Querido Doutor - Rocco Bravo

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Eu ri junto. — É verdade. — disse. O carro reduziu a velocidade. As casas iam ficando mais nítidas e ao longe vi o carro de minha mãe estacionado em frente a garagem. A neve estava caindo em flocos. Bem lentamente. As árvores não tinham mais nenhuma flor, me lembrei que faltava menos de um mês para o Natal. Senti algo em minha coxa. Olhei. A mão de Trace estava lá. — Trace. — disse. O carro parou. Estávamos em frente a minha casa. Ele não tirou a mão. — Por favor, tire a mão da minha coxa. — eu disse. Ele tirou olhando nos meus olhos. As portas do carro ainda estavam trancadas. — Sobre tudo que você disse. — disse Trace. — Preciso de uma despedida para não deixar meu coração tão magoado. Ele se curvou, passou a mão pela minha cintura e me puxou, não tinha como fazer nada, estou em recuperação de um acidente de carro. Ele se curvou, nossos lábios se tocaram levemente e foram ficando cada vez mais obsessivos. Não tinha como lutar, estava muito fraco. Apenas esperei, sem fazer qualquer movimento enquanto ele se afastou uns sete centímetros de minha boca, nossa respiração saindo quente no ar frio – criando aquela fumaça branca. Meu rosto estava vermelho. — O que foi isso? — perguntei empurrando o peito dele. Ele me encarou sem entender. — A despedida. — com a outra mão ele apertou algum botão, e o barulho das portas se abrindo ecoou no silêncio do carro. Eu abri a porta e pulei para fora. Bati a porta do meu quarto e me joguei na minha cama – testemunha de muitas ousadias – e comecei a abrir a mala. Foi mais fácil do que eu imaginei. A não ser que a todo momento o beijo de Trace voltava a minha cabeça. Em breve eu teria que beijá-lo novamente para a peça da Prof.ª Lafaiete. 89


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