Anais do XIII Ciclo de Conferências Históricas da FURG

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ANAIS ELETRÔNICOS DO XIII CICLO DE CONFERÊNCIAS HISTÓRICAS - FURG

a história política.7 Em lugar da História Narrativa ou dos Eventos, focada na superfície do factual, a Escola dos Anais propôs uma História que privilegiasse as estruturas – econômicas, sociais, mentais – que condicionavam os eventos e as ações dos indivíduos, naquilo que ficou conhecido como História Total. Essa História Total tinha dois sentidos diferentes e nem sempre compatíveis: de um lado, apresentava uma visão holística, ou seja, assim como o marxismo, os diversos elementos da realidade deveriam ser integrados em um modelo geral (no que, nem sempre foram felizes); de outro lado, bem ao estilo da sociologia de Marcel Mauss e Émile Durkheim que defendia o “fato” social como total (englobando o material, o psicológico, o cultural, etc.), defendiam que todos os elementos da realidade eram passíveis da abordagem história. Nessa nova perspectiva, tornaram-se dignos do trabalho do pesquisador os hábitos e os costumes, as mentalidades, as representações, o gesto, as relações de gênero, etc.. Da mesma maneira, embora as estruturas econômicas tivessem seu espaço bastante ampliado, não se adotou uma visão determinista do cultural pela infraestrutura material, procurando-se dar igual relevância às diferentes esferas do social. Ora, essa ampliação dos objetos legítimos da historiografia exigiu também do historiador uma busca por novas fontes que pudessem, para além dos documentos oficiais, permitir-lhe, mesmo que parcial e opacamente, encontrar vestígios dessas novas dimensões da vida social. Dessa maneira, fontes antes relegadas a segundo plano ou simplesmente negligenciadas, como fotografias, cartões-postais, cartas pessoais, relatórios policiais, etc., passaram a ganhar outro status como documentos históricos, porque eram mais capazes de responder aos novos questionamentos que instigavam os pesquisadores do que as séries documentais tradicionais. Esse processo foi ampliado com a chamada “terceira geração dos Anais”, especialmente com o historiador francês Roger Chartier e a sua proposta de estudar as representações sociais – dando origem ao que hoje se chama de História Cultural, embora muito do que se faz com este nome 7  Uma boa análise da Escola dos Anais e de suas principais inovações pode ser encontrada em LE GOFF, J. A História Nova. São Paulo : Martins Fontes, 2001, LE GOFF, Jacques et NORA, Pierre. História: Novos Objeto. Rio de Janeiro : Livraria Francisco Alves Editora, 1976 e BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales (1929-1989). 3. ed. São Paulo : UNESP, 1991. 154 p.

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RIO GRANDE, 25 A 27 DE AGOSTO DE 2010


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