Cumanana
Boletim Virtual da Cultura Peruana para a África MINISTÉRIO DE RELAÇÕES EXTERIORES
Fonte: Agencia Andina
Artigo 1:
Memória Ancestral e Ritmos Negros do Peru *
energia corporal diante de tal audiência. E ancestral porque sua proposta se refere à África tradicional como espaço romantizado, onde o ritmo e a memória florescem de maneira orgânica.
Ampliando esse sentido, a noção de memória victoriana constitui uma crítica indireta ao paradigma da ilustração moderna europeia cujo esquema de conhecimento promove os métodos dedutivos e/ou indutivos de inspeção social. Diante disso, Victoria Santa Cruz sustentava que "a cultura, por ser essencialmente orgânica, não pode ser encerrada dentro de limites analíticos, racionais" (2004, p. 54). Além disso, Santa Cruz afirmava que "a intuição é o guia do ser humano e a base do conhecimento" (2004, p. 32), indicando com isto o papel da intuição na construção de conhecimento e memória.
O referido ganha força quando nos deparamos com histórias não escritas, mas que ainda subsistem no campo da oralidade e da corporalidade, como é o caso da sabedoria popular, da dança, das histórias não escritas,bem como das formas poéticas de preservação da memória. Nesse sentido, Victoria sustentava que a humanidade
"Ritmo: o eterno organizador" é o único livro de Victoria Santa Cruz. Fonte: Librería El Virrey
padece de arritmia, falta de memória e desconexão histórica, frente ao qual se propunha prestar atenção à nossa parte criativa, com ênfase na linguagem corporal e na poesia, entendidos como espaços onde poderia florescer a ancestralidade da memória. Assim, Victoria Santa Cruz sustentava que:
"O haver descoberto, a partir de uma memória ancestral, algo que, quando refinado ao longo da minha vida, me revela que cada gesto, timbre de voz e movimento é consequência de um estado anímico; permitiu-me reencontrar mensagens profundas naqueles meios envolvidos nas culturas, ainda orgânicas" (2004, p. 64).
Essas mensagens às quais se refere nossa autora vêm de uma história borrada pelo processo colonial, mas ainda subsistentes na corporalidade daqueles que padeceram desse processo. A própria existência e persistência atual da cultura afro no Peru é testemunho de tal afirmação.
* Fonte: "Cultura afroperuana: encuentro de investigadores 2021" de Héctor Renán Arévalo et al., Ministério de Cultura da República do Peru, Lima, 2023, páginas 145-147. Disponível em https://centroderecursos.cultura.pe/
Victoria Santa Cruz Gamarra (1922-2014). Fonte: Diario Expreso
Artigo 2:
PERU: ÁFRICA, QUESTÃO PENDENTE?
Jean Jacques Kourliandsky Diretor do Observatório da América
Latina da Fundação Jean Jaurès
Falar de cooperação, relações bilaterais, entre a África e o Peru, parece um desafio sem fundamento. Geograficamente, geopoliticamente, a África está muito longe do Peru e o Peru está muito longe do continente africano. O Peru tem suas prioridades históricas impostas por seu entorno regional, muito bem apresentadas pelo diplomata José Antonio García Belaunde[1]. O mesmo pode ser dito de cada um dos países membros da União Africana.
Quando seus problemas prioritários foram resolvidos – reconhecimento internacional, fronteiras terrestres e marítimas estabilizadas –a diplomacia peruana começou a explorar horizontes mais distantes, a América do Norte, o espaço do Pacífico. Mas ele guardou na memória as independências africanas. O Peru e os países africanos compartilham um mundo global que os obriga a enfrentar os mesmos desafios climáticos, sanitários, econômicos e financeiros, migratórios, de insegurança, e de instabilidade internacional. Convivem no sistema das Nações Unidas, bem como nos de outras vias diplomáticas. Mas, apesar do que foi dito, criar pontes com a África para o Peru é uma questão real e pendente.
Reflexo de questões internacionais e gerando encontros, um embaixador peruano, Javier Pérez de Cuellar, foi secretário-geral da ONU, de 1982 a 1991. Como secretário-geral, ele teve que enfrentar disputas africanas, o processo de independência da Namíbia, a controvérsia do Saara Ocidental.
O Peru participou das mobilizações antiapartheid, estabelecendo relações na África Austral com a SWAPO, abrindo embaixadas, organizando em Lima uma reunião de países de Primeira Linha em Lima em 1987, e de solidariedade também em Lima em 1988.
Por estas confluências, o Peru criou em 1986 um Dia da Amizade Peruano-Africana. Colocou militares à disposição das forças de paz das Nações Unidas, MONUSCO (Congo) e UNISFA e UNMISS (Sudão do Sul). O principal contingente está atualmente estabelecido na MINUSCA na República Centro-Africana.
Decreto Supremo N° 0020/RE que institui o Dia da Amizade Peruano-Africana. Dia da Amizade Peruano-Africana.
O conjunto folclórico nacional participou no Dia da Amizade Peru Africano 2018
Em consequência a uma dinâmica internacional geradora de maior aproximação, emergiu progressivamente uma curiosidade econômica. Os resultados são, por enquanto, modestos, 0,55% do total das exportações do Peru em 2018, ano em que a África do Sul, a maior economia do continente, aparece como primeiro parceiro. O que permite entender o interesse indicado por diferentes atores empresariais, o Instituto de Economia e Desenvolvimento Empresarial, ou ComexPerú, para o potencial deste país, e de seus principais interlocutores comerciais africanos. O Ministério das Relações Exteriores seguiu o que era esperado pelo empresariado. Escolhendo países, estáveis e com certo desenvolvimento, ampliou a rede de embaixadas residentes para
O Secretário-Geral da Assembleia das Nações Unidas, Javier Perez de Cuellar, reuniu-se com o Presidente da África do Sul, Nelson Mandela Argélia, Egito, Marrocos, Quênia, Gana e África do Sul.
Poderia o Peru ter horizontes africanos mais ambiciosos? Realmente cumprir com a questão africana? O Peru, membro observador da União Africana desde 2005, está em condições de fazê-lo, seguindo o modelo elaborado há algum tempo pelo Brasil e mais recentemente pela Colômbia, poderia mobilizar para esse fim sua população afrodescendente. Tem capital humano
que poderia ajudar a melhorar as conexões africanas [2].
A ONU, desde Durban em 2001 e a Década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024), favoreceu uma evolução nessa direção. Distintas organizações de afrodescendentes peruanos como o CEDET, desde 1999, defendem essa necessidade e constroem, dialogando com o Ministério da Cultura, laços com a África e sua diáspora americana. O Peru agora tem planos elaborados por seu Ministério da Cultura que valorizam a contribuição africana para a identidade nacional, e definem um marco de igualdade social para essa população. Os chanceleres agora não se esquecem de destacar que o Peru honra sua população afro-peruana e que por isso participa do Fórum Permanente dos Afrodescendentes, como disse o embaixador, Oscar Maúrtua, por
Resta coordenar esforços ministeriais paralelos. A África é uma das prioridades do Plano Estratégico Setorial Plurianual 2015-2026 e do Plano Estratégico Institucional 2020-2026 do Ministério das Relações Exteriores. No âmbito da Política Externa Reforçada, desde 2021 o Ministério das Relações Exteriores organiza conferências em francês, inglês e português com missões africanas localizadas na Argentina, Brasil e Chile. A Direção Geral da África, Oriente Médio e Países do Golfo do Ministério das Relações Exteriores empreendeu um trabalho de reflexão e de propostas. Estes esforços são um bom presságio de um futuro rico em iniciativas coordenadas, especialmente se surgir um executivo nacional capaz de aproveitar esta oportunidade. exemplo, em 24 de agosto de 2021.
[1] Ver José Antonio García Belaunde, Dois séculos de desafios na política externa peruana, Lima, Biblioteca do Bicentenário, 2021
[2] Ver José Antonio del Busto Duhurburu, Breve historia de los negros del Perú, Lima, Biblioteca do Congresso, 2001
RECEITA: Copús
Ingredientes
2 kg de carne bovina ou frango
2 kg de batata-doce alaranjada
8 bananas da terra maduras para fritar
1 cebola roxa
1 pacote de coentro
1 pimenta “ají limón” (variedade de pimenta ají picante e aromática cítrica)
3 limões suculentos
2 dentes de alho
Pimenta e sal a gosto
Pimenta “ají panca” (pimenta vermelha peruana)
Cominho a gosto
1 pouco de vinagre branco ou “chicha de jora”
(bebida fermentada natural do Peru, com preparação à base de «jora» - milho maltado. É produzida desde a era pré-inca sendo uma bebida sagrada usada em atos cerimoniais, e em festas de culturas pré-hispânicas da zona central andina)
Preparo
Cave um buraco com uma pá, para que caiba um recipiente de barro. Despeje o carvão em brasa no recipiente de barro e coloque a panela de alumínio em cima. À parte, deixe marinar a carne em pedaços com vinagre e sal a gosto. Refogue o alho com pimenta, cominho e a pimenta “ají panca”. Adicione a carne amaciada e o refogado à panela de alumínio e leve à brasa junto com a batata-doce e a banana, ambas com a casca. Assim que a panela estiver no buraco, tampe o recipiente de barro e cubra-o com um pouco de terra. Cozinhe por 1 hora. Para acompanhar, prepare uma salsa criolla: corte a cebola finamente, pique o coentro e a “ají limón”. Adicione o sumo de limão e sal a gosto.
A carne é servida com a banana, a batata-doce e a salsa criolla.
Fonte: Fogón Afroperuano: Herencia y Saber de la cocina afroperuana de la costa. Lima: ACUA - MINCUL, 2022. Disponível em https://programaacua.org/wp-content/uploads/2022/08/Libro-Fogon-Afroperuano.pdf