CUMANANA XXXVI-POR

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Cumanana

Boletim Virtual da Cultura Peruana para a África

MINISTÉRIO DE RELAÇÕES EXTERIORES

Tecidos Taquile. Fonte: peru.travel

Preservación de maravillas naturales en el Perú y Sudáfrica: las

flores de Amancaes y Protea Real

“Por uma vereda vem cavalgando José Antonio, ele vem de Barranco para ver a flor de Amancaes... Fina garoa de junho, lhe beija as duas bochechas e quatro cascos cantando vão a caminho de Amancaes”

"José Antonio" composição de Chabuca Granda em referência a José Antonio de Lavalle y García, engenheiro e criador de cavalos de passo peruano, e a Festa de Amancaes, realizada nas colinas costeiras de mesmo nome que enverdecem durante os meses de junho a outubro.

Apesar da distância geográfica, o Peru e a África do Sul têm uma coisa em comum: ambas são duas das nações mais ricas em diversidade biológica do planeta, um traço característico reconhecido internacionalmente. É assim que eles têm participado de vários espaços internacionais que promovem a conservação de ecossistemas naturais e a proteção da diversidade biológica. Um exemplo disso é a integração de ambos no Grupo de Países Megadiversos Afins, criado em 2002 para funcionar como espaço de interação e cooperação para garantir a distribuição equitativa dos benefícios obtidos com o uso

O presente artigo aborda dois ecossistemas que se destacam por sua riqueza de biodiversidade e por enfrentarem desafios significativos para sua conservação: as colinas costeiras do Peru e o Reino Floral do Cabo na África do Sul. Desse modo, o objetivo é aprofundar o conhecimento desses ecossistemas únicos e os desafios comuns que enfrentam, e destacar a participação de organizações internacionais em sua

Características e ameaças dos ecossistemas

Ao longo da costa peruana estão as colinas costeiras ou "oásis de neblina", ecossistemas endêmicos do Peru e do Chile, cuja principal característica é sua dinâmica sazonal. Devido a isso e à cobertura de neblina, não houve um mapeamento adequado das colinas costeiras; no entanto, em estudo realizado por Moat et al. (2021) destacou-se que sua extensão total seria de aproximadamente 17.093 km2, dos quais 12.052 km2 se encontram em território peruano distribuídos entre as 67 colinas costeiras identificadas.

Ao passo que na zona sudoeste da África do Sul, com uma extensão maior, encontra-se um dos seis reinos florais conhecidos no mundo: o Reino Floral do Cabo, o qual cobre mais de 90.000 km2. Apesar de ocupar menos de 0,5% da superfície da África, tem sido destacado que sustenta, aproximadamente, 20% da vida vegetal naquele continente (NASA, 2023). Graças à sua diversidade de flora e seus altos níveis de endemismo, a UNESCO reconheceu este reino como Patrimônio da Humanidade.

Colinas costeiras. Fonte: El peruano.pe

costeiras abrigam um elevado número de espécies endêmicas, incluindo a flor de Amancaes ou "flor de Lima". Ao passo que, no Reino Floral do Cabo, existem plantas adaptadas ao fogo e à seca, como o fynbos, conhecido por sua diversidade de espécies de plantas que inclui a Protea real, a flor nacional da África do Sul.

Apesar disso, esses ecossistemas enfrentam ameaças semelhantes. Em primeiro lugar, a expansão urbana levou a uma relação complicada entre os habitantes e esses ambientes naturais, na qual se ameaça sua distribuição e espécies endêmicas. Assim, entre 2009-2020, perdeu-se cerca de 968 hectares de colinas costeiras devido ao crescimento urbano, incluindo as “Lomas de Cerro Negro” (Colinas do Monte Negro) no distrito de San Juan de Lurigancho, em Lima (Centro Urbes, 2020; PNUD, 2022).

Da mesma forma, outro desafio identificado são as mudanças climáticas, que alteram os padrões de distribuição e comportamento dos ecossistemas. Assim, embora os incêndios no Reino Floral sejam necessários para a rebrotação de plantas e a dispersão de sementes, sua ocorrência na época errada ou com maior frequência do que o necessário leva à eliminação de espécies (SANBI, s.d.). Outras ameaças são a mineração informal ou ilegal nas colinas costeiras e a presença de espécies invasoras no Reino Floral.

Áreas protegidas da região do Cabo Floral.

Flor de Amancaes. Fonte undp.org
Fonte: Wiki

Participação de organismos internacionais na conservação das colinas costeiras e do Reino Floral do Cabo

Para promover a preservação destas áreas, os governos de ambos os países implementaram mecanismos para protegê-las; no entanto, o apoio de organismos internacionais tem sido um fator importante para conseguir isso. No caso do Peru, o PNUD implementou o Projeto EbA Lomas durante os anos 2016-2021 com o objetivo de conservar e gerir de forma sustentável as colinas costeiras de Lima, para o qual foi realizado um trabalho conjunto com autoridades locais e organizações cidadãs às quais foi prestado apoio técnico.

Enquanto isso, na África do Sul, com doações monetárias do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, em sua sigla em inglês), foi implementada, a partir de 2001, a "Ação para as Pessoas e o Meio Ambiente do Cabo” (CAPE, em sua sigla em inglês), uma associação de vinte anos que visava conservar e restaurar a biodiversidade do Reino e do ambiente marinho adjacente. Na implementação do projeto participaram o PNUD e o Banco Mundial, assim como a sociedade civil, pessoas com propriedade privada nas áreas do ecossistema e instituições estatais.

Finalmente, destaca-se a importância de ambos os ecossistemas por seu alto nível de biodiversidade e endemismo, e também pelos serviços ecossistêmicos e oportunidades de subsistência que podem oferecer. Nesse sentido, para que o Peru e a África do Sul se consolidem como líderes na conservação global, é essencial que as alianças internacionais sejam fortalecidas e ampliadas, promovendo iniciativas que integrem a participação do Estado, comunidades locais, organizações da sociedade civil e organismos internacionais. A posição privilegiada de ambos os países no âmbito ambiental poderia facilitar uma futura cooperação na qual se promova a conservação dos ecossistemas e se forneça o apoio a iniciativas cidadãs que compartilhem esse objetivo.

Protea real. Fuente Darby Creek Trading

Artigo 2:

Paralelismos na manufatura artística têxtil dos Andes

Peruanos e da África Ocidental

Romina Bielich Escaró

“Das tecnologias primordiais do avanço humano, a capacidade de fiar fibras vegetais ou animais e tecê-las para criar tecidos é de importância elementar e eterna.”

Sir Neil Cossons, historiador británico, The Heritage of the Textile Industry, 2022.

Para os povos antigos, a agricultura e a pecuária constituíram as chaves para o nascimento de uma manufatura têxtil cujo propósito excedeu as necessidades básicas de vestuário e proteção contra os elementos. O acesso a novos recursos abundantes como as fibras de algodão e lã, e pigmentos naturais como o índigo e vermelhão, fomentaram o desenvolvimento de novas técnicas de fiação que elevaram a fabricação têxtil à categoria de expressão artística. Como tal, seu produto possibilitou denotar e comunicar aspectos-chave da identidade do indivíduo, como seu papel na comunidade ou seu status social.

Nos Andes peruanos, os povos originários geraram uma vasta amostra têxtil de grande importância e diversidade. Desde os mantos Paracas, considerados uma das artes têxteis mais refinadas, belas e sofisticadas do mundo (MINCETUR, 2021), passando pelos tecidos Nazca e Moche, conhecidos por seu uso restrito à elite sacerdotal (Museu Chileno de Arte Pré-colombiana, 1996), e a especialização na técnica de tapeçaria entalhada ou Kelim (Galeria de Arte Pré-Colombiana do Peru, 2024), respectivamente, é possível admirar uma tradição exemplar que foi transmitida e evoluiu ao longo das gerações, assimilando as influências culturais que precederam o Império Inca.

Manto de Paracas. Fonte: ccincagarcilaso.gob.pe

As técnicas têxteis das comunidades dos Andes peruanos atravessaram numerosos processos de adaptação, conseguindo preservar sua essência mesmo após o estabelecimento do Vice-Reino do Peru e o estabelecimento dos consequentes mecanismos de reestruturação do capital humano para fins produtivos. Hoje em dia, sua perseverança nos permite desfrutar dos frutos do tear de Cuzco, do tear de Arequipa e de Taquile.

A mais de 8000 quilômetros de distância do Peru, ao redor do Golfo da Guiné, localizado na costa da África Ocidental, as comunidades nativas de Gana e da Nigéria desenvolveram sua própria manufatura têxtil tradicional. As comunidades Ashanti, de Gana, e Iorubá, da Nigéria, empregaram principalmente o tear, um amplo repertório de cores vibrantes e a combinação de padrões geométricos para conceber produtos têxteis de alta qualidade.

De forma similar, na Nigéria, um belo tecido artesanal também composto por longas tiras de padrões é produzido pelos povos Iorubá, um importante grupo étnico do sudoeste do país. O Aso Oke, ou "tecido do interior", apresenta um alto nível de simbolismo expresso mediante a escolha das cores e padrões. Reconhecidos como grandes tecelões, os Iorubás mantêm uma sólida tradição no que diz respeito à produção do tecido Aso Oke, uma vez que é costume que tanto os teares quanto as peças encomendadas aos artesãos sejam transmitidos de geração em geração (The Centenary Project, 2024).

Têxteis cerimoniais nigerianos em “Aso Oke”. Fonte: Slam.org

Um aspecto de destaque é a forma como as artes têxteis da África Ocidental se encontram vivas no presente. Tanto para os ganenses quanto para nigerianos – e seus respectivos grupos étnicos – o tecido Kente e o Aso Oke fazem parte dos trajes utilizados nas ocasiões mais especiais, desde casamentos e cerimônias até formaturas.

Fonte: Museu Nacional de Arte Africana por Eliot Elisofon

Em Gana, a popularidade do Kente levou a que ele fosse integrado ao processo de design de roupas completamente contemporâneas de uso cotidiano, chegando inclusive a ser reproduzido por meios digitais para sua aplicação em calçados e acessórios diversos. No resto da região subsaariana do continente africano e em algumas comunidades afrodescendentes, o Kente se tornou um símbolo latente de identidade, orgulho e patrimônio coletivo por meio de sua adoção por líderes africanos e sua inclusão nos desenhos das estolas de graduandos nos Estados Unidos (Minneapolis Institute of Art, 2024).

Os têxteis artesanais andinos e aqueles que podemos apreciar na África Ocidental compartilham diversas características que contribuem para sua singularidade e maestria artística. No Peru, geralmente, a produção têxtil artesanal tradicional encontra seu espaço nas esferas do turismo, da produção de trajes folclóricos típicos, e do uso cotidiano das comunidades rurais. Nos últimos anos, os têxteis peruanos com uma perspectiva menos tradicional ganharam espaço na moda internacional devido à versatilidade do tecido e à recente difusão da silhueta tradicional da mulher andina (El Comercio, 2024).

Portanto, é de suma importância fazer uso das ferramentas que nos brinda esta era da informação para multiplicar intencionalmente os espaços de disseminação do artesanato têxtil andino, com especial ênfase na sua versatilidade, o que lhe permitiria fazer parte de cada lar. Aprender com a divulgação têxtil africana e sua fusão poderia ser uma possibilidade de crescimento combinado onde os têxteis são realimentados com o social e o gastronômico, contribuindo assim para o fortalecimento de uma plataforma cultural afro-peruana que firma suas raízes em histórias semelhantes.

Coleção outono-inverno, inspirada na “silhueta da mulher dos Andes peruanos” Fonte El comercio de Sergio Dávila

RECEITA: Laranja Recheada

Ingredientes

12 laranjas da terra

2 quilos de açúcar mascavo

Água

Sal

Para o manjar branco:

1 litro de leite fresco

500 gramas de açúcar mascavo

1 pau de canela

Preparo

Lave muito bem as laranjas e descasque-as. Retire uma parte da polpa e as sementes (deixando uma concavidade). Lave mais duas ou três vezes e deixe de molho por três ou quatro dias na água com sal. Retire as laranjas e enxague-as. Em seguida, coloque-as na água, em fogo médio, por 15-20 minutos (repita o processo duas ou três vezes), até que perca o amargor e tenha uma textura macia ou suave.

Enxágue uma última vez e leve as laranjas para ferver em uma panela com água, adicionando o açúcar aos poucos. Cuide para que ferva em fogo lento (1h-1:30h); quando estiverem no ponto (a laranja já está como em conserva, com sabor doce e consistência de mel), retire do fogo e deixe esfriar. Recheie as laranjas com manjar branco; você pode adicionar frutas secas como figos ou passas.

À parte, ferva o leite com o açúcar e a canela e mexa na panela até obter uma mistura homogênea (aproximadamente 30 minutos).

Referências de artigos

Centro Urbes. (23 de julio de 2020). Las lomas de Lima: entre las invasiones y el derecho a la vivienda digna. https://centrourbes.wordpress.com/2020/07/23/las-lomas-de-lima-entre-las-invasiones-y-el-derecho-a-lavivienda-digna/

Moat, J. et al. (2021). Seeing through the clouds – Mapping desert fog oasis ecosystems using 20 years of MODIS imagery over Peru and Chile. International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation, 103. https://doi.org/10.1016/j.jag.2021.102468

NASA. (s.f.). South Africa’s Greater Cape Floristic Region.

https://earthobservatory.nasa.gov/images/152000/south-africas-greater-cape-floristic-region

Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo [PNUD]. (2022). Detrás de la Neblina: lecciones aprendidas en las lomas de Lima.

https://www.undp.org/sites/g/files/zskgke326/files/migration/pe/PE_PNUD_EbA-Lomas-Detras-de-la-nebli na.pdf

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South African National Biodiversity Institute [SANBI]. (s.f.). Vegetation of SA. https://pza.sanbi.org/vegetation/fynbos-biome

Ministerio de Comercio Exterior y Turismo del Perú (2021). Mantos Paracas vuelven al Perú, ¿Cómo hace el Perú para recuperar su patrimonio cultural?.

https://peru.info/es-pe/comercio-exterior/noticias/7/32/mantos-paracas-vuelven-al-peru---como-hace-el-p eru-para-recuperar-su-patrimonio-cultural-

Museo Chileno del Arte Pre Colombino (1996). NAZCA. Santiago de Chile. 1996. Página 20- 21.

https://museo.precolombino.cl/wp-content/uploads/2020/10/Nasca.pdf

Galería del Arte Precolombino del Perú (2024). Colección Plata y Oro de los Incas. Textiles Mochica. Textiles Mochica - Colección Plata y Oro de Los Incas (coleccionpoli.com)

Timothy S. Y. Lam Museum of Anthropology. Ghana: Weave a Kente Cloth. Ghana: Weave a Kente ClothTimothy S. Y. Lam Museum of Anthropology (wfu.edu)

The Centenary Proyect. A close-up on Aso-Oke of the Yoruba.

https://artsandculture.google.com/story/a-close-up-on-aso-oke-of-the-yoruba-pan-atlantic-university/ZgW B6Y0ZViQKJw?hl=en

Minneapolis Institute of Art. Asante Kente Cloth. Asante Kente Cloth –– Minneapolis Institute of Art (artsmia.org)

Diario El Comercio (01 de marzo de 2023). Diseñador peruano Sergio Dávila presenta su colección durante la Semana de la Moda de París. https://elcomercio.pe/viu/moda/disenador-peruano-sergio-davila-presenta-su-coleccion-durante-la-semana -de-la-moda-de-paris-moda-peruana-disenador-peruano-desfile-de-modas-noticia/

https://programaacua.org/wp-content/uploads/2022/08/Libro-Fogon-Afroperuano.pdf

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