melo neto_pa_a_ext_autonomia

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(distrito, comarca, prefeitura, território ou mesmo, originalmente, um campo de pastagem). O primeiro significado apresenta-se como uma idealização do conceito. O segundo, por sua vez, sugere menos um modelo autosuficiente e mais um lugar relativo onde se busca o melhor (sempre se opta por aquilo que é melhor). Expressa um movimento de busca, por si mesmo, daquilo que é melhor. Autonomia produz, assim, uma dialetização entre lei, região e o por si mesmo. Com a lei, enquanto capaz de tornar-se uma regra ou um modelo a ser seguido; com a região, como um espaço de busca de algo melhor. Nesse movimento, traz uma marca muito ‘cara’, que é o de proceder por si mesmo. É um movimento entre lei, região e o por si mesmo, o qual, enquanto capaz de relacionar essas dimensões, não as torna a mesma coisa; pelo contrário, diferencia-as entre si. Dessa forma, a expressão pode ser entendida como a condição de governar-se por si mesmo e de forma independente. A pensar com Kant, pode assemelhar-se a autodeterminação, independência e liberdade - esta expressa pela capacidade do agir por si mesmo. Como liberdade, autonomia pode traduzir um sentido político. Está em Spencer a conhecida formulação de que “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”. Há, de forma explícita, uma delimitação para o exercício da autonomia, expressa pela limitação direta do exercício da liberdade. Uma liberdade de poder exercer os direitos elementares da pessoa humana, como o de expressar o seu pensamento de forma oral ou escrita. Isto, contudo, traz em si mesmo a responsabilidade pela ação ou as conseqüências dos atos. Pode externar um sentido filosófico. Surge, necessariamente, a discussão de sua realização em sentido absoluto, total. É possível a sua efetivação “in totum” ? E os condicionantes sociais, políticos, econômicos, biológicos, psicológicos que a limitam? Ora, Sartre encontra no ser humano a possibilidade de realização da liberdade. Para ele, “o homem é livre - porque somos aquilo que fazemos do que fazem de nós”. O ser do homem e o seu ser livre não apresentam diferenças. São, ao mesmo tempo, seus constituintes e seus constituídos. Pode-se vislumbrar em autonomia um sentido de pensamento. O direito de poder externar o pensamento, num sentido estrito e inalienável da pessoa. Isso mostra a luta da pessoa pela liberdade de expressar o seu pensamento. Sempre se pode lembrar Voltaire: “Não estou de acordo com o que você diz, mas lutarei até o fim para que você tenha o direito de dizê-lo”. É a expressão, possivelmente, mais elevada da clareza e da necessidade da liberdade de pensamento do outro. Assegurar essa liberdade ao outro é a garantia do desejo de liberdade para o ego. Autonomia, como liberdade de, pode ter ainda um sentido ético. Já foi identificada essa busca na tragédia grega. Ética aqui entendida, enquanto expressão do direito que tem a pessoa de agir sem constrangimento de qualquer força externa. Liberdade esta tão reivindicada e defendida por René Descartes.


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