Ponto PT - Março 2024

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empresa envolvida na expansão do metro em Paris

Revista mensal da comunidade portuguesa l Mar. 2024 l Nº03
Alpha TP
Caldas da Rainha Portugal
Crónica Editorial 05 Descobrir Portugal 16 Conheça Caldas da Rainha Setor Empresarial 18 Área da inovação capta franceses para trabalhar em Portugal Comunidade 30 Comediante José Cruz é referência em França Portugal 42 Melissa Lopes criou projeto Mel & Sal Na Primeira Pessoa 62 À conversa com o Cônsul-geral de Portugal em Paris Associação Sara Carreira 68 Embaixador Pedro Bianchi Prata Desporto 72 Entrevista com Diana Gomes Arte e Cultura 80 Novo filme de Christophe Fonseca retrata emigração portugues Breves 96 Agenda de Eventos 98 3

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4 FICHA TÉCNICA
A forte ligação a Portugal
É preciso valorizar a presença portuguesa no mundo.

Escrevo esta crónica sem saber quem serão os rostos que governarão Portugal nos próximos anos. Quando chegar às mãos dos leitores, já saberemos o resultado das eleições legislativas em Portugal. Mas, independentemente de cor partidária, ideologia, convicções ou projetos, os portugueses precisam de uma liderança forte, capaz de colocar o país num caminho de evolução e ... que não se esqueçam dos milhões de portugueses espalhados pelo mundo.

Emigrantes, lusodescendentes ... ou aventureiros, corajosos. Há diversas formas de tratarmos aqueles que partiram de Portugal em busca de novas e melhores oportunidades de vida. Na bagagem levaram consigo o amor a Portugal e, esse, nunca fica esquecido.

Seja em que ponto do planeta for, lá estão eles a valorizar as tradições. Lá estão os portugueses a promover a cultura. Lá estão os portugueses a difundir a língua de Camões. Lá estão os portugueses a levar bem alto o nome de Portugal. Não só o fazem durante o ano inteiro na sua “nova casa”, como ainda o fazem quando regressam a Portugal e fazem viver tradições seculares, como é o caso das feiras de fumeiro e do património dos Caretos de Podence.

Há ainda quem, através da cultura, evidencie a importância da história da emigração portuguesa. No teatro e no cinema, nesta edição não pode perder dois casos que tornam imortal a história de milhares de pessoas que emigraram para França.

Que se tome consciência da importância destes portugueses para Portugal

Boa leitura!

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Alpha TP: empresa liderada por Francisco da Cunha envolvida na expansão do metro em Paris

Conteúdo disponível

online:

6 TEXTO DE CAPA

A Alpha TP, empresa de infraestruturas que se dedica a obras públicas, foi criada em 1983 por um grupo de 21 fundadores.

Francisco da Cunha, lusodescendente natural das Caldas da Rainha, faz parte do início do projeto e hoje assume o cargo de presidente do Conselho de Administração. Com mais de 40 anos de atividade, a empresa sediada em Brie-Comte-Robert, em Seine-et-Marne, está envolvida na obra de expansão do metro, em França.

7 TEXTO DE CAPA
Temos de estar sempre a lutar, sempre a tentar angariar novas obras ”
TEXTO DE CAPA
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Francisco Barros da Cunha Leal,

atual presidente do Conselho de Administração da Alpha TP, nasceu e viveu nas Caldas da Rainha até aos 16 anos. Perto de completar a maioridade, emigrou para França, três anos depois do pai ter partido à aventura sozinho. Chegou a França em plena década de 60, a 14 de setembro de 1967, altura em que a emigração portuguesa ganhava expressão. Francisco da Cunha começou por trabalhar numa farmácia, onde esteve apenas três meses, antes de ingressar no ramo da eletricidade. “Antigamente vinha-se à segunda-feira e à terça já se tinha trabalho. O meu pai já tinha vindo três anos antes, mas depois decidiu trazer-me. Chegou lá no verão de 1967 e disse: “desta vez é que vamos”, conta o empresário.

Depois de passar por várias empresas ligadas ao ramo da eletricidade, decidiu fundar a própria empresa em 1983, depois da firma onde trabalhava ter entrado em falência. Juntamente com 21 colegas, funcionários da empresa que encerrou, criou a Alpha TP, uma cooperativa onde 51% do capital é detido pelos funcionários da empresa. “A principal atividade da empresa é a criação de infraestruturas, em obras públicas. O desenvolvimento foi rápido, nos primeiros anos, de 20 funcionários passamos rapidamente a 50, depois subimos até aos 90 até nos fixarmos nos 100 funcionários”, explica o presidente do Conselho de Administração.

A principal atividade da Alpha TP prende-se com a construção de infraestruturas como estradas, saneamento público, aterros ou redes de distribuição de energia, ao abrigo de contratação pública. Associada à Alpha TP está ainda uma empresa de construção, gabinetes de estudos e uma empresa de imobiliário. “O tempo médio dos nossos contratos é de quatro meses, portanto, a todos os quatro meses temos que renovar o nosso caderno de encargos. Por isso, temos de estar sempre a lutar, sempre a tentar angariar novas obras”, diz Francisco da Cunha.

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TEXTO DE CAPA

Funcionários “são a força” da Alpha TP

Ao completar 41 anos de atividade, não há segredos para a longevidade e sucesso da Alpha TP. Embora Francisco da Cunha esteja mais perto de deixar a empresa, do que a altura em que iniciou o projeto, aponta um único segredo para o sucesso da empresa que criou. “Existem empresas em que a tecnologia é preponderante. Para nós, a maior riqueza são as pessoas que constituem a empresa. A força da empresa é o pessoal, são os operários, os empregados, os quadros que animam a empresa. Isso é que é a força de uma empresa”, afirma o presidente do Conselho de Administração da Alpha TP.

Com uma certa “prudência e seriedade” o futuro é perspetivado como sendo de sucesso e de continuidade. “Com os Jogos Olímpicos e a expansão do metropolitano, houve uma subida nas obras públicas com atividade suplementar. Agora, quando isso acabar vai haver crise. A partir do segundo semestre de 2024 prevemos que a situação possa ficar complicada, embora não se saiba bem o que se vai passar”, diz o empresário.

10 TEXTO DE CAPA
Para nós, a maior riqueza são as pessoas que constituem a empresa

Alpha TP envolvida na expansão do metro

A Alpha TP ficou com a adjudicação de alguns trabalhos relacionados com a expansão do metro, em França. A empresa ficou responsável pelos trabalhos de exterior da estação da linha 14, em Orly, incluindo o parque de estacionamento, assim como os trabalhos de exterior da estação em Chevilly-Larue. “Nas estações, tudo o que são superestruturas, não intervimos nada. Estamos agora a intervir em tudo o que é fazer bonito à volta das estações”, explica Francisco da Cunha.

Para o futuro, a Alpha TP não pretende competir com as grandes empresas internacionais, mas sim trabalhar para os nichos, com ou sem a presença do atual presidente do Conselho de Administração. “Temos estruturas para a empresa continuar sem mim porque estou cada vez menos operacional, estou-me a desligar pouco a pouco do dia-a-dia. A vocação de uma sociedade cooperativa é continuar depois dos homens, portanto, vou-me embora, mas a empresa continua. A riqueza da empresa fica sempre na empresa, portanto aqueles que vêm a seguir é que têm que não lapidar aquilo que a gente lhes deixa”, diz Francisco da Cunha.

11 TEXTO DE CAPA

Empresário natural das Caldas da Rainha lidera projeto de sucesso

Francisco da Cunha nasceu nas Caldas da Rainha, mas com apenas 16 anos emigrou para França com o pai. Chegou a ser dirigente, durante 25 anos, do Lusitanos de Saint-Maur e é atual candidato à presidência da Academia do Bacalhau de Paris. “Integrei-me facilmente com a comunidade portuguesa porque jogava futebol numa equipa portuguesa, no Lusitanos de SaintMaur. Estive envolvido na criação do Lusitanos de Saint-Maur e depois fui dirigente, portanto estive muito envolvido na comunidade portuguesa”, diz com orgulho Francisco da Cunha.

Embora a integração tenha sido fácil, nunca deixou de ter ligação às Caldas da Rainha. Atualmente, tem em mãos a reabilitação de dois prédios de 1970, localizados no centro da cidade que o viu nascer. “Tenho ainda, felizmente, amigos de infância, com quem me encontro cada vez que vou lá. Não quero outra coisa a não ser as Caldas da Rainha”, diz

Não quero outra coisa a não ser as Caldas da Rainha
12 TEXTO DE CAPA

Conceição Henriques

Vereadora da Cultura, Turismo e Ação Social da Câmara Municipal das Caldas da Rainha

Caldas da Rainha estabelece parcerias internacionais com cidades cerâmicas

A autarquia das Caldas da Rainha, com uma forte tradição e história ligada à cerâmica, tem estabelecido várias parcerias internacionais com outras cidades cerâmicas. Um dos exemplos é a colaboração estabelecida com a cidade italiana de Umbria. Esta e outras expressões culturais e artísticas fazem parte das referências turísticas da cidade. Conceição Henriques, vereadora da Cultura, Turismo e Ação Social da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, diz que o concelho tem bastante capacidade de atração turística a nível nacional e internacional.

14 DESCOBRIR PORTUGAL

De que forma a autarquia das Caldas da Rainha tem apostado no turismo?

O turismo das Caldas da Rainha é especialmente vocacionado para a área da cultura. Somos uma cidade com uma oferta cultural especialmente diferenciada, se tivermos em conta a nossa dimensão. Temos um centro cultural e de congressos que inclui um teatro, que é uma grande sala de espetáculos. Temos espetáculos de enorme qualidade, muito frequentes e com uma programação muito sólida. Desde musicais, a peças de teatro e de bailado. Do ponto de vista das artes plásticas, somos uma cidade com um conjunto museológico muito interessante, com museus de escultura e de pintura. O José Malhoa é o mais antigo museu nacional e temos um museu único de cerâmica. Depois, temos a cultura mais popular. A nossa Praça da Fruta é um ex-libris da cidade, que é uma praça de fruta, legumes e flores que decorre todos os dias, à exceção do dia de Natal. Todas as pessoas que vêm às Caldas da Rainha sabem que existe um mercado diário e essa é uma das razões porque somos bastante visitados.

A autarquia tem conseguido captar visitantes de outras zonas do país?

A cidade tem bastante capacidade de atração no plano nacional e internacional. No plano nacional, a nossa proximidade a Lisboa faz com que sejamos uma cidade muito frequentada, muito visitada pelos lisboetas. Temos uma autoestrada que nos coloca de Lisboa às Caldas da Rainha em 60 minutos, mas claro, recebemos pessoas de todo o país. Recebemos frequentemente excursões até do norte do país, com um público que se desloca de forma mais organizada. No entanto, o nosso território não tem uma taxa de permanência de muitos dias. Esse é um dos trabalhos, de toda a região Oeste, que terá de ser feito no sentido de captar turismo que permaneça durante mais tempo, mas é um trabalho que está a ser feito.

Bordallo Pinheiro é um dos artistas natural das Caldas da Rainha. Este facto ajuda a elevar o nome do concelho?

Bordallo Pinheiro é um continuador de uma tradição cerâmica pré-existente. Caldas da Rainha tem uma tradição de cerâmica que remonta à fundação da cidade, no século XVI.

Bordallo Pinheiro viveu na transição entre o século XIX e o século XX e, portanto, não só deu continuidade a uma tradição pré-existente, mas constituiu um polo dinamizador da cerâmica na cidade, que teve repercussões até aos nossos dias. A cerâmica foi-se alterando ao longo do século XX e voltou a alterar-se agora, já no século XXI. No século XX, por força da Fábrica da SECLA, que deu uma vertente mais industrial à cerâmica e atualmente através de uma vertente mais criativa. Hoje, temos um alargado conjunto de ceramistas na cidade. Temos cerca de 100 ateliers a trabalhar cerâmica, a viver da cerâmica e a contribuir para este ambiente muito profícuo de criação cerâmica nas Caldas da Rainha.

Caldas da Rainha é, desde 2019, uma cidade criativa UNESCO para o artesanato e artes populares. A arte que deu corpo a esta candidatura foi a arte cerâmica, não há dúvida nenhuma. De resto, estamos a fazer parcerias, quer em Portugal quer no estrangeiro, com outras cidades cerâmicas, porque consideramos que trabalhar em rede nestas áreas é extremamente importante. Este fim de semana estive em Deruta, uma cidade na Umbria, em Itália, que é uma das três grandes cidades cerâmicas de Itália. Estamos na fase final de preparação de um processo de geminação com vista a um alargado e profundo programa de colaboração que incidirá sobre a educação, sobre o turismo e sobre as próprias atividades económicas.

A cidade de Caldas da Rainha tem uma forte comunidade presente no estrangeiro, nomeadamente em França?

A diáspora das Caldas da Rainha está um pouco pelo mundo. Temos uma comunidade muito forte em New Jersey, nos Estados Unidos, mas também temos uma comunidade bastante forte em França, sobretudo de algumas aldeias aqui do concelho. O que se passa é que hoje as comunidades em França já não são bem comunidades emigrantes. Hoje nota-se que há um retorno. Estes jovens, alguns empreendedores, voltam na perspetiva de abrir um negócio ou terem um negócio, simultaneamente em França e em Portugal. É uma consequência secundária daquilo que foi o movimento migratório, mas que é uma consequência secundária muito boa, muito interessante.

É uma comunidade que valoriza Portugal e a cidade onde nasceu?

Valoriza muito e valorizou sempre. Há 30 anos os emigrantes vinham sobretudo no verão, para passar férias. E era muito notório que o mês de férias que tinham era aqui que o passavam. Este facto era bem significativo da importância que davam ao seu país e do facto de se sentirem em casa. Agora, continuam a vir, mas vêm numa perspetiva já não saudosista, mas numa perspetiva de valorização. É até motivador perceber esta evolução positiva que a emigração portuguesa no mundo teve.

A emigração está, portanto, a mudar?

Estas comunidades portuguesas em França e nos países francófonos também atraíram para Portugal muitos franceses e muitos belgas. Muitos deles são residentes aqui em Portugal e o nosso concelho tem uma comunidade francesa e belga, que não há de estar muito divorciado desta realidade

15 DESCOBRIR PORTUGAL

Conheça Caldas da Rainha

Localização

Sul: Caldas da Rainha fica a cerca de 90km do aeroporto internacional da Portela, em Lisboa. O percurso mais indicado é o da Autoestrada A8, que liga Lisboa a Caldas da Rainha em menos de sessenta minutos de viagem automóvel.

Norte: A autoestrada do Oeste (A8) é a principal via de acesso ao concelho das Caldas da Rainha, que tem ligação com a A1, em Leiria. Se vier junto à costa, a A17 é uma boa opção, já que tem ligação direta à A8. Se optar por evitar a autoestrada, utilize a EN1.

Interior: A melhor forma de chegar vindo do interior é a A15, em Santarém, que liga à A8, num troço gratuito.

16 DESCOBRIR PORTUGAL

O que visitar

Complexo Termal 01

Parque D. Carlos I

Museu José Malhoa 02

Centro de Artes 03

Museu do Ciclismo

Museu da Cerâmica 04

Casa Museu de São Rafael

Rota Bordaliana 05

Praça da Fruta

Mata Rainha D. Leonor

Como escreveu Ramalho Ortigão: Caldas da Rainha é o centro da mais histórica, da mais pitoresca região de todo o país ”

Fundada pela Rainha Dona Leonor em 1495, a cidade desenvolveu-se em torno do Hospital Termal que, ao fim de cinco séculos de existência, continua a receber anualmente centenas de aquistas que nestas termas procuram tratamento e repouso.

A cerâmica é uma forte presença artística que ainda hoje molda a imagem das Caldas. Perde-se no tempo a tradição ceramista desta cidade. Figuras como Maria dos Cacos, Manuel Cipriano Gomes (o “Mafra”), Francisco Elias e Rafael Bordalo Pinheiro, deram à cerâmica das Caldas as características que a celebrizam.

Outras artes, como a pintura e a escultura, têm vindo a confirmar Caldas da Rainha como um centro de artes plásticas, destacando-se na pintura o Mestre José Malhoa e, na escultura, o Mestre António Duarte e João Fragoso, naturais de Caldas da Rainha. Visitar os seus Museus, é percorrer autênticos espaços culturais vivos.

Caldas da Rainha tem, na sua orla marítima, as praias de Salir do Porto e Foz do Arelho. Esta última, privilegiada pela sua natureza que, surgindo entre a Lagoa de Óbidos e o Mar, se torna o local ideal para a prática de desportos náuticos e para a pesca.

Em contraste com o litoral, surgem paisagens rurais, cheias de história e ricas em arvoredo, onde uma agricultura próspera em frutas e legumes abastece diariamente o tradicional mercado da fruta.

O seu povo laborioso e hospitaleiro, vivendo essencialmente da agricultura, das indústrias cerâmicas e do comércio, oferece a quantos a visitam o calor do seu acolhimento e os seus cinco séculos de história, plena de nobres e grandes acontecimentos.

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Turismo
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Área da inovação capta franceses para trabalhar em Portugal

Há cerca de 100 mil franceses ativos a residir em Portugal, sobretudo em Lisboa, no Algarve e na zona norte do país. Uma das áreas de atividade que capta mais franceses para Portugal é a área da inovação. Ainda assim, segundo a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), “há todo um trabalho a fazer” em França de promoção de Portugal na área da inovação, setor que tem registado um crescimento nos últimos anos.

18 SETOR EMPRESARIAL

A AICEP tem como missão apoiar e facilitar as relações comerciais entre Portugal e o resto do mundo. No caso francês, é o segundo maior mercado presente no país. Em ano de Jogos Olímpicos, o organismo do Estado português vai apoiar em 210 mil euros a instalação da Casa Portugal no recinto dos Jogos Olímpicos, em Paris.

Em entrevista ao Ponto PT, Eduardo Henriques, diretor da AICEP em França, explicou as relações comerciais entre os dois países, França e Portugal.

Que importância tem atualmente o mercado francês para a economia portuguesa?

A França é um mercado fundamental para Portugal. Neste momento é o segundo mercado para Portugal. Desde 2014 houve uma evolução, um salto muito grande. Até essa altura, a França era o terceiro mercado para Portugal, mas, entretanto, foi subindo, foi ganhando terreno e hoje é o segundo.

Quais são as principais áreas que geram relações comerciais entre os dois países?

A nossa relação com França é muito diversificada. Se começarmos pela área das exportações, por exemplo, nós temos um superávite (excesso das receitas sobre as despesas) com França. Dos grandes países é aquele com quem temos o maior superávite, ao contrário de outros países como Espanha em que temos um grande défice. Temos à volta de seis mil empresas portuguesas que trabalham com o mercado francês diretamente, que vendem no mercado francês. Temos empresas de todas as áreas de atividade, aliás, o grande destaque relativamente ao mercado de França é a diversidade. Exportamos desde maquinaria, plásticos, passando pela área de equipamentos para a indústria automóvel, para a indústria aeronáutica e agroalimentar. Praticamente todas as gamas de produtos que possam existir são vendidas de alguma forma em França. Por outro lado, França é o nosso terceiro fornecedor, normalmente, embora vá variando de ano para ano, mas ultimamente tem evoluído bem.

Qual a importância da AICEP na promoção e facilitação das relações comerciais entre os dois países?

A AICEP tem dois papéis principais: a promoção de Portugal como destino de investimento e a promoção das exportações portuguesas, ou seja, apoiar as empresas portuguesas que pretendem internacionalizar-se, vender no mercado francês ou instalar-se no mercado francês. No primeiro vetor de atividade, que é a parte da promoção do investimento, a AICEP tem um serviço de apoio, o que significa que fazemos a promoção de Portugal como destino de investimento. Fazemos a prospeção de mercado e procuramos ativamente empresas que queiram investir em Portugal. Depois, temos um serviço integrado que acompanha os investidores, desde que eles têm um projeto até à concretização e mesmo depois da concretização. Para lhe dar uma ideia, temos 1500 empresas francesas instaladas em Portugal. A França costuma ser o segundo maior investidor em Portugal e o nosso trabalho é de um contacto permanente com as empresas francesas que se querem instalar em Portugal e convencê-las a instalarem-se no país. Posso dizer que boa parte destas 1500 empresas foram acompanhadas em algum momento por nós. Aliás, todos os anos acompanhamos cerca de 50 intenções de investimento, embora depois algumas delas não se concretizem.

No que toca à segunda área de atividade da AICEP, a área das exportações, o trabalho é um bocadinho diferente. França é um dos países para onde há mais empresas portuguesas a exportar e, todos os anos, temos entre 500 e

600 empresas portuguesas que são apoiadas por nós neste mercado. Temos ainda muitas atividades de promoção que fazemos diretamente, ou em parceria com terceiros, com associações empresariais portuguesas. Normalmente temos grandes representações portuguesas em todas as grandes feiras internacionais que têm uma edição francesa. Temos, ao longo do ano, à volta de 12 feiras. Tivemos, por exemplo, a Première Vision, onde estavam 70 empresas portuguesas, também a Vinexpo, que é dedicada só ao vinho, onde também tivemos uma grande representação com cerca de uma centena de empresas portuguesas. Mais tarde, teremos uma participação que também vai ser importante este ano que é a Global Industrie. Iremos ter também, e este é um evento organizado por nós, a Viva Tech, que é uma espécie de Web Summit francês, onde trazemos startups portuguesas para expor nesta feira.

Portugal tem boas condições para atrair investimento?

Sim e há pontos que são muito importantes quando um investidor francês pensa em Portugal. Existe uma grande complementaridade entre os tecidos empresariais português e francês. Na área industrial, somos muito complementares à França. Temos ainda um tecido industrial relativamente grande, temos uma mão de obra qualificada muito importante. Temos uma vantagem competitiva, que é o facto de estarmos muito perto da França, isso permite que muitas empresas francesas deslocalizem, em parte, a

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produção ou os serviços para Portugal. Temos muitas empresas francesas que deslocalizaram parte dos seus serviços para Portugal e temos exemplos muito conhecidos, desde a banca francesa com o BNP Paribas ou a Natixis que são grandes players do mercado que se instalaram em Portugal. A proximidade, a qualidade dos recursos humanos e esta complementaridade que existe facilita muito a relação. Depois, também temos a proximidade cultural que também é muito importante. De facto, somos muito próximos da França a variadíssimos níveis, temos uma comunidade e, sobretudo, temos muita gente que tem dupla nacionalidade e dupla cultura, que também é importante para os negócios e para a realidade empresarial.

Questões como a crise em Portugal ou a instabilidade política não têm assustado os investidores?

Não temos nenhuma indicação de que isso esteja a acontecer. Os últimos números que temos apontam até para o contrário. Houve uma desaceleração

do investimento francês no ano de 2022. Já no ano de 2023, pelo menos até outubro, que são os últimos dados, dão conta de, praticamente, uma duplicação do investimento francês em Portugal em relação ao ano anterior.

O que é que está previsto para o plano de ações prioritárias da AICEP para 2024?

Temos a participação na Viva Tech, que envolve um concurso de escolha de startups para virem ao certame, portanto, é toda uma presença que é preciso executar. Vamos ter um acompanhamento muito intenso daquilo que é a nossa presença na Global Industrie, porque é um evento muito importante. Teremos de apostar na comunicação do evento, comunicar com os decisores e divulgar a participação das empresas portuguesas. Depois, temos algumas ações previstas no setor agroalimentar. Temos uma parceria com o Carrefour que vamos intensificar. Estamos a prever fazer um evento na área das indústrias de defesa, em que a ideia

é fazer um evento de networking e de aproximação entre empresas francesas e portuguesas desta área. É preciso identificar as empresas, verificar as necessidades e, portanto, vamos também trabalhar esta área das indústrias de defesa que se tocam em muitas áreas, na área aeronáutica, na área dos sistemas informáticos, sistemas de navegação, etc. É uma área muito tecnológica que nós gostávamos muito de incentivar este ano. Depois, temos todo o trabalho habitual. Recebemos, proativamente ou reativamente, cerca de 900 solicitações de empresas francesas ou portuguesas que temos de responder.

A área tecnológica, que tem vindo a crescer nos últimos anos, pode ser uma interessante área de negócio?

Há todo um trabalho para fazer, que já começou, de dar a conhecer em França aquilo que são as nossas competências, as nossas qualidades nessa área mais tecnológica. Por isso é que insisto muito na participação da Viva Techno -

20 SETOR EMPRESARIAL

logy. É um evento que tem visibilidade no mercado francês. Por outro lado, temos um trabalho mais de formiga, que fazemos há três anos, de contacto com grandes grupos franceses. Chama-se Start up Connecting Links, que consiste em contactar com grandes empresas francesas, falar com eles, identificar necessidades em termos tecnológicos, em termos de inovação e depois, em Portugal, identificar startups que correspondam àquilo que são as necessidades desses grandes grupos. É uma área em que existe bastante oferta, temos bastantes competências, temos bastantes startups que são muito interessantes, o que permite posicionar-nos também neste mercado.

Temos outro ponto interessante que é uma grande comunidade francesa em Portugal. Ao contrário do que a maior parte das pessoas julga, essa comunidade francesa não é de pessoas inativas, são ativos, são pessoas para trabalhar. A esmagadora maioria de franceses que vivem em Portugal, neste momento, e a comunidade é muito grande, fala-se à volta de 100 mil franceses, é de ativos. São pessoas que têm as suas empresas, são pessoas que trabalham para empresas francesas, são expatriados, enfim, são pessoas que muitas delas trabalham na área da inovação. Isso ajuda muito porque somos solicitados por algumas incubadoras francesas para fazermos eventos com eles. O ano passado fizemos um evento em conjunto com a Euro Technologies, que é a maior incubadora do norte de França, sobre Portugal. Isto, há uns anos, era muito difícil de fazer porque, de facto, as pessoas não associavam Portugal à inovação. Todo este panorama está a mudar e ainda bem, porque está a mudar para melhor.

Essa comunidade de franceses em Portugal vive sobretudo em que zonas?

Sabemos que a maior parte vive em três grandes áreas, basicamente em Lisboa, Algarve e no norte do país. É verdade também que há uma crescente expansão em termos de comunidade para outras zonas do país e, portanto, começa a haver também gente que está noutras áreas.

A nível financeiro, de que forma a AICEP apoia as empresas?

Na área do investimento a AICEP tem uma equipa grande, em Portugal. Para uma empresa que quer investir em Portugal temos a possibilidade de simular quais é que são os financiamentos que existem, os apoios que existem e indicar claramente à empresa, o que é que tem direito ou o que é que pode usufruir quando pensar em investir em Portugal. Fazemos esse trabalho e obviamente que temos uma relação muito privilegiada com Portugal, com a realidade local, temos uma grande relação com os municípios, com as autoridades administrativas, portanto, o nosso objetivo é sempre ajudar e facilitar a instalação das empresas e acompanhar o desenrolar desses projetos do princípio até ao fim.

Para 2024 quais são as perspetivas na relação entre os dois países?

Achamos que vamos continuar a crescer. No ano passado, os números que temos até novembro, em termos de exportação de bens, a França foi o maior contribuinte líquido para as exportações portuguesas. As exportações cresceram quase 500 milhões de euros. Portanto, é um número impactante. Se incluirmos os serviços, estamos a falar de quase 300 milhões, o que é um crescimento significativo. Neste momento, a indicação que temos é que esta tendência vai continuar, obviamente sempre condicionada pela conjuntura global

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Portugal reforçou presença na Vinexpo Paris 2024

As feiras Wine Paris & Vinexpo Paris, primeiro encontro global de viticultura e economia do vinho em 2024, decorreram em fevereiro na Paris Expo Porte de Versailles. Este evento reuniu 3900 produtores de 50 países, e recebeu mais de 30 mil profissionais. Em destaque estiveram os vinhos portugueses, que reforçaram a sua presença.

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22 SETOR EMPRESARIAL

A Vinexpo Paris celebra a extensa variedade de regiões produtoras francesas e internacionais, proporcionando a todos os profissionais de vinhos e bebidas espirituosas um grande encontro anual de negócios no coração da capital francesa. “É aqui um ponto em que em três dias conseguimos viajar e reunir uma parte importante dos nossos importadores”, começou por dizer Filipe Pinto, da Quinta São Sebastião, justificando assim a sua presença no certame.

Portugal representou-se em força, com mais de 150 expositores. “Significa que representa um setor dinâmico, com uma enorme capacidade económica de produção, de trabalho, de criação de postos de trabalho e de riqueza nacional, e com uma enorme capacidade exportadora. É um setor económico com enorme vitalidade e com uma agressividade grande para a exportação”, comentou José Augusto Duarte, Embaixador de Portugal em França, aquando da sua visita ao salão.

Os vinhos de Portugal reforçaram a sua presença para a edição de 2024, estando espalhados por 900 m2, representando cerca de 1500 vinhos, de todas as regiões do país.

“Trazemos os nossos vinhos pelo mundo inteiro, com as malas às costas para mostrar ao mundo o que melhor se faz em Óbidos. Temos muita tradição, somos o produtor mais antigo da região a fazer, produzir e engarrafar os vinhos. Temos todo o gosto de partilhar isto com os clientes já existentes e arranjar novos parceiros”, sublinhou Diogo Reis, da Quinta do Sanguinhal.

De acordo com os últimos dados do Instituto da Vinha e do Vinho, França continua a ser o principal cliente dos vinhos portugueses (97,9 milhões de euros, menos cerca de -4,1% face a 2022). Seguiram-se os Estados Unidos (92,3 milhões de euros), o Reino Unido (83,4 milhões de euros), os Países Baixos (46,9 milhões de euros) e o Canadá (49,3 milhões de euros com um crescimento de +7,1%).

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Investir em feiras comerciais, como a Vinexpo Paris, faz parte da estratégia de promoção para 2024. “É um certame que dá a conhecer ao mundo o que fazemos melhor e que fazemos tão bem, que são os vinhos Douro e Porto. Os vinhos do Porto são conhecidos mundialmente e estamos a começar, ao nível de França, a dar a conhecer os nossos vinhos do Douro, que têm vindo a ganhar posições ao nível das exportações mundiais”, sublinhou Gilberto Igrejas, presidente do Instituto dos Vinhos Douro e Porto. Quem concorda com as mais-valias do salão é João Vilar, da Winestone. “Aqui é uma feira bastante reconhecida, onde vêm compradores de todo o mundo. Por isso, vale muito a pena trazermos o melhor que produzimos lá em Portugal para tentar vender no mundo inteiro”.

“Sendo a França um dos nossos principais mercados em termos de exportações, é extremamente importante que continuemos a reforçar a nossa presença dando continuidade a todo o trabalho que estamos a fazer neste setor. Isto faz parte da nossa estratégia de promoção para 2024, investir fortemente em feiras comerciais, mercados internacionais de grande relevância como a Vinexpo Paris, porque acreditamos no potencial de crescimento dos vinhos portugueses, especialmente num dos países que fazem parte do nosso Top 5 principais mercados exportadores”, sublinha Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, associação interprofissional criada para promover a qualidade e a excelência dos vinhos portugueses no estrangeiro e que atualmente opera em 21 mercados.

Durante três dias, uma oportunidade para mostrar novidades. Foi o caso da Quinta Montalto, que é pioneira em Portugal na produção de vinho bio, começando a certificação em 1997.

Os vinhos portugueses totalizaram cerca de 150 expositores, representando as principais regiões vitivinícolas. Portugal esteve em destaque no coração da capital francesa, com o apoio da ViniPortugal, IVDP, IVBAM, CVR Tejo, CVR Lisboa, CVR Vinhos Verdes e CVR Península de Setúbal, representando as principais regiões vitivinícolas – Vinho Verde, Porto e Douro, Dão, Lafões, Bairrada, Beira Interior, Alentejo, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal, Algarve e Madeira

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Taberna Londrina

CHEGOU A FRANÇA

A Taberna Londrina chegou a Paris. Com um espaço em SaintMaur, este mítico estabelecimento de francesinhas abriu as suas portas na capital francesa. Em 2024 a cadeia de restaurantes comemora uma década de atividade. Agora, deu o primeiro passo na internacionalização, depois de espalhar o sabor da sua Francesinha de norte a sul de Portugal.

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26 SETOR EMPRESARIAL

Muito conhecida em Portugal, já com 15 restaurantes em território nacional, a Taberna Londrina é conhecida por ter a melhor Francesinha de Portugal. Saint-Maur foi o destino escolhido para a primeira aventura internacional e comprometem-se a trazer o verdadeiro sabor da Francesinha, um dos pratos típicos da cozinha tradicional portuguesa.

A história deste caso de sucesso começou em 2014, quando dois amigos, Eduardo Xavier e Francisco Varela, abriram o primeiro restaurante, em Guimarães, a cidade berço de Portugal, situada na zona minhota do norte do país. “Depois de terminarmos o curso queríamos montar um negócio. Eu, sendo de Braga, tinha esta ideia das francesinhas por um caso de sucesso que havia na cidade. Sempre tive a ideia de trazer a tradição que o sushi tem para o mundo, mas com a Francesinha. Assim surgiu a ideia de querermos montar o primeiro negócio, já com a ideia de internacionalizar. Arranjamos um espaço, que conseguimos após dois anos de tentativas. Foi em Guimarães, na Avenida de Londres, e daí ter surgido o nome de Taberna Londrina”, explicou Francisco Varela.

O sonho de ambos era o de criar a melhor Francesinha do mundo, com um molho único, e levá-los aos quatro cantos de Portugal e, agora, além-fronteiras com a chegada a Saint-Maur, em França. “Tem sido uma boa aventura. Nós já há algum tempo que queríamos vir para Paris. A ideia de vir para cá foi por haver uma grande comunidade portuguesa. Quisemos trazer para aqui a Francesinha, e começar pela comunidade portuguesa, para depois chegar ao centro de Paris. Quando chegarmos lá que já sejamos conhecidos”, conta Eduardo Xavier.

É uma história de sucesso e que tem na Francesinha o seu maior trunfo. Posteriormente, entraram mais dois sócios, Sérgio Cunha e André Novais. “Desde o início que gostei do projeto e senti esta enorme vontade de abraçar, já estando eu ligado à restauração. Achei que poderia ser um upgrade positivo para levar o projeto para a frente. Tem sido uma grande aventura. Juntaram-se quatro pessoas, cada um com uma força de vontade e de querer ir mais além, à mistura com um pouco de loucura. É assim que o projeto funciona e é por isso que temos tido essa evolução e este desempenho”, disse André Novais ao Ponto PT. Juntos, constituem uma equipa jovem, com forte know-how nas áreas da restauração, branding, marketing e tecnologia. Inovação e tradição: juntos são ainda melhores. “É sempre a apostar em abrir mais casas, chegar ainda mais longe. Queremos crescer todos os anos”, sublinhou Sérgio Cunha.

Um caso de sucesso, com um rápido crescimento, que não coloca de parte a hipótese de franchisar a marca. “É uma dúvida que paira entre nós. Nós sabemos que para crescer mais rápido, a questão do franchising vai ajudar bastante. Já nos fizeram bastantes propostas, mas até agora estamos a conseguir abrir sem franchisar. Talvez no futuro passe por aí”, comenta Francisco Varela.

27 SETOR EMPRESARIAL

A aposta na internacionalização

Esta primeira incursão além-fronteiras, baseia-se numa estratégia de levar o sabor deste prato típico da gastronomia portuguesa, a Francesinha, às comunidades lusófonas a residir na região de Paris. Contudo, se por um lado, este “mercado da saudade” é um bom ponto de partida e o incentivo de levar o sabor da Francesinha ainda mais longe, por outro, o desafio de implementar a gastronomia portuguesa na cultura francesa, sobretudo com este prato típico da gastronomia nacional, é o desafio e objetivo maior.

É, sem dúvida, o primeiro passo não só da internacionalização da marca, mas também da globalização da Francesinha. Um restaurante com capacidade para 50 pessoas, com um ambiente moderno, requintado e acolhedor, onde será possível degustar não só a melhor Francesinha do mundo, mas também uma vasta carta com pratos de carne, peixe, hambúrgueres e deliciosas sobremesas. Toda esta envolvência alicerçada no verdadeiro conceito de cervejaria, onde não falta uma seleção cuidada de cervejas premium dos quatro cantos da Europa.

Em 2024 a Taberna Londrina planeia abrir mais dez novos restaurantes, dando empregabilidade a mais de uma centena de funcionários em Portugal e França. Só em Saint-Maur a expectativa é criar cerca de 20 novos postos de trabalho e servir centenas de refeições todas as semanas.

No restaurante ou em take-away, a Taberna Londrina, compromete-se a levar uma experiência gastronómica única. Visitem na 189 Boulevard de Créteil, Saint Maur des Fosses.

28 SETOR EMPRESARIAL

A Francesinha

A Francesinha é um prato típico no norte de Portugal, inspirado numa receita tradicional francesa, o “Croque-Monsieur”. Apareceu na cidade do Porto, quando um emigrante regressado de França, decidiu dar um toque especial a essa receita. Acabou por se tornar num prato identitário da gastronomia e da cultura portuguesa que, agora, com a Taberna Londrina respeitando a sua história, adicionou-lhe um toque de modernidade, fazendo da sua Francesinha a melhor de Portugal.

As Francesinhas da Taberna Londrina contêm pão de forma, queijo, fiambre, chouriço, bacon, paínho de porco preto, bife (várias opções, tais como novilho, lombo, hambúrguer ou frango), ovo estrelado e são regadas com o molho que as tornam únicas. O molho de Francesinha da Taberna Londrina é bastante cremoso, adocicado e não é muito picante, como a receita mais tradicional da Francesinha, especialmente à moda do Porto. É, assim, um molho de Francesinha renovado e melhorado. “Um dos segredos é o molho, mas essencialmente temos muito cuidado com toda a matéria-prima que a francesinha leva. Preferimos pagar um pouco mais caro pela matéria-prima, mas garantir que é uma qualidade superior. Isso ajuda bastante”, explicou Francisco Varela.

Provar a Francesinha da Taberna Londrina é desfrutar, a cada dentada, de texturas únicas de sabor e cremosidade. É sentir o sabor da autêntica gastronomia portuguesa

29 SETOR EMPRESARIAL

Comediante José Cruz

faz rir através da língua e cultura portuguesa em França

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O sonho surgiu quando José Cruz, ainda criança, assistiu a uma peça portuguesa em França. Foi nessa altura que teve a certeza que ia ser ator e comediante, sonho que concretizou há 15 anos. Nascido em França, mas com pais portugueses, foi através da língua portuguesa que começou a ter cada vez mais sucesso. Em 2009 criou e interpretou o primeiro espetáculo de stand up “Olá!”, que reuniu centenas de apresentações em toda a França e, neste momento, tem em cena o espetáculo de comédia “Portugal: Voyage au Centre du Monde”, que vai passar pelo Porto e por Lisboa. A 10 de junho, Dia de Portugal, vai lançar um livro inspirado no espetáculo que retrata as viagens que fez para Portugal durante as férias de verão.

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É na região de Vanves, em França, que o comediante vive e trabalha no que sempre sonhou. Aos 12 anos assistiu a um espetáculo de comédia em português, numa associação que o pai acompanhava, e foi nessa altura que teve a certeza que queria a comédia e as artes de espetáculo como profissão. José Cruz nasceu em França, em Poissy, e começou a formação teatral em 1997, na École Claude Mathieu, em Paris. “Quando vi o espetáculo já tinha a certeza que ia resultar. Vi a atuação duas vezes e, nessa altura, senti que tudo estava a começar, comecei a trabalhar esse objetivo na minha cabeça”, conta.

Daí ao sucesso foram alguns anos de trabalho e de convicção de que tudo iria resultar, José Cruz só não sabia era como. Em 2009 estreou o espetáculo “Olá!”, que conta a história de um jovem lusodescendente que tinha um sonho, mais alto do que as barreiras criadas pela emigração. “Quando brinco com as minhas origens é também para as divulgar, nunca é grátis, nunca é fazer uma piada por fazer uma piada. Foi com o meu primeiro espetáculo que comecei a falar da cultura portuguesa, das minhas origens, através do que se tinha passado comigo. Sou de origem portuguesa, dizer aos meus pais que tinha o sonho de ser ator não era a mesma coisa como se um amigo meu francês dissesse a mesma coisa aos pais dele”, diz.

Tenho sorte porque os meus sonhos realizam-se um depois do outro ”

Foi para ultrapassar todas as barreiras que nasceram com ele que José Cruz começou a fazer rir através da língua e cultura portuguesa. Atuou em francês e em português, em grandes festivais de humor, como o Festival de Comédia de Montreux, VooRide de Liège e Top in Humour, e subiu ao palco das maiores salas. Em 2015 atuou no Olympia, ao abrir a atuação de Dulce Pontes, atuou no Palais des Sports e no Palais des Congrès, com a primeira parte do espetáculo de Tony Carreira. “Sempre sonhei fazer isto, desde que comecei a estudar teatro, mas nunca tinha pensado que seria com espetáculos escritos por mim. Comecei com um pequeno trecho de comédia sobre Portugal e as coisas começaram a correr bem. Desde janeiro de 2009 nunca mais parei”, explica o comediante.

Depois de escrever dois espetáculos, o “Olá!” e o “Em Construção”, José Cruz está agora em palco com o “Portugal: Viagem ao Centro do Mundo”, uma digressão que só é possível depois de todo o crescimento pessoal e profissional. “Hoje posso dizer que o primeiro espetáculo serviu para me mostrar que era capaz, que eu é que punha barreiras. Vinte anos depois, consigo ter a profissão que sempre sonhei. Tenho sorte porque os meus sonhos realizam-se um depois do outro”, diz com emoção o comediante lusodescendente.

O terceiro espetáculo do artista, que surgiu em setembro de 2016, vai na 18ª representação. Este ano será apresentado em vários palcos franceses, mas também no Teatro Villaret, em Lisboa, e no Auditório Francisco de Assis, no Porto. O espetáculo de stand up vai ainda dar origem a um livro que será lançado dia 10 de junho de 2024, Dia de Portugal

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Lusodescendente

Tiago Martins

divulga história e cultura portuguesa no Instagram

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Nas redes sociais já soma mais de 16 mil seguidores, a maior parte deles portugueses que falam francês. Tiago Martins lançou a página Portuguese Facts para divulgar a história e cultura portuguesa e é através dela que faz publicações sobre gastronomia ou factos históricos portugueses. Aos 32 anos já escreveu um livro, o L’Histoire du Portugal dans mon Assiette, depois de fechar contrato com a editora Cadamoste Éditions.

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Foi há cinco anos que decidiu abrir a conta de Instagram, depois de se aventurar pelo Facebook e YouTube. Tiago Martins é um assumido apaixonado por história, por Portugal, pelas tradições portuguesas e parte do coração está na aldeia de Barrenta, em Porto de Mós, distrito de Leiria, onde os pais nasceram. “Sempre gostei de história, o meu pai sempre falou muito de história portuguesa e sempre gostei disso. Como não encontrava nada de jeito nas redes sociais, na internet, decidi criar uma página de Instagram dedicada à história portuguesa”, explica.

A página Portuguese Facts surge do gosto pela história, mas também pelo desejo de divulgar e aproximar as comunidades espalhadas pelo mundo à cultura portuguesa. Tiago Martins aposta na criação de conteúdos digitais para fazer chegar o seu conhecimento aos portugueses, mas também atua diretamente nas comunidades e na região. “Tenho um amor imenso pela aldeia dos meus pais, não sei explicar porquê, mas é assim. Desenvolvi um

projeto de arte urbana com artistas do mundo inteiro. Chama-se Aldeia Artística e qualquer pessoa pode visitar”, diz. Ao gosto pela história, literatura e cultura, soma o hábito do colecionismo. Desde moedas, notas, livros, jornais, tudo é considerado uma relíquia para Tiago Martins. Para além de um livro francês de 1900, há um outro objeto que conta uma história especial. “Com a ajuda das pessoas que me seguem nas redes sociais, comprei uma medalha de um soldado português que tinha combatido em França. Decidi entregar essa medalha ao Museu Municipal de Porto de Mós. Graças a essa iniciativa recebi um prémio da Cap Magellan no valor de 500€, que doei aos Bombeiros de Porto de Mós”, conta com orgulho.

Foi graças ao trabalho que tem desenvolvido e do sucesso que tem alcançado nas redes sociais que, mais tarde, surgiu a oportunidade de escrever um livro. O projeto foi desenvolvido em colaboração com Sandra Canivet da Costa, da Cadamoste Éditions, e resultou numa

obra sobre história e gastronomia, que fala sobre a origem de famosos pratos portugueses. “Recebi o convite graças à minha conta de Instagram, mas tinha de ser um livro à minha maneira, ou seja, um livro de receitas e também um livro de história. Colaborei com vários chefes da diáspora que me passaram as receitas e depois acrescentei alguns pormenores de história”, explica.

Graças ao livro L’Histoire du Portugal dans mon Assiette, Tiago Martins foi premiado a nível internacional, na Suécia, ao receber a distinção de melhor livro do mundo da gastronomia lusófona. A primeira edição, que contou com sete mil exemplares, já foi quase toda vendida e para breve está a publicação de uma segunda edição

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Maison du Portugal: um espaço de “diálogo e tolerância” aberto a estudantes e investigadores de todo o mundo

Pela Casa de Portugal já passaram várias personalidades portuguesas, desde o pianista e professor de música Álvaro Teixeira Lopes, ao político português Carlos Moedas. A Casa de Portugal - André de Gouveia é um espaço de convivência científica, cultural e artística para estudantes e investigadores, que residem num espaço de diálogo e tolerância sediado na Cidade Universitária de Paris. Desde setembro de 2023 a Maison du Portugal é dirigida por João Costa Ferreira, pianista e investigador português, doutorado em Música e Musicologia pela Sorbonne Université.

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Na Casa de Portugal residem cerca de 170 estudantes e investigadores de 42 nacionalidades, de áreas que vão desde as artes, medicina, às ciências humanas, sociais ou até políticas. A Casa de Portugal foi inaugurada em 1967 para ser um espaço de investigação científica, cultural e artística que está aberto a estudantes e investigadores de todas as nacionalidades. “O objetivo é que os residentes se encontrem, que conversem, que eventualmente até criem projetos em conjunto e que se conheçam”, explica João Costa Ferreira. A casa tem um Comité de Residentes muito importante para o desenvolvimento de atividades e de acolhimento de novos residentes que chegam dos vários cantos do mundo.

A Maison du Portugal nasceu da vontade de José Henrique de Azeredo Perdigão, na altura presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, de proporcionar aos estudantes e investigadores portugueses as melhores condições de acolhimento em Paris. Na altura em que foi fundada, a casa foi batizada de “Casa dos Estudantes Portugueses”, mas o nome evoluiu com a Revolução dos Cravos, em 1974. No ano da Revolução do 25 de Abril foi rebatizada de «Residência André de Gouveia”, em homenagem ao humanista português do século XVI, mudando depois de nome para Maison du Portugal - André de Gouveia. “A Casa de Portugal insere-se num projeto humanista, universalista, de valores com os quais me identifico muito, como a paz. A casa está aberta não só, obviamente, aos portugueses, mas também a pessoas de qualquer parte do mundo”, diz o diretor da Maison du Portugal.

A Casa de Portugal insere-se num projeto humanista, universalista, de valores com os quais me identifico muito, como a paz ”
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História e evolução da casa

Desenhada pelo arquiteto português José Sommer Ribeiro, a Maison du Portugal apresenta uma arquitetura “moderna e minimalista”, muito habitual na segunda metade do século XX, e o elemento identitário nacional mais presente é a calçada que tem “os desenhos das ondas”, as mesmas que estão presentes na Praça do Rossio, em Lisboa, conforme explica João Costa Ferreira. “O desenho mais modernizado da calçada, feito pelo Gonçalo Ribeiro Teles, evoca as ondas do mar”. Uns anos mais tarde, a Casa de Portugal sofreu obras de reabilitação, entre 2003 e 2007, pelos arquitetos António Virga e Vincent Parreira, onde foi incluída na fachada uma grelha metálica de cor dourada na qual são refletidas as tais ondas do mar que tinham sido desenhadas. “A Casa de Portugal não vive só dos elementos arquitetónicos, mas vive também do seu quotidiano, dos portugueses e de outras nacionalidades que cá estão, mas também das atividades culturais, académicas e científicas que são promovidas”, explica o pianista e investigador português.

Em 2016, a Biblioteca Vieira da Silva e a sala Fernando Pessoa também foram modernizadas, através da mobilização conjunta da Cité Universitaire, da Maison du Portugal e de vários mecenas portugueses.

Programação cultural

As sessões com os escritores Mia Couto, José Eduardo Agualusa e Valter Hugo Mãe estão entre as mais marcantes. A Casa de Portugal todos os anos realiza dezenas de eventos, em parceria com a Cátedra Lindley Cintra da Université Paris Nanterre, com o Leitorado de Língua e Cultura Portuguesa da Université Paris VIII Vincennes – Saint-Denis, com o Camões – Centre Culturel Portugais à Paris e com várias autarquias e instituições culturais e associativas portuguesas, francesas e internacionais. Na Sala Vieira da Silva, a Casa de Portugal acolhe ainda a Bibliothèque Gulbenkian, o maior acervo de língua portuguesa em França. “A presença da biblioteca Gulbenkian só traz mais-valias. Embora a Casa de Portugal tenha também uma biblioteca, a Bibliothèque Gulbenkian traz um fundo importante de 63 mil volumes. É o maior fundo de obras em língua portuguesa fora de Portugal e do Brasil. É de facto muito importante e tem um espaço com condições ótimas para trabalho e investigação”, explica João Costa Ferreira. Até dia 16 de março está a decorrer uma exposição de um residente na Maison du Portugal, através do programa “Os nossos residentes têm talento”. A programação toca áreas artísticas muito diferentes e vai desde exposições, colóquios, seminários e concertos. Uma segunda-feira por mês existe sempre um seminário e este ano a casa recebeu dois seminários sobre os 50 anos do 25 de Abril, assim como um colóquio no âmbito das celebrações da Revolução dos Cravos.

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Direção da Maison du Portugal

Diretor da Casa de Portugal da Cité Internationale Universitaire de Paris, João Costa Ferreira é pianista e investigador português. É detentor do Diplôme Supérieur d’Exécution da École Normale de Musique de Paris e é doutorado em Música e Musicologia pela Sorbonne Université. A tese de doutoramento que desenvolveu incide sobre um compositor português, José Vianna da Mota.

Iniciou os estudos de piano aos 11 anos no Conservatório de Artes do Orfeão de Leiria, mas mudou-se para França para estudar na École Normale de Musique de Paris, onde estudou até 2012. “Não tinha nenhuma ligação com Paris ou com França. Foi por amor à música e pela vontade de conhecer outros pianistas, outros professores no plano internacional que me motivou vir para Paris estudar”, explica João Costa Ferreira.

Em 2023, candidatou-se à direção da Casa de Portugal através de um concurso público. “Tive a sorte de ser bem-sucedido, embora os requisitos tenham sido muito exigentes, mas cada vez mais me dou conta que para desenvolver estas funções é preciso ter um espírito de missão. É preciso haver dedicação a tempo inteiro para que as coisas funcionem bem. Tenho vontade que a casa mantenha a imagem que veio a criar ao longo dos últimos anos. É uma instituição reconhecida internacionalmente onde a expressão e a cultura portuguesa são muito valorizadas”, diz o diretor da Maison du Portugal.

João Costa Ferreira dedicou-se à reabilitação do património musical português através da publicação e gravação das obras de José Vianna da Motta. Em 2018, lançou um disco com a primeira gravação mundial das Cinco Rapsódias Portuguesas, ciclo que marca o início da fase criativa do compositor, caracterizada pelo recurso à música popular portuguesa. Em 2020, lançou o primeiro disco da série discográfica José Vianna da Motta: Poemas pianísticos, dedicada às obras de infância do compositor, disco que recebeu a Menção Honrosa do Grémio Literário. Juntamente com o pianista Bruno Belthoise, gravou a integral da obra para piano a quatro mãos.

Para além dos vários prémios que obteve em concursos de piano, João Costa Ferreira foi distinguido por diversas instituições culturais. Em 2015, foi considerado “Melhor revelação artística” pela associação Cap Magellan e, em 2019, recebeu o “Prémio Cultura – Música” da INATEL Leiria

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João Costa Ferreira Diretor da Maison du Portugal - André de Gouveia

Polifonias à Capella assinalou aniversário da Em Canto

A Igreja de St Justin em Levallois-Perret foi o palco para as comemorações do sexto aniversário da Associação Em Canto, com o II Concerto “Polifonias à Capella”, de entrada livre.

A festa começou com doces e petiscos no exterior, mas rapidamente o calor humano encheu a abadia para uma noite de encanto em que se reviveram memórias e tradições seculares da vida popular.

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O grupo de 18 elementos liderado por Sofia Costa preparou-se ao longo de várias semanas para este serão tão especial e iniciou a atuação com um desfile pelos corredores do santuário entoando modas religiosas, aludindo ao início da Quaresma. A atuação principal teve lugar no altar onde foram interpretadas cantigas antigas como “Josezito” e “Joaninha”, recuperadas pela Em Canto, mantendo os trajes, o sotaque e as expressões originais de cada região.

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Uma interpretação audaz que mereceu os elogios de Filipe Ortigão, Cônsul-geral Adjunto de Portugal em Paris. “Orgulha-nos apoiar esta associação que faz um trabalho meritório numa área tão difícil como é o canto polifónico. É um privilégio para o Consulado poder usufruir deste talento e da persistência que eles têm de treino e de prática numa tradição que é muito válida”.

As convidadas de honra este ano foram as Cantadeiras de São Martinho, de Ponte da Barca, com uma fantástica apresentação de cantigas interpretadas por dez mulheres a quatro níveis de voz. Apesar da logística não ser fácil, foi muito gratificante estar presente neste aniversário, segundo revelou ao Ponto PT Fernanda Barbosa. “É fantástico ver o trabalho notório que o grupo Em Canto tem feito além-fronteiras, se em Portugal não é fácil aqui é ainda mais difícil, e deve ser elogiado por todos. Trata-se de voltar atrás no tempo, e neste mundo atual, só se consegue com um grupo de teimosos, como nós. Foi um prazer vir cá e eles merecem todos os louvores do mundo”.

O público mostrou-se maravilhado. “Arrepiei-me e não foi do frio, fiquei muito emocionada e gostei muito. Foi a primeira vez que assisti a um concerto destes e gostava de saber cantar assim também”, revelou a jovem sorridente Kelly Alves.

Para Joaquim Martins foi um prazer “ouvir estas gargantas à moda antiga dos meus tempos de criança que me trazem boas memórias do trabalho no campo com os meus pais e os meus avós”. É bom haver este tipo de atuação em Paris, segundo Paulo Delgado, que disse que “faz lembrar as nossas raízes e a cultura portuguesa e podemos mostrá-las a todos”. Isabel Martins nunca tinha ouvido um concerto de canto à capela, e “gostei muito, cantaram muito bem e deviam ser todas minhotas (risos). Não conhecia este tipo de canto”.

A presidente da associação, Sofia Costa, não escondeu a satisfação pelo sucesso alcançado. “Correu muito bem e estamos muito contentes que as cantadeiras tenham estado presentes. É sempre bom ver a casa cheia e se as pessoas vêm é porque faz sentido este projeto e estes concertos. Agradeço ao Ponto PT o grande trabalho que está a fazer junto das associações portuguesas em França”.

O espetáculo terminou com todos os elementos dos dois grupos a cantarem o “biba! olé!” em conjunto para gáudio dos presentes

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Paulo Pisco

Deputado do PS eleito pelo Círculo da Europa

A presença portuguesa nos altos de França

Ambleteuse é um pequeno município no departamento de Pas de Calais, junto à fronteira com a Bélgica, a poucos quilómetros de Dunkerque, onde na Segunda Grande Guerra houve violentos bombardeamentos e, durante a Primeira Guerra, foi instalado o Hospital Militar Português da Cruz Vermelha, para cuidar das baixas na frente de combate. Para Portugal, o episódio mais dramático ocorreu na Batalha de La Lys, devido ao elevado número de vítimas entre os soldados que faziam parte do Corpo Expedicionário Português.

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A história de Ambleteuse tem por isso um significado muito especial e ganha uma densidade particular pelo facto de, atualmente, o maire ser descendente de um soldado português que combateu na Primeira Grande Guerra. O nome não engana: Stéphane Pinto.

A história do maire de Ambleteuse confunde-se com a dos portugueses nos Altos de França, pelos que morreram nos campos de batalha e pelos que lá criaram raízes, casaram, tiveram descendentes, organizaram a sua vida e confundiram-se na sociedade.

Fica assim disseminado por toda a região um sentimento difuso de apego às origens lusas, uma certa nostalgia de pertença a um outro país e outra cultura, que toca alguns milhares de portugueses da região, que trabalham, têm empresas ou vão às associações. Mas, passado mais de um século, há ainda muitas coisas por descobrir e contar sobre a presença portuguesa nos Altos de França, trabalho que vários descendentes de portugueses e portugueses estão pacientemente a fazer. Bruno Cavaco é o Cônsul Honorário de Portugal em Lille e tem tido um papel extraordinário na promoção do conhecimento mútuo. As suas origens algarvias vêm do avô, que em 1920 foi ajudar na reconstrução da cidade de Lens, destruída na guerra. António Marrucho, cujos pais emigraram no início dos anos sessenta para trabalhar em Roncq na indústria da borracha, tem feito um trabalho de pesquisa extraordinário, com centenas de horas a vasculhar nos arquivos históricos das instituições públicas para trazer à luz do dia a história dos portugueses. Ou ainda o historiador Jorge Viaud ou Aurore Descamps, neta também de um

soldado português, que agora está a preparar um estudo sobre os casamentos franco-portugueses após a Primeira Guerra Mundial.

A maior evidência da presença portuguesa nos Altos de França, é a celebração anual da batalha de La Lys, em La Couture, onde está um monumento aos mortos portugueses, inaugurado em 1928, e em Richebourg, onde está o cemitério militar português, onde repousam 1831 soldados, classificado desde 2023 como Património Mundial da UNESCO. Desde 2022 que também os municípios de Boulogne-sur-Mer e Ambleteuse se juntaram às celebrações. No cemitério de Boulogne-surMer repousam os corpos de soldados portugueses que morreram na frente de batalha, alguns dos quais foram trasladados do cemitério de Ambleteuse, onde está uma Cruz de Cristo portuguesa.

Mas além destes, muitos outros municípios nos Altos de França são relevantes pela presença portuguesa, que merece ser descoberta, como Roubaix, Tourcoing, Arques, Roncq ou Lille, cidade que tem em exposição permanente um lindíssimo “Cofre de Portugal”, oferecido logo após a guerra pelo governo português como forma de reconhecimento pelo apoio da população da cidade aos soldados portugueses feitos prisioneiros pelos alemães depois da batalha de La Lys.

Este é apenas parte do património humano, material e moral que está presente nos Altos de França, onde os portugueses são parte integrante da construção da identidade da região, consolidada posteriormente por novas vagas de emigração após a Segunda Grande Guerra, desta feita para trabalhar na indústria têxtil e nas minas, neste caso marcando presença uma importante comunidade alentejana de Aljustrel.

É por isso que muitos municípios da região estão geminados com municípios portugueses e outros procuram fazê-lo, porque existe toda esta densidade da história que liga os dois povos. E seria muito importante que cada um à sua dimensão pudesse dar o seu contributo para estreitar estes laços, que se criaram ao longo da história, com sangue, sonhos, suor e lágrimas, que tanto portugueses como franceses podem levar mais longe, procurando aprofundar o conhecimento mútuo e a amizade que nos liga

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Melissa Lopes

Foi em França que descobri que queria ser chef de cozinha ”

Melissa Lopes nasceu em França, mas foi em Portugal que decidiu criar a própria empresa de catering e de “private chef” ao domicílio. A Mel & Sal surgiu pela “paixão enorme pela cozinha” e pelo gosto em partilhar a gastronomia de forma direta com o cliente. A marca surgiu há dois anos, em Lisboa, e presta serviços a particulares, mas também a empresas da capital.

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Foi quando tinha nove anos que Melissa Lopes percebeu que queria viver da gastronomia. O sonho era tornar-se chef, uma paixão que surgiu quando vivia em França com a família, mais concretamente na cidade de Égly. “Em França ficava muitas vezes em casa dos meus avós. Lembro-me perfeitamente da minha avó me colocar em cima da bancada da cozinha e descascar as batatas, as cenouras, e de fazer pão. Isso começou a cativar-me imenso e foi assim que descobri a minha paixão”, explica a jovem chef.

O gosto pela culinária tornou-se tão evidente que, aos 12 anos, Melissa Lopes disse à mãe que queria seguir cozinha, afinal era essa a única possibilidade que considerava para o futuro profissional. “A minha mãe sempre me disse que, independentemente daquilo que quisesse fazer na vida, tinha de gostar daquilo que fosse fazer e eu sabia que era a cozinha que eu queria. Hoje, quando vou trabalhar, eu não sinto que vou para o trabalho, sinto que vou fazer a minha paixão”, conta com entusiasmo.

Foi para ir ao encontro do que mais gosta que aos 16 anos foi estudar para a Escola de Hotelaria e Turismo do Douro-Lamego. Depois de três anos de curso sentiu que precisava de mais e embarcou num curso intensivo de gastronomia na École Ferrières, em França. “Assim que acabei o curso, em 2018, instalei-me em França e fiz um curso intensivo durante um ano. Essa experiência foi muito importante para mim porque tive oportunidade de trabalhar com produtos nobres, com um tipo de matéria-prima que antes nunca tinha trabalhado”, explica a chefe.

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Ainda durante a especialização, Melissa Lopes começou à procura de um lugar num restaurante e foi no JNcQUOI, em pleno centro de Lisboa, que encontrou a oportunidade ideal. “Fui lá jantar antes de partir para França e já nessa altura tinha dito à minha mãe que amava trabalhar lá. O certo é que, quando terminei o curso, consegui. Quando entrei fiquei maravilhada”, diz.

Depois de dois anos e meio na cozinha de um dos restaurantes de referência da cidade de Lisboa, Melissa Lopes decidiu ir atrás do sonho de criança. O Mel & Sal, nome que já tinha na cabeça desde que soube que queria ser chef, surge em 2021 para oferecer o serviço de chef privado, ao domicílio. “Gosto muito de estar em contacto com o cliente, explicar-lhe os sabores que estão no prato, estar em contacto visual com ele e receber um feedback direto”, explica a chef de cozinha.

Para além do serviço de chef privado e de catering para particulares e empresas, a Mel & Sal disponibiliza ementas temáticas, especiais nas alturas festivas. Na altura do Natal, Dia dos Namorados e Páscoa, Melissa Lopes prepara uma ementa especial que entrega na casa dos clientes. “O facto de ter uma paixão enorme pela cozinha nota-se dentro do meu prato e a pessoa já consegue perceber que sou eu. A nível de gastronomia, sou muito defensora da qualidade dos produtos. Tento sempre ter em conta os produtos da época porque o sabor é naturalmente diferente”, defende.

As novidades da Mel & Sal são anunciadas nas redes sociais, nomeadamente na conta de Instagram da marca, e todos os pedidos de orçamento devem ser formalizados por e-mail para o contacto mel.e.salpf@gmail.com

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Cláudia Martins

lançou livro “Desgarradas, Concertinas e Tradições”

Cláudia Martins lançou um livro que homenageia a cultura, enquanto traço característico de um povo. A mentora e vocalista dos Minhotos Marotos quis perpetuar algumas das histórias vividas ao longo de 15 anos de estrada.

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“Um projeto pode ser medido pela longevidade, pelos quilómetros percorridos, pela obra deixada. A arte destaca-se e é eternizada pela quantidade de vidas que toca, mas sobretudo pela forma como estas vidas são tocadas. Em 15 anos de história, tanto poderia ser escrito. O desejo de escrever este livro nasceu com a mesma espontaneidade que nasceu o desejo por aprender a tocar concertina e depois a cantar. Na data de publicação do ‘Desgarradas, Concertinas e Tradições’, o nosso percurso conta com cerca de 18 álbuns editados, 5 EP´s e mais de dois milhares de espetáculos nos cinco continentes”. Estas foram as primeiras palavras de Cláudia Martins no seu livro. Uma ideia que se tornou real, e está agora ao alcance do público. São 15 anos de história, e muito mais, num livro idealizado por Cláudia Martins. “Esta ideia surge para aproximar os nossos fãs da banda e das tradições, surge também com a ideia de nos dar a conhecer um pouco melhor”, começou por dizer Cláudia Martins em exclusivo ao Ponto PT.

O livro conta com a participação de alguns amigos, entre os quais Augusto Canário e Capela Miguel. A FNAC do Guimarães Shopping acolheu a apresentação, que contou com sala cheia de pessoas especiais. “É incrível ver a sala assim, desde amigos de longa data, a família mais próxima, os elementos dos Minhotos Marotos e outros que já passaram pelo projeto, a emigrantes que é um ponto fundamental dos meus espetáculos”, sublinhou. Este livro fala dos 15 anos do projeto musical Cláudia Martins & Minhotos Marotos, desde a génese, à evolução, revelando ainda pormenores e histórias nunca contadas. “É uma vitória para ela, e vejo com muita felicidade. Eu gosto muito de celebrar as vitórias dos meus amigos, e a Claúdia é daquelas pessoas que dá gosto ver a vencer. Ela tem a particularidade de nunca estar parada: ou é o livro, ou a música, ou a imobiliária. Estou só à espera de perceber o que ela vai fazer a seguir. É sempre uma delícia ver porque são pessoas como a Claúdia que me inspiram, que estão sempre à procura de mais e a criar”, disse orgulhoso Santiago Lagoá.

Também o seu amigo e companheiro de profissão Zé Amaro marcou presença na apresentação do livro. “A Claúdia é capaz de unir as massas, capaz de reunir estas pessoas todas. É uma pessoa que admiro muito, é uma amiga, é uma companheira de estrada, ela sabe o que são as sofrências desta vida de artista e está de parabéns porque é uma mulher de armas e de luta”. Também o colega e amigo Quim Barreiros não faltou, estando na primeira fila atento a toda a apresentação. “Uma pessoa como a Claúdia, humilde, bondosa, uma grande artista, sempre pronta para colaborar em qualquer coisa, merece tudo. Parabéns a ela, foi uma apresentação muito bonita”.

A promoção do livro passará também pelos espetáculos de Cláudia Martins, em que as comunidades portuguesas não ficam de fora.

Um livro onde a música e as tradições caminham juntas e se enriquecem mutuamente. Cada página, é um agradecimento a quem acreditou, a quem ajudou, a quem fez parte e nunca desistiu de um projeto que celebra 15 anos

47 PORTUGAL
Emigrantes regressam a Portugal para visitar Feira do Fumeiro de Vinhais

A feira do fumeiro mais antiga do país esteve de regresso a Vinhais, de 8 a 11 de fevereiro. Cerca de 80 produtores, metade do concelho e os restantes do distrito de Vila Real, venderam os enchidos que produziram durante todo o inverno. A 44ª edição do evento contou com cerca de 80 mil pessoas durante os quatro dias de evento. Muitos emigrantes, de vários pontos da Europa, deslocaram-se de propósito a Portugal para visitar a feira.

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A Feira do Fumeiro de Vinhais, a mais antiga do país, é atração para muitos portugueses que vivem todo o ano no estrangeiro. Com ligações à vila raiana portuguesa, do distrito de Bragança, muitos emigrantes aproveitam o período de férias de Carnaval para matar saudades de Trás-os-Montes. Inácio Teixeira nasceu em Hamburgo, na Alemanha, mas viajou de propósito para Portugal para levar as alheiras de Vinhais na mala de viagem. “A minha mãe é de Vinhais e o meu pai é do concelho de Resende. Venho porque é uma tradição. São coisas que estão a desaparecer e acho que ainda é uma das maiores riquezas que o país tem. É por isso que temos de dar valor”, diz. Na mala vai levar chouriça, alheiras e salpicão que lhe vão fazer lembrar os paladares portugueses em território germânico.

De propósito para visitar o certame, a família Alves também se deslocou a Vinhais. A trabalhar na província de Ourense, Horácio Alves e a família regressam todos os anos para provar e levar os melhores produtos da região. “Todos os anos não falho. Temos casa aqui, ficamos cá, e amanhã arrancamos outra vez para lá. Este é um produto que trazemos no coração desde sempre, desde que éramos pequeninos e fazíamos a matança em casa”, recorda. No saco de papel já levam linguiças, alheiras, “rojõezinhos da zona” que fazem perdurar o paladar de Trás-os-Montes durante todo o ano.

Do lado de quem produz, a Feira do Fumeiro de Vinhais reúne produtores do concelho, mas também de toda a região de Vila Real. Catarina Santos mudou de vida há 12 anos, com o marido e os sogros, e começou a produzir fumeiro em São Vicente da Raia, no concelho de Chaves. “Fazemos fumeiro a partir do nosso produto, a partir dos nossos porcos que criamos em casa. Aprendi com a família do meu marido que era da aldeia, com os tios e as tias, porque eu não sabia nada”, explica. Com produção artesanal, é a partir de casa que produzem e vendem os produtos da “Enchidos São Vicente da Raia”.

Do outro lado do corredor, junto a uma das entradas da feira, Luís Lopes sente uma maior procura pelas alheiras. Com a distinção da plataforma TasteAtlas, que colocou a alheira de Vinhais no patamar da melhor do mundo, a procura por este produto regional intensificou. “Os meus pais fizeram a feira durante muitos anos, mas este foi o meu primeiro ano. Graças a Deus está a correr bem, já houve bastantes vendas, e esperamos que até ao final do evento desapareça tudo. A alheira este ano foi considerada a melhor do mundo e há muita procura”, explica Luís Lopes, natural da aldeia de Vilar de Lomba, em Vinhais.

A gastronomia portuguesa tem sido destacada como a melhor gastronomia do mundo e, a partir de Vinhais, saiu o considerado “melhor enchido do mundo”. “O facto de haver essa distinção, por uma revista tão conceituada, leva a que haja uma maior procura, logo a partir do momento em que foi anunciado. Este é um concelho em que o fumeiro é um dos produtos mais importantes, é o que alimenta o tecido económico do concelho”, explica Luís Fernandes, presidente da Câmara Municipal de Vinhais.

Segundo a organização do evento, “são vários os fatores que contribuem para a qualidade” do fumeiro de Vinhais, desde logo o clima da região que é frio e seco na altura das matanças, o que ajuda a uma boa cura das carnes e do fumeiro

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Crianças animam tradição do Entrudo Chocalheiro em Podence

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Chocalhar as raparigas solteiras, festejar a passagem para a vida adulta e dar as boas-vindas à primavera, são vários os motivos que explicam a tradição. Os Caretos de Podence estiveram em vias de desaparecer, devido à despovoação da aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, mas os jovens vêm de todo o país para não deixar morrer o Carnaval transmontano. Distinguida como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em dezembro de 2019, a tradição está mais viva do que nunca.

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Na pequena aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, já são poucos os Caretos nascidos em Podence. No meio de centenas de pessoas, que visitam a aldeia na altura do Carnaval, e dos Facanitos, crianças que aprendem a chocalhar, são apenas dois os homens vestidos a rigor que nasceram na aldeia. João Alves nasceu há 54 anos em Podence e veste um fato de 1980, cosido à mão por uma tia. “Sou dos únicos da aldeia que anda assim vestido porque os outros têm vergonha, mas eu visto este fato com orgulho. É uma tradição bonita que já esteve muito apagada”, conta.

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A tradição, que esteve em vias de desaparecer, ganhou novo fôlego com a distinção da UNESCO. Em dezembro de 2019, ao ser considerada Património Cultural Imaterial da Humanidade, ganhou nova visibilidade e interesse por parte dos jovens. Fernando da Costa também nasceu em Podence e veste um disfarce original, confecionado por um sobrinho que já faleceu. “Quando vestimos isto parece que ganhamos outra vida, parece que não temos idade. Tenho 65 anos e parece que tenho 20. Isto não tem palavras e é uma tradição que vai crescer cada vez mais. Os meninos mais novos estão a gostar muito e não estão a deixar morrer a tradição”, diz com orgulho um dos últimos Caretos nascidos na aldeia.

Jovens de todo o país querem ser Caretos

O Ponto PT visitou a pequena aldeia de Podence em dia de “Facanitos à solta”. Os Facanitos, crianças que tentam imitar os Caretos, cumprem o ritual de iniciação e garantem a continuidade da tradição. Jorge Barbosa é de Braga, mas desde que nasceu, há 13 anos, que se veste de Facanito. “Sou de Braga, mas tenho família cá. Gosto e tenho uma paixão muito grande pelos Caretos e a minha mãe ajuda na organização. Uma parte da minha família está relacionada com isto”, diz o jovem bracarense.

São as crianças e jovens com ligações a Podence que dão continuidade ao Carnaval transmontano. José Liberal é transmontano, mas são os netos que dão vida ao Carnaval da terra. “Os meus netos gostam muito de Trás-os-Montes, nomeadamente da minha terra, de Macedo de Cavaleiros. São do Porto, mas gostam muito destas tradições, gostam dos Caretos, e por isso há dois anos que vestem os fatos”, explica.

“Os meus netos gostam muito de Trás-os-Montes e vieram do Porto para se vestirem de Facanitos”
“O meu fato é original, de 1980. Sou dos únicos Caretos da terra que se veste a rigor”
José Liberal João Alves
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“Sou aqui de Podence e já me visto de Facanito há três anos.
Gosto muito desta tradição”

Segundo a Associação Grupo dos Caretos de Podence, só na aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros há cerca de 100 fatos e 40% dos Caretos são jovens. Para António Carneiro, presidente da associação, um dos objetivos da festa é continuar a passá-la de geração em geração. “Estamos a conseguir. Cada vez há mais fatos de Careto. É sinal de que a tradição está enraizada e viva, acima de tudo”, afirmou à agência Lusa.

O Entrudo Chocalheiro de Podence começou no dia 10 de fevereiro e estendeu-se até à terça-feira de Carnaval. Os Caretos voltaram a encontrar-se no mesmo local para levar o carro até à Eira, onde queimam o Entrudo na forma de um mega Careto, que pelo fogo leva o que é mau, o frio do inverno, e dá as boas-vindas à primavera que vai chegar.

O evento leva cada vez mais pessoas à aldeia transmontana com cerca de 200 habitantes, e representa um investimento de 30 mil euros. Segundo um estudo feito recentemente e citado por António Carneiro, gera um retorno para a região entre quatro e cinco milhões de euros

“Isto dá alegria, ver a gente a sorrir. O país precisa disto para esquecer a miséria e a tristeza”

Fernando da Costa David Damião
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Samba e folia

animaram Carnaval de Ovar

Este ano, o mau tempo anunciado não estragou a festa do Carnaval de Ovar e o último dia trouxe sol para o Grande Corso Carnavalesco. O cortejo contou com 14 grupos carnavalescos, seis de passerelle e quatro escolas de samba. A autarquia investiu 700 mil euros nos festejos, que decorreram durante vários dias e que receberam cerca de 100 mil visitantes de todo o país e do estrangeiro.

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É de alegria, cor e muita folia que se faz o Carnaval de Ovar, uma tradição centenária que já faz parte do ADN da cidade do distrito de Aveiro. Na terça-feira de Carnaval, já depois de vários dias e noites de festa, o grande corso carnavalesco saiu à hora marcada da Avenida Sá Carneiro. Os carros alegóricos formaram fila e os foliões prepararam o passo para o derradeiro desfile do ano. “Entrei em 2005 no mundo do samba, já são uns aninhos. Ser madrinha é um sonho tornado realidade, é muito bom. É muito amor envolvido no desfile, é uma coisa que não dá para explicar”, diz Isabel Brandão, que assume pela primeira vez o papel de rainha de bateria na escola de samba Costa de Prata.

Aos grupos de samba juntaram-se os grupos carnavalescos e os elementos de passerelle que fizeram do momento do desfile uma autêntica festa. As Melindrosas, grupo de passerelle composto por mulheres, inspiraram-se no Carnaval de Veneza para encher o desfile de cor e alegria. “O Carnaval já me corre nas veias e já nem sei como se faz fora do Carnaval. Este ano representamos o amor entre Columbina e o Arlequim e temos toda uma coreografia envolvente dessa história”, explica Maria Silva, uma das figurantes do grupo.

No decorrer do desfile, que apresentou diversos temas como a cultura africana ou a biodiversidade da floresta da Amazónia, houve ainda espaço para uma homenagem. O grupo formado totalmente por homens, os “Pinguins” optaram por dedicar o desfile a um amigo que partiu. “A finalidade é homenagear um amigo nosso, esse é um dos objetivos, o outro é brincar ao Carnaval e fazê-lo feliz lá em cima. O nosso grupo é quase família e temos homens que participam há mais de 50 anos, mas também crianças que estão cá há cerca de três anos”, diz Vítor Martins. O grupo de foliões este ano escolheu um tema relacionado com o motociclismo, enquanto prestou uma homenagem ao amigo Artur.

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Carnaval de Ovar recebeu mais de 100 mil pessoas

A assistir aos cortejos, mas também a participar nos vários eventos que decorreram durante o mês de janeiro e fevereiro, estiveram cerca de 100 mil pessoas de todo o país e do estrangeiro. Nicholas viajou de França para Portugal para assistir ao Grande Corso Carnavalesco de Ovar. “Sou de Paris e estou de férias com a minha namorada. Ela vive cá, por isso vim para ver o cortejo pela primeira vez. É divertido, sobretudo para as crianças”, diz.

Se há quem venha de longe, Daniel Silva tem o Carnaval mesmo aos pés. Todos os anos assiste e festeja o Carnaval na cidade onde vive. “É o melhor Carnaval do país e não preciso de ir para muito longe. Felizmente sou daqui, tenho essa sorte”, afirma. O corso do Carnaval de Ovar é avaliado por uma equipa de júris, que todos os anos avalia a prestação dos vários grupos presentes. Este ano os Pindéricus venceram pela primeira vez, ao fim de 52 anos de participação. As Barulhentas são tricampeãs de Passerelle e a hegemónica Costa de Prata vence os prémios das escolas de samba pela sétima vez

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Domingos Silva

Presidente da Câmara Municipal de Ovar

Não dizemos que somos o melhor, mas somos diferentes. Existe toda uma alegria que é transmitida desde a avenida, também para as pessoas que estão a assistir. Existe uma simbiose que é muito nossa ”

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Arcop de Nanterre

celebrou 40 anos com tradições portuguesas

A Associação Arcop de Nanterre celebrou, no dia 3 de fevereiro, 40 anos de associativismo. O grupo foi fundado em 1984, por um grupo de amigos que formou uma equipa de futebol. Dez anos depois, surgiu o grupo de rancho da Arcop de Nanterre, que completa 30 anos de existência. A associação celebrou durante dois dias com cantares ao desafio, uma noite de rusgas e um festival folclórico à boa moda portuguesa.

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58 ASSOCIAÇÃO EM DESTAQUE

Foi no dia 3 de fevereiro de 1984 que um grupo de amigos, todos eles portugueses, das regiões de Monção e Melgaço, decidiram criar uma equipa de futebol que deu origem à associação Arcop de Nanterre. O grupo começou sem qualquer tipo de apoio, até que surgiu o interesse por parte da autarquia de Nanterre. António Souto, que faz parte do grupo de fundadores, recorda-se do dia em que tudo começou, quando tinha pouco mais de 20 anos. “Éramos uma equipa formada por amigos e família. Éramos nós que pagávamos tudo, o campo de futebol, a roupa e tudo. Depois, o nosso presidente, que era o Sr. Jaime Alves conseguiu entrar em acordo com a Câmara Municipal de Nanterre. Foi nessa altura que viemos para cá e que a câmara nos deu os campos, salas e tudo”, recorda.

Mais tarde, dez anos depois, a associação alarga a atividade e surge o grupo de ranchos da Arcop de Nanterre. Assim, a associação ficou ainda mais próxima da cultura e costumes portugueses, que todos os anos fazem dos eventos da associação uma autêntica festa portuguesa. “Costumo dizer que, praticamente, de dois em dois meses temos festa na

associação. Sem falar dos convívios que fazemos todos os fins de semana e feriados”, destaca Manuel Brito, presidente da Arcop de Nanterre há 22 anos.

As festas começam logo depois das férias, no mês de novembro, com um evento folclórico na sala de congressos de Nanterre. De carácter solidário, o objetivo é “ajudar as pessoas que mais precisam”, segundo destaca o presidente. Um mês depois, em dezembro, realiza-se a festa de Natal dos sócios da associação, para depois, em fevereiro, se celebrar o aniversário da Arcop de Nanterre. Depois de vários eventos de celebração, é no Domingo de Ramos, que este ano se assinala a 24 de março, que acontece a mais importante festa da comunidade, a “festa da saudade”.

59 ASSOCIAÇÃO EM DESTAQUE

membro fundador:

“Continuo a vir a todos os eventos e a apoiar a associação”

Manuel Brito presidente:

“Os nossos filhos hoje têm orgulho de serem portugueses. Isso é muito bonito, estão todos de parabéns”

Feira de Nanterre: a maior romaria portuguesa no estrangeiro

É considerado um projeto de sucesso a vários níveis, desde o número de autarquias que mobiliza, aos milhares de pessoas que reúne no evento. A Feira de Nanterre já acontece há 21 anos, na Espace Chevreul, e é a maior mostra de produtos regionais portugueses em França. “É a única festa, feira e romaria que se faz fora de Portugal”, e que enche de orgulho Manuel Brito, o presidente da Arcop de Nanterre que deu vida à romaria. “É considerada a festa da saudade e é uma festa única. Convidamos as câmaras que trazem os comerciantes das vilas deles para promover cá. É uma feira que tem tido muito sucesso, atualmente temos 21 municípios, mas se tivéssemos espaço para mais ainda tínhamos mais”, diz com orgulho.

A feira, que se celebra todos os anos no Domingo de Ramos, vai contar com a presença de três novas regiões portuguesas: Mogadouro, Valença do Minho e Fafe que se juntam aos restantes municípios.

Arcop de Nanterre celebra 40 anos de atividade

A Arcop de Nanterre, que conta já com mais de 200 associados, celebrou este ano 40 anos de existência. A festa começou no dia 3 de fevereiro, com cantares ao desafio, um jantar e uma noite de rusgas e só terminou no dia 4 de fevereiro com o festival folclórico e um convívio com todos os associados. “É sempre um orgulho ter a casa cheia e ter o apoio humano, o apoio das tradições. Precisamos de responsáveis associativos, mas também precisamos do povo e quanto mais formos, todos unidos, mais fazemos”, diz Manuel Brito.

A associação Arcop de Nanterre, para além de servir a comunidade portuguesa, através de um apoio jurídico disponível todas as quartas-feiras, ajuda durante todo o ano os mais carenciados. Para além do apoio que presta à Santa Casa da Misericórdia de Paris, a associação já doou 38 mil euros a pessoas carenciadas

60 ASSOCIAÇÃO EM DESTAQUE

RETROUVEZ-NOUS

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Carlos Oliveira

Cônsul-geral de Portugal em Paris

As manifestações clássicas do movimento associativo estão a perder velocidade” ”

Em entrevista exclusiva ao Ponto PT, o Cônsul-geral de Portugal em Paris falou do trabalho consular, da comunidade portuguesa e do respetivo movimento associativo, o qual “fatalmente está a conhecer algumas modificações”. Carlos Oliveira abordou ainda, entre outros assuntos, a questão da participação política, sabendo-se das eleições legislativas recentes, que aconteceram em Portugal a 10 de março.

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62 NA PRIMEIRA PESSOA

O desafio neste momento é tentar perceber o que acontece com a comunidade

Está no Consulado de Portugal em Paris há praticamente quatro anos. Quais foram os principais desafios que encontrou até ao momento?

Eu cheguei a Paris coincidindo com a covid-19, portanto, o primeiro grande desafio foi tentar perceber como é que num posto que recebia 500 a 600 pessoas por dia íamos abordar essa situação completamente nova, que dificultava o serviço. Acabamos por conseguir passar esse período, que foi longo, tentando dar prioridade ao que realmente tinha urgência. Depois, tivemos uma segunda fase, porventura tão difícil ou mais que a primeira, que foi tentar recuperar e dar conta das situações que já não eram urgentes, mas que se foram acumulando, pelo facto de a pandemia ter dificultado, ou inviabilizado o atendimento. Agora, assiste-se a uma certa normalização e o desafio neste momento é tentar perceber o que acontece com a comunidade, as modificações no comportamento do público, decorrentes da pandemia

e do seu termo. As pessoas solicitam o posto em menor número, mas, em contrapartida, aumentaram bastante os pedidos de passaporte, porque as limitações a viajar deixaram de se verificar. Paralelamente, assiste-se a uma certa diminuição dos pedidos de documentos de identificação, que se prende com a validade dos cartões de cidadão, havendo menor necessidade de renovações.

Neste momento, o que temos como prioridade é procurar responder com mais rigor às necessidades que aparecem, ajustando os funcionários à variabilidade da procura e de acordo com o tipo de solicitação apresentada. Foi muito importante ter-se feito algum trabalho no sentido de dar a maior polivalência possível aos funcionários. Isso foi muito útil, aproveitou-se um pouco a covid para se colocar em prática essa dinâmica e, nesta fase, ajuda aos bons resultados.

63 NA PRIMEIRA PESSOA

Relativamente à falta de recursos humanos que chegou a ser apontada pelo consulado, essa dificuldade já foi ultrapassada?

Acabámos por ter uma resposta muito boa de Lisboa. Apesar da demora, apesar de terem sido muitas as insistências, finalmente tivemos a reposição de todos os funcionários que tínhamos perdido. O consulado nos últimos cinco, seis anos, perdeu bastantes funcionários, a maioria dos quais por passarem à aposentação. Essa perda, que atingiu proporções enormes, tinha de ser travada, porque senão deixaríamos de conseguir trabalhar. Felizmente, Lisboa ouviu as nossas queixas e a situação foi retificada. Neste momento, existem inclusive concursos abertos, com desfecho para breve, o que permite estarmos um bocadinho mais à vontade para dar uma resposta adequada às solicitações do público. Depois de um período muito difícil, em que tínhamos longas esperas para marcação, nota-se uma melhoria significativa. Nesta fase não há quase espera para a maioria dos serviços.

Feita a reposição de funcionários, as necessidades estão neste momento supridas?

Diria que neste momento os recursos humanos já não são uma preocupação. Porém, as partidas para a aposentação vão continuar a existir, a cada ano vai haver duas, três pessoas que saem. Portanto, é preciso manter a presente atuação, esta linha de substituição e reposição, senão voltaremos à mesma situação que tínhamos há três anos. Estou confiante que existirá esse cuidado e que se dê uma reposição imediata de efetivos, como sucedeu no ano findo.

Uma das críticas mais frequentes ao posto era o atendimento telefónico, que era praticamente impossível de garantir. As pessoas protestavam, e com alguma razão, pois tentavam ligar para o Consulado-geral e não conseguiam. Esta situação acabou por ser resolvida pelo Centro de Atendimento Consular (CAC) fixado em Portugal e que foi uma das boas iniciativas do Governo, agora cessante. O dispositivo funciona bem e a nossa articulação com o CAC é

excelente. Portanto, se nós detetamos dificuldades, verificam-se de imediato os acertos necessários, tendo em vista responder da melhor forma ao solicitado. Se urgência houver, ela é devidamente assinalada e a questão colocada pelo interessado será encaminhada mais rapidamente para nós.

Quais os principais assuntos que têm chegado ao Consulado?

Não há uma modificação substancial no tipo de pedido que nos é apresentado, continuando o posto a responder em termos de identificação, registo civil e notariado. Há uma retoma acentuada daquilo que é o Serviço Social, o serviço orientado para apoiar aqueles que vêm aqui em situações de dificuldade. A covid trouxe maior vulnerabilidade e esses efeitos ainda se fazem sentir. Temos de facto muitas pessoas que nos solicitam e muitas vezes reclamam o seu regresso a Portugal por se encontrarem em situações de absoluta carência, infelizmente algo cada vez mais comum e não só em Paris. Os problemas que afligem muitos dos franceses também tocam os nossos nacionais que cá se encontram.

Como é que tem sido a sua relação com a comunidade portuguesa?

Estive colocado em França, no fim dos anos 90 e algumas das pessoas desse tempo ainda estão por cá, muitas delas ocupando situações de relevo na comunidade. Digamos que não se trata de uma comunidade que eu desconhecia completamente. É verdade que a covid parou todas as atividades, portanto, no início do meu mandato e durante quase dois anos a comunidade não se apresentou nos moldes habituais, sendo quase invisível. Só nestes últimos dois anos tive mais proximidade e convívio com a comunidade e as suas iniciativas. Acho que a comunidade ainda tem muito do que era típico da primeira e segunda geração, mas há realmente hoje uma forma de estar diferente. Há uma presença portuguesa em todos os segmentos da sociedade francesa. Não há quase domínio nenhum onde não haja um português que se evidencie, ou pelo menos que se integre facilmente

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no meio profissional e social onde se insere. Foi esta a mudança mais importante que encontrei. Falar de comunidade portuguesa é ainda falar de movimento associativo, relativamente ao qual temos tido uma preocupação de acompanhamento. Nesse sentido fizemos já dois inquéritos, a espaço de dois anos, para avaliar como se apresenta, que desafios conhece e como lhes está a fazer face. Deve concluir-se que o movimento associativo, fatalmente, conhece algumas modificações e, provavelmente, não podia ser de outro modo. E não vejo isso como um aspeto particularmente preocupante ou negativo.

Pode dar alguns exemplos dessas modificações no movimento associativo?

As iniciativas que o movimento associativo concretiza já não são necessariamente as mesmas e o público a que se dirige já não é forçosamente o mesmo. Vão aparecendo algumas coisas novas, novos temas que começam a ser explorados. O movimento associativo cumpriu uma função muito importante nos anos 60 e nos anos 70, acolhendo e ajudando à integração dos nossos nacionais, mas é natural que essa função não lhe seja exigida atualmente. Felizmente, algumas das nossas associações começam a abrirse a outras comunidades, mostrando uma vocação solidária, até porque as dificuldades experimentadas por muitos dos portugueses em França, nos anos 60, são hoje as dificuldades de outras pessoas, provenientes de outras geografias. Estamos a construir em conjunto a Europa, portanto, os portugueses que hoje aqui chegam, não estão necessariamente à espera de uma associação para os ajudar. O mundo, desse ponto de vista, e no que diz respeito à comunidade portuguesa, mudou. Se por um lado há uma presença de portugueses e franceses de origem portuguesa espalhada por todo o tecido social francês, por outro

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lado, certas manifestações clássicas e típicas do movimento associativo estão a perder velocidade, não tendo o impacto do passado. É a ordem natural das coisas e não acho que isso seja particularmente dramático.

Relativamente às eleições legislativas em Portugal, que trabalho foi feito pelo Consulado de Portugal em Paris para a sensibilização ao voto à distância?

Prestamos a informação que entendemos ser necessária, e de acordo com as instruções que recebemos de Lisboa, no sentido de fazer com que as pessoas percebam que têm esse momento de participação na vida política do país, oportunidade que importa aproveitar. Por outro lado, publicamente, quando me desloco no terreno e desde que o ambiente me pareça adequado, faço alguns alertas nesse sentido. No entanto, se defendemos a integração, se defendemos a participação na vida política francesa, porventura teremos de aceitar que os portugueses no estrangeiro não estejam tão preocupados com a realidade nacional, sobretudo quando nos referimos a terceira e quarta gerações de franceses de origem portuguesa. Na verdade, noto que na comunidade portuguesa há sempre um forte orgulho em se ser português e há sempre um enorme carinho por Portugal, inclusive até se assiste a um movimento de redescoberta de Portugal nas novas gerações. Mas convirá ter presente que a vida dessas pessoas se faz essencialmente em França. Há, por isso, que aceitar as dinâmicas que acontecem, ainda que a participação de todos os nossos nacionais na vida política portuguesa se mantenha um objetivo.

Relativamente ao ensino do português em França ... concorda que é preciso fazer um trabalho no sentido de promover o ensino da língua junto dos jovens e crianças lusodescendentes?

Tenhamos esperança de que se continue a fazer o necessário para que o português se mantenha visível em França. Há uma ideia de que a nossa língua

faça parte dos currículos franceses, o que me parece justo e razoável. É um processo complicado porque implica a colocação de professores e exige também um relacionamento feliz com as autoridades francesas a todos os níveis. É de facto uma matéria bastante complexa, inclusive com interesses contraditórios entre os diferentes protagonistas.

Os órgãos de comunicação social que comunicam em português, como é o caso do Ponto PT, podem ter um importante papel na aproximação da língua às comunidades?

Temos tido parcerias boas, colaborações importantes com a comunicação social da diáspora, com grande utilidade para todos os envolvidos. Para nós, que muitas vezes pedimos que ajudem na divulgação da mensagem, e para todos. Essa convivência tem sido profícua e estou certo de que vai continuar a ser assim.

Que apoios existem para os órgãos de comunicação social da diáspora portuguesa?

Há um diploma de 2017 que dispõe sobre as modalidades de apoio ao movimento associativo. A Direção Geral dos Assuntos Consulares das Comunidades Portuguesas é chamada a avaliar projetos que lhe são submetidos em determinado calendário e depois atribui subsídios a esses projetos, conforme critérios bem estabelecidos, para benefício dos atores do movimento associativo. Muito recentemente a comunicação social passou a beneficiar de um regime muito semelhante a esse que se aplica às associações. Já existe a lei, que acaba de ser publicada, e os procedimentos terão lugar muito em breve e irão estender-se até meados do próximo ano, para apresentação de projetos por parte dos órgãos de comunicação social. Penso que é uma abordagem possível. Não se trata de patrocinar, ou viabilizar, os órgãos de comunicação social, trata-se de ajudar essas entidades na realização de acontecimentos ou eventos, muito semelhantes àqueles que seriam protagonizados pelas associações. Não é propriamente um apoio direto à comuni-

cação social, mas não deixa de constituir uma vantagem, até porque como se sabe, na prática, muita da comunicação social comunitária está igualmente implicada na realização de iniciativas dirigidas à comunidade e que implicam custos. O diploma permitirá que esses projetos venham a ser subsidiados

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Pedro Bianchi Prata É um capacete com uma decoração muito especial, tem-me dado muita sorte

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Pedro Bianchi Prata, piloto de enduro e todo-o-terreno, é embaixador da Associação Sara Carreira desde 2023. É através da divulgação e das corridas que faz pelo mundo fora que o piloto, natural do Porto, ajuda a associação a ganhar visibilidade.

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Desde que se tornou embaixador, utiliza em todas as provas um capacete com uma pintura exclusiva da associação. Na última prova do Campeonato do Mundo, onde se sagrou campeão, Pedro Bianchi Prata correu com o amuleto da sorte. “É um capacete com uma decoração muito especial, tem-me dado muita sorte. Desde que o uso ainda não perdi nenhuma corrida. Falamos do Campeonato do Mundo de 2022, o de 2023 e agora já estamos a entrar em 2024 com estas cores no meu capacete. Dá-me uma tranquilidade, parece que estou a ser acompanhado por alguém lá em cima e isso é ótimo. Cada vez que vou a um país diferente ou a um sítio diferente com o capacete, mando uma foto ao Tony a dizer: ‘Hoje estamos nas dunas de Marrocos ou hoje estamos nas dunas da Arábia Saudita’. É giro porque o capacete acaba por me acompanhar para todo lado”, revela com emoção Pedro Bianchi Prata.

Enquanto embaixador, o piloto português marcou presença na Gala da Associação Sara Carreira, que decorreu em dezembro no Altice Arena, onde ajudou a cumprir um sonho. Quase como por “magia”, Pedro Bianchi Prata apareceu no palco do evento para anunciar que a Associação Sara Carreira decidiu garantir o transporte dos alunos do Centro de Apoio à Aprendizagem de Odivelas, para conhecerem a cidade onde o piloto nasceu, o Porto. “É a segunda gala que eu vou e é uma emoção grande porque se vive uma onda de amor de toda a gente que está ali presente. Acaba por ser um sentimento de dever cumprido, ou seja, estou a fazer o meu papel para ajudar jovens que precisam e é gratificante ver o percurso que esses jovens estão a tomar e a perceber que o trabalho da associação está a dar frutos”, diz Pedro Bianchi Prata.

Dois meses depois do grande evento da Gala da Associação Sara Carreira e num momento muito importante na vida pessoal de Pedro Bianchi Prata, que acaba de cumprir o sonho de ser pai, o Ponto PT esteve à conversa com o piloto, que nos falou das conquistas profissionais de 31 anos de carreira desportiva.

Quando e como é que surgiu a paixão pelas motas?

Acho que a paixão pelas motas surgiu desde sempre na minha vida. Os meus pais tinham uma mota para andarem no dia-a-dia, os meus tios todos tinham motas e eu desde pequeno que tenho fotografias já agarrado ao volante da mota. Acho que mal sabia andar e já me sentava em cima de uma mota. Depois, o meu pai, quando eu tinha onze anos e a minha irmã nove, deu-nos uma mota para dividirmos, para andarmos na nossa quinta, mas era sempre eu que andava. A partir daí nasceu uma paixão muito grande por andar de mota no todo terreno e nos caminhos que circundavam a nossa quinta, no Marco de Canaveses. Mais tarde, surgiu o gosto pela competição. Fui ver uma corrida, por acaso, do irmão de um amigo meu em 1991, em Vila Nova de Famalicão, e gostei muito. Fui pedir aos meus pais se podia experimentar na próxima corrida que houvesse e foi uma bola de neve. Depois de ganhar o primeiro campeonato de iniciados, fui contratado para ir para uma equipa mais profissional e a partir de 1994 estive dedicado a tempo inteiro a piloto profissional. Acaba por ser a minha vida há 31 anos.

Tem uma ligação especial com o Marco de Canaveses?

Sim, os meus avós tinham uma casa de família lá, que já vem do tempo dos meus bisavós. Passava na Livração todas as minhas férias, desde pequeno, com a minha família toda. Mais tarde, os meus pais compraram uma parte da quinta ao meu avô e fizemos lá uma casa nossa, que é a casa onde eu vivo no Marco e onde tenho também uma pista e um offroad center. Por isso, sempre tive uma ligação muito estreita com o Marco de Canaveses, desde que nasci que vou para lá de férias e continuo apaixonado pelo Marco de Canaveses. Tenho muitas saudades.

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Quando é que se deu o clique para a competição?

Foi natural, uma pessoa acaba por não se aperceber que está a acontecer. Andava de mota porque gostava e ia dar umas voltas ao monte com os amigos, ao fim de semana. Depois, comecei a ir todos os dias, a aperfeiçoar as minhas aptidões e percebi que tinha jeito e que, quanto mais treinasse, mais jeito tinha. Não interessa só ter jeito, se uma pessoa não se esforçar e treinar muito os resultados não aparecem. Acabou por ser uma coisa natural e quando me apercebi, já fazia parte da minha vida a tempo inteiro.

Tem um percurso de vários anos. Quais as maiores conquistas que conseguiu até hoje?

Durante muitos anos fiz só campeonatos em Portugal e tenho oito campeonatos nacionais ganhos. Depois, dediquei-me aos rallys internacionais, como o Rally Dakar, e terminei o Rally Dakar 12 vezes. Em competições internacionais, sou cinco vezes campeão da Europa, quatro vezes campeão do Mundo e sou o português com mais medalhas do campeonato do Mundo por seleções. São 31 anos de corrida. Diz-se muito rápido, mas passaram muitas coisas nestes 31 anos.

Qual é que é o segredo para conseguir atingir este sucesso?

O segredo é o foco, é a dedicação, o profissionalismo, é perceber o caminho que queremos seguir e, a partir desse momento, traçar uma linha e lutar pelo que queremos. As coisas não aparecem na vida de mão beijada. Tudo na vida dá muito trabalho e, em qualquer profissão, seja sentado no escritório, ou a andar de mota, se uma pessoa não se dedicar a 100% e não trabalhar para os seus objetivos, as coisas não aparecem. Durante estes anos todos foi sempre esse o meu foco, o meu trabalho.

Quais são as principais dificuldades desta modalidade?

Portugal é um país pequeno e o mercado do desporto motorizado é pequeno. Não se vendem assim tantas motas que permita às marcas apoiar tanto os pilotos.

Eu não me posso queixar. Durante estes anos todos tive bons patrocinadores e muitas marcas ao meu lado e sou bem ciente da dificuldade que é viver num país pequeno e ter um mercado pequeno. As dificuldades acabam por ser os apoios, porque em Portugal vive-se um bocadinho à volta da música e do desporto rei, que sempre foi o futebol. O desporto motorizado acaba por ficar um bocado de lado, assim como os outros desportos todos. A falta de apoios acaba por ser sempre uma luta constante.

Qual foi a conquista mais especial da sua carreira?

O meu primeiro campeonato nacional acho que foi das conquistas mais especiais. Foi em 1994, em que era júnior ainda e estava a competir contra os nomes todos que ouvia falar e que sonhava um dia andar tão bem como eles. Ganhei o meu primeiro campeonato em 1994, face a campeões que já andavam há muitos anos nas corridas e, nesse ano, ganhei todas as corridas. Foi o meu primeiro campeonato nacional a sério e soube-me muito bem.

Entretanto, formou a

sua equipa…

Sim, já tenho a minha própria equipa desde 2000, a equipa vai fazer 24 anos. Tenho a minha própria estrutura, as minhas motas para alugar, tenho pilotos que fazem as corridas na nossa estrutura e que nós preparamos como um serviço chave na mão, em que as pessoas só precisam de ir à corrida e já está tudo tratado. Para além disso, também temos dois offroad centers, um aqui em Lisboa, outro no Marco de Canaveses, onde damos aulas, quer para a iniciação ao enduro e todo-o-terreno, quer para o aperfeiçoamento das técnicas de condução. Também fazemos passeios, preparamos tours, quer de um dia, quer de vários dias, ou seja, temos uma frota grande de motas para proporcionar experiências diferentes no terreno.

Qual é que tem sido o feedback por parte do público?

Tem sido bastante positivo. Decidi começar este projeto das escolas no Marco

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Em todo o lado deste mundo eu encontro portugueses, é inacreditável

de Canaveses, em 1998. Este ano, faz agora um ano, abrimos aqui em Lisboa também a tempo inteiro e é muito giro porque as pessoas percebem que afinal andar de mota cansa e que não é só sentar na mota e acelerar. Também é um desporto que lhes permite fazer exercício físico e, ao mesmo tempo, não pensar em nada.

Em termos de objetivos, o que é que falta concretizar?

Em termos desportivos não posso pedir muito mais. Já vou fazer 50 anos, a minha carreira é bastante preenchida, é óbvio que continuo a competir porque me dá gozo e sou competitivo. Este ano tenho um objetivo, muito ambicioso. Além de querer discutir o título mundial pela minha categoria, pelos veteranos, gostava de conseguir disputar o campeonato a nível da geral, ao nível das categorias todas. O ano passado fiquei em terceiro, mas tinha menos dois resultados, porque não fui a duas corridas, que eram muito longe, no Qatar e na Arábia Saudita. Este ano tenho planeado fazer as corridas todas para ter o maior número de pontos possível e o meu objetivo é lutar pelo título mundial, mas a nível geral, de todas as categorias. Acho que com 50 anos estar com vontade e ainda poder tentar discutir esse título, acho que vai ser muito bom e era uma boa maneira de fechar a minha vida de competições.

Num curto espaço de tempo, pode vir a deixar as competições?

É inevitável eu parar de competir, mas enquanto me der gozo vou fazendo corridas. Há classes até aos 60 anos, por isso se tiver vontade, vou continuar. Cada vez mais o offroad center dá mais trabalho. Cada vez temos mais pilotos ligados à

nossa equipa e isto tudo ocupa muito espaço e eu acabo por não ter tempo de me preparar tão bem como queria. Ainda para mais agora, há quatro meses nasceu o meu filho Vicente e tenho que apoiar a Maria também em casa e quero estar o mais presente possível junto do meu filho e tem que se fazer opções.

Que mensagem gostaria de deixar aos nossos emigrantes portugueses?

Acho que emigrar é um ato de coragem muito grande. É procurar por uma vida melhor, é procurar por alguma estrutura que nos permita, no futuro, ter uma vida mais descansada. Acho que é louvável essa coragem. Os emigrantes são muito importantes para Portugal, porque levam a nossa cultura e as nossas raízes por esse mundo fora e acho que toda a gente que emigra tem sempre a vontade de voltar porque Portugal é especial. Eu vejo por mim, não sou emigrante, mas viajo por este mundo fora tantos meses por ano e a minha vontade é voltar para a minha terra, para o meu país, para a minha casa. A nossa comida e os nossos costumes são únicos.

Quando se desloca fora do país para competir encontra muitos portugueses a apoiar?

Em todo o lado deste mundo eu encontro portugueses, é inacreditável. Quer seja no mundo árabe, quer seja na América do Sul, em todo o lado. Já fui fazer o Campeonato do Mundo na Austrália e na Nova Zelândia e tínhamos sempre portugueses, uma bandeira de Portugal no meio da corrida, em qualquer lado, a apoiar-nos. É espetacular. É uma sensação de sentir ali um bocadinho de casa, de pessoas que estão a vibrar por nós e que e que gostam do nosso país

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Ex-nadadora

Diana Gomes

vai ser adida nos próximos Jogos Olímpicos

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A ex-nadadora e atleta olímpica Diana Gomes e o antigo futebolista Pedro Pauleta serão os adidos da Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Ambos aceitaram os convites que lhes foram dirigidos pelo Chefe da Missão, Marco Alves, e pela Adjunta, Catarina Monteiro, para desempenharem funções de acompanhamento dos atletas portugueses e de ligação da Missão com a comunidade portuguesa em França. Aos 34 anos, Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, vai voltar a uns Jogos, depois de ter participado em duas edições, em Atenas 2004, com 15 anos, e em Pequim 2008.

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O percurso na natação começou cedo e foi com apenas 14 anos que Diana Gomes conseguiu o primeiro apuramento para os Jogos Olímpicos. A treinar na Associação Humanitária de Bombeiros dos Estoril, foi de uma forma “repentina e inesperada” que conseguiu a qualificação para os Jogos de Atenas, em 2004. “Foi uma surpresa para mim. Evoluí muito rapidamente, os meus tempos progrediram e qualifiquei-me para os Jogos Olímpicos. Até esse momento, a natação era apenas um prazer, um gosto. Adorava a equipa, adorava o momento de convívio, era completamente doida pela competição, mas era apenas um hobbie”, conta a ex-atleta olímpica.

De hobbie, rapidamente a modalidade veio para ficar e o desporto de alta competição nunca mais saiu de cena. Depois do apuramento para Atenas, veio a qualificação para os Jogos Olímpicos de Pequim, enquanto atleta do Clube de Natação da Amadora. “Tenho muito presente a sensação de entrar na piscina e de me sentir uma formiga. A experiência da Aldeia Olímpica, a experiência da Casa de Portugal, foi fantástica, adorei. Fui muito mimada, muito acarinhada com toda a comitiva, portanto, as memórias são todas maravilhosas”, diz.

Ter a oportunidade de ouvir os apoios em português e de ver as nossas bandeiras de Portugal em Paris

Embora tenha sido uma carreira que começou da melhor forma, Diana Gomes acabou por ter algumas lesões que lhe atrapalharam o percurso. Acabou por abandonar a modalidade com 25 anos, mas surgiram outras oportunidades dentro do mundo desportivo. Diana Gomes acabou por integrar a Comissão de Atletas Olímpicos, no ciclo olímpico de 2009 a 2013, logo após os Jogos de Pequim. “Surgimos para ser a voz do atleta, no seio do Comité Olímpico. Temos vários programas focados no atleta. Apoiamos, capacitamos, valorizamos e representamos o atleta, são esses os nossos objetivos e é para isso que trabalhamos todos os dias”, explica Diana Gomes, atual presidente da comissão de atletas.

Enquanto presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, cargo que assumiu há dois anos, Diana Gomes ajudou a implementar um programa de mentoria que junta Atletas Olímpicos com Esperanças Olímpicos. A ideia é conseguir “fazer uma junção da experiência e do talento”. Assim, os atletas podem comunicar entre si e tirar dúvidas, seja sobre alguma competição ou algum apoio disponível, como é o caso de patrocínios.

Ao cargo de presidente, Diana Gomes vai aliar a missão como adida nos próximos Jogos Olímpicos de Paris, cargo que vai desempenhar ao lado do ex-futebolista Pedro Pauleta. “É superinteressante ficar com esta missão porque em 2012, quando não consegui o apuramento para os Jogos Olímpicos de Londres, interiorizei que algum dia ainda poderia voltar a estar nuns Jogos Olímpicos. Acontece que vou mesmo voltar a estar, não como atleta, mas vou estar a acompanhar os atletas que estão no palco principal”, afirma. Como adidos, Diana Gomes e Pedro Pauleta terão a missão de dar apoio aos atletas. “Vamos ter a oportunidade de ouvir os apoios em português e de ver as nossas bandeiras de Portugal em Paris. Acho que isso vai dar uma força extra aos nossos atletas”, reforça.

Depois de deixar a carreira olímpica, há nove anos, e já com o curso de Arquitetura, Diana Gomes tornou-se empresária de uma pastelaria e padaria que hoje é um negócio de sucesso. O espaço junta uma área dedicada a famílias com um espaço de coworking

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Lusodescendente Mickaël da Mota

é campeão mundial de karting

Carrega ao peito as bandeiras de França e Portugal. Mickaël da Mota faz jus ao seu apelido e é ao volante que se sente realizado. Não de mota, mas sim de karts. Foi nas pistas de automobilismo que se notabilizou, carregando o título de campeão mundial e campeão francês, na sua categoria.

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Foi campeão do mundo de karting em 2019, e já soma três títulos de campeão francês enquanto piloto profissional de carros. Um percurso vitorioso para um jovem de apenas 22 anos. Mickaël da Mota é um jovem lusodescendente de Argenteuil, em França, mas corre-lhe nas veias sangue português.

Foi cedo que descobriu a sua paixão pela velocidade. Começou no karting aos cinco anos de idade e, desde há três anos, passou da condução dos karts para carros. O espírito ganhador, manteve-se. O gosto pelas corridas foi incutido pela família, admiradores de Fórmula 1. Aliás, o seu nome foi inspirado em Michaël Schumacher, um dos melhores pilotos de sempre da modalidade. “Eu assistia às corridas de Fórmula 1 em criança, juntamente com os meus pais. Comecei a andar de triciclo com dois anos e aos poucos fui progredindo”, conta. Os karts tornaram-se assunto sério na sua vida, dedicando a maior parte do tempo ao treino. Foco e dedicação foram as palavras de ordem para alcançar os excelentes resultados desportivos. Para além do título mundial e francês, destaca-se o prémio “Volant d’or karting FFSA” (Federação francesa de automobilismo) em 2012, o “Troféu Gentleman 2016” no Racing Kart de Cormeilles, os “24h Kartland Entreprise” em 2016 com a Volvo e o “volant Redspeed France” em 2017.

Foi nas pistas do RKC, o maior centro de kart de Paris, que Mickaël da Mota esteve à conversa com o Ponto PT, contando o seu percurso, e desvendando as suas ambições. “O meu sonho seria entrar na Fórmula 1, como qualquer piloto. Sei que é impossível de momento, mas ainda espero continuar a pilotar por muito tempo. Gostava de participar na corrida de 24 horas Le Mans, por ser uma corrida especial para qualquer piloto”. Inspirado por Michaël Schumacher, Max Verstappen e Sébastien Loeb, o jovem piloto explica os fatores para o sucesso. “É uma questão de ter paciência, porque leva muito tempo e não se deve ultrapassar etapas. Temos de ir devagar. Comecei com o kart, e essa é a base. A partir daí, é praticar. Para quem quer começar é importante pedir conselhos às pessoas e assistir a vídeos. É aos poucos que se vai progredindo. De qualquer forma, sei que treinando mais depressa nos tornamos melhores. E não há segredo para isso”.

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É com orgulho que carrega as duas bandeiras no seu fato: a portuguesa e a francesa. Apesar de ter nascido em França, não esquece as suas raízes portuguesas. “Tenho pais portugueses que têm muito orgulho do seu país, e eu tenho muito orgulho de ser português também. Por isso, queria representar os dois países”.

Depois de terminada a época de 2023, Mickaël da Mota encontra-se numa fase de avaliação quanto ao seu futuro, estando a analisar as oportunidades que surgem.

Afilhado da campanha «Sécur’Eté: verão em Portugal»

A ligação a Portugal estendeu-se quando Mickaël da Mota passou a ser afilhado da campanha ‘Sécur’Été: verão em Portugal’, da Cap Magellan. “Assim que surgiu o convite, decidi associar-me à iniciativa. Também eu fiz na minha

infância, várias vezes, com os meus pais, a viagem de França até Portugal de carro, no verão. É preciso ter sempre cuidado na estrada, porque muitas pessoas viajam com pressa de chegar a Portugal”, explica.

Desde 2003, a associação Cap Magellan realiza todos os anos uma campanha de segurança rodoviária de verão. Focada em apoiar os cidadãos franco-portugueses residentes em França que todos os verões vão de férias a Portugal de automóvel, a campanha pretende a proximidade com o público-alvo e, em última análise, um público muito mais vasto, através da presença de jovens em ações realizadas nas rotas de viagem. Estas ações estendem-se depois a Espanha e Portugal, quer nas fronteiras (Vilar Formoso, Vila Verde da Raia e Valença) quer em zonas de descanso, estacionamentos, ou em locais de diversão noturna

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Pedro Emanuel de Oliveira

Advogado em França e Portugal

- Barreau de Bordeaux

- Conselho Regional do Porto Doutor em Direito

pe.deoliveira-62334p@adv.oa.pt

Não desconheça

a obrigação dos residentes fiscais em França de declarar as sucessões e doações portuguesas

Inúmeros são os portugueses que emigraram para França e cujos descendentes vêm a ser beneficiários de sucessões abertas ou doações efetuadas em Portugal. Ora, existe uma ideia falsa espalhada pela diáspora portuguesa que consiste em considerar que as sucessões relativas a bens sitos em Portugal e as doações celebradas no dito país são exclusivamente da competência tributária portuguesa.

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É verdade que em matéria de sucessões e doações transfronteiriças, não é raro que os próprios notários franceses ou portugueses incumbidos de efetuar a partilha venham a desconhecer as regras que devem ser acatadas pelos herdeiros ou donatários residentes franceses. Porém, em realidade, o jogo das normas tributárias complexas determina, na esmagadora maioria dos casos, a tributação em França, além da tributação portuguesa, dos residentes franceses que beneficiam de sucessões ou doações de bens portugueses. Com efeito, é de notar que em matéria de imposto sobre as sucessões ou as doações não existe convenção bilateral entre França e Portugal à semelhança da convenção bilateral incidindo sobre os rendimentos das pessoas singulares e coletivas celebrada entre ambos os países no dia 14 de janeiro de 1971. Por conseguinte, convém referir-se as legislações internas dos dois países.

Em Portugal, o regime oferecido é bastante favorável em matéria de transmissões gratuitas. O imposto sobre as sucessões e doações foi abolido em Portugal, tendo sido substituído pelo Imposto do Selo sobre as transmissões gratuitas de bens em resultado da Reforma da Tributação do Património, introduzida pelo Decreto-Lei n.º 287/2003 de 12 de novembro. Importa salientar alguns dos aspetos mais relevantes do regime. Em primeiro lugar, o regime está governado pelo princípio da territorialidade na tributação das sucessões ou doações em sede de imposto de selo. Nos termos do Código do Imposto do Selo, é devido imposto do selo, tanto nas doações como nas sucessões por morte, sempre que os bens estejam situados em Portugal, independentemente, quer da nacionalidade, quer da residência do titular dos bens.

Em segundo lugar, a taxa de imposto de selo aplicável é de 10%. No caso específico das doações de imóveis ou de figuras parcelares desse direito sobre imóveis, acresce a taxa de 0,8%. No entanto, existe isenções. Por exemplo, não estão sujeitas a imposto as sucessões por morte de bens móveis e imóveis entre cônjuges ou unidos de facto, descen-

dentes e ascendentes. Tratando-se de doações de bens imóveis entre cônjuges ou unidos de facto, descendentes e ascendentes, é devido Imposto de selo à taxa de 0,8%. Desta forma, Portugal goza de um regime bastante atrativo no plano da tributação das transmissões gratuitas, principalmente no que toca às sucessões hereditárias em linha direta entre membros da mesma família.

Em França, não vigora o princípio de territorialidade limitada ao país. Sucede que deve ser tributado qualquer bem adquirido, em qualquer país do mundo por sucessão, pelos residentes no território francês a mais de seis anos nos últimos dez anos precedentes ao decesso do de cujus. O dito preceito está plasmado no n°3 do artigo 750 ter do Código Geral dos impostos francês. As doações feitas a residentes fiscais em França também são tributadas. Resulta que os herdeiros residentes em França, quer de nacionalidade francesa, quer de nacionalidade portuguesa, devem fazer constar da declaração tributária francesa relativa a sucessão todos os bens pertencentes ao património mundial do falecido. Convém relembrar que a declaração deve ser transmitida à administração tributária,

salvo exceção específica, no prazo de seis meses a contar do óbito, sob pena de ser coimado.

A saber que a tributação francesa das transmissões a título gratuito não é tão favorável que a tributação portuguesa. Em linha direta, apesar de poder beneficiar de um abatimento de cem mil euros todos os quinze anos, a tabela da taxa do imposto atinge 45% do valor da devolução sucessória. Além do quarto grau de parentesco, a taxa alcança os 60%. Assim, acontece com frequência, que portugueses residentes em França herdeiros de bens situados em Portugal possam vir a ser tributados nos dois países. Em tal caso, o imposto pago em Portugal poderá em princípio ser deduzido do imposto francês. Para estas ocorrências, existem soluções para reduzir a tributação destes tipos de heranças e doações, mas têm de ser postas em prática antecipadamente

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BAIRRO DE LATA

de Champigny-sur-Marne

retratado em novo filme de Christophe Fonseca

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A longa-metragem está na fase final de gravações e daqui a alguns meses será exibida nas salas de cinema, em Portugal e em França. O filme mais recente de Christophe Fonseca, autor, realizador e produtor lusodescendente retrata a emigração portuguesa, através de dezenas de testemunhos únicos. “Au delà du silence”, em português “Para além do silêncio”, quer eternizar uma história “muito pouco conhecida” e retratada, que surge quando se quebra o silêncio.

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Christophe Fonseca é muitas vezes inspirado pela portugalidade e pela cultura portuguesa que lhe corre nas veias. Filho de pais portugueses, desde sempre que tem “um apego muito forte com Portugal”, que é expressado através do cinema. Autor de vários filmes, entre eles um sobre o pintor português Amadeo de Souza Cardoso, está agora em gravações da mais recente produção. “Este projeto é mesmo especial porque está em mim desde criança. É uma história que ouvia falar em pequeno através dos meus pais e dos meus avós que emigraram. As pessoas que estou a retratar neste filme são os meus heróis de infância, que me acompanharam ao longo de toda a minha vida”, explica o realizador.

O projeto para a realização e produção do “Para além do silêncio” surgiu quando Christophe Fonseca era ainda adolescente e começou a ouvir várias histórias sobre a emigração portuguesa em França. Nos anos 90 começou a recolher testemunhos, através de sons, vídeos, imagens e documentação sobre a história do bairro de lata de Champigny-sur-Marne. “Este filme é uma espécie de arqueologia da memória porque algumas histórias que me foram contando há 20 anos, foram-se transformando. Depois, é feito um confronto entre as histórias que me contaram e os arquivos. É uma data de peças que são montadas como se fosse um puzzle”, explica o produtor e realizador português.

Quando o filme for exibido, o objetivo é que “seja uma homenagem” à geração de emigrantes, que partiram em diferentes décadas, e incentivar outras pessoas a contar e perpetuar as suas memórias pessoais. “Acho importante não deixar as pessoas partirem com as histórias delas. O meu maior desejo é que dê vontade às pessoas de ir pedir aos pais ou avós que contem as suas histórias pessoais”, diz o realizador. Depois de terminado, o arquivo cinematográfico será fornecido a França e Portugal para que seja trabalhado por qualquer geração futura que tenha interesse no tema.

Uma vida dedicada às artes

Christophe Fonseca, que tem dupla nacionalidade portuguesa e francesa, estudou no conservatório de música e de belas artes. Fez teatro, dança clássica, aprendeu vários instrumentos e tem uma paixão generalizada pelas artes. O cinema e o audiovisual permitiram que reunisse todas as paixões. Começou por fazer filmes de ficção, depois dedicou-se ao género de documentário e teve ainda várias experiências pelo mundo como repórter. “Ser realizador é quase uma evidência. Estes últimos anos estou a fazer documentários sobre arte e muita ligação com Portugal. Na maior parte dos meus filmes há sempre algo português. Mesmo que o tema não seja sobre Portugal existe sempre algum elemento português, nem que seja a banda sonora. Tenho uma ligação muito forte”, conclui Christophe Fonseca.

Ainda sem data de estreia, o filme “Au delà du silence” está agora em fase final de gravações. Nos próximos meses será trabalhada a edição do projeto, para depois ser exibido em Portugal e em França

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50 anos depois, “Cara de Cigana” de

José Malhoa

continua a ser êxito

Começou a cantar com pouco mais de 20 anos, quando regressou da tropa. José Malhoa nasceu em Belém, no concelho de Lisboa, e foi em bailes que começou a cantar. Mais tarde, mudou-se para o Porto, para atuar em teatros de revista que andavam pelo país, até começar a lançar singles de sucesso. 24 Rosas, Baile de Verão e Morena Kuduro são só alguns dos singles que ficaram no ouvido dos portugueses.

Com 76 anos de vida e 51 de carreira, recorda o disco que gravou com a filha, o Pai Amigo, e das várias canções que cantou em dupla com Ana Malhoa.

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Este ano faz 51 anos de carreira. Como é que a música entra na sua vida?

A música entra na minha vida de uma forma muito simples. Comecei a cantar em pequenino e a música que mais cantava era: “daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Parece que isso trouxe alguma coisa porque quando entrei na música nunca mais saí. É uma carreira muito a pulso. Nunca tive compadrios, nunca tive ninguém, ao contrário daquilo que faço, porque tento sempre ajudar as pessoas quando elas começam a cantar. Comecei por ir onde havia música, onde havia bailes. Depois, comecei a conhecer empresários que me impulsionaram para ser artista, o José Armando, que ainda está no ativo e o Zé da Silva que já faleceu. Começaram-me a arranjar espetáculos, mesmo não tendo reportório próprio. O meu favorito era o Tony de Matos, porque naquela altura gostava muito de cantar fado. Tenho um certo jeito e, se as pessoas repararem, o meu timbre entra muito no fado, com muito gosto.

Um dia o Zé da Silva fez-me um convite para vir para o Porto, para uma revista e eu aceitei. O convite era para cantar duas canções nos intervalos em que os atores saíam. O Porto é que me deu a sorte que tive na minha carreira. Foi aqui que arranjei tudo, foi aqui que iniciei. Foi aqui que fui falar com o Fernando Pereira, diretor da editora Orfeu. Andei meses e meses a correr para a editora para saber quando é que o José Malhoa gravava uma canção, até que gravei, ao fim de muita insistência. Fui ter com o José Guimarães e ele fez-me a Cara de Cigana, que foi aquela canção que impulsionou e que foi um grande êxito e continua a sê-lo. Ao fim de cinquenta anos, nos meus concertos, tenho de cantar essa canção, essa e as 24 Rosas. A minha sorte foi essa, foi gravar logo dois temas de grande êxito e agora ainda estou cá com 48 trabalhos gravados.

Foi muito persistente, na fase inicial, para conseguir?

Naquela altura já era um profissional a sério, não brincava. Quando a gente entra num projeto, que vai ser a nossa vida, não podemos brincar. Ainda hoje não brinco. A minha profissão é aquela pela qual dou tudo. Tenho um grande amor pela minha profissão e, portanto, não poderia ser de outra forma.

Nunca fez parte dos seus planos seguir outra profissão?

Comecei nestas andanças com vinte e tal anos. Depois de sair da tropa é que iniciei a minha carreira. Portanto, nessa altura já me fazia um profissional a sério.

Ao longo da sua carreira quais foram os momentos que mais o marcaram?

Tenho aquele primeiro trabalho que gravei e que despoletou um grande êxito e depois foi o aparecimento da minha filha Ana Malhoa. Fiquei radiante sabendo que ela acompanhou o pai naquela altura.

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Como é que foi essa fase em que cantava juntamente com a sua filha?

Era delirante, as casas ficavam cheias. Ela quando entrou nos programas de televisão e no Super Buéréré teve muita sorte. Ainda hoje as pessoas fazem com que ela cante sempre o “Sabes que começou no A”.

Como se define como artista?

Sou um artista simples, prático, que não cria problemas aos outros e essa é a minha marca.

Mas a nível musical foi-se reinventando…

Se começar a ver o meu primeiro trabalho e agora este último, estou muito melhor. Sempre fui uma pessoa muito simples, com a humildade que é necessária.

Quanto às duas músicas que tiveram mais sucesso, quando as ouviu, percebeu logo que iriam ser um êxito?

Aquele trabalho que toda a gente trauteia, o Baile de Verão, muita gente fazia pouco e dizia que não iria ser, mas eu tive fé na canção. Tanto a juventude como as pessoas com mais idade gostam. O trabalho já teve milhões de visualizações e de vendas.

Como é que é sentir que tanto os jovens como os mais idosos gostam do José Malhoa?

Fico radiante. Ainda há poucos dias fui cantar ao politécnico e estavam lá cerca de três mil jovens que trautearam desde a minha primeira canção até à última. Quando há gente que diz que o José Malhoa só leva gente com mais idade, isso é mentira.

É também o rei das comunidades portuguesas. Ainda se lembra da primeira vez em que foi ao estrangeiro?

A primeira vez que fui ao estrangeiro foi a Paris. Paris é uma terra que também me deu sorte e, a partir desse momento, comecei a atuar em toda a França. Agora, entre janeiro e março, tenho uns dez espetáculos para fora de Portugal, especialmente França, Luxemburgo e Suíça.

Como é que é este contacto com as comunidades?

É muito bom. É um público sensacional, especial. Já corri a África do Sul, Canadá, Estados Unidos e Caraíbas. Andei 27 anos com um grupo do Canadá que nos levava para toda a parte das Caraíbas.

O futuro do José Malhoa, como é que será?

Espero que vá até ao fim, até quando Deus me quiser levar. Quero ser o mesmo José Malhoa de quando comecei há 51 anos. É isso que quero, que sinto e que sonho. Quero é que Deus me dê saúde para continuar a fazer aquilo que mais gosto, que são os meus espetáculos

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Colors in Motion a exposição de Nina Onaur

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Em ‘Color in Motion’, a exposição de arte abstrata de Nina Onaur, as telas ganham vida através da exploração meticulosa de memórias de cores e texturas. Com influências da sua vivência em Paris, a exposição é um reflexo intimista de emoções, traduzidas artisticamente numa dança vibrante de tonalidades. Cada obra é um convite para uma jornada sensorial única, onde as paletas em movimento revelam as profundezas de uma alma mesclada.

Nina Onaur é o pseudónimo de Andrea Ruano, enquanto pintora. Nasceu na cidade do Porto, mas passou a sua infância e juventude em Paris, cidade onde os pais trabalhavam, dando aulas de português.

De regresso a Portugal, onde desenvolve atualmente a sua atividade profissional, Andrea Ruano começou a levar mais a sério a sua paixão pela pintura. Define-se como tendo um traço bipolar de culturas: a portuguesa e a francesa. Depois de uma aposta mais concreta na arte da pintura, começou a expor. Foi precisamente a sua mais recente exposição, ‘Colors in Motion’, que o Ponto PT foi visitar. “Esta exposição retrata a vida em geral. O próprio título remete-nos às emoções. Eu trabalho muito com cor, com textura, e o que eu pretendo é que as pessoas ao verem aos meus quadros sintam alguma coisa”, começou por dizer a artista.

Esta exposição retrata a vida em geral. O próprio título remete-nos às emoções ”
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Eu tenho um lado que preciso de colmatar, que é a criatividade

Com um conceito de arte abstrata, as telas ganham vida através da exploração meticulosa de memórias de cores e texturas. Apaixonada pela arte, desde sempre, só mais recentemente decidiu apostar a sério na pintura. “Eu tenho um lado que preciso de colmatar, que é a criatividade. Sempre desenhei, sempre pintei, e chegou a uma altura em que, desafiada por amigos, achei que devia tentar perceber o feedback do público. E até agora tem sido bom”, realça.

Cada obra é um convite para uma jornada sensorial única, onde as paletas em movimento revelam as profundezas de uma alma mesclada. O seu estilo reflete influências da sua vivência em Paris. A exposição contou com o apoio do Montepio, estando patente no espaço Atmosfera M, um projeto de cidadania, cultura e lazer, na cidade do Porto

Andrea Ruano

Nina Onaur é o pseudónimo de Andrea Ruano, enquanto pintora. Uma homenagem e um anagrama, que abrem caminho a um novo percurso de vida. Tendo vivido em Paris, escolheu o Porto para ancorar e concluir a sua formação noutro modelo de expressão –ciências da comunicação. Construiu um percurso próprio até enveredar por áreas ligadas ao marketing, sem nunca deixar de lado a sua essência, o expressionismo abstrato. Como artista, trabalha intuitivamente para criar composições espontâneas que combinam cores fortes, camadas dinâmicas, texturas e formas orgânicas. Os seus trabalhos têm uma marca pouco convencional já que elege materiais reutilizáveis como suportes das suas peças, como o cartão e o kraft, conferindo às suas obras um efeito singular. Tem desenvolvido o seu trabalho de forma mais contínua desde 2019 em parceria com galerias, tendo já diversas peças em coleções particulares na Europa, Estados Unidos e Dubai.

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Saudade ici et là-bas:

uma história sobre a emigração portuguesa para França

O musical “Saudade, ici et là-bas” é uma peça que reflete sobre a emigração portuguesa para França, nos anos 60 e 70, através de memórias e de heranças afetivas. Escrita por Isabel Ribeiro e encenada por Alexis Desseaux, estará em cena em várias cidades francesas como Brunoy, Ormesson-sur-Marne e Paris. O Ponto PT esteve à conversa com a atriz Isabel Ribeiro e o músico Dan Inger dos Santos.

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A peça estreou em 2021, mas continua em cena em várias cidades francesas. “Saudade, ici et là-bas” conta a história de Idálio e a da irmã Joana que se encontram em Portugal com o sobrinho Manu, para venderem a casa da família, uma situação que traz à superfície lembranças de emigração e que evoca a questão da transmissão de identidade. A peça foi escrita pela atriz lusodescendente Isabel Ribeiro que começou no teatro através do canto. “Já há muitos anos que queria fazer um documentário sobre a emigração portuguesa em França, mas nunca acabou por acontecer. Este projeto é ainda mais bonito e surgiu porque me fizeram uma encomenda para escrever uma peça sobre a cultura portuguesa. O tema dos emigrantes portugueses é um tema que me toca há muito tempo”, diz Isabel Ribeiro.

Com encenação e produção francesa, a peça fala sobre a emigração portuguesa, mas foi desenvolvida e trabalhada para chegar a todo o tipo de público, conforme explica Dan Inger dos Santos. “A peça dá uma outra visão sobre o tema para que não se caia nos chamados clichês sobre a emigração. O nosso objetivo é fazer um espetáculo universal. As primeiras vezes em que estreamos a peça foi na Normandie e o público era maioritariamente francês”, afirma o artista.

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O musical, que está em cena há três anos, tem servido para despertar as lembranças e memórias de um passado de emigração que traz ao de cima a saudade que o público carrega.

“Quando acabamos a peça é como se o público já nos conhecesse muito bem e começam a falar connosco sobre tudo o que já viveram. Chegam até a ficar emocionados porque muitos veem a história deles no palco que é contada com muito carinho e verdade. Para o público é um testemunho de amor e o reconhecimento das escolhas e do risco pelo qual passaram”, explica Isabel Ribeiro

Nos próximos meses, a peça “Saudade, ici et là-bas” estará em cena em vários palcos franceses, com as seguintes datas de exibição:

22 de março | Brunoy

18, 19 e 20 de abril | Mónaco

24 de abril | Meaux

28 de abril | Ormesson-sur-Marne

29 de abril a 28 de maio | Paris (segundas e terças-feiras)

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97 BREVES

EVENTOS

França

Festival da Gastronomia Portuguesa

15 a 24 de março | Valenton Organizado pela Rádio Alfa

Salão do Livro Lusófono de Paris

16 de março | Maison du Portugal, Paris Organizado pela Union Européenne des Écrivains de Langue Portugaise

Gala da Association Portugaise de Bienfaisance

16 de março | Gagny

Hugo Sousa

16 de março | Paris

Feira dos produtos portugueses de Nanterre

22 a 24 de março | Nanterre

Baile com Irmãos Verdades

31 de março | Pontault-Combault Organizado pela Associação Sporting Club Portuguesa de Pontault-Combault

Celebrações do 25 de Abril

25 a 27 de abril | Pontault-Combault Organizado pela APCS de Pontault-Combault

Portugal

Festival Internacional do Chocolate

1 a 17 de março | Óbidos

XIX Festa Internacional das Camélias

15 a 17 de março | Celorico de Basto

Festa do Queijo Serra da Estrela

23 a 24 de março | Oliveira do Hospital

Semana Santa

24 a 31 de março | Braga

Millennium Estoril Open

30 de março a 7 de abril | Estoril

98 AGENDA

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