Princípios, Volume 09, Números 11-12

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com as grandes obras de Kant, foi defendida, dentre outros, por Theodore Ruyssen '. A segunda hip6tese, a da pertinencia critica dos textos sobre a hist6ria, pode ser usado contra ou a favor de Kant. Pode-se por exemplo defende-la apresentando no interior desses textos assercoes que soem escandalosas se comparadas as posicoes firmadas rigorosamente pelo labor critico, e neste caso atribuir 0 motivo dos descompassos entre urn corpus e outro a causas de ordem extrafilos6fica, como fraqueza de pensamento e senilidade mental, de modo a comprometer a unidade do sistema. Ou, de outro modo, pode-se ainda enfrentar esses "descompassos" de maneira mais seria e ten tar esclarece-Ios sem abandonar 0 pensamento original do Autor, desenvolvendo-os positivamente. Por vias nem sempre consoantes, esta ultima tern sido a escolha mais fecunda. A posicao de Ruyssen, porem, nao e completamente desprezivel. Se ele interrompe a via fertil da articulacao entre os escritos sobre a hist6ria e as obras criticas, por outro lado procura dar urn senti do particular a esses escritos. 0 aspecto monolitico do sistema constituido pe1as tres grandes Crlticas, afirma ele, nao deve iludir: 0 fi16sofo, alem de trabalhar seu sistema detida e longamente, atraves de renitentes meditacoes na solidao de seu gabinete, era tambem urn homem de vida comum, que fazia quotidianamente seu passeio pe1as ruas de Konigsberg, recebia de boa vontade a sua mesa colegas e estudantes, interessava-se pela vida publica (a ponto de modificar 0 itinerario ordinario de suas saidas, por ocasiao da Revolucao francesa, para ir ate a diligencia a fim de saber noticias de Paris) e cujas ideias, em materia politica, moral e social, situavam-se sobre 0 mesmo plano que as preocupacoes medias dos homens de seu meio e de seu tempo (cf. Ruyssen: 1929,34). Deste modo, acrescenta, cumpre distinguir duas filosofias kantianas: "urna esoteric a, cujas profundezas nao cessamos de sondar, e outra exoterica, muito mais acessivel, ainda que singularmente rica e sugestiva". Destacando assim a filosofia da hist6ria do restante da especulacao kantiana

I

Cf. RUYSSEN, Th. Kant. Paris: F. Alcan, 1929.

Princfpios

UFRN

Natal

v.9

n"".11-12

p.126-144 Jan.lDez.2002


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