Comunicação e educação: Pesquisa-ação com adolescentes abrigados

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3.3 Características dos abrigos e abrigados Pesquisas realizadas em abrigos de todo o Brasil tentam caracterizar o cotidiano daqueles jovens que vivem nessas instituições. Em geral, são identificados diversos desrespeitos ao que é determinado pelas leis brasileiras. Oliveira (2006), afirma que o abrigo ainda é caracterizado como um “depósito humano”. Para ela, essas instituições são frequentemente transformadas em um “lar permanente”, um local onde essas crianças e adolescentes viverão até completar a maioridade. “[O abrigo é] um espaço onde [esses jovens] deveriam ter a oportunidade de sentirem-se pertencentes” (OLIVEIRA, 2006). Com a falta desse sentimento de pertencimento, esse indivíduo tem o desenvolvimento natural prejudicado. Para a autora, é importante esta reflexão, ela coloca que esse jovem vulnerável apresenta características distintas dos outros adolescentes que conseguem viver a plenitude desta fase do desenvolvimento. O lugar onde o adolescente vive é parte importante desse processo. Santos (2004, apud OLIVEIRA, 2006, p. 4) define o termo “lugar” como uma “experiência” “[...] antes de ser uma experiência espacial, é uma experiência em que o indivíduo sente que existe na subjetividade do outro. Ter um lugar é existir no meio ambiente humano”. Então, o jovem abrigado deve reconhecer-se nos outros com quem convive, seja nos abrigados ou nos monitores e técnicos.

Observando as práticas cotidianas das instituições de abrigo constata-se, muitas vezes, que estes são ambientes regrados por um grande número de normas: horário para acordar, horário para realizar as refeições, horário para organizar os espaços, horário para sair, para chegar, horário para banho, para falar ao telefone e até horário para se relacionar, já que situações que poderiam promover relacionamentos só ocorrem dentro de horários e lugares pré-determinados pelas normas. O excesso de normas muitas vezes configura uma rotina de práticas cotidianas desprovida de sentido e significado que contribui para dissociar o abrigo do conceito de lar. (OLIVEIRA, 2006, p. 5)

Normalmente, os monitores, pessoas contratados para cuidar dos jovens, são os responsáveis por fazer cumprir essas normas, o que acaba colocando-os como pessoas sérias, ríspidas e autoritárias (RIZZINO, 1996 apud OLIVEIRA, 2006).


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