Pesquisas e Metodologias em Artes Visuais

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Isis Moura, Larissa Uchôa e Virgínia Lemos

evidente, as intencionalidades de atos e pensamentos, de modo que a proposta de dissociar artista e obra uma tarefa de difícil execução. A crítica genética, ao se deparar com novas formas de atuação que a arte e a literatura estavam passando na década de 1960 e a consequente revisão sobre o problema da interpretação, tornou a sua prática mais próxima das reflexões de Umberto Eco, em seu livro “A obra aberta” o qual defendia a ideia de que a interpretação do sujeito a um texto literário, pintura ou a uma escultura não poderia ser alcançado apenas por meio da intenção do autor ou na obra. Para ele, já não era possível acreditar que o sentido de um texto/autor era algo a ser buscado na intenção de quem o criou, “(...), pois na fala do autor, outras falas se dizem.” (ECO,2001, p.34). A interpretação do sujeito executante seria conduzida para um limite estabelecido, ou seja, decorrente da intenção do autor. Isso não quer dizer, portanto, que o indivíduo se tornaria dependente dessa intenção, pois por mais primoroso que um trabalho possa ter sido desenvolvido, ele estará na condição interpretativa da fruição do sujeito. Isso não significa, contudo, que não exista um limite interpretativo. Nesse sentido, a ideia de “obra aberta” em Umberto Eco vai ao encontro da crítica genética, isso porque uma não dissolve a outra, pois ao tornar a interpretação da obra aberta, Eco faz alusão aos próprios processos criativos dos artistas, servirem de referências para a própria interpretação. É exatamente nessas “outras falas” presentes dentro da obra do artista que a crítica genética está interessada, isso porque a compreensão das influências que levaram o artista a realizar um determinado trabalho, revelam características do percurso pessoal do artista e do seu próprio processo, o foco da teoria genética Não é uma interpretação do produto considerado final pelo artista, mas do processo responsável pela geração da obra. A ênfase dada ao processo não ocorre em detrimento da obra. Na verdade, só nos interessamos em estudar o processo de criação porque essa obra existe. Se o objeto de interesse é o movimento criador, este, necessariamente, inclui o produto. (SALLES,2009, P.17).

Situar um trabalho artístico dentro de um contexto histórico seria compreende-lo por meio de fatores que o levaram a existir, podemos supor que o movimento criador possui relação intrínseca com o momento que a obra se desenvolveu. Ouvir as outras falas que se dizem no processo de criação se torna indispensável para seu entendimento. Podemos supor que o movimento criador, se relaciona com as outras falas não ditas explicitamente, e que ao tomarmos consciência disso, estaríamos considerando o contexto ao qual o mesmo se encontra inserido. PESQUISAS E METODOLOGIAS EM ARTES VISUAIS


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