Placar Edicao Dezembro 1361

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mortosvivos

Terreiro gramado sempre vestindo branco, pai santana ajudou o vasco com massagens e feitiços por décadas. tudo a pedido do seu grande amor, carmen p o r dago mir m ar q u e z i

1969 e Eduardo Santana está paquerando uma morena no ônibus para Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. A morena se chama Carmen: “Ele ficou me encarando. E eu, que sempre fui metida a gostosa, pensei: ‘Esse negão vai se mancar que sou muita carne-seca pro feijão dele’”. Eduardo Santana tinha sido uma promessa do boxe brasileiro. Virou massagista de futebol. Começou pelo Vasco da Gama em 1954, mas não criou raízes. De-

É

pois ele passou pelo Santa Cruz e pelo Bahia, onde ganhou a Taça Brasil de 1959. Em 1969, Eduardo Santana já era massagista do Fluminense. Nos terreiros era o Pai Santana, devoto de São Cosme e São Damião. Fé não lhe faltava. Faltava um grande amor. Foi quando Eduardo e Carmen se encontraram pela segunda vez no ônibus para Jacarepaguá [o episódio é contado por Raphael Zarko, do blog YouGol]. Santana foi até o banco atrás de Carmen e falou baixinho no seu ouvido: “Vai me ligar, morena?”. Jogou um bilhete no colo dela. Era o número do seu telefone. Um dirigente vascaíno chama o massagista Eduardo para se mudar para São Januário. Quer mais: que Pai 98 / placar / dezembro 2011

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Pai Santana: bruxo dos vestiários

Santana entre em ação com seu feitiço e tire o cruz-maltino do longo jejum de campeonatos. Santana compra um apartamento mobiliado em Copacabana para morar com sua Carminha. A morena topa, com uma condição — Eduardo deveria se entregar de coração ao seu amado Vasco.

E assim, em 1970, Pai Santana entra de vez na história do clube. O amor pela mulher vira paixão pelo Vasco. Nos jogos, veste sempre roupas brancas. Acende velas no vestiário. Quando entra em campo, estende a bandeira do clube no gramado e a beija ajoelhado. Aquilo enerva os adversários. Eles podiam não acreditar em bruxos, mas... “Ele era bom não só no campo”, disse Roberto Dinamite. “Mas no marketing também.” Na final do Brasileiro de 1974, contra o Cruzeiro, Santana atira alguns ovos no campo. Ninguém entende nada. Até que Perez, do próprio Vasco, escorrega nas claras e gemas e é substituído por Ademir, que marca o gol que abre a vitória vascaína. Pai Santana ri por último. No Carioca de 1977, a final era com o Flamengo. Antes do jogo correu boato de que Pai Santana teria descido de helicóptero com sua temida roupa branca e feito um “trabalho” no gramado da Gávea durante a madrugada. O boato desestabilizou o Flamengo, que perdeu nos pênaltis. Em 1990, Pai Santana foi trabalhar no Kuwait. Até virou muçulmano. Mas não durou muito. Em 2006, já aposentado, sofreu o primeiro de quatro AVCs. Passou a viver com muitas limitações. Carminha cuidou dele. Em 2009, desfilou de cadeira de rodas no Maracanã. Na arquibancada, havia uma grande bandeira com sua face e o título: “Amuleto eterno”. Na manhã do dia 1 de novembro de 2011, Pai Santana se foi com uma pneumonia. © FOTO ARI GOMES

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