CUMANANA XLIV-POR

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Atualmente, o cajón peruano está presente na Argélia – está de volta à África – onde é utilizado por muitos grupos e gêneros musicais locais. Com a intenção de conhecer a história de sua presença neste país, decidi entrevistar o músico e compositor argelino Mohamed Rouane – nascido em 1968 no distrito de Belouizdad, Argel – que utiliza o cajón em suas interpretações musicais. Tive a oportunidade de conhecer o Sr. Rouane graças à sua participação na celebração da Festa Nacional do Peru na Argélia em duas ocasiões, nas quais interpretou músicas peruanas e argelinas – acompanhadas pelo cajón, é claro.

O Sr. Rouane me conta que iniciou sua carreira musical profissional em 1995, interessando-se pela música popular argelina e criando, nesse mesmo ano, junto com alguns amigos – Selma Kouiret y Farouk Azibi – um trio musical chamado Mediterranéo, onde se fundiam o Flamenco e a Rumba Cigana com canções argelinas interpretadas em clave flamenca. Após deixar o Mediterranéo em 2002, prosseguiu sua carreira como solista a partir de 2004, utilizando como instrumento de preferência o “mandole argelino” (semelhante a uma mandolina), típico do gênero musical argelino Chaabi. Desde então, o Sr. Rouane tem buscado “adaptar a música do mundo [ao mandole]” e “misturar todas as expressões musicais” em chave argelina, para desenvolver um gênero musical que ele próprio denomina Casbahjazz .

No Casbah-jazz confluem instrumentos argelinos, como o mandole e o “derbake”, um tamborim em forma cônica, e instrumentos internacionais como a

viola, a guitarra elétrica e o cajón. Ele me sugere ouvir seu álbum musical Reve .

- Você conhece a história do cajón? — pergunto.

- Conheci por meio da música de Paco de Lucía,

um intérprete extraordinário, e da cantora flamenca Lola Flores. Ambos incorporaram esses instrumentos em suas apresentações — respondeu

Conto-lhe que, em 1977, Paco de Lucía estava em turnê pela América do Sul e, durante sua passagem por Lima, teve a oportunidade de ouvir o mestre “cajonero” peruano, Pedro Carlos Soto de la Colina – “Caitro Soto” – em uma festa na Embaixada da Espanha no Peru; momento a partir do qual o músico andaluz incorporou o cajón em suas apresentações. Pergunto, então, em que momento o cajón peruano chegou à Argélia:

- Fui um dos primeiros artistas argelinos a incorp-

orar o uso do cajón peruano, em meados da década de 1990, quando comecei minha carreira como músico profissional.

MOHAMED ROUANE: MÚSICO
Fonte: cultura.cervantes.es
MANDOLA ARGELINA
Fonte: sonsdelorient.com

O Palácio do Bei está localizado na cidade de Constantina, a joia histórica da Argélia, onde a história e a arquitetura se entrelaçam ao longo de séculos de civilização, com heranças romana, otomana e árabe.

Conhecida como Cirta, Constantina foi a capital do reino da Numídia e um importante centro administrativo do Império Romano. Devido à sua localização nas rotas comerciais, era um polo econômico e cultural estratégico naquela época e continua sendo até hoje.

A paisagem única de Constantina, situada sobre um maciço rochoso que domina o profundo desfiladeiro do rio Rhumel, deu origem à construção de pontes extraordinárias. Entre elas, destaca-se a Ponte de Sidi M’Cid, uma obra-prima da engenharia suspensa sobre o vazio, símbolo da criatividade dos habitantes da cidade.

Hoje, a cidade resplandece por sua modernidade, suas tradições culinárias, suas pontes e seus monumentos históricos.

Nesse contexto, destaca-se o Palácio do Bei, construído na época do Império Otomano. De fato, durante o século XVI, Constantina era a sede do Beiato do leste da Argélia. Nesse período, a cidade floresceu sob a liderança do Bei Ahmed.

Ahmed Bei Ben Mohamed Chérif (1806–1850) foi o último bei de Constantina sob domínio otomano na Argélia, governando de 1826 até a ocupação francesa em 1837. Foi um líder notável que lutou contra a invasão francesa na região. Conhecido por sua capacidade administrativa e militar, modernizou seu território e preservou a cultura otomana e islâmica diante da influência europeia. Após a queda de Constantina em 1837, continuou resistindo à colonização francesa até sua rendição final em 1848.

O Palácio Ahmed Bei, conhecido localmente como “Dar El Bei”, foi construído entre 1826 e 1835, durante seu governo. Esse edifício é uma obra-prima da arquitetura otomana na Argélia, combinando elementos islâmicos, orientais e mediterrâneos.

O Palácio do Bei é um exemplo emblemático da arquitetura árabe-islâmica. Este edifício, concebido em torno de pátios internos e adornado com mosaicos, fontes e jardins, reflete o refinamento cultural e a espiritualidade inerentes à tradição islâmica. Além de ter sido a residência do Bei, o palácio também cumpriu uma função administrativa, simbolizando o poder e o prestígio da autoridade. O palácio não é apenas um exemplo da riqueza cultural otomana

na Argélia; ergue-se também como um símbolo de resistência e testemunho da era pré-colonial.

AHMED BEY BEN MOHAMED CHÉRIF Fonte: Journal Universel, No 47, Volume 2
A PONTE DE SIDI M'CID Fonte: upload.wikimedia.org/

LESOTO, O “REINO NA

MONTANHA” E SUAS

SEMELHANÇAS COM OS ANDES PERUANOS

O Reino do Lesoto (Basutolândia até antes de sua independência do Reino Unido em 1966), localizado na parte meridional do continente africano, é um dos menores países sem litoral da África, mas, ao mesmo tempo, possui uma geografia peculiar e uma diversidade em fauna e flora que, entre outros atrativos, lhe conferem qualidades turísticas.

Rodeado pela África do Sul, Lesoto conta com uma população de cerca de 2,3 milhões de pessoas, das quais se estima que 15% vivem na África do Sul devido à forte interação econômica com a "nação arco-íris".

O inglês é o idioma oficial do Lesoto (herança de seu passado colonial), junto com o sesoto, uma língua africana falada na parte austral do continente, de maneira semelhante à situação do Peru, onde o espanhol é a língua oficial, juntamente com o quéchua, o aimará e outras línguas indígenas, que são oficiais nas zonas onde predominam.

Lesoto é também conhecido como o “Reino da Montanha” por ser um país montanhoso, cuja altitude mínima é de 1.000 metros acima do nível do mar, enquanto 80% de seu território está acima dos 1.800 metros de altitude.

Essa característica faz com que a temperatura apresente mudanças acentuadas entre o dia e a noite, e que os lesotenses precisem de agasalhos noturnos, tal como ocorre nos Andes peruanos, o que também permite a queda de neve durante os meses de inverno, considerando que o país possui altitudes de até 3.500 metros acima do nível do mar (Monte Ntlenyana).

Devido às abruptas variações de temperatura, os lesotenses tradicionalmente vestem mantas para se proteger do frio e utilizam também gorros ou capuzes de lã para se proteger dos ventos fortes e do frio, assim como, nos Andes peruanos, o poncho e o chullo são peças de vestuário comuns. Da mesma forma, devido ao terreno acidentado de Lesoto, os cavalos basotho (de pequeno porte) e as mulas são meios de transporte ainda amplamente utilizados, assim como as lhamas e mulas o são nas montanhas escarpadas do Peru.

BRASÃO DE ARMAS DO LESOTO Fonte: porfinenafrica.com
MASERU, LESOTO Fonte: www.istockphoto.com
PAISAGEM DE NEVE DA ESTÂNCIA DE ESQUI DE MONTANHA NO LESOTO Fonte: www.istockphoto.com

2. A cidade de Djemila, que significa “bela”, também chamada Cuicul, foi fundada pelo imperador Nerva Trajano. É um exemplo de joia do urbanismo romano, com um fórum, templos, basílicas, arcos do triunfo, inúmeras colunas e residências.

3. A colônia militar romana de Timgad (Thamugadi), também conhecida antigamente como colônia Marciana Trajana, foi construída pela terceira legião Augusta em uma zona montanhosa no ano 100 d.C. É uma das cidades mais bem conservadas, com templos, basílicas, um teatro e um impressionante portal.

4. Al-Qal'a de Beni Hammad possui construções da primeira capital dos emires hamádidas, fundada em 1007.

5. A paisagem do Vale do M’Zab, criada pelos ibaditas em torno de cinco aldeias fortificadas (ksur), conserva-se praticamente intacta.

6. A Casbah de Argel é um exemplo de medina único em seu gênero. Está situada em uma das mais belas paisagens costeiras do Mediterrâneo.

Para aqueles que desejam continuar sua imersão no rico patrimônio argelino, é recomendável visitar importantes museus, como: o Museu Nacional de Antiguidades (1897), que exibe artefatos de origem romana e islâmica, testemunhando a presença do Império Romano desde o ano 46 da era cristã ao longo de cinco séculos de dominação até o fim de seu poderio; o Museu Nacional de Belas Artes de Argel (1930), que abriga estátuas e pinturas, inclusive de renomados mestres europeus; e o Museu do Bardo (1930), especializado em história e etnografia.

Por outro lado, se quisermos nos referir à cultura argelina atual, poderíamos constatar manifestações vibrantes e com personalidade própria, que conseguem combinar o legado tradicional com novas expressões de modernidade, impregnadas por um forte sentido de identidade nacional. O desenvolvimento histórico e religioso do país se expressa em alguns valores profundamente enraizados em seu cotidiano, como o sentido patriótico e de honra, a tolerância, hospitalidade, o perdão e a fé muçulmana.

É necessário ter em mente que a Argélia tem sido o berço de uma plêiade de pensadores e intelectuais de destaque global, desde tempos antigos, como é o caso de Santo Agostinho de Hipona; até contemporâneos como o romancista e filósofo Albert Camus, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1957; a romancista, cineasta e historiadora Assia Djebar, que foi a primeira mulher magrebina eleita como membro da Academia Francesa; o escritor, poeta e dramaturgo Kateb Yacine, pioneiro da literatura argelina contemporânea em língua francesa; entre muitos outros escritores, ensaístas, jornalistas e homens de letras que se projetaram além das fronteiras do país.

Em vista da riqueza histórica e cultural que caracterizam tanto o Peru quanto a Argélia, certamente existem muitos valores compartilhados que podem nos aproximar e — ao mesmo tempo — enriquecer as instituições e a sociedade civil em geral, por meio de novos vínculos de colaboração e amizade para o benefício mútuo, razão pela qual se abre um potencial significativo para o desenvolvimento de nossas relações bilaterais nesse campo.

A CIDADE DE DJEMILLA Fonte: istockphoto.com
A COLÓNIA MILITAR ROMANA DE TIMGAD Fonte: istockphoto.com
ALQAIA DE BENI HAMMAD Fonte: istockphoto.com
PAISAJE DEL VALLE DEL MZAB Fonte: istockphoto.com
CASBÁ DE ARGEL Fonte: istockphoto.com

RECEITA TAMINA

Tamina é um doce tradicional argelino, especialmente servido para celebrar o nascimento de uma criança e durante a festividade de Mouloud ou Mawlid. Consiste em sêmola torrada misturada com mel e manteiga, muitas vezes enriquecida com diversas especiarias e sabores conforme a região. A decoração é uma parte importante de sua apresentação, pois expressa a criatividade de cada lar.

INGREDIENTES:

- 500g de sêmola (recomenda-se a grossa)

- 250g de manteiga

- 250g de mel de flor de laranjeira (pode ser substituído por xarope de açúcar)

- 2 a 3 colheres de sopa de água de flor de laranjeira

- 100g de coco ralado (opcional)

- 1 colher de chá de baunilha

- 100g de halva turca

- Decoração opcional (pérolas de açúcar, canela em pó, frutos secos torrados, coco, halva turca etc.)

PREPARO:

1. Derreta a manteiga e o mel em uma frigideira em fogo baixo. Retire do fogo e adicione a água de flor de laranjeira.

2. Torre a sêmola em outra frigideira em fogo médio-baixo até dourar (cerca de 5 minutos, em etapas, se necessário).

3. Despeje metade da sêmola torrada na mistura de mel e manteiga, mexa bem. Adicione a outra metade e misture até obter uma massa homogênea. A mistura deve estar líquida.

4. Esfarele a halva turca dentro da mistura. Adicione metade do coco ralado (se for usar) e mexa bem.

5. Verifique a consistência; deve ser macia, mas ligeiramente líquida. Se estiver muito líquida, adicione o restante do coco. Caso não use coco, deixe repousar um pouco para engrossar.

6. Sirva a Tamina em um prato e decore a gosto.

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