RIOS DE BELO HORIZONTE Alessandro Borsagli
Belo Horizonte tem aproximadamente 700km de cursos d’água, sendo que 200km encontram-se canalizados a céu aberto ou escondidos sob a malha viária da capital. Na contramão das políticas de gestão das águas urbanas que estão sendo adotadas em diversos países e do próprio Programa de Revitalização dos Cursos d’Água de Belo Horizonte (DRENURBS) – cuja meta é “a recuperação ambiental que implica reverter a degradação em que se encontram os córregos não canalizados da cidade” – o município continua a promover a canalização, e mesmo a erradicação, da paisagem urbana, de seus cursos d’água. O Ribeirão Arrudas figura como o protagonista do atual encaixotamento, sepultado pelo Boulevard Arrudas, na verdade o alargamento de pistas para uma suposta melhoria viária ao longo de seu curso. Para além da pressão automobilística para a expansão viária, existe também uma pressão imobiliária, que não é novidade na cidade, cujo impacto sobre os cursos d’água é enorme. A voracidade imobiliária ao longo dos 115 anos de existência de Belo Horizonte contribuiu para a marginalização da população e a ocupação das margens dos cursos d’água. A zona urbana compreendida dentro da Avenida do Contorno foi construída nas vertentes da bacia do Ribeirão Arrudas e nas proximidades das cabeceiras de inúmeros córregos tributários do ribeirão, e a verticalização mais recente só contribuiu para o agravamento de problemas como o mau cheiro e as enchentes, já comuns no passado. A lógica imobiliária precede a inauguração da capital mineira, tendo informado, junto ao racionalismo e ao sanitarismo que impregnavam o pensamento progressista do período, os próprios membros da Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC). Na confecção da planta geral da nova capital apresentada em 1895, a Comissão Construtora ignorou os cursos d’água que corriam no arraial de Belo Horizonte e nos seus arredores, apesar de eles terem sido res-
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