Gipe cit 19 (tradução de artigo)

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A poesia do gaúcho Mario Quintana chegou como inspiração em 2006, ano de centenário de seu nascimento. E com esta inspiração nos aventuramos no mundo dos financiamentos e projetos. Aos poucos cada integrante ia trazendo um poema para trabalharmos a partir de diferentes propostas. Dois espetáculos foram produzidos com esta intertextualidade entre movimento, símbolo e poesia. O primeiro deles foi um processo altamente matemático: cada poema (acabaram permanecendo somente dois pela complexidade do evento) deveria ser escrito em motif por cada dançarino. Cada motif escrito deveria ser movido por cada dançarino. O primeiro poema foi transformado em seqüência de movimento num jogo onde cada dançarino criou um movimento para cada palavra. Na seqüência, que se mostrou bastante gestual, usando prioritariamente a unidade superior do corpo, com alguns elementos necessários de engajamento da unidade inferior, os fragmentos colocados em seqüência formaram a matriz para a escrita do motif. A partir daí, cada um dos 8 dançarinos escreveu um motif para esta seqüência. E cada motif escrito se transformou em seqüência de movimento. Cada dançarino criou 8 seqüências, totalizando um material de movimento de 64 seqüências, mais uma que era a matriz. 65 foi o número de seqüências de movimento para ser modulado sobre apenas um poema. Devido a esta complexidade, que foi devidamente explorada para a composição, trabalhamos apenas mais um poema para construir o primeiro espetáculo com este método que se chamou Reconhece? Não havia semelhança entre nossa investigação de movimento e os poemas ou até mesmo o universo poético de Mario Quintana, cuja ambigüidade também as vezes deixa sua leitura em camadas superficiais. O processo de composição a partir da idéia de similitude fez acontecer uma obra de associações possíveis, mais do que uma identificação direta com a poesia e obra de Quintana. Seguindo a relação proposta por Foucault, “o similar se desenvolve em séries que não têm começo nem fim, que é possível percorrer num sentido ou em outro, que não obedecem a nenhuma hierarquia, mas se propagam de pequenas diferenças em pequenas diferenças.” (2007, pg. 60). Foi no investimento desta propagação criada pelas camadas de leitura e execução de movimentos que trabalhei a composição dos elementos. A composição, ou combinação de duos ou conjuntos, a disposição espacial, foi


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