato foi em São Paulo, em 2013, batemos o recorde brasileiro e contando este ano temos nove recordes”, comemora Débora. As gêmeas competem nas mesmas provas e em abril deste ano disputaram um evento-teste no Rio de Janeiro. Ambas conquistaram uma prata e um bronze. A segunda etapa do Circuito de Loteria Caixa, realizada em junho era a última competição para conseguirem marcas classificatórias para o Rio 2016. Beatriz alcançou o índice com a marca de 1m23s33 nos 100 metros peitos e foi convocada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para integrar a equipe brasileira de natação nas Paralím-
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piadas. Débora também disputou mas não conseguiu atingir o índice. Cada uma torce para outra, ficamos dando parabéns. Nós brincamos ‘vai ter revanche’”, brinca Beatriz. Existe uma divisão entre as categorias do paradesporto. Por exemplo, na natação o paratleta é adaptado de acordo com a classificação funcional. No basquete e no handebol não tem como fazer essa divisão. “O basquete, por exemplo, tem dois jogadores com mobilidade alta e intermediária e um jogador com mobilidade baixa”, explica o professor de educação física Décio Calegari. O treinador do Clube Maringaense de Ciclismo (CMC) Carlos Martinelli também aponta diferenças de preparação e treinamento entre o esporte convencional e do paradesporto. “O aspecto que difere no treinamento é a preparação do equipamento para o paratleta competir. Mas a questão física é, basicamente, a mesma, tanto do paratleta quanto do atleta do esporte convencional, depende da deficiência”, descreve. “Como são várias as categorias, os paratletas vão se encaixando de acordo com a deficiência intelectual ou física e depois são enquadrados em classes”, complementa Martinelli. Ainda sobre diferenças entre o esporte convencional e o paradesporto, o fisioterapeuta Fernando Mendes diz que o tratamento é. “O indivíduo que perde um membro tem uma dor fantasma, uma sensação fantasma”, aponta. “Muitas vezes nós trabalhamos com atividades específicas, mas não há necessidade de nenhum equipamento diferenciado, o que é necessário é um olhar crítico e bem elaborado do profissional que atende esse paciente.”
homem + mulher hora de somar A necessidade de desbancar a desigualdade entre os gêneros é indispensável e imediata, afirmam especialistas Amanda Gomes, Maynara Guapo, Nilton Dos Santos e Rafael Bereta
históricos ou os modelos políticos? Desinteresse das mulheres de se colocarem à disposição de grandes cargos ou o desinteresse da maioria Fomentar a discussão sobre a representativiesmagadora masculina em apoiar o crescimendade feminina, perante a sociedade, nunca é to da representatividade feminina na política? demais. Inúmeros fatores mostram a necessidade de retomar essa discussão, como as variaA história contribuiu muito com os homens, por das maneiras de pensar e refletir sobre o assunto. exemplo, na constituição da política. Para o doutor em História da Educação e professor universitário Fatores históricos explicam ou, pelo menos, tentam explicar a razão da baixa representatividade feminina social e política em relação à masculina. De toda forma, a luta feminina não é atual e
“O mundo moderno manteve aspectos políticos, como o poder destinado ao homem”
Léslier Pelegrini, de 54 anos, há 31 escolheu o magistério
na área de Ciência Política Reginaldo Bordin, a política, enquanto atividade de administrar o bem público e coletivo, foi construída com maior participação masculina e isso influenciou na menor participação da mulher nesse ambiente. “Se retomarmos a tradição grega, a democracia era um direito do cidadão, assim como na república romana e no império. Mesmo entre os medievais, período em que a política no sentido clássico havia alterado e a igreja ocupava maior espaço, embora não única, também a mulher tinha menor ou nenhuma participação. O fato é que o mundo moderno, embora construísse relações políticas e sociais distintas das anteriores, manteve alguns aspectos políticos, entre os quais o poder destinado ao homem.”
não sucumbe aos obstáculos nos quais esbarra. Bordin diz acreditar que a minoria feminina no Mas afinal, o que promove a dificuldade de se ambiente político não se deve apenas à menor chegar à igualdade de gêneros? Seriam os fatores disposição delas em participar das decisões, e sim
que a própria construção do poder as impede. “As mudanças, ocorridas a partir das duas guerras mundiais, no século 20, contribuíram para que a mulher tivesse maior participação na vida produtiva e social, com conquistas importantes. Mas é preciso reconhecer que as conquistas políticas parecem estar em desvantagem, porque a própria política mantém estruturas oligárquicas, como as demonstradas pela política nacional atual”, afirma. Em meados dos anos 90, com intuito de suprir essas falhas históricas, foram implantadas cotas para candidaturas femininas no Brasil. Pode-se presenciar aumento significativo de candidaturas femininas, mas de fato nunca se conseguiu chegar ao número mínimo exigido pela legislação e, muito menos, alcançar maior número de mulheres eleitas. Carla Almeida, doutora em Ciências Sociais e professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), afirma que tudo isso se deve ao fato de que as cotas não previam sanções aos partidos, que descumprissem a exigência dos 30% de candidaturas femininas. Anos depois, em 2009, foi instituída a Lei 12.034 que aprova a punição aos partidos que não lançarem o mínimo de 30% de candidaturas femininas, além de determinar que as legendas apliquem, no mínimo, 5% dos recursos do Fundo Partidário na criação e manutenção de programas de promoção, em que 10% do tempo das campanhas gratuitas, no rádio e na televisão, devem ser destinadas à propagação de candidaturas femininas. Carla explica que tudo isso se deve ao fato de que, não basta apenas serem abertos espaços
Edição Especial - Setembro de 2016 para maior inclusão das mulheres na política, é preciso mais. “A respeito das barreiras enfrentadas pelas mulheres, para entrar e permanecer no mundo da política, é preciso incentivar sua participação, criar as condições para que elas engajem-se, revendo a divisão sexual do trabalho e investindo em sua formação política”, ressalta. Além disso, ela diz concordar que a história e o processo cultural influenciariam na baixa representatividade feminina e apresenta fatores que vão além da constituição política. Os indivíduos mulheres e indivíduos homens estão expostos, desde que nascem, a processos de socialização distintos em função das ideias que vigoram em sociedade, a respeito de como uma mulher e um homem devem se comportar e quais papéis devem desempenhar. Desde crianças as meninas são associadas ao cuidar, incentivadas a demonstrar sentimentos
Maria Iraclézia é a primeira presidente mulher de uma sociedade rural e delicadeza e reprimir a sexualidade. Já os meninos são elogiados pela bravura, incentivados a expressar a sexualidade e, ao mesmo tempo, reprimir sentimentos. “Essas distinções não são naturais, são construídas socialmente e são resultado de construções culturais. Tanto é assim, que os papéis associados a mulheres e homens variaram ao longo do tempo e do espaço. E o resultado é que, como mulheres e homens são socializados de formas diferentes, cada um também desenvolve de maneira mais fácil, ao longo da vida, competências e habilidades distintos”, afirma. E QUANDO ELAS CHEGAM LÁ Para a antropóloga sociocultural Eliane Rapchan, a habilidade de liderar ou de estar à frente de grandes cargos, não é um adjetivo exclusivo dos homens. “Existem pessoas com diferentes habilidades sociais que são treinadas de formas distintas em cada sociedade. Do ponto de vista da antropologia sociocultural, mulheres ou homens não têm, mais ou menos, predisposição para liderar, isso depende da cultura de origem, de trajetórias pessoais e mesmo de oportunidades.” Além disso, ela lembra que a forma de agir de cada pessoa é fruto da sociedade onde ela vive e que não existe um padrão sobre como agem as mulheres ou os homens, quando se deparam com qualquer situação. “O mesmo vale para momentos históricos diversos. Verificamos uma enorme variedade de comportamentos que podem ser identificados como masculinos ou femininos, numa sociedade e que não são em outra. Isso quer dizer que,
em tese, o fato de que há diferenças entre o que é considerado feminino ou masculino, também apresenta variações entre sociedades distintas.” Eliane Maio, psicóloga, doutora em Educação e membro do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Diversidade Sexual (Nudisex), propõe que essas questões sobre a igualdade dos gêneros sejam abordadas desde muito cedo, permitindo que já na infância, todo ser humano tenha consciência que não existe diferenciação entre homem e mulher. “A igualdade de gênero é pouco ou quase nada discutida em sala de aula. Esse assunto deveria ser introduzido desde a educação infantil, já que trabalhamos a igualdade entre as pessoas e o ser humano, desde criança, faz parte disso.” Nascida no interior do Ceará, filha de produtor rural, Maria Iraclézia, 47, é a primeira presidente mulher de uma Sociedade Rural, no Brasil. Ela lembra que as dificuldades começaram cedo. “Dificilmente os pais deixavam os filhos irem sozinhos para a cidade, principalmente quando eram meninas, mas eu sempre fui uma pessoa muito ativa, gostava muito de estudar e corri atrás disso”, conta. A presidente da Sociedade Rural de Maringá (SRM) lembra que quando terminou o ensino fundamental, queria continuar os estudos em uma escola técnica em agropecuária. Só no ano em que ela entraria na escola, a instituição começou a receber alunas mulheres, já que até então só eram permitidos estudantes homens. “Fiz a prova e passei. De 520 alunos, nós éramos quatro mulheres e, no fim, restamos eu e mais uma. Todos os serviços braçais e escalas que os homens faziam, nós fazíamos também e, por vezes, até havia uma competição saudável entre nós. Ninguém acreditava que nos adaptaríamos, mas atualmente a escola é mista.” Maria Iraclézia, que começou na associação como estagiária, depois de vir a Maringá a passeio, chegou ao cargo mais alto da instituição, mas reconhece que enfrentou dificuldades pelo fato de ser mulher. “Durante a minha candidatura, era humanamente impossível acreditar que uma entidade, com 3% de mulheres no quadro de associados, elegeria uma mulher como presidente. Eu atribuo isso a um grupo forte que tínhamos de apoio, além do meu conhecimento técnico sobre o assunto e a minha relação próxima com todos os membros da associação.” Durante a votação para as eleições, numa urna onde foram computados 28 votos, ela conquistou 23, os cinco restantes eram todos votos de mulheres. Após eleita, durante uma entrevista, a atual presidente da SRM foi questionada, por uma repórter, se pintaria o Parque de Exposições de cor-de-rosa. “Eu respondi que não e que meu material de campanha havia sido azul [risos].” Sobre a campanha, ela diz acreditar que a divulgação exigiu mais intensidade, por ser uma mulher, assim como todo o caminho, desde o Ceará até aqui. “O meu caminho até aqui, com certeza, foi muito árduo. As oportunidades, para nós mulheres, existem, mas é preciso dedicação e coragem. Você tem que ceder, não impor de forma exagerada e ter jogo de cintura”, afirma. Para a antropóloga Eliane Rapchan, não se pode reduzir a pessoa a uma variável, seja etnia, sexo, raça, idade ou escolaridade. Deve-se pensar que o
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ser humano é um ser integral. “Além disso, é preciso considerar contextos históricos, sociais e naturais. Existimos em lugares e tempos determinados e isso precisa ser levado em consideração nas análises.” A antropóloga diz enxergar a igualdade de gêne-
“As oportunidades para nós, mulheres, existem, mas é preciso dedicação e coragem” ro como um projeto político e uma utopia, já que, para ela, é preciso uma mudança mais a fundo. “A ampliação da representatividade feminina é uma das faces de um projeto mais extenso. Muitos partidos políticos, por exemplo, fazem campanhas em favor da filiação e da participação feminina. Contudo, se valores, comportamentos e relações não mudarem profundamente, a sociedade não mudará.”
A FORMA DE AGIR DA MULHER NA LIDERANÇA Para a doutora Carla Almeida, a presença das mulheres na política afeta o conteúdo das decisões e o conteúdo das próprias politicas produzidas. “As pesquisas mostram que elas tendem a priorizar, na agenda decisória, determinados grupos - como crianças, idosos, portadores de necessidades especiais e as próprias mulheres - e a introduzir preocupações de gênero, em diferentes áreas de políticas públicas.” Confirmando tudo isso, a presidente da SRM, Maria Iraclézia, tem demonstrado na prática, as mudanças. Ela afirma fazer um trabalho que procura a inclusão feminina em uma associação com a maioria esmagadora de homens. “A minha gestão tem permitido a maior participação da esposa e das filhas do associado. Tivemos um aumento da participação das mulheres, por meio de cadastros que permitem que as ações e atividades da sociedade cheguem ao conhecimento delas.” Mas reconhece que a representatividade feminina é muito menor. “Somos 23 diretores e apenas quatro são mulheres. No quadro de funcionários temos mulheres no pátio, mas acredito que nós temos que ser muito melhores que os homens para nos sobressair profissionalmente”, afirma. Ela diz acreditar num trabalho mais detalhista, quando feito pelas mulheres. “A mulher tem uma percepção diferente, nós nos apegamos mais aos detalhes. Acredito que os homens são extremamente capazes, mas quando em conjunto com as mulheres, nós nos completamos.” Apesar de tudo isso, mulheres e homens são seres humanos e a igualdade precisa sobressair à diferenciação entre os gêneros. Para a psicóloga Eliane Maio, o ser humano, seja mulher ou homem, precisa ser avaliado profissionalmente pela capacidade e não pelo gênero. “As pessoas precisam ser contratadas por sua qualidade de trabalho e isso nós [mulheres] damos conta e estamos indo à luta”. E reconhece: “Nós não somos mais sensíveis, nós somos educadas para isso. Dou aula na universidade e nós estamos nos bancos universitários. Tenho certeza que somos capazes e estamos nos preparando para isso”.
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FALTA DE CONHECIMENTO LIMITA INTEGRAÇÃO DO DOWN Ausência de informação da sociedade é um fator que dificulta a completa integração dessas pessoas Autores: Douglas Emiliano, Guilherme Fortunato, Monique Manganaro, Murilo Lima e Natalia Sanches Aos 26 anos, Mariana Fernandes Gutierrez é uma jovem que adora fotografia e tem apreço especial pela escrita. Há um ano conquistou o esperado desejo de escrever um livro. Em 46 páginas, a jovem coloca em prática a atividade tão apreciada por ela e relata ao leitor experiências que já carrega nas bagagens. Mariana tem síndrome de Down. E se a partir desse ponto sua visão sobre a jovem mudar de perspectiva, aceite: você ainda tem preconceitos. Conforme explica a psicóloga comportamental Yara Cristina Romano Silva, em cada um dos
“Para profissionais, ausência de informação dificulta integração social“ casos de pessoas com Síndrome de Down são apresentados diferentes níveis de comprometimento intelectual, já que questões sociais, educacionais e familiares também interferem no desenvolvimento das pessoas com tal condição. A profissional, que trabalhou durante 26 anos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), expõe que a dificuldade de socialização não é particular à síndrome, pois, segundo ela, a representação social do significado de deficiência ainda é carregada de um sentido pejorativo.
Mariana Fernandes Gutierrez, autora do livro “Juntos Somos Iguais” e conhecimento da sociedade sobre a síndrome de Down são os fatores que mais dificultam a integração social das pessoas com essa condição. “Acredito que a sociedade ainda não está preparada para atender essas pessoas. Existe a dificuldade em acreditar na capacidade delas”, analisa a fonoaudióloga Anne Caroline Lopes Benedito. Já psicóloga comportamental Yara Cristina Romano Silva acrescenta que a autonomia das pessoas com Down é o ponto chave para que a socialização aconteça. “Se a gente não limitar, por meio de nossas atitudes, ele [indivíduo com síndrome de Down] se socializa perfeitamente bem. O importante é que seja preparado para socializar,
Um dos aspectos que contribuem para que a sociedade exclua a pessoa Down é a comunicação, uma vez que a fala já afetada pela síndrome torna os caminhos mais complicados de serem traçados. A fonoaudióloga e especialista em síndrome de Down Anne Caroline Lopes Benedito explica que algumas características tornam mais complexo o desenvolvimento da fala. “A dificuldade para aprender movimentos [por exemplo] faz com que as crianças com síndrome de Down pronunciem as palavras de modos diferentes. Cada vez que dizem uma palavra, é como se estivessem falando pela primeira vez”, observa a especialista. Entretanto, as dificuldades de desenvolvimento cognitivo e intelectual e a mais complexa socialização não foram obstáculos para que Mariana Fernandes Gutierrez pudesse superar os desafios que enfrentou, como relata, e escrever o sonhado livro. Nas páginas de “Juntos Somos Iguais”, Mariana retrata o preconceito vivido por ela. Com a parceria da neuropsicopedagoga e coautora da obra, Iraci de França Moura, Mariana pôde ser estimulada e evoluir social e intelectualmente, hoje participando da rede regular de ensino. Iraci comenta que a jovem tem facilidade para escrever e destaca, também, a importância da família e do trabalho que desenvolve para o crescimento de Mariana. “É um tripé: as terapias neuropsicopedagógicas, a escola e a família. Se tirar um, cai.” Para as três profissionais, a ausência de informação
Murilo Lima
A SÍNDROME E A ATIVIDADE FÍSICA “A síndrome de Down é uma alteração genética causada por um erro na divisão celular durante a divisão embrionária. Os portadores da síndrome, em vez de dois cromossomos no par 21, possuem três”, explica a mestre em Ciências Biológicas Sandra Cristina Catelan Mainardes. Ela destaca que uma criança Down está mais suscetível a apresentar problemas de saúde. A cardiopatia congênita, os problemas neurológicos, a obesidade e o envelhecimento precoce são mais comuns na vida daqueles que convivem com a síndrome. Para prevenir ou colaborar no controle aos problemas de saúde, os especialistas indicam as atividades físicas. Segundo eles, os exercícios são benéficos para a saúde, bem como para o bem estar do ser humano. Os esportes, que integram essa categoria, trazem benefícios para quem os inclui na rotina de vida. Nessa perspectiva, profissionais analisam que tais exercícios físicos têm grande importância, também, para crianças que nascem com alguma deficariência, seja física, intelectual ou cognitiva, como a síndrome de Down.
Natália Sanches
Mariana e Iraci de França Moura, coautora da obra
interagir, trabalhar, para ter uma vida normal”, pondera a psicóloga. A neuropsicopedagoga Iraci de França Moura agrega, ainda, o medo das pessoas em encarar a situação e aprender a lidar com o fato. “A maioria das pessoas também não é preparada para encarar a limitação. A sociedade tem dificuldade de se relacionar. Se chega uma pessoa diferente, eles são sabem como reagir”, completa Iraci.
“A sociedade tem dificuldade de se relacionar. Eles não sabem como reagir”
Conforme revela a professora de Educação Física Claudia Alexandre Uema, os estímulos proporcionados pelos exercícios físicos ajudam no desenvolvimento de crianças com Down e proporcionam a socialização, fundamental para um crescimento saudável. “A inclusão dos alunos nas aulas de educação física faz com que seja valorizada a diferença, as potencialidades de cada um e a superação do corpo imperfeito. É preciso que haja equiparação de oportunidades entre pessoas com e sem deficiência”, observa ela. Claudia, que faz especialização em Educação Especial, frisa que as atividades disponibilizadas para as pessoas com síndrome de Down devem ser pensadas de forma a levar em consideração as necessidades por eles apresentadas. “A Educação Física adaptada compreende métodos e processos com planejamentos que podem ser aplicados à pessoa com deficiência e visa atender as necessidades de seus alunos”, enfatiza ela. A também graduada em Educação Física e pós-
Edição Especial - Setembro de 2016 graduanda em Educação Especial complementa relembrando que crianças com a síndrome podem apresentar dificuldades, como problemas cardíacos e má formações. Porém, segundo ela, nada disso as impede de serem fisicamente ativas.
Natália Faian faz aulas de dança do ventre
A melhora no desenvolvimento foi o principal motivo que levou a mãe de Natália Cristina Faian, Valderene Felippe Faian, de 52 anos, a buscar a natação como atividade física para a filha. A jovem, de 24 anos, tem síndrome de Down e começou a praticar o esporte aos 17 dias de vida. Desde então, nunca mais parou. “Gosto de nadar para manter a forma, a saúde e o bem estar. Faço duas vezes por semana”, conta Natália, que já
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competiu pela modalidade e acumula medalhas. Atualmente, ela também incluiu na rotina as aulas de dança do ventre. A irmã da jovem, Nailena Faian, de 21 anos, comenta que Natália tem consciência da síndrome, mas não deixa que a condição seja um problema. “Tem uma frase que ela sempre fala: Ser diferente é normal. Eu acredito plenamente nisso também”, afirma Nailena. Valderene completa dizendo que mesmo com a síndrome a filha se desenvolveu muito. “Ela é o maior orgulho e alegria da minha vida”, diz a mãe, emocionada.
maringá enfrenta problemas com acessibilidade Mesmo com alguns avanços e melhorias no centro da cidade, cadeirantes ainda não são tratados como prioridade Rampas nas esquinas, calçadas sem buracos ou obstáculos, ônibus com adaptações para deficientes, mesmas condições de mobilidade nos centros e nos bairros. Em uma cidade assim, pessoas com deficiência física teriam a liberdade de ir e vir como qualquer outra. Essa cidade com condições ideais de mobilidade existe e é Uberlândia, em Minas Gerais. Poderia ser Maringá, mas por aqui ainda há muito trabalho a ser feito. O vereador Ulisses Maia (PDT), afirma que Maringá está longe de ser uma cidade acessível e inclusiva. Temos fiscalizado e cobrado ações da Prefeitura. Tenho inúmeros requerimentos protocolados em relação às rampas e acessibilidade de transporte público. Nós, da Câmara, temos cobrado para que sejam realizadas novas construções e melhorias nas já existentes”, diz o vereador.
riais utilizados por esse aluno, explica a secretária. Caso o aluno não tenha autonomia na mobilidade e/ou comunicação é realizado um estudo de caso para verificar a necessidade, ou não, de uma professora de apoio em sala de aula. O objetivo do atendimento desse profissional é oportunizar ao aluno o acesso ao currículo acadêmico e funcional, bem como as adaptações necessárias. Procurado pela reportagem para falar sobre a acessibilidade em Maringá, o secretário de Obras Públicas Roberto Petrucci Júnior, ele indicou a arquiteta Maria Isabel Cordeiro Calvo Machado para falar em seu nome. Segundo Maria Isabel, a Prefeitura atende a lei
Segundo ela, no centro há mais facilidade para se locomover, porém, ao contrário do que afirma a arquiteta Maria Isabel Machado, Leila diz que os bairros não recebem a mesma atenção. “Nos bairros, a principal carência está na estrutura das calçadas. Os locais por onde passo são difíceis para locomoção. Já no centro é mais fácil de se locomover de uma calçada a outra, mantendo a aparência central e desprezando a dos bairros. É como diz o ditado: por onde o padre passa, é o melhor caminho. Comparo isso ao centro”, define. Leila também reclama da farmácia da Secretaria da Saúde, na zona norte. Segundo ela, o local tem altura inacessível, impossibilitando a entrada de
Maia diz que a acessibilidade nos bairros ainda é muito complicada, assim como nos hospitais e nas escolas. O vereador destaca a inacessibilidade do Hospital Municipal e conta que a CPA – Comissão Permanente de Acessibilidade, nunca saiu do papel. Segundo Ulisses, há muitos relatos, na Câmara, de professores sobre a falta de inclusão nas escolas públicas. Para Maia, é necessário estabelecer a acessibilidade como prioridade. Para a secretária da Educação de Maringá, a pedagoga e fisioterapeuta Solange Lopes, todas as escolas da rede municipal têm condições de acessibilidade previstas no projeto de reforma e/ou construção. Ela diz que na rede municipal, os alunos público-alvo da educação especial são matriculados nas unidades escolares de ensino regular. Após a matrícula, a equipe pedagógica da unidade escolar entra em contato com a assessoria da Edu-
Com dificuldades Leila sofre para subir na calçada
“A acessibilidade é maior no centro, mas mesmo assim, precisa de manutenção”
9.050 da acessibilidade, atualizada em 2015, “na íntegra”. A arquiteta diz, ainda, que nos bairros recebem a mesma atenção que o centro quando o assunto é acessibilidade, já que a lei é para a cidade inteira. Ela também afirma que os prédios de serviço de saúde obrigatoriamente precisam oferecer acessibilidade. Porém, para a cadeirante Leila Signei Zacharias, 50 anos, nada disso procede.
cação Especial e a informa sobre a chegada do aluno. A assessora vai até a unidade escolar para verificar as condições e necessidades do aluno, realiza as orientações necessárias no âmbito pedagógico e nas adaptações no que dizrespeito à mobilidade, locomoção, equipamentos e adaptações de mate-
Vítima da Síndrome de Pós-Poliomielite, Leila, moradora do Jardim Liberdade, zona leste, depende de uma cadeira de rodas para se locomover. Apesar de considerar Maringá uma boa cidade, ela diz acreditar que a acessibilidade deixa muito a desejar.
Gian Ribeiro
cadeirantes.Quando necessitamos de algo nesse lugar e não há pessoas por perto para nos ajudar, temos que gritar para que saibam que tem um cadeirante aqui fora. Além disso, por estar na cadeira de rodas, não tenho altura visual para poder enxergar quem me atende do outro lado do balcão. Não há estrutura para cadeirantes lá dentro”, diz Leila. Quando o assunto é transporte coletivo, ela observa que não tem muitos problemas. Eles [os motoristas] respeitam nosso limite e nos ajudam, e com isso construímos amizades duradouras. Na questão de estrutura, está bacana.”
Edição Especial - Setembro de 2016 Fernanda Katayama Negrisolli é terapeuta ocupacional e escreve para o blog Acessibilidade na Prática (www.acessibilidadenapratica.com.br), idealizado pelo veterinário e cadeirante Frederico Rios. Para ela, o blog é um excelente meio para informação, orientação e troca de experiências entre profissionais e todas as pessoas interessadas no assunto.” O intuito maior é conscientizar a população em geral sobre a importância e a existência de recursos que facilitam a vida de todos e não apenas das pessoas com deficiência física. Fernanda conta que constantemente ouve reclamações de pacientes sobre a falta de acessibilidade e destaca que esse ainda é um assunto que merece atenção.
A fisioterapeuta Mônica Santini Marques, 32 anos, diz que a fisioterapia ajuda como um todo as pessoas, desde bebês recém-nascidos até idosos com mal de Alzheimer ou Parkinson. Não tem como não ajudar as pessoas com fisioterapia.” Mônica, que é pós-graduada em dermatofuncio nal, professora de pilates e terapeuta ocupacional diz que pacientes que apresentam mobilidade reduzida necessitam que o ambiente seja adaptado para que desempenhem as atividades diárias normalmente. Como profissional da saúde, ela destaca que ainda existe muito para melhorar na questão da acessibilidade. Nem todo cadeirante tem alguém que o auxilie, então as rampas são indispensáveis. Também é necessário que as rampas sejam emborrachadas, o que nem sempre acontece.
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Há muito a melhorar ainda.” Após um acidente, Jair Cervelheri, ou Pastelzinho como é conhecido, de 48 anos, passou a necessitar de uma cadeira de rodas para se locomover. Morador do Jardim Oásis, zona norte ele diz que o bairro não é nada acessível. A acessibilidade é maior no centro, mas mesmo assim, precisa de manutenção”, conta Pastelzinho, que tem um canal no Youtube, onde publica vídeos que mostram a falta de acessibilidade nas ruas de Maringá. Ele diz que sempre teve vontade de fazer algo para melhorar as condições para todos. Comprei uma GoPro e comecei a filmar os lugares por onde passava em meu bairro e acabei tomando às mãos dos responsáveis, e acabavam arrumando o que para nós era sinônimo de obstáculo.
pessoas com deficiência se desenvolvem no meio artístico Mesmo com dificuldades, artistas provam que é possível superar limitações e usufruir das artes Autores: Cristiano Almeida, Gabriel Pinheiro, Janaína Teixeira, Leticia Freitas, Raysson Schimmack Abraham Lincoln, emancipação dos escravos norte-americanos e a Síndrome de Marfan. As telas de Van Gogh e a dislexia. Stevie Wonder e Ray Charles cantando às cegas. O que seria da orquestra brasileira sem o maestro João Carlos Martins com os dedos atrofiados? Todos não deixaram de ser artistas por conta de uma deficiência, ao contrário, se destacaram. No Noroeste do Paraná, é possível encontrar pessoas que, apesar das dificuldades, dão um “show” de superação e exemplo. A arte é uma técnica que pode ser desenvolvida por todos, inclusive, por pessoas com deficiência que se dedicam para se expressar por meio dela. Para o sociólogo Tiago Valenciano, ainda é pequeno o reconhecimento de artistas com deficiência e, por isso, a sociedade ainda está em desenvolvimento para a aceitação e para a garantia dos direitos deles. “Há anos, os deficientes têm recebido direitos em virtude das lutas para a aceitação da sociedade enquanto pessoas ‘normais’. Prova disso, são os deficientes artistas, que realizam papéis fundamentais e buscam a conquista de um espaço, que deve vir com o tempo. ”Junior Barbosa de Souza, 22, é deficiente visual, além de cantar na igreja que frequenta, toca violão, teclado, viola, contrabaixo e guitarra. Ele conta que se dedicou à carreira musical depois que ganhou o primeiro instrumento. “Ganhei um violão simplesinho da minha vizinha,
aos 14 anos e aprendi a tocar sozinho. Sou de uma família do interior que não tinha condições [financeiras] de bancar uma aula. Aprendi um pouco de teoria procurando músicas na internet, ouvindo vídeo-aula e meus amigos músicos tocarem.” Souza é músico profissional há oito anos. Outra pessoa que tem contato com a arte é Daniele Marçal Xavier, 40, que tem uma deficiência no sistema motor chamada hidrocefalia (conhecida vulgarmente como “água na cabeça”). Ela conta que está com um projeto para escrever e publicar um livro. “É um livro sobre a minha vida, minha deficiência e sobre o que eu passo diariamente. As professoras me incentivam bastante”, conta Daniele. Ela ainda comenta sobre o preconceito que sofre na rotina dela, por ser cadeirante. Daniele frequenta o Centro Especial Tânia Regina desde que foi inaugurado há cinco anos, após a filha da fundadora precisar de atendimentos fonoaudiólogos. A abertura foi para auxiliar no atendimento desse e de outros serviços. Atualmente, o Centro Especial Tânia Regina atende mais de 30 alunos de Maringá, Mandaguaçu (25km de Maringá) e Paranavaí (76km de Maringá). Nesse grupo há pessoas com paralisia cerebral, autismo, deficiências visuais e intelectuais com idades que variam de 8 a 65 anos. Para a professora de música do Centro Tânia Regina, Janine Hotts Soria, a aula de musicalização é
Daniele Marçal Xavir tem hidrocefalia e frequenta o Centro Tania Regina desde 2012
Cristiano Almeida
“um momento em que eles [os alunos] se expressam, cantam, tocam instrumentos, conhecem os ritmos e estilos musicais”. Ela conta que, apesar de nunca ter planejado trabalhar com pessoas com deficientes, está gostando da experiência. A professora diz que as aulas e todo o processo de forma geral são cansativos, porém, extremamente gratificantes. “Quando os vejo apresentando em um festival ou numa apresentação no Dia dos Pais ou das Mães. Fico muito alegre. ‘Nossa, eu ensinei mesmo, eles aprenderam’, penso. Consigo ver o resultado.” Segundo a professora do curso de Artes Visuais do Centro Universitário Cesumar (Unicesumar) Francislaine Campos Garcia, a arte permite que uma pessoa, com deficiência ou não, participe da sociedade de forma crítica e interativa. “Independentemente se tem deficiência motora, ele vai reagir às coisas e formas e não vai parar de pensar. [O contato com a] arte instiga o cognitivo e amplia a possibilidade de criatividade.” Marcio Nalon, 38, achou na pintura um meio de tratamento antidepressivo. “No final de 1998, estava saindo do plantão [do trabalho]. Fui em uma chácara com piscina, escorreguei, estourei a vértebra e rompi a medula. Fiquei semi-tetraplégico. Sinto apenas 5% do corpo”, relata. O pintor já expôs em países da Europa e da América Latina. Vendo que poderia conseguir algum lucro com a arte que produzia. “Mesmo que artistas como Leonidio e Voka [pintores europeus] e Cido Oliveira [pintor paranaense de Cornélio Procópio] que são impressionistas e de certo modo me influenciam, estou acabando desenvolvendo meu próprio estilo. Alguns amigos que ajudam com patrocínio das minhas telas, mas ainda é complicado ter esse patrocínio na região”. Nalon normalmente produz os quadros em uma maca adaptada onde coloca a tela e a paleta de tintas, amarra o pincel na mão, e assim vai pintando e melhorando em cada produção. “Estar pintando já é uma vitória. Muitos se impressionaram com minha capacidade.” A pedagoga Gisele Aparecida Ribeiro de Alencar, especialista na área de deficiência mental e doutora em educação especial, desenvolve um projeto que tem como alvo pessoas com deficiência. Uma das atividades, que teve como objetivo a produção de desenhos, os ajudou a expressar os medos que sentem, exteriorizando os sentimentos por meio da arte. O projeto “Atividades alternativas para pessoas com necessidades especiais” que ela desenvolve no Colégio de Aplicação Pedagógica (CAP) busca estreitar o contato desses alunos com o mundo da arte e com a sociedade. De acordo com Gisele Aparecida Ribeiro de Alencar, o projeto atende pessoas com qualquer tipo de deficiência, porém, a maioria dos alunos tem algum tipo de deficiência intelectual. “O objetivo ali é trabalhar com atividades alternativas que possam
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“[A arte] é como uma expressão daquilo que sentem, do que eles pensam” estar subsidiando o processo de desenvolvimento humano, para que ele [o aluno deficiente] possa ser e estar dentro da sociedade.” Para a psicóloga Milene Scardelato que trabalha com psicoterapia para crianças, adolescentes e adultos, e atua na abordagem comportamental, às vezes, pessoas com deficiência não encontram maneiras de se expressar e, nesse sentido, a arte se torna muito importante. “[A arte] é como uma ex-
pressão daquilo que sentem, do que eles pensam, da visão que eles têm do mundo e é um meio para eles serem ouvidos. E [a arte] é um canal muito efetivo, afinal alcança por outras pessoas”. Outro caso de superação é o de Laiane dos Santos, 18, que tem deficiência intelectual. Há mais de dois meses, ela participa das aulas de Street dance (dança de rua) na cidade de Marialva (17 km distante de Maringá). “Gosto muito de dançar, além das aula de artes, geografia, ciências na Apae”, conta a jovem. O professor e coreógrafo Alisson Miguel Trindade diz que não diferencia Laiane dos outros alunos. “Dou bronca do mesmo jeito, elogio do mesmo jeito. Se for para pegar no pé, eu vou pegar do mesmo jeito.” O professor diz ainda que outros alunos
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aceitam a jovem normalmente. “Quando eu monto os grupinhos para eles ensaiarem, [os alunos] sempre ajudam ela. Nunca tive problemas [com isso] aqui. Até porque se tiver eu não aceito.” A deficiência da jovem não foi motivo de preconceitos dos colegas. Mas conta que já sofreu bullying por usar óculos de grau. “Já me chamaram de quatro olhos, mas eu não liguei, o professor deu bronca e eu continuei dançando”, diz Laiane. Para o sociólogo Tiago Valenciano, está nas mãos da sociedade contribuir para a inclusão de pessoas com deficiência fornecendo direitos a partir da ótica do deficiente. “As pessoas com deficiência podem demonstrar à sociedade a necessidade de olhar o mundo de uma maneira diferente, lembrando-nos que estamos sujeitos a essa condição e que devemos respeitar os direitos os direitos.”
travestis batalham para romper os estereótipos O reconhecimento frente à sociedade é uma das tarefas mais difíceis; depois disso, as situações de risco ainda assustam Autores: Randy Fusieger, Priscila Garcia, Adelson Jaques, Gabriel Tazinasso e Heloísa Fernanda De acordo com o Dicionário Houaiss, a palavra travesti é definida como “substantivo de dois gêneros (sXX): 1. Artista que, em espetáculos, se veste com roupas do sexo oposto; 2. Homossexual que se veste e que se conduz como se fosse do sexo oposto”. No entanto, as discussões sobre uma definição que caracterize as travestis são postas em jogo quando analisa-se o contexto social e histórico em que esse segmento está inserido. Ser travesti, mesmo nos dias atuais, é uma característica que leva as pessoas a lutarem pelos próprios direitos. A organização não governamental Transgender Europe (Tgeu) publicou números sobre os homicídios das travestis no Brasil: de 2008 a 2013 foram 486 mortes. Esse número é baseado nas estatísticas dos casos que são reportados, podendo ainda ser maior, levando em consideração aqueles que não são tratados como crime de homofobia. A primeira mulher travesti formada no curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Naomi Neri, 23, e também presidente do Coletivo TRANSforme Maringá, conta que viveu por muito tempo isolada socialmente e levou anos para entender e colocar-se numa posição social favorável. “Vivi 22 anos de isolamento, aprisionada em um corpo, pois antes da transição eu
Em busca de direitos, Jean e Naomi trabalham em conjunto
mesma não me entendia como humana, era sempre um espectro social daquilo que eu imaginava”, desabafa. Naomi relata que, ainda hoje, a letra T dentro da sigla LGBT permanece ofuscada. “Quando falamos que estamos isoladas dentro de um T, é como se fosse uma conotação de isolamento social e político, pois o direito das pessoas trans são os primeiros a serem negociados”, ressalta. Naomi também destaca que na sociedade a palavra “gênero” ainda gera desconforto pela irresponsabilidade na discussão e aceitação da identidade para que se alcance a igualdade. “O incômodo da palavra gênero vem de desvirtuar o que é gênero. E a figura da travesti é que mais desvirtua. Por isso as travestis são marginalizadas, pois confrontamos com o nosso corpo uma série de definições que a sociedade padroniza.” Naomi destaca, também, que dentro de uma sociedade regida por padrões, o estilo dela não viabiliza discussões de violência ou ações de ódio contra quem ela representa. “O que incomoda não sou eu. Branca, classe média, graduada. Quem incomoda é a travesti garota de programa, que não teve a oportunidade de estar na escola, que coloca o corpo à mostra, pois reafirma uma cultura de periferia”, revela. Por isso, a posição social que ocupa torna-se um aditivo para que Naomi continue lutando pela garantia dos direitos conquistados pela classe e pela busca daqueles que ainda estão sendo solicitados. “Ainda que me en-
caixe em muitos padrões onde a violência não me identifica, preciso usar da minha posição de privilégio para lutar por aquelas que não têm essa oportunidade. Não fazemos por nós, mas para dar condição para aquelas que não tiveram”, salienta. É o que também pensa Jean Carlo Garcia, 33, presidente do Grupo de Homens Trans de Maringá (HTM), coordenador setorial do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat) e membro do Coletivo TRANSforme Maringá. Ele conta que ocupar essa posição traz à tona a responsabilidade perante aos que não conseguem exercer as mesmas funções. “Se estou exposto e consegui visibilidade para um grupo, uma representatividade, preciso usar isso para garantir direitos e conquistas. De maneira positiva, precisamos mostrar para a sociedade que não somos cirurgias e hormônios”, explica. Garcia considera auto aceitação um período delicado na vida de uma pessoa da comunidade LGBT, mas a repressão enfrentada pelos homens trans desencoraja muitos desses. “Inicialmente fui bissexual, não conseguia entender. A partir dos 13, 14 anos, me identificava com a bissexualidade. Depois me identifiquei como lésbica, mas ainda assim tinha alguma coisa que não dava certo, não encaixava. E aí, de uns cinco, seis anos para cá, estudei mais sobre os gêneros e entendi o que estava acontecendo comigo.” Ele destaca que as desconstruções psicológicas já sofridas o fizeram entender o que os homens trans enfrentam, numa forma repres-
Randy Fusieger
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“Quem incomoda é a travesti garota de programa,que não teve oportunidade” sora de identificar e banalizar as discussões sobre gênero. “Tenho algumas fobias. São minhas, não consigo lidar pois são coisas do meu psicológico. Certas vezes, já ouvi coisas como ‘Ué, tem medo? Mas você não é homem? Não pode ter medo!’”, diz. Para o professor universitário, pesquisador na área da discussão de gêneros nas escolas e militante da causa Márcio Oliveira, é impreterível a participação ativa da comunidade LGBT na conquista de todos os direitos, principalmente na luta contra a transfobia com foco nas travestis. “Elas são o segmento que mais sofre repressão apenas por não se identificarem com o corpo. É notável o desconforto causado pelas travestis enquanto estão no meio social”, revela. Oliveira ressalta que a necessidade da militância se manter pacífica é essencial para que o cenário de aceitação da comunidade seja comum entre todos os âmbitos sociais. “Militar é de extrema importância. Não se alcança nada e nem se chega a lugar algum se não houver união em um corpo social unitário, que permite discussões amplas e centralizadas no foco principal, a garantia e luta por direitos”, reitera. A SOCIEDADE AINDA CAMINHA PARA AMPARAR OS LGBTS Dados publicados em 2012 pelo então Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, coletados com base nas denúncias registradas no Disque Direitos Humanos (Disque 100), revelam que, naquele ano, o número de violações contra a comunidade LGBT foi de 9.982 casos, aumento de 46% em relação à mesma estatística do ano anterior, de 6.809 casos. Desses quase 10 mil casos, 4.851 produziram vítimas. Esses dados retratam panoramas gerais frente à população LGBT no país e revelam a dificuldade de precisão nos números sobre ataques homofóbicos. Muitas vezes, os dados são revelados bienalmente. A intenção é aplicar maior veracidade aos números e retratar a dificuldade que a falta de leis específicas para proteção dessa população causa a essa comunidade. Procurada pela reportagem no início de junho, a então secretária de Assistência Social e Cidadania de Maringá, Rosa Maria Marques de Souza, revelou que não existem ações municipais voltadas especificamente para a comunidade LGBT. “Não temos uma política pública definida para os LGBTs, mas temos a política pública de assistência social, pela qual atendemos todos que dela necessitam”, afirma. Questionada sobre a procura da população, principalmente das travestis, Rosa Maria informou que não é grande. “O LGBT não dá as caras, eles não participam das ações, quando fazem, é separado, eles mesmos se discriminam. Eles têm que começar a se envolver mais, para que possam exigir o lugar na sociedade, se não vão ficar sempre à margem”, salienta. Ela também pontuou que a comunidade LGBT pode procurar mais informações e atenuar-se a difundir a discussão frente à sociedade. “Eles têm de se impor: ‘é assim que eu quero viver e pronto’. Vivemos em um país democrático, eles é que têm
“Não existem ações municipais voltadas especificamente para a comunidade LGBT”
de vencer as barreiras da diversidade”, sinaliza. Ela destaca que, durante a Conferência Municipal dos Direitos LGBT, em Maringá, assistentes sociais participaram das discussões a fim de buscar maiores conquistas para a defesa das travestis e transexuais. “Pedi que meus assessores participassem, pela experiência que eles têm. Acompanhamos a conferência, o que já é um avanço, já temos o conselho voltado para essa minoria”, ressalta. A discussão é acalentada pelas declarações da vice-presidente da Associação Maringaense de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Amlgbt), Margot Jung, uma das organizadoras da Parada LGBT de Maringá e da Semana da Diversidade Sexual, que revela informações sobre os órgãos assistencialistas frente à comunidade. “Não temos recursos financeiros de nenhum órgão público, nenhuma instituição, entidade ou secretaria. Mas em todos os anos nunca recebemos ‘não’ da prefeitura para fazer a parada ou a semana. Inclusive, neste ano, a semana de debates aconteceu no plenário da Câmara de Vereadores.” Margot também destaca que a importância da discussão de gênero nas escolas ocasiona visão positiva entre os jovens e adolescentes, para que consigam trabalhar melhor com as diferenças, de forma diferente da ideia defendida por toda a sociedade. “Trabalhar gênero nas escolas não é sinônimo de deturpar a cabeça das crianças para que sejam alguma coisa, não é isso. É criar na mente de todas as pessoas que todos merecem respeito e que a pessoa que não se identifica com o seu corpo merece ser respeitada assim como qualquer outra.” A militante diz que as diferenças na sociedade devem ser encaradas com naturalidade. “As pessoas precisam entender que quando nascem, alguns indivíduos não se identificam com o corpo que têm.” O debate sobre as discussões de gênero nas escolas ganha força pelos estudos realizados dentro do Núcleo da Diversidade Sexual (Nudisex), grupo de pesquisa vinculado ao Departamento de Teoria e Prática do Ensino da Universidade Estadual
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“Quando nascem, alguns indivíduos não se identificam com o corpo que têm” do bastante com esse olhar”, destaca. Os debates são importantes para Eliane, pois tudo gira em torno de um único objetivo: as classes sociais estarem em comum acordo no respeito às diferenças. “Tenho uma frase que carrego comigo e sempre digo: ‘Eu gosto de gente que gosta de gente’, isso é muito importante para mim”, orgulha-se.
NOVAS IGREJAS DÃO ESPAÇO À DIVERSIDADE O catolicismo é a religião predominante no Brasil. Estima-se que 57% da população do país é católica, segundo dados do Datafolha. Isso coloca o Brasil como um dos países católicos mais fervorosos do mundo. Porém, muitas tradições do início da Igreja Católica ainda persistem, colocando em jogo a liberdade de expressão e fé religiosa da comunidade LGBT. Com as mudanças sociais acontecendo a todo o tempo, novas possibilidades se abrem dentro da tradição da fé, bem como acontece o surgimento de novas formas de agradecer a Deus e enaltecer a alma. Em 2013, o representante supremo da Igreja Católica, Papa Francisco, disse em entrevista que “se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” Além disso, o Papa ainda disse que “é preciso integrá-las à sociedade”,
“Respeitamos, acolhemos. São seres humanos com direitos e deveres iguais”
tornando a entidade que representa aberta ao discurso de integração e disposta a rever conceitos.
Manifestantes durante a Parada LGBT bradam bandeira trans
de Maringá (UEM). A professora, pesquisadora e presidente do grupo, Eliane Rose Maio, autora da obra “O Nome da Coisa”, livro que surgiu da tese de doutorado dela, reafirma a necessidade dessa discussão. “Nas escolas é que vemos a pluralidade. O ser gente. Como a escola é um processo plural, precisamos trabalhar com isso. E trabalhar a forma de como as pessoas são do jeito que querem ser demonstra essa pluralidade.” Eliane destaca que, desde a formação acadêmica e pedagógica do professor, deve haver o trabalho de estudo frente às diversidades sexuais. “Dentro da graduação, nas licenciaturas, deve existir o debate sobre as diversidades. O professor, o funcionário, todos os profissionais da educação devem estar preparados para não segregarem os que ali estão para aprender”, diz. A pesquisadora observa que, pelo fato de o preconceito estar presente dentro das escolas, a má formação das travestis é ocasionada pelas agressões, verbais ou físicas, que levam à na evasão escolar. Isso desencadeia uma série de fatos. “A maioria das travestis é expulsa das escolas e isso não é nada agradável. Por isso, pretendo continuar trabalhan-
O arcebispo da Catedral de Maringá, dom Anuar Battisti, ressalta que trabalhar de forma efetiva para modificar o panorama frente às mudanças é essencial para incluir a comunidade excluída e as minorias que, dentro do contexto, tanto precisam de fé e amor. Ele ressalta que promove isso de forma acalentadora. “Respeitamos, acolhemos. São seres humanos com direitos e deveres iguais. Nós não vamos pela opção sexual de cada um, vamos pela pessoa. A pessoa tem que ser respeitada como ela é”, destaca. Perguntado sobre a criação da Pastoral da Diversidade, o arcebispo diz que o projeto está em andamento e precisa de uma base sólida para se desenvolver. “Esse projeto praticamente
Fiéis acompanham o culto de adoração à Deus
Edição Especial - Setembro de 2016
“Se eu falo que Jesus foi travesti, foi trans, todo mundo fica aterrorizado” não saiu do papel, porque estávamos colhendo várias experiências pelo Brasil. Preferimos, de momento, apoiar essa comunidade de maneira especial, do que criar uma pastoral sem saber aonde iremos chegar.” Sobre a diversidade sexual, Battisti pontua que o debate frente a esse cenário com a igreja deve ser sempre em um ambiente saudável e que propicie a discussão com base em resoluções. “A fé manda amar a todos como Deus ama. Toda prática de exclusão, de julgamento e de preconceito não faz parte do evangelho”, ressalta. O reverendo Célio Camargo, fundador da Igreja das Comunidades Metropolitanas (ICM), em Maringá, reitera o compromisso da organização com o acolhimento de pessoas da comunidade LGBT. Camargo, que já participou de pastorais em outras comunidades cristãs, conta que a decisão de fundar a igreja partiu da própria experiência como excluído da participação dentro da tradição. “A ICM veio da necessidade do acolhimento pessoal e da visualização dessa necessidade em outras pessoas. Era necessário que as minorias, as travestis e toda a comunidade LGBT se sentisse protegida dentro desse espaço da fé”, conta. Ele revela que, por ser uma igreja especificamente acolhedora da popu-
lação LGBT, não há nenhuma dificuldade com os fiéis dentro da igreja. “Nós entendemos um Cristo que chama à todos. ‘Venham, sentem-se, a mesa é para todos’. Então, os fiéis da igreja sempre procuram a espiritualidade, o temor a Deus e a fé interior, não importando a orientação sexual, e sim o caráter.” Em relação às travestis, que procuram a igreja como forma de reiterar a fé por vezes perdida pelas condições a que se submetem, o reverendo reforça a necessidade do acolhimento e inclusão. “Acolhemos as travestis, por vezes trabalhadoras do sexo, que chegam à igreja e participam da comunhão. Para nós, importa acalentar e dizer: ‘Olha, somos iguais na dor, na angústia, na tristeza e nas alegrias’. O Cristo é igual para todos.”
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costumes que impõem regras, o que pode dificultar a luta para que a discussão sobre gênero aconteça. “Nascemos num mundo dividido em gênero. Você tem um guarda roupa específico para o menino e outro para a menina; tem a cor rosa e tem a cor azul”, compara. A psicóloga vai além ao exprimir o que acontece dentro das igrejas, expressando a forma de como são tratados os homens e as mulheres e como é inexistente a discussão dentro desse âmbito. “A forma que a igreja enaltece a mulher já é totalmente machista. Quando você vai acompanhar o casamento, o homem representa a imagem de Cristo, e que é ele quem toma as decisões, e a mulher tem quer ser submissa a ele.”
O pastor também reforça a utilização da Teologia Queer (pensamento alusivo ao comportamento e gêneros LGBT). “As pessoas têm preconceito com travestis, mas se eu falo que Jesus foi travesti, foi trans, todo mundo fica aterrorizado. Jesus se travestiu de homem, deixando seu lado divino para poder vir, e transgrediu a lei humana para poder ser homem no meio de nós”, explica. Dentro desse contexto, a psicóloga e pesquisadora na área de identidade de gênero Daniele Fébole salienta que ofuscar a participação de uma pessoa dentro de qualquer espaço social ou religioso é categorizar o indivíduo apenas pela própria identidade de gênero ou orientação sexual. “Existem mulheres e homens trans, mas isso não define a sexualidade por outra pessoa, ela pode gostar do mesmo gênero ou de gênero diferente”, explica. Ela relata que o pensamento atual é assolado por
expediente O Jornal Matéria Prima (especial/reportagens) é uma publicação experimental dos estudantes do 2º ano de jornalismo do Centro Universitário Cesumar (Unicesumar), como parte das atividades do Projeto Integrador das disciplinas de Técnica de Reportagem, Fotografia e Comunicação Visual e Criação.
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