3 minute read
Bem-vindos ao Baile
O FANDANGO CAIÇARA DE CANANEIA É MAIS QUE TRADIÇÃO, É CULTURA VIVA
A benção, São Gonçalo. Pedimos licença ao santo padroeiro dos violeiros, como fazem os mestres e mestras fandangueiros ao iniciar seus festejos musicais, para abrir os trabalhos de apresentação do fandango caiçara de Cananeia que vocês desfrutarão a seguir. Tocado por um grupo de apaixonados pela cultura popular caiçara que se dedica há décadas a valorizar a autêntica arte regional brasileira, o livro digital Amanhece! Patrimônio, Memória e História do Fandango Caiçara em Cananeia tem por missão compartilhar com o maior número de pessoas possível a beleza e o valor de uma manifestação do povo local que tem sido vital para moldar a identidade da população cananeense. O palco em que o tema do nosso livro tem origem é uma das mais belas vilas litorâneas do Brasil. Município mais meridional do estado de São Paulo, Cananeia fica a cerca de 250 quilômetros da capital paulista, na divisa com o estado do Paraná. Documentos históricos nos contam que esta foi a primeira vila criada pelos portugueses colonizadores no Brasil, em 1531, antes mesmo da fundação de São Vicente, no ano seguinte. Já a tradição oral dos moradores antigos dessa região de natureza exuberante do Lagamar repassa os relatos de que há séculos o povo que vive entre a roça e a praia se reúne para tocar e bailar nas festas de fandango. Como será possível entender, pelos relatos de dezenas de representantes da cena cultural espalhados ao longo das próximas páginas, ao longo dessa trajetória o fandango local quase morreu, abafado pelos desafios da sociedade moderna. Lembro do incômodo de ouvir, ao visitar a Cananeia dos anos 1990, os relatos tristes de moradores que foram tirados de suas terras de origem nas áreas naturais por exigência de leis ambientais arbitrárias e inflexíveis. Deslocadas de suas raízes e de suas comunidades nas novas moradas urbanas que lhes foram impostas, as populações caiçaras deixaram de se reunir para os mutirões de trabalho que sempre terminavam em fandango. Há quem diga que o fandango morreu ali. Nós acreditamos que não. Por esforços dos próprios mestres, de seus descendentes e de integrantes da sociedade civil que reconhecem o valor da cultura popular, o fandango caiçara continua vivo. Diferente do que foi, é claro, e em permanente transformação, como mostram os grupos contemporâneos de fandango e os tocadores independentes que se apresentam a seguir e que resistem por amor à cultura — trazendo música e alegria a cada nova festa. Antes de dar por despedida, um lembrete: este livro digital está permeado por ícones, ao final de algumas páginas, onde pode-se clicar para acessar um precioso acervo de canções, vídeos, sites e documentos que permitem que cada um aprofunde – onde, quando e como quiser – a sua imersão no universo do fandango caiçara de Cananeia. Curtam as fotos, leiam os textos, explorem os links — e fiquem à vontade para bailar à vontade, como cantam os fandangueiros, até o dia amanhecer.
Advertisement
O editor