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Autoridade

preços abusivos, direitos do consumidor, direitos humanos, questões morais relativas à sexualidade, biogenética, eugenia, transgênicos, etc. Alguns poucos tratam da ética levando em conta os pressupostos, os fundamentos e as bases que levam as pessoas e as comunidades a adotarem determinados comportamentos, posturas e condutas, que são chamados de “conduta ética” ou “postura ética” ou a falta delas. A intenção, a partir deste momento, é apresentar reflexões e proposições a respeito da ética e de como o assunto autoridade torna-se um de seus temas basilares. Muitos dos conflitos éticos são, na verdade, conflitos de autoridade. Devemos, portanto, primeiramente apresentar algumas considerações a respeito da ética e sua ambiguidade entre o real e o ideal; e, em segundo lugar, investigar os conceitos de autoridade e outros conceitos que estão intrinsecamente a ela ligados, como poder, força, violência, dominação, responsabilidade, direitos e deveres; e por fim, como esses dois conceito anteriores podem ser vistos em situações concretas no âmbito da gestão de pessoas e equipes e no mundo dos negócios, no dia-a-dia das autoridades e dos seus subordinados. Primeiramente, vale dizer que não existe povo ou pessoa sem ética. A ética é sempre um reflexo dos valores e pressupostos que a sociedade tem como sendo seus valores fun-

damentais. Tais valores podem ser conscientes ou mesmo inconscientes. Eles são, via de regra, os valores comuns de um meio que cerca o indivíduo e permeiam a sociedade. Esses valores são assumidos nas relações que os indivíduos têm entre si e que vão se firmando e modificando através dos tempos e dos acontecimentos. A ética humana é, então, um produto da cultura. Ela não é absoluta, nem pré-existente; mas existirá na medida em que houver relações humanas. Quando então alguém afirma: “Isso não é ético!” “Você não tem ética!”, na verdade ela está afirmando que o comportamento e os valores que levaram determinada pessoa ao comportamento demonstrado ferem os seus próprios valores e aqueles valores e comportamentos tidos como aceitáveis em uma determinada comunidade. E é por essa razão que a idéia de uma ética idealista, em uma perspectiva até simplista, é muitas vezes aceita como a ética que todos deveriam praticar, porque até uma mente com perspicácia inferior (se é que ela existe), pode perceber que determinados valores e práticas são irracionais e inaceitáveis, que ferem até o senso comum. Mas isso também leva a uma concepção de que uma coisa é “o que deveria ser” e outra é “o que de fato é”. O conflito fica, assim, estabelecido. As coisas são vistas de tal forma que, se as pessoas forem éti-

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Ética

cas da maneira como “devem ser”, elas não conseguirão sobreviver “na vida real”. Por esta razão, vale a idéia de que ética é aquilo que de fato é vivenciado, praticado e assumido como válido nas relações do dia-a-dia, contrariando aquela idéia de que ética é utópica. Por outro lado, aquilo que as pessoas fazem no dia a dia, pressionadas pelas circunstâncias, não pode ser aceito como sendo ético (ou como o valor e a prática que são reconhecidos como valores maiores e melhores), pois o ser humano e as comunidades humanas são capazes de perceber e buscar valores maiores e melhores do que os individuais e do que os que são praticados por sentimentos mais primitivos, como o instinto de sobrevivência e a mera repetição tradicionalista de certos costumes. Nesta perspectiva, por muito tempo e em quase todas as sociedades e culturas humanas, pai e mãe devem ser vistos como autoridade. Não é este o mesmo conceito que é estendido às demais instituições sociais, como a escola, o trabalho, o estado, os clubes? Segundo Mucchielli, sob o enfoque da psicologia,

Abril e Maio, 2011 | Teologia | 23


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