Cultura.Sul42Fevereiro

FEVEREIRO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

8.729 EXEMPLARES

www.issuu.com/postaldoalgarve

Fernando Campos recria poesia de Safo

FEV | 2012 • Nº 42 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente

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Quando o pano cai sobre o Allgarve p. 5

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Cultura.Sul 10.02. 2012

Um espaço que dá relevo a uma fonte de actividade literária que fervilha, muitas vezes, à margem dos circuitos convencionais.

blogosfera

Jady Batista

A Amizade Henrique Dias Freire

Editor do CULTURA.SUL

Da importância da Blogosfera A atual profusão das redes sociais impulsionou rapidamente os blogs como a expressão mais simples da democratização das conexões de banda larga. Sem conhecimento técnico, qualquer um pode compartilhar textos, imagens e vídeos num ambiente mais ou menos personalizado e estético.

Hoje, qualquer um pode, graças a agregadores de feed RSS, ser informado das atualizações feitas em blogs e sites da sua escolha.

Inicialmente popular entre os adolescentes - e cordialmente desprezado por grande parte do resto da população - eles não só revolucionaram a difusão de informações e ideias, como também o surgimento de comunidades e redes.

Em pouco mais de uma década, os blogs literários ganharam relevo como espaço de plena liberdade, sem censura de conteúdo ou comprimento, reafirmando a complementaridade dos diferentes meios.

Daí a opção editorial do «Cultura.Sul» ao publicar o espaço regular «Blogosfera.S», numa seleção da jovem Jady Batista, que tem mensalmente dado relevo a blogs que são fontes de atividades literárias, muitas vezes, à margem dos circuitos convencionais.

E se é verdade que os blogs povoaram-se de forma massiva por amadores literários, hoje começam a ser cuidadosamente monitorados por editoras, chegando a dar origem à publicação de livros de autores até então desconhecidos.

Não será por acaso que instituições culturais e grupos de comunicação social têm entendido os benefícios que podem ter para promover as suas atividades e até melhorar a sua imagem.

Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire

A amizade não é concordar em tudo, não é elogiar tudo, e muito menos dizer sim a tudo. A amizade é ajudar alguém, dizer o que está errado, criticar, e muitas vezes apoiar.

A amizade é ter pessoas com quem podem sempre contar. A amizade só existe quando as pessoas sabem os teus piores defeitos mas continuam a gostar de ti.

Blog: http://ilovesummergirl. blogspot.com/ Postagem: http://ilovesummergirl. blogspot.com/search?updated-max=201103-11T13:52:00-08:00&max-results=1

Espaço CRIA

Ana Lúcia Cruz

Gestora de Ciência e Tecnologia do CRIA ‒ Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve

Quer dizer… não é bem assim! É verdade que gosto de todo aquele processo criativo que antecede a criação de um disfarce de Carnaval e todo aquele “faz de conta” típico desta altura festiva. Mas a um ovinho ou um balãozinho de água torço o nariz! Bem sei que na minha idade

Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: » blogosfera.S: Jady Batista » livro.S: Adriana Nogueira » momento.S: Vítor Correia » panorâmica.S: Ricardo Claro » patrimónios.S: Isabel Soares

É Carnaval, ninguém leva a mal! levar com esses arremessos, fora de prazo, não é tão usual… Mas às vezes lá vem um de raspão!

Contudo, sem sombra de dúvida, que o Carnaval é uma das alturas do ano mais criativas, inovadoras e empreendedoras. E não estou a falar de faturação! Refiro-me a outra faixa etária que, um mês antes, começa a planear toda uma estratégia epopeica para tornar os dias carnavalescos na maior salada de ovos mexidos alguma vez existente! O Guiness World Records não anda definitivamente atento!

No meu tempo era assim (momento de pura nostalgia se instala sobre o meu ser)… No início do ano existia uma reunião informal – e caso não saibam, são nas reuniões informais onde fluem mais facilmente todas as ideias de maior sucesso - entre os vários parceiros. Nesta Meeting eram planeadas e calendarizadas ao pormenor todas as tarefas no âmbito

do evento “Ovada”. As tarefas eram atribuídas a cada um dos parceiros mediante o seu know-how. Ou seja, basicamente, um colega tinha a avó dos ovos (e BIOLÓGICOS), um outro “arranjava” os balões de água nas lojas dos 300 e outro tinha a avó que morava no local do evento (os elementos desta comissão executiva eram escolhidos a dedo). E antes do evento (não posso dizer o quanto antes, correndo o risco de alertar as autoridades) o grupo todo reunia-se à noite para enterrar os ovos e esconder o resto do material. Como podem verificar, estamos a falar de um grande trabalho em equipa e de um processo de aprendizagem diabólico…pois todos os anos a tarefa era cada vez mais dificultada pelas autoridades, o que por seu lado aumentava o desafio, a criatividade e os riscos a correr. Quem não gosta de um bom desafio?!

No final disto tudo, só nos resta agradecer aos avós, tal elite organizada, que bancavam todas estas iniciativas (pois não tínhamos capital próprio), tornando o nosso Carnaval em vários momentos de puro divertimento e mantido de gerações em gerações.

Como tal, ficámos inspirados… e Deus me perdoe por fazer tal analogia, mas o CREA NET 2.0 prevendo todo este momento festivo irá investir parte dos seus recursos a alimentar estes processos criativos dos mais novos, através de um programa de sensibilização ao empreendedorismo e aprendizagem de técnicas criativas. Por outras palavras, é uma questão de tempo até começarem a surgir nas reuniões da Comissão Organizadora da Ovada Carnavalesca uns “mapazinhos” mentais, só para facilitar a criação e organização das ideias.

Colaboradores: AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubilot. Nesta edição: Ana Catarina Ramosa, Ana Lúcia Cruz, Samuel Sardinha, Francisco Paulino

Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve

e-mail: geralcultura.sul@gmail.com

Tiragem: 8.729 exemplares

Cultura.Sul 10.02. 2012

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cinema Cineclube de Faro

Marias Cheias de Graça no IPJ

No IPJ, agora às terças-feiras, o Ciclo “Marias Cheias de Graça”, título que sintetiza o tema - as Mulheres -, o espírito delas - cheias de graça… ou não! - e é um convite a uma leitura despreconceituada e irreverente de filmes recentíssimos no circuito comercial português, todos de estreia em Faro (olha a admiração…) e, afiançamos, de grande qualidade.

Basta assistir, para confirmar…

Por outro lado, termina na sede o nosso ciclo dedicado a obras-primas que tiveram como pano de fundo o mundo, histórico e cultural, da Grécia e da Roma antigas. Sim, leram bem: de obras-primas se tratam os filmes “Júlio César”, de Mankiewicz, com um Brando fulgurante no papel principal, “Edipo Rei”, de Pasolini, “Satyricon”, de Fellini. E, imenso gosto, poder dar a versão de Lars von Trier da “Medeia”, tragédia grega que nos idos de 1988 ele adaptou para cinema e que… quase ninguém conhece!

Esse ciclo serve para contextualizar e ilustrar a conferência que a Drª Adriana Freire Nogueira, ilustre colunista destas mesmas páginas, dará na nossa sede, às 18 horas do dia 23, sobre “Grécia e Roma na 7ª Arte”, a

pretexto do livro (existente na nossa Biblioteca) de Gideon Nisbet sobre o mesmo tema. É a conferência de Fevereiro do nosso projeto “Livros Em Cadeia”, com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Ainda na sede, em Março, e por motivo da inesperada – e estúpida – morte do mais genial realizador grego, um pequeno ciclo composto por alguns dos mais brilhantes e fascinantes filmes de Angelopoulos.

Imperdoável perder!, particularmente tendo em conta que cremos que muitos dos jovens não fazem ideia de quem seja… (o seu último filme estreado por cá foi em 1998…).

Por último, o primeiro: o Cineclube de Faro tem novo presidente – Carlos Rafael Lopes – e novos diretores – Joana Costa e João Madeira.

O entusiasmo é grande, a renovação era necessária. Espera-se que o público, principalmente o universitário, venha a corresponder aos desafios que a nova Direção irá lançar!

PROGRAMAÇÃO

www.cineclubefaro.com CICLO MARIAS CHEIAS DE GRAÇA

29 FEV ¦ Medeia, Lars Von Trier,

IPJ ¦ terças-feiras ¦ 21.30 horas ¦

Dinamarca, 1988, 75

Entrada paga CICLO HOMENAGEM A THEO 14 FEV ¦ Uma Separação, Asghar

ANGELOPOULOS

Farhadi, Irão, 2011, 123 , M/12 1 MAR ¦ O Apicultor, 1986, 122 28 FEV ¦ Efeitos Secundários, Paulo Rebelo, Portugal, 2008, 97 , M/12

8 MAR ¦ Paisagem no Nevoeiro, 1988, 127

6 MAR ¦ Offside - Fora de Jogo, Jafar Panahi, Irão, 2006, 93 , M/12

CICLO O QUE É NACIONAL, É BOM! Cine-teatro de Estoi ¦ 21.30 horas ¦

CICLO GRÉCIA E ROMA NÃO TÊM NADA

Entrada livre

DE ANTIGO

Co-Organização com Junta

SEDE ¦ 21.30 horas ¦ Entrada livre

de Freguesia de Estoi

15 FEV ¦ Edipo Rei, Pier Paolo Pasolini,

10 FEV ¦ Floripes, Miguel Gonçalves

Itália, 1967

Mendes, 2005, 129

22 FEV ¦ Fellini Satyricon, Federico

24 FEV ¦ Aniki-bobo, Manoel

Fellini, Itália, 1969, 128

de Oliveira, 1942, 71

Cineclube de Tavira

No mês dos Óscares

destaque

Já nos habituámos ao facto de os primeiros meses do ano cinematográfico serem sempre marcados pela expectativa das distribuidoras nacionais (e não só) de que os seus filmes ganhem um ou mais prémios “importantes” (Óscares, Globos de Ouro, Sundance...), o que geralmente tem um reflexo importante sobre as receitas do filme. Também sabemos que o objectivo principal das distribuidoras de filmes, na sua grande maioria, é facturar, pouco ou nenhum interesse têm em que a população tenha acesso a cinema de qualidade. O lema de Henry Ford (fundador da marca de automóveis Ford) continua bem vivo e actual: “The aim of the company is to make money, not cars” (o objectivo da empresa é fazer dinheiro, não propriamente carros). Estas palavras famosas explicam muito, para não dizer quase tudo...

Temos a sorte de o nosso programa para o mês de Fevereiro incluir um filme que acabou de ganhar o Globo de Ouro para Melhor Filme Es-

PROGRAMAÇÃO

www.cineclube-tavira.com 281 320 594 ¦ 965 209 198 ¦ cinetavira@gmail.com 16 FEV ¦ Le Gamin au Vélo (O Miúdo da

SESSÕES REGULARES

Bicicleta), Luc e Jean-Pierre Dardenne,

horas

Bélgica/França/Itália 2011 (87 ) M/12

11 FEV ¦ às 18 e às 21.30 horas ¦ Yuriev

19 FEV ¦ L Arnacoeur (O Quebra Cora-

Den/Yuri s Day (O Dia de Yuri), Kirill Se-

ções), Pascal Chaumeil, França/Monaco

rebrennikov, Rússia 2008 (137 ) M/12

2010 (105 ) M/12

12 FEV ¦ Hjem Til Jul - Home for Christ-

23 FEV ¦ Jodaeiye Nader az Azmin ‒ A

mas (Uma Casa para o Natal), Bent Ha-

Separation (Uma Separação), Asghar

mer, Noruega/Suécia/Alemanha 2010

Farhadi, Irão 2011 (123 ) M/12

(90 ) M/12

Uma Separação trangeiro (seguindo o Urso de Ouro em Berlim 2011): The Separation (A Separação), que iremos exibir na quintafeira, dia 23 de Fevereiro. Trata-se da quinta longa metragem do jovem realizador/argumentista iraniano Asghar Farhadi (40), que inicou a sua carreira a produzir filmezinhos em 8 e 16mm no

Cine-Teatro António Pinheiro ¦ 21.30

26 FEV ¦ Drive (Risco Duplo), Nicolas

Cineclube de Isfahan... Aqui está. O valor de existirem cineclubes pelo globo fora é inestimável. Lutamos, sofremos e ficamos mal estimados pelos governantes por causa dos números reduzidos de público, em nada comparáveis com o público de uma sala comercial a exibir Avatar ou um dos episódios de

“FLAMENCO SIN ADITIVOS” 11 FEV | 21.30 | Auditório Municipal de Olhão A ‘bailaora’ Marina Valiente apresenta o seu mais recente espectáculo de flamenco puro, que pretende recuperar o esplendor da antiga tradição flamenca

Winding Refn, E.U.A. 2011 (100 ) M/16

Twilight. No entanto, basta um único dos nossos jovens espectadores ficar profundamente marcado por um filme que exibimos, para acordá-lo e acender a chaminha. Enfim... Outro destaque ainda para um evento especial: no pró-

ximo sábado iremos exibir (atenção: em duas sessões, às 18 e às 21.30 horas!) um filme quase inédito em Portugal: Yuriev Den/Yuri’s Day (O Dia de Yuri) do realizador russo Kirill Serebrennikov.

Não os percam!

“BULLYING” 15 FEV | 10.20 | EB São Vicente - Vila do Bispo A ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve aborda, através deste espectáculo, os temas da agressão física, agressão verbal ou indisciplina no espaço da escola, inclusivamente na sala de aula, com o objectivo de confrontar os alunos com estas questões

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Cultura.Sul 10.02. 2012 PUBLICIDADE

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O Algarve nos relatos de viajantes a Tavira, a Balsa dos tempos antigos.”

(Costigan, Cartas sobre a sociedade e os costumes de Portugal, 1778-1779, Vol. I, 1898, p. 51)

Ana Catarina Ramosa

Técnica Superior de Património Sócia da AGECAL

destaque

“De Faro pusemo-nos a caminho de Tavira […]. Caminhámos por uma soberba plana, que nos apresentava campos de trigo vedados por numerosas sebes, amendoeiras misturadas com árvore-pão de S. João, a romãzeira, a figueira e a oliveira, tendo o oceano à direita e, à esquerda a alguma distância, a serra do caldeirão. Uma hora depois do pôr do sol, chegámos

Os textos produzidos pela literatura de viagens são fundamentais para a compreensão da evolução históricocultural, das alterações na paisagem e no território, das transformações das mentalidades, e um auxiliar na definição da identidade de uma região ou de um país.

Neste sentido, vale a pena debruçarmos a nossa atenção sobre relatos de viajantes estrangeiros que, no século XVIII, visitaram o nosso país, em particular o Algarve, e sobre ele escreveram, deixando-nos testemunho de tais experiências.

Portugal tinha, até então, uma imagem pouco positiva no resto da Europa, considerado atrasado e mal

organizado, com uma nobreza de extrema arrogância e um povo supersticioso e subjugado pelas correntes dogmáticas do clero e da Inquisição.

Após o terramoto de 1755 e as reformas de Pombal, Portugal começou a atrair um maior número de viajantes estrangeiros, nomeadamente ingleses, franceses e alemães.

O Algarve, hoje uma região predominantemente turística, era à época uma das zonas mais periféricas de Portugal, isolada e pobre. Valeu-lhe a localização geográfica como porta de entrada marítima e terrestre, uma cultura própria e gente hospitaleira.

Mas que imagens ressaltam do Algarve naqueles testemunhos?

Em linhas gerais uma região de exótica beleza natural mas isolada por sucessivas serras que faziam da viagem ao Algarve um desafio, para além de dispendiosa. Na maior parte

“A MÚSICA DA COR” Até 27 FEV | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - Albufeira A música e a pintura sempre caminharam lado a lado no percurso artístico de Antero Anastácio. O artista não se prende a um único estilo, reforçando a sua criatividade e originalidade

das vezes o percurso era realizado pelo Guadiana como escrevia Giuseppe Gorani: “Tomei o partido mais económico: seguir para Mértola, subindo o Guadiana.” (in A corte e o país nos anos de 1765 a 1767).

Os textos divergem consoante os interesses dos viajantes, uns referem as enormes riquezas naturais do território, como é o caso de Heinrich Link (1767-1851), naturalista, que salienta a pesca e a apanha de bivalves como principais actividades, assim como a produção de figos. Descreve uma paisagem marcada por pomares, laranjeiras, limoeiros, oliveiras, amendoeiras e a alfarrobeira, que considera a mais bela árvore europeia.

Outros, como Giuseppe Gorani (1740 – 1819), aventureiro e espião, atentam para o carácter do algarvio que caracteriza como pobre e menos refinado, mas trabalhador, humilde,

hospitaleiro e asseado. Ao que Link, acrescenta: astutos, excelentes marinheiros e dotados de um sentido de humor mordaz idêntico ao dos castelhanos. Noutra perspectiva, William Costigan (1734-?), militar, relata fragilidades, refere o mau aproveitamento de alguns dos recursos naturais, os campos incultos e abandonados, um comércio débil e dinamizado sobretudo por ingleses que exportavam maioritariamente “figos e amêndoas, alguns vinhos, laranjas, cortiça e sumagre” e os caminhos difíceis ou a inexistência dos mesmos condicionando o comércio e o desenvolvimento.

Estes olhares que sobre o Algarve recaíram, supostamente mais imparciais do que os nossos, quando complementados com escritos de autores portugueses, constituem valiosos testemunhos para melhor compreender a identidade da região.

“FECHA AS ‘NALGAS’ QUE VEM A TROIKA” QUI e SEX | 21.00 | Sala de espectáculos do Boa Esperança - Portimão O quotidiano de Portimão e a actualidade política e social dão o mote para mais uma edição da Revista à Portuguesa do Boa Esperança

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panorâmica

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Ricardo Claro

• ANIMAÇÃO TURÍSTICA & CULTURA

Quando o pano cai sobre o Allgarve

Cinco anos depois de ter começado, em 2007, o programa Allgarve tem um fim mais do que certo, isto muito embora a Entidade Regional de Turismo do Algarve (ERTA) diga que tem a “garantia por parte da tutela de que nada está decidido e que tudo está a ser equacionado”.

Depois de muita polémica causada desde o início pelo duplo L que a agência My Brand utilizou na marca criada para o programa do Ministério da Economia, à época liderado pelo não menos polémico ministro socialista Manuel Pinho, e depois da muita celeuma causada pela tentativa de colagem do programa a uma ideia de iniciativa de cariz cultural para a região, quando na verdade sempre se tratou de um programa feito a pensar nos turistas, a ERTA está já a preparar um “plano b” para o caso de se vir a tornar efectiva a anunciada decisão da secretária de Estado Cecília Meireles de apagar o Allgarve do mapa.

Cecília Meireles que não escolheu melhor local para anunciar o fim de

um programa de animação para o turismo nacional do que Madrid e à margem da Feira Internacional de Turismo da capital espanhola.

Mas a polémica não se fica por aqui.

O atribulado Allgarve tem, quanto aos seus efeitos, apoiantes e críticos mais ou menos acérrimos e os resultados do programa em termos efectivos estão longe de serem absolutamente claros. António Pina, presidente da ERTA, precavido como sempre e marcado nos últimos dois anos por cortes fortíssimos nas verbas disponibilizadas pela Administração Central para o turismo da região, Allgarve incluído, pediu à Universidade do Algarve um estudo sobre os efeitos produzidos pelo programa no turismo e na economia da região. Bem sabia Pina que se confrontaria com grandes dificuldades em fazer vingar um programa herdado pelo Governo de Passos Coelho dos tempos de Sócrates.

Quarenta e dois mil euros é o preço do estudo que dificilmente provará ser capaz de demover a posição da tutela quanto ao fim do Allgarve.

O Plano B Preparado para o que der e vier, António Pina está já a pôr em marcha uma solução de recurso para a programação de animação no Algarve em 2012. Assente “no que de melhor se tem para oferecer no Algarve”, a programação passará por dar dimensão àqueles que são já, e reconhecidamente, eventos que marcam a animação do Algarve.

Festival do Marisco e da Sardinha, respectivamente em Olhão e Portimão, são exemplos fáceis de imaginar estar na mira da ERTA para serem a base do novo cartaz de animação.

A prata da casa será assim o substrato da nova agenda de animação turística da região mais relevante do país para o sector do turismo.

Mais barato, sem dúvida, mas resta saber se suficiente e bem estruturado a pensar em quem deve pensar, o turista, pois é disso que se trata, animação turística. Resta saber onde é que António Pina, presidente de uma instituição

a que há anos os cortes atingem repetidamente 20% do orçamento, vai buscar os tostões que poderá dispensar ao apoio à animação.

Do outro lado da mesa que gerará a solução B da ERTA estão as autarquias locais, a quem soube bem o Allgarve para ajudar a suportar os encargos da respectiva animação concelhia desde o início da crise.

O programa respondeu à crescente diminuição dos recursos das autarquias e deu a mão aos autarcas na animação turística e dos respectivos munícipes num dois em um perfeito.

Para 2012, do Allgarve ou do seu substituto pouco ou nada virá em termos de verbas e ao largo passarão, pois, investimentos anuais da ordem dos vários milhões de euros e para o plano B as autarquias oferecerão o que lhes resta do seu investimento em animação.

Tudo curto e muito pouco, mas a condizer com a crise e com aquilo que muitos dos governantes e políticos portugueses dizem cada vez mais: “pensámos que eramos um país rico e gastámos como tal… não somos”.

Adeus aos grandes espectáculos Anastácia, Andrew Tosh e John Holt, Chick Corea e Gary Burton, Diana Reeves, Elvis Costello, Herbie Hancock, Human League, Joss Sto-

ne, La Fura dels Baus, Lila Down, Lloyd Cole, Brian Ferry, Lucky Peterson, McCoy Tyner, Raul Midon, Vanessa da Mata, Vaya com Dios e Vicente Amigo, soam a nomes conhecidos.

Junte-se-lhes Rui Veloso, Viviane, Mafalda Arnauth, Joana Amendoeira e António Zambujo e outros portugueses de renome e percebe-se rapidamente o que o fim do Allgarve dita para a região, o adeus aos grandes espectáculos e só estamos a falar de música, quando o Allgarve foi muito mais do que isso em muitas outras áreas do espectro cultural..

Não menorizando o esforço que as autarquias fazem para ter nas salas algarvias alguns nomes de referência do panorama artístico, o panorama dos espectáculos culturais será uma sombra do que foi e isto independentemente de apurar se alguma vez o país se poderia ou deveria ter dado ao “luxo” de ter cartazes assim para a animação turística de uma região.

Nada voltará a ser como era, numa altura em que mesmo na área institucional do turismo regional tudo aponta para que o Governo não deixe, também aí, pedra sobre pedra. É sempre aquela sensação quando o pano cai sobre a boca de cena.

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Cultura.Sul 10.02. 2012

património

• VIVÊNCIAS NO ALGARVE - PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL

Portimão - Entre a memória e a actualidade Ana Patrícia Ramos Antropóloga / Museu de Portimão

O município de Portimão, com cerca de 50 mil habitantes, distribuídos pelas freguesias de Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande, é comummente conotado com a sua privilegiada localização costeira e com a ideia de que esta terra de vocação marítima ancestral, cedeu o primeiro lugar a um destino turístico massificado, de sol e praia.

Ao reflectir acerca do património imaterial local, o fenómeno turístico em Portimão surge como exemplo paradigmático da dualidade que o progresso, ou pelo menos um certo tipo de progresso, poderá introduzir nas sociedades. Por um lado, é um motor de desenvolvimento, um fenómeno contemporâneo com raízes na história recente do concelho, responsável por dinamizar vivências e manifestações identitárias na comunidade local, assentes em expressões diversas, passíveis, por si, de serem analisadas enquanto Património Cultural Imaterial. Por outro, é tido como um dos principais agentes catalisadores da erosão de algumas práticas, tidas como “tradicionais”, e da própria memória colectiva local, legitimando uma preocupação por parte das instituições culturais, nomeadamente os museus locais, no sentido de se empreender uma acção concertada de salva-

Vista da zona ribeirinha de Portimão na actualidade guarda de um património em risco de desaparecimento.

Que património é então este que urge salvaguardar, sendo os indivíduos, as comunidades, os seus agentes de transmissão através de práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões que contribuem para as identidades locais?

Para dar resposta a esta questão, há que entender o mapa físico e humano do território municipal, onde a proximidade entre a serra, o barrocal e o litoral potenciou historicamente, a conjugação sazonal entre as actividades rurais e marítimas, que permitia à

Pescador a “armar o aparelho” de pesca artesanal

população sobreviver. As comunidades piscatórias conciliavam a pesca com o trabalho na agricultura e vice-versa.

Aqui chegou também a industrialização que aproveitou a localização costeira e os produtos piscatórios para implementar aquela que foi uma das mais importantes indústrias locais: a indústria conserveira. Esta desenvolveu diversas outras indústrias subsidiárias como a construção naval, a pesca.

Paralelamente, a partir dos produtos da terra também se desenvolveu, por exemplo, a indústria dos frutos secos, da palma e da cortiça e o próprio comércio com o exterior. Até à primeira metade do século XX, o concelho tinha uma forte expressividade de população operária, piscatória ou de outras actividades ligadas ao mar e ao campo.

A partir destas actividades nasceram contextos sociais, culturais e de trabalho assentes em sociabilidades, saberes e saberes-fazer, linguagens e expressões orais próprias, organizações e rituais, enfim, modos de vida próprios. Muitas delas não chegaram aos dias de hoje, fazendo com que o registo e transmissão dos testemunhos que ainda existem, sejam da maior importância para a memória colectiva local.

No entanto, algumas práticas são adaptadas a novos contextos e usos.

Entender estes fenómenos de revitalização de antigos saberes e perceber a sua força no seio da comunidade é também de extrema importância na afirmação de identidades locais e um óptimo objecto de trabalho no âmbito dos estudos do Património Cultural Imaterial.

Gostaria por fim de sublinhar a relevância do estudo e registo de diversas actividades que se encontram

FOTO: MUSEU DE PORTIMÃO

Preparação da estopa para calafeto de uma embarcação de pesca ainda vivas. Não conseguindo aqui mencioná-las na totalidade, no que se refere por exemplo à vida marítima, a construção ou reparação de embarcações de madeira e a pesca

artesanal, são duas actividades que, embora, obviamente, abraçando o avançar dos tempos, reproduzem saberes ancestrais que seria de todo o interesse salvaguardar.

Embarcações ancoradas no porto de Portimão

Cultura.Sul 10.02. 2012

momento

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Vítor Correia

Vestígios de uma Revolução

Espaço ALFA

Samuel Sardinha

Vogal do Conselho Fiscal da ALFA

Comecei por tirar apenas fotos normais. A minha primeira máquina fotográfica foi uma Sony Cibershot compacta de apenas três megapixeis mas pouco tempo depois tive outra máquina fotográfica pequena que transportava para todo o lado onde me deslocava. Era do tamanho de um maço de tabaco, uma Benq. Entrei depois nas Reflex, em Setembro de 2008 mas, pouco tempo passado, em Dezembro comprei a minha actual Nikon D90, com a qual me iniciei no preto e branco. Ainda hoje a conservo. Foi mesmo nessa altura que entrei no preto e branco, o tipo de fotos de que mais gosto. Via na altura o site na internet Flickr onde haviam fotográfos com fotos muito boas desse género.

Passei a usar muitas fotos a preto

O preto e branco dá cor às fotos e branco para dar mais destaque ao que é fotografado, dar mais emoção.

Um retrato a preto e branco transmite muito mais do que a cores.

Há máquinas melhores do que outras. O grão por exemplo nas fotos a preto e branco não as estraga e a cores poderá estragar, as cores ficam esbatidas. A luz também tem muita importância a preto e branco.

O reflexo da luz dá muito mais impacto. O reflexo de uma lâmpada na calçada dá muito mais impacto na foto a preto e branco.

Gosto também muito da foto analógica, na qual gostaria de aprofundar mais os meus conhecimentos nessa área, ter mais formação nos focos manuais. Cheguei a ter uma máquina analógica, uma Nikon F80 mas era demasiado moderna para a altura.

Tirava as fotos no modo automático.

Era boa para a foto a preto e branco, usava rolos próprios para essa categoria. No entanto, o único resultado que tinha da analógica era a consequência do controlo que tinha sobre o momento da foto. Não as editava.

Estive só uma vez na câmara escura onde gostaria de estar mais vezes e aprofundar conhecimentos nessa área.

Hoje em dia a parte da edição é muito importante, há muitos softwares

que são utilizados nos computadores e que permitem trabalhar as fotos, melhorando-as.

Mas o meu gosto pelo preto e branco esbate-se mais pelas fotos urbanas que sempre fotografei muito e sempre com o elemento humano. Inicialmente tirava o mesmo tipo de fotos mas sem esse elemento mas hoje em dia espero sempre para captar as pessoas.

As pessoas dão mais movimento à foto, dão mais humanismo.

Cheguei a ter uma exposição minha, intitulada Ruas a Preto e Branco, n’Os Artistas, em Faro. As pessoas gostaram.

Quando tiro as fotos não procuro a cor mas preocupo-me mais com a textura das mesmas. Não me preocupo com o vermelho da folha e penso logo no monocrómatico, nos contrastes. Tiro

sempre as fotos em RAW e dessa forma não permite captar a imagem apenas a preto e branco. Tirar fotos só a preto e branco limita as mesmas. Não permite editar a imagem porque tem menos capacidade. Desta forma, tiro-as em RAW porque tem mais oportunidades de editá-las a nível de tons. O ficheiro tem muito mais informação lá dentro, a foto é mais pura.

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Cultura.Sul 10.02. 2012

Espaço Educação

Algarve: Região promotora de Cidadania A Cidadania em Educação é o alicerce transversal e fulcral do sistema curricular português. A Cidadania, o eixo constitucional da sociedade portuguesa e europeia, é em todas as vertentes e especialmente em Educação, a pedra basilar de um processo evolutivo e de constante mudança, resultante de um mundo cada vez mais complexo e globalizado, o que requer uma maior abertura de espírito na e para a formação de cidadãos do mundo. Falar em Educação para a cidadania, implica um conceito abrangente, onde domínios como Direitos Humanos, Ambiente, Inter e Multiculturalidade, Desenvolvimento Sustentável, entre outros, reproduzem-se nas diferentes dimensões: cognitiva, interpessoal, nacional, europeia, mundial, participativa, democrática e sobretudo ativa.

Na época atual em que a crise financeira afeta as vivências dos cidadãos, cabe às Escolas, alicerçar cada vez mais as suas práticas numa educação para a Cidadania aliada a uma educação para o Conhecimento, vivenciando práticas organizacionais de apoio que ultrapassam a dimensão do ensino e entram na dimensão do social, deixando de olhar apenas para o aluno, passando a olhar para o aluno, a sua família e o contexto em que o mesmo se insere e está a crescer.

A Direcção Regional de Educação do Algarve tem vindo a apostar na valorização de práticas educativas de cidadania resultantes da identificação e divulgação das atividades desenvolvidas nas unidades orgânicas, públicas e privadas, da região. É neste contexto que surge o progra-

“Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.” ma ENPAR: Encontros de Partilha – Práticas Educativas de Cidadania com o objetivo de conhecer, valorizar e desenvolver os princípios e os valo-

Fernando Pessoa

res da dimensão da Educação para a Cidadania de acordo com os princípios orientadores de integração, com caráter transversal, em todas as áreas

curriculares. Catalisando projetos/ atividades já constantes nos Projetos Educativos das escolas/agrupamentos, está assegurada a inexistência de uma carga acrescida de trabalho para a escola. Valoriza-se, deste modo, e dá-se visibilidade ao que de bom se faz na região, com base num trabalho continuado de promoção da qualidade e sucesso educativo, implicando e envolvendo alunos, docentes, escolas e parceiros (municípios e RALLPE, entre outros) numa causa alicerçada em valores fundamentais da condição humana.

O ENPAR é pioneiro a nível nacional, tendo sido valorizado pelo

grupo informal do Conselho da Europa Educação para a Cidadania Democrática/Educação para os Direitos Humanos (ECD/EDH), servido como modelo das intervenções no encontro nacional ECD/ EDH, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian em 2010 e ter sido acompanhado pela coordenadora Nacional do grupo de Educação para a Cidadania.

Na continuidade do trabalho meritório das escolas, o programa vai entrar na quarta edição em 2012, mantendo a estrutura de disseminação de práticas de cidadania no âmbito mais vasto e numa dupla perspetiva de quem aprende e de quem ensina, seguindo uma estrutura de painéis, “seminário”, momentos culturais, demonstrações, oficinas de ideias para partilhar e praticar, encontros de animação e aproveitando a envolvente natural do Jardim da Alameda, em Faro, para encontros de animação e um almoço partilha, revivendo os piqueniques que possibilitam a troca e a riqueza do convívio.

A Cidadania está viva na nossa região através de uma rede de interação colaborativa, criando condições para que a escola se reconheça e assuma como espaço privilegiado de exercício da cidadania ativa de educação na e para a cidadania global, oferecendo a todos os alunos uma base comum de conhecimentos, atitudes e competências numa perspetiva de afirmação de cada individuo e de cada povo, lembrando que: “Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.”

Fernando Pessoa

destaque

Para saber mais sobre o ENPAR e sobre a Cidadania na Educação consulte: http://www.drealg.min-edu. pt/content_01.asp?BtreeID=01/ 0 0/03 & t r e e I D = 01/0 0/03/ 03&auxID=dstp

“REENCONTROS” Até 25 FEV | Galeria Municipal de Albufeira Teresa Paulino e Pedro Félix expõem em conjunto, procurando valorizar duas formas de arte distintas que se reencontram em harmonia, a pintura e a escultura

“ILHAS – EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA” Até 23 FEV | Auditório Municipal de Olhão O fotojornalista algarvio Vasco Célio mostra, através desta exposição, a beleza e o magnetismo da Ria Formosa

Cultura.Sul 10.02. 2012

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Quotidianos poéticos

Raul Brandão

Algures num espaço e tempo do Algarve, a vida e as viagens intrometeram-se na escrita de Raul Brandão

Pedro Jubilot

pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

Entre 1919 e 1923, Raul Brandão reuniu vários textos para um livro de crónicas (mas que se poderá colocar na secção da literatura de viagens) sobre alguns dos locais portugueses com portos de pesca ou simplesmente das vilas piscatórias mais características de Portugal, descrevendo a vida das suas gentes. Desde a Foz do Douro onde nasceu a 1867, percorreu toda a costa atlântica até ao Algarve. Dedicou-o à memória do seu avó morto no mar.

«Tomo então apontamentos rápidos – seis linhas – um tipo – uma paisagem. Foi assim que coligi este livro, juntando-lhe algumas páginas de memórias. Meia dúzia de esboços

afinal, que, como certos quadrinhos do ar livre, são melhores quando ficam por acabar».

Quando alguém nascido e criado numa cidade costeira do litoral algarvio, nomeadamente em Olhão ou Tavira, abre e lê pela primeira vez ‘Os Pescadores’ de Raul Brandão (publicado em 1923) - essa obra singular na história da literatura portuguesa,

nunca mais a abandonará cioso que a levem da sua biblioteca. Porque mais do que dar a conhecer os hábitos e costumes do povo e as suas práticas de pesca, é a descrição da atmosfera, da paisagem, da luz, dos sentidos despertos, do olfacto… que mais surpreende pela sua aproximação à realidade, mesmo passados tantos anos.

«Pela portinhola do comboio vou seguindo a paisagem à passagem pela deslumbrante Fuzeta (…) a nora de alcatruzes e um burrinho a movê-la entre as leves amendoeiras em fila, as oliveiras dum verde mais escuro e a alfarrobeira carregada de vagens negras pendentes. Ao longe, e sempre, acompanha-me o mar, que mistura o seu hálito a esta luz vivíssima (…)»

Mas é a Olhão que pertence o capítulo do livro a que dedica mais páginas. Descreve demoradamente, algo único no país, a arquitectura cubista da vila da restauração: «Cubos, linhas geométricas (…) A habitação primitiva é um cubo com uma porta e uma janela. (…) Subo à soteia – a melhor parte da casa. O

homem de Olhão tem por ela uma paixão entranhada (…) sítio esplêndido para respirar, eira para a alfarroba e o figo, (…) e quarto para dormir no Verão sob um pedaço de vela».

O conhecimento adquirido por experiência própria (familiar), permite a Raul Brandão chegar mais perto das comunidades piscatórias, até porque é conhecedor das artes e

engenhos da labuta. Mas esse passado leva-o mais longe, a compreender, os rituais, as manias e feitios destes pescadores. E ainda assim mesmo depois de tudo o que viu, tece aos olhanense um elogio: «(…) este homem é um homem à parte no Algarve. Se veio de Ílhavo, como dizem, não sei, mas é o único homem arrojado desta costa».

Também em Tavira descreve as ruas e a sua arquitectura, tão parecidas ainda ao presente, que se vê bem da fidelidade dos pormenores evidenciados numa escrita baseada na observação e vivência de um viajante que sente: «Muros muito brancos, de porta e janela, alguns com gelosias, que é a velha e a melhor maneira de manter as casas sempre frescas. A rexa deixa passar o ar e conserva a meia luz: dá intimidade aos interiores. Nas ruas não passa ninguém. Casas apalaçadas, tumulares. Telhados mouriscos, pontiagudos, de quatro águas, muito caiados, e as chaminés do sul (…)»

A parte em que descreve a pesca do atum, essa faz já parte dum mundo de contar a história: «Nos areais, pela costa fora, há várias armações de atum – Medo das Cascas,Abóbora, Barril, Livramento(…) A armação, engenho muito antigo, cujo nome, almadrava, cheira a árabe, é constituída pelo corpo – dividido em três compartimentos, câmara, bucho e copo – pela rabeira, que se estende até a terra (…)»

O escritor chegou ao Algarve no esplendor do mês de Agosto em 1922,

e parece ter ficado tão enfeitiçado pelo estio destas terras levantinas, que chega mesmo a dizer, quase a segredar que: «...Teria aqui uma casa numa das vielas(…). Aberta a porta, seria um deslumbramento: no pátio caiado, (…)

Era viver num meio adormecimento, seduzido pela luz, fora de todos os interesses e realidades, em Portugal e no Sonho...» E quando parte é: «Tarde.

Olho pela última vez a brancura imaculada dos terraços com o céu todo de oiro em cima e deixo com saudade esta luz e esta terra embruxada».

Raul Germano Brandão, que nasceu junto ao mar, sendo filho e neto de homens do mar, e em que o oceano e os pescadores foram um tema recorrente da sua obra, sai do Algarve deslumbrado:«Quando regresso do

mar venho sempre estonteado e cheio de luz que me trespassa. (…)»

E depois escreve porque: «Estas linhas de saudade aquecem-me e reanimam-me nos dias de Inverno friorento. Torno a ver o azul, e chega mais alto até mim o imenso eco prolongado... (…)»

Raul Brandão faleceu em Lisboa em 1930, deixando cerca de duas centenas de obras publicadas, mas é através de ‘Os Pescadores’ que nunca esqueceremos a voz do mar.

A obra pode ser lida em: http://docs.paginas.sapo.pt/raulbrandao/Os_Pescadores.pdf

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Cultura.Sul 10.02. 2012

livro

… doce era a voz e de rapariga No segundo exemplo, faz um desafio à tradição (visto que já poetas latinos o glosaram) que interpreta este poema como uma manifestação de ciúme. Diz assim (trad. de Frederico Lourenço): Aquele parece-me ser igual aos deuses, / o homem que à tua frente / está sentado e escuta de perto / a tua voz tão suave

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Universidade do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

Para uma classicista que gosta de romance histórico, ler um que se debruça sobre o mundo antigo é uma alegria. E o prazer redobra quando quem o escreve é, igualmente, um classicista.

Assim, assegurada a qualidade e a probidade do autor, pude dedicar-me a ler com prazer o último livro de Fernando Campos, A Rocha Branca. À beira dos 88 anos (completá-los-á no próximo 23 abril), este antigo professor de Português, Latim e Grego já nos tinha surpreendido com o seu primeiro romance, aos 62 anos, o aclamado A Casa do Pó. Naquele ano de 1986, em que os romances históricos ainda não eram moda literária (apesar do sucesso internacional de O Nome da Rosa, de Umberto Eco, ter contribuído para a posterior popularização do género), A Casa do Pó encheu-me de orgulho, por ser um romance português com uma qualidade que não ficava atrás da do romance de Eco. Passados 25 anos (e muitas outras publicações do autor), chegou-me às mãos A Rocha Branca. Desta vez a personagem principal é Safo.

Amei-te, uma vez, Átis, há muito tempo…

Quando falo de Safo, uma das perguntas mais comuns que me fazem é: «essa não é aquela que gostava de raparigas?». Efetivamente, deve-se ao facto de a tradição atribuir amores homossexuais à poetisa a existência de adjetivos como «sáfico» ou «lésbica» e nomes como «lesbianismo» ou «safismo», referentes ao amor homoerótico (recordo que «sáfico» é também o adjetivo referente a Safo. Assim, podemos falar de poemas ou versos sáficos, como falamos de camonianos ou pessoanos, sem outra conotação).

Natural da ilha de Lesbos, onde viveu grande parte da sua vida (na segunda metade do séc. VII a.C.), fundou uma escola que se tornou famosa: muitas jovens da região estudaram naquele espaço exclusivamente feminino. A fragmentação com que nos chegaram os seus escritos e os termos com que exprimia os sentimentos pelas jovens que estavam ao seu cuidado, criaram uma fama sobre a sua vida íntima, nomeadamente no que respeitava à sexualidade. São exemplos disso quer o poema que encabeça esta parte do artigo, quer este (ambos dedicados a Átis, uma das suas pupilas): «De novo inquieta, num turbilhão, /

e o teu riso maravilhoso. Na verdade isso / põe-me o coração a palpitar no peito. / Pois quando te olho num relance, já não consigo falar: a língua se me quebrou e um subtil / fogo de imediato se pôs a correr debaixo da pele; / não vejo nada com os olhos, zenem-me / os ouvidos; o suor escorre-me do corpo e o tremor / me toma toda. Fico mais verde do que a relva / e tenho a impressão de que por pouco / que não morro.

O último livro de Fernando Campos, A Rocha Branca asa de vento: Amor/ me desalinha, doçura amarga, fera implacável… // Átis, pensar em mim/ te pesa: e para Andrómeda/ tu voas» (trad. Pedro Alvim), ou ainda o «Hino a Afrodite: «(…) E tu, ó bem-aventurada, / sorrindo em teu rosto imortal/ me perguntaste o que de novo eu sofria, / por que de novo te chamava, // e que coisa eu queria que acontecesse /no meu desvairado coração. “Quem de novo devo/ convencer a voltar ao teu amor? Quem, ó Safo, te fez mal? // Pois se foge, rapidamente perseguirá; / se não aceita os presentes, em vez disso os dará;/ se não ama, rapidamente amará, mesmo que / ela o não queira”» (trad. de Frederico Lourenço).

«Subo de novo e da rocha de Lêucade mergulho no mar cinzento, bêbado de amor» Quando vi o título do romance – A Rocha Branca – lembrei-me imediatamente deste poema de Anacreonte, poeta grego do séc. VI a.C. As pedras da ilha de Lêucade (a atual Levkas) são brancas, como o nome da ilha o sugere (leukós, em Grego, significa «branco» e entra na composição de palavras portuguesas como leucócito e leucemia, por exemplo) e as lendas, que se confundem desde a Antiguidades, dizem que, do «salto

de Lêucade» (nome de um penhasco com 72 metros de altura, sobre o mar), deviam lançar-se os que sofriam de amores não correspondidos. Se sobrevivessem, o sofrimento acabava. Se morressem (que era a maioria, dada a altura a que o penhasco se elevava), acabava o sofrimento…

O romance começa com a chegada das cinzas de Safo a Mitilene e a recordação que dela faz o seu amigo e também poeta Alceu. A história e a tradição dizem-nos que Safo se suicidou, dessa rocha, por amor de um homem de uma classe social, e idade, inferior à sua, que não teria correspondido ao afeto que ela por ele sentia. O romance propõe contar a sua versão dos acontecimentos.

No livro, assistimos ao desenrolar da vida da que foi a maior poetisa da Antiguidade. A particularidade mais interessante é o facto de os fragmentos da sua poesia estarem integrados na narrativa, contextualizando o seu momento de criação ou enunciação.

Quem não conhecer a produção literária de Safo, não se dá conta, mas quem a tiver lido, mesmos que apenas na edição de Eugénio de Andrade, poderá reconhecer alguns poemas, quer na fala das personagens, quer nos pensamentos da narradora.

O que Fernando Campos faz com mestria é ficcionar contextos em que pudessem ter sido produzidos, de

modo a que os fragmentos que hoje temos fizessem sentido.

Relativamente à questão da sexualidade, não realça em demasia o amor entre mulheres, mas encaminha o sentido para a extrema ternura e carinho com que se relacionavam, com carícias e outras atenções que hoje não são claramente entendidas.

Mas o autor não se deixa levar pelo mais fácil. Se, nalguns casos, o que os fragmentos parecem, ele assim os contextualiza, noutros, a sua interpretação é radicalmente diferente.

Deixo dois exemplos. No primeiro, o conteúdo é explícito e Fernando Campos mantém a sua aceção mais evidente (em a filha vale mais que a Lídia, terra considerada como símbolo das maiores riquezas. A versão, um pouco livre, é de Eugénio de Andrade): É minha esta criança, / e o seu corpo lembra / uma flor de oiro. / Cleis, minha adorada, / por nada eu te trocara: nem pela Lídia toda / nem pela amada Lesbos Eis o que nos diz o romance: «E o dia de dar à luz chega. Maia é a parteira, assistida pelas minhas fiéis aias.

Nasce-me uma menina, uma filhinha de beleza igual às flores de ouro. Doulhe o nome de minha pobre mãe. É a minha querida Cléis. Não a troco pela Lídia inteira, pela amável Lesbos.»

O romance enquadra estas palavras de um modo inesperado: «Queres ir ter com o teu namorado, não é? Como cresceste! (…) Agora és uma senhora, muito bela e prendada…

- A ti o devo.

- Com que paixão te modelei! …

Igual aos deuses me semelha esse homem que vejo sentado na tua frente a beber-te as palavras e o sorriso amável.

- Ele para mim é como um deus.

- Também para mim era como um deus o meu Cérilas. Mas já não o tenho… Tu fazes-me lembrar esses dias felizes… Palpita-me no peito o coração…

- Estás com ciúmes? Com inveja?

- Não, que ideia! Com saudades. É que eu já senti o que estás agora a viver… e, quando isso contemplo, o belo quadro, tu e ele embevecidos, que me acontece? Falta-me a voz, entrava-se-me a língua e logo sob a pele me escorre fogo divino, encharco-me de suor, deixo de ver e ouvir, toda eu tremo, fico mais verde que a erva dos prados. Pouco falta para me sentir morta…

- Isso mesmo eu sinto!

- … na alma e no corpo: a vista, o ouvido, a palavra, a carne… (…)

Ai Átis! O que vós acordastes em mim!...»

Em mim, acordou-me a vontade de reler Safo e fez-me vir à memória um dos seus poemas mais bonitos, nas palavras do poeta Eugénio de Andrade: «Pudesse esta noite durar/ não uma mas duas noites inteiras…»

Edições no mercado português: Fernando Campos, A Rocha Branca, Edições Alfaguara, 2011.

Frederico Lourenço, Poesia Grega, Livros Cotovia, 2006 Pedro Alvim, Safo, Líricas em Fragmentos, Vega, 1991 Eugénio de Andrade, Poemas e Fragmentos de Safo, Limiar, 1982

Tentações

PAULO MIRANDA JOALHEIRO Propõe para o Dia dos Namorados

A família Miranda é uma referência do sector da joalharia e da relojoaria no Algarve desde meados do século passado, quando aí se instalou, proveniente do centro do País.

Paulo Miranda representa, com orgulho, esta herança de experiência, conhecimento e serviço ao cliente, que os seus ascendentes lhe legaram.

Instalados desde 2002 no Forum Algarve, apresentam em 2007 uma nova loja com o dobro do espaço, num conceito de inovação e prestígio, reforçando o seu portfólio de produtos com novas marcas de alta relojoaria, joalharia e acessórios, como a Jaeger-

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Cultura.Sul 10.02. 2012

Espaço Cultura

Para além das aparências Correspondendo ao desafio de profissionais, associações e agentes culturais da região, a Direcção Regional de Cultura do Algarve (DRCA) encetou, em inícios de 2010, o processo de construção participada de um Plano Estratégico de Cultura para o Algarve. O repto foi explícito: olhar o território algarvio para além das aparências e, através da cultura, torná-lo mais articulado, inovador, dinâmico e competitivo – elaborando um instrumento de conhecimento e planeamento que sirva à região pelo prazo de uma década.

Com sentido de responsabilidade, e após encontros com os responsáveis pela política cultural dos Municípios e com entidades regionais e agentes culturais locais, produziu-se um, muito sumário, exame inicial dos diversos domínios culturais (património cultural e natural, celebrações e festejos, artes visuais e ofícios, livro e imprensa, audiovisual e multimédia, indústrias criativas).

A DRCA convidou então a Universidade do Algarve (UAlg) para organizar um ciclo de conferências que permitisse uma aproximação às funções culturais (ciclos de criação, produção, disseminação, exibição e consumo) nos diversos domínios.

Essa etapa, Cultura em Conferência, concretizou-se ao longo de quatro

como a gestão cultural, as indústrias culturais, a economia criativa e as cidades, a herança cultural, o nem sempre fácil relacionamento entre turismo e cultura, ou o papel das agremiações e organizações associativas.

Dessa reflexão conjunta resultou um conjunto de textos, editados em livro pela UAlg e DRCA*.

Dando sequência a essa etapa, a DRCA e a UAlg promoveram o ciclo Quintas de Cultura, um conjunto de conversas informais sobre a riqueza, a diversidade, os problemas e as oportunidades da criação cultural na região, em domínios como as artes visuais, performativas e cruzamentos disciplinares; a criação literária; a criação musical; a atividade científica; e o design e serviços criativos.

A iniciativa decorreu em diferentes localidades, sempre em ambientes informais e na última quinta-feira de cada mês, tendo contado com a presença e a colaboração de alguns criadores e dinamizadores culturais da região.

meses, em sessões muito participadas, que tiveram lugar em diversas

localidades da região e onde foram abordados e se refletiu sobre temas

Procurando delinear uma estratégia regional para a economia criativa, a Direcção Regional de Cultura do Algarve tem vindo a trabalhar na elaboração de um instrumento de conhecimento e planeamento que sirva à região pelo

prazo de uma década e que, através da cultura, a torne mais articulada, dinâmica e competitiva no plano internacional Aprofundando o processo de elaboração participativa do Plano Estratégico de Cultura para o Algarve, a DRCA e a UAlg vão promover um novo conjunto de sessões, Travessas de Cultura, que terão lugar entre abril de 2012 e janeiro de 2013 e se destinam a debater o estado atual de cada segmento de serviços e atividades de produção na perspetiva do empreendedorismo cultural, tendo como objetivo delinear uma estratégia regional para a economia criativa. É deste modo que a DRCA tem vindo a trabalhar num instrumento de planeamento que visa introduzir dispositivos de articulação entre os diferentes setores, público, privado, cooperativo e associativo, facilitando a coordenação dos investimentos em economia criativa para o desenvolvimento estratégico e o incremento de inovação e competitividade da fileira cultural regional.

Direcção Regional de Cultura * Oliveira, L. F.; Bernardes, J. P.; Tavares, M. (2011) - A Cultura em Conferência. Faro: UAlg / DRCA.

António Pina Convida

Turismo versus Cultura ou o vértice de um triângulo em que a outra entidade tem necessariamente de se chamar Público Francisco Paulino

Presidente do Teatro Municipal de Faro

destaque

Pode a Cultura no Algarve estar dissociada daquela que continua a ser, para o bem e para o mal, a monocultura da Região? Não pode, e que me desculpem os puristas, mas será aqui que surge a terceira entidade do triângulo formado por Turismo/Cultura/Público. Deixem-me colocar a questão de

outra forma: pode haver Cultura sem Público? Pode, responderão alguns, mas não será a mais conveniente forma de criar, acrescento eu.

Partindo desta premissa seria possível continuar a desenvolver Cultura no Algarve.

A importância da Cultura para o Turismo do Algarve Haverá sempre, tal como no conhecido anúncio televisivo, duas perspectivas de olhar esta questão: dependendo sempre dos interesses em

causa, é mais importante a Cultura para o Turismo ou será o Turismo para a Cultura?

Se hoje em dia não sofre grande contestação a primeira destas premissas, havendo inclusive vários destinos turísticos, concorrentes do nosso ou não, que numa busca contínua de novos mercados, lançam campanhas muito direccionadas para o Turismo Cultural, seja isso o que for em cada caso, também é de reconhecer a necessidade de o Algarve apostar em vários segmentos, procurando diversificar a oferta, que infelizmente continua

“LAÇO DE SANGUE” 10 FEV | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Espectáculo conta a história de dois irmãos, filhos da mesma mãe, um de pele clara e o outro de pele escura, que tentam aliviar o tédio da sua existência ao comprar um jornal para que Zach, de pele escura e analfabeto, possa obter uma correspondente

muita baseada no sol e praia.

Reconhecemos todos, os esforços que ao longo dos últimos anos se tem feito nessa tentativa, nomeadamente com a procura de alternativas, sejam elas desportivas, gastronómicas, de congressos etc., mas com o paradigma do mercado turístico em alteração profunda, tal como acontece na actualidade, se não houver capacidade de adaptação a ele será o fim daquela que tem sido a monocultura da região. E essa transformação tem necessariamente de olhar para o Turista da actualidade e conseguir antever o

perfil do viajante futuro. Quando há 20/15 ou mesmo dez anos atrás, se assistia às grandes movimentações de turismo de grupo/massas, em que o pacote comprado incluía aquilo que os operadores consideravam mais vantajoso comercialmente para as suas empresas, estávamos longe de imaginar o Turista como individual que viaja a seu bel-prazer, faz as reservas directamente em “sites”, compara preços sempre e faz as suas escolhas em função de diversos critérios, entre eles, percebe-se hoje, o factor cultural que pode encontrar no destino.

“12º FESTIVAL DE MÚSICA AL-MUTAMID” 11 FEV | 21.30 | Centro Cultural de Lagos O grupo Beth Nahrin conta, neste espectáculo, com a participação de uma bailarina de dança oriental que reflecte nas suas expressivas danças todo um manancial de cor, exotismo e beleza, interpretadas com elegância e sensualidade