Revista Estilo - Dezembro 2014

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Sempre tive uma paixão por lugares altos, mas nunca imaginei que profissionalmente eu terminaria abraçando algo tão desafiador.”

Revista Estilo -Rosier, como surgiu sua paixão pelo montanhismo? Rosier Alexandre - Nasci numa cidade bem pequena chamada Monsenhor Tabosa. Na verdade, nasci na zona rural, a 14 km da cidade. É uma região serrana, onde está o ponto culminate do relevo cearense, o Pico do Oeste. Desde a infância, adoro subir pedras, montanhas. Fazia isso sem nenhuma técnica, sem nenhuma orientação, levando os amigos. Sempre tive uma paixão por lugares altos, mas nunca imaginei que profissionalmente eu terminaria abraçando algo tão desafiador. Só pude frequentar a escola com três anos de idade, quando meu pai se mudou para um sítio perto da cidade. Com 15, 16 anos, vim morar em Fortaleza e comecei a ler relatos de algumas pessoas que tinham escalado montanhas, principalmente montanhas geladas. Desde esses relatos a paixão foi muito grande. RE - Foi quando você começou a querer ir mais longe? RA – Na verdade lembro que na infância eu me sentia constrangido com todo aquele sacrifício, com a falta

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de escola, a falta de uma casa confortável, a falta de tudo. Minha família era muito pobre, mas eu sabia que eu podia mudar aquilo. Mais recentemente, ao assistir a um filme chamado Invictus, sobre o Nelson Mandela, vi uma poesia inglesa de 1875, e que tem o mesmo nome do filme. Ela diz: “Eu sou o dono do meu destino, o capitão da minha alma”. Percebi que sempre entendi isso. Sabia que podia mudar aquela situação. É muito doloroso nascer num lugar que não tem energia, higiene básica, não tem água canalizada, não tem uma escola, não tem saúde, não tem nada. É muito difícil. Hoje, a zona rural é um conforto. Cerca de 45 anos depois todas as regiões da zona rural do Brasil têm energia elétrica, escola, transporte. Onde eu nasci não tinha nada disso. E eu sabia que só tinha um meio: estudar. A mudança viria pela educação. Me dediquei muito a estudar, mesmo com uma jornada de trabalho tripla. Fui engraxate, vendedor de fruta, enfim, fiz muita coisa paralela ao trabalho na agricultura e à escola. RE - Algum episódio em especial marcou essa época? RA - Vários espisódios, mas um foi bem curioso. Meu pai tinha uma bodeguinha e havia um médico que gostava muito de ir lá tomar uma pinga e jogar conversa fora. Um dia ele chegou com um amigo muito estranho. Para os moldes nordestinos, ele era um ET. Alto, branco, nariz fino, cabelo loiro, e não falava nada com nada. Perguntei ao médico porque aquele homem não sabia falar direito. Mas ele falava, só não falava português. Era um alemão e estava ali falando inglês. Eu devia ter uns 9 ou 10 anos. Aí perguntei: “O que é inglês?”. Ele disse: “É uma língua de outro país”. (Rosier) “E o que é país?”. Aí ele foi me explicar o que era cultura, o que era país, e comecei a me questionar: “Pô, esse mundo tem vários países, vários continentes, várias culturas, pessoas de cores diferentes, pessoas que falam línguas diferentes”. Ali nasceu uma curiosidade muito grande pela geografia do mundo, saber como mora um cara no Alasca, como

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