Reverso Rural - edição 110

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Cachoeira - 04/2019 - Edição nº 110

Apicultura da UFRB estimula produção de mel p. 6

CULTIVO DO LIMÃO

PECUÁRIA CRUZALMENSE

VALBER CARVALHO

Produtor de Muritiba aponta caminhos para o sucesso na produção da fruta p. 4

Raça holandesa é destaque na criação de gado da região

O Reverso faz um batepapo com o apresentador do programa Bahia Rural p. 8

p. 5



SUMÁRIO 04

Editorial

AGRICULTURA

Produtor do distrito de Pernambuco, Muritiba, aponta caminhos para o sucesso na produção do limão

PECUÁRIA

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Raça de gado Holandesa se descata e traz boa rentalibilidade aos produtores de Cruz das Almas

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CAPA

Produção de mel no Nordeste tornou a criação de abelhas setor importante da produção agropecuária do Brasill

ENTREVISTA

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O jornalista Valber Carvalho comenta sobre a profissão e o atual cenário rural do país

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PESCA E MARISCAGEM

Conheça o cultivo de ostras da Bacia do Iguape e um grupo de apoio à mariscagem em Maragogipe

A revista Reverso Rural surge como uma proposta inovadora para contribuir com produtores de agricultura familiar, pescadores e marisqueiros, feirantes, comerciantes e moradores em geral do Recôncavo que tenham interesse em se informar sobre os assuntos agropecuários da região. O foco de atuação será nos municípios de Cachoeira e São Félix. No entanto, pautas de cidades cincunvizinhas poderão ser trabalhadas, desde que tenham influências diretas ou indiretas nas diversas localidades do Recôncavo, despertando o interesse público. Ao considerar que a agricultura, a pesca e a mariscagem são algumas das principais atividades econômicas da região, a revista tem o objetivo de divulgar novas possibilidades para o nosso leitor, mostrando técnicas que o ajudem a conciliar o aumento de sua produtividade com a preservação do meio ambiente, além de expor as dificuldades que este indivíduo enfrenta e suas expectativas para os próximos períodos de plantio, colheita, pesca e mariscagem. Nesta edição você irá conhecer a produção de limão de Muritiba e a criação de gado em Cruz das Almas. A mariscagem na cidade de Maragogipe e o cultivo de ostras no Iguape também serão tratados, além da nossa reportagem principal sobre criação de abelhas na UFRB e uma entrevista exclusiva com o apresentador do Bahia Rural, Valber Carvalho. Boa leitura!

Expediente Reitor: Silvio Soglia Diretor do Centro: Jorge Cardoso Coordenador do curso: Robério Marcelo Professor: Péricles Diniz Monitor: Rodrigo de Azevedo Editor-chefe: Rodrigo de Azevedo Redatores: Caio Batista e Shagaly Ferreira Editores setoristas: Alexandro Lopes e Lucas Neves Repórteres: Adailane Souza, Bruno Leite, Gabriella Freitas, Ivana Moreira, Leonardo Gonçalves e Liane França Fotógrafos: Bruno Brito, Eliane Cruz, Jelson Junior e Monalysa Méllo Ilustrações: Janeise Santos Marca Reverso Rural: Mateus de Souza Colaboração: Daniel S Andrade e Gabriela da Fonseca Publicidade: Emanuelle Sena Projeto Gráfico: Rodrigo de Azevedo Diagramação: Giovane Alcântara Rodrigo de Azevedo Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião da orientação ou demais profissionais da instituição aqui elencados.


AGRIGULTURA

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Cultivo do limão A escolha das mudas é fundamental para ter sucesso no cultivo do limoeiro Texto: Adailane Souza Foto: Monalysa Mélo

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limão, diferente de outras frutas, pode não ter a polpa consumida em estado natural, mas seu extrato é muito utilizado em bebidas, doces, sorvetes, molhos para saladas e preparos para alimentos, além de ser utilizado em remédios e produtos de limpeza. O produtor Pauloaécio Lyrio cultiva 11 mil pés de limão tahiti no distrito de Pernambuco, no município de Muritiba, em uma área de 25 hectares, contendo 42 variedades da fruta. Ele começou a plantar limão pela própria necessidade do mercado. “A gente viu uma busca por limão, e o da gente vinha de São Paulo e de Minas”, afirmou.

O produtor tem que ficar atento com as doenças e pragas que podem afetar o limoeiro como os nematoides presentes no solo, manchas negras, que afetam as folhas, cochonilha, mosca negra e feltro. São pragas que podem ser controladas com muita facilidade, Cultivo o segredo é estar O limoeiro é uma planta de tamanho médio a sempre realizando grande, curvada e quase sem espinho. Sua folhaações preventivas. gem é verde e densa, com folhas de tamanho mé-

dio. As flores, normalmente, contêm cinco pétalas e não apresentam pólen. A floração ocorre durante quase todo o ano. Aquele que deseja iniciar uma produção de limão tahiti deve ter conhecimentos básicos e planejamento, para poder garantir uma boa produtividade e menos apodrecimento da fruta. Paulo tomou alguns cuidados necessários na etapa inicial. “Primeiro, tem que ver sua região, qual o índice de chuva, qual a sua altitude e a temperatura média. Sabendo de tudo isso, você vai partir para o solo, você vai fazer um manejo através de subsolagem, nada de usar arado e grade. Tem que fazer uma análise para saber de cada nutriente que o solo vai precisar”, comentou.

Limões tahiti produzidos na zona rural de Muritiba-BA

Para ter sucesso no plantio, a escolha das mudas é de suma importância. Escolher um porta-enxerto resistente à seca, como por exemplo, o Citrandarin, Índio e Volkameriano. Essa escolha faz muita diferença para o crescimento e desenvolvimento da planta. A melhor época para realizar o plantio é nas primeiras chuvas do mês de março. Outro conhecimento que se faz necessário diz respeito à adubação. Para adubar o limoeiro é indispensável analisar o solo para saber das necessidades de nutrientes que a planta necessita. Isso geralmente é feito de 15 a 30 dias, aos poucos, pois caso a planta receba uma alta dosagem de adubo, ela não vai conseguir absorvê-la e pode atrair muitas pragas. No período que não ocorrer chuvas, o processo de irrigação pode ser feito manualmente, com auxílio de regadores ou por um sistema automatizado. Em média, a quantidade de água que a planta precisa é de 20 litros por dia. O limoeiro começa a produzir em pouca quantidade logo no primeiro ano do início do cultivo. A partir do terceiro ano ele começa a produzir em maior quantidade. A colheita dos frutos é feita manualmente, com auxílio de ganchos. A cada safra é possível apanhar em média quatro caixas e meia de limão por planta.


PECUÁRIA

O r a m o p e cu a r i s t a a p re s e n t a i nve s t i d o re s e m C r u z d a s A lm a s

Raça Holandesa se destaca e aponta boa rentabilidade para os produtores

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criação de gado é uma opção para quem deseja lucratividade nos negócios. Dividida em três categorias, essa atividade pode ser classificada em: criação de gado para corte, para produção de leite e para exposição em leilões. Dados da Embrapa Gado de Leite apontam que o Brasil é o quarto maior produtor leiteiro do mundo, contribuindo, assim, para o setor econômico. Além disso, a produção de leite pode ser utilizada para fabricar diversos produtos derivados que diariamente ocupam espaço na mesa dos brasileiros. Quando se fala sobre o gado leiteiro, o destaque é a raça Holandesa, que já se tornou referência nesse tipo de produção, devido ao longo período de lactação. Esse tipo de raça consegue produzir grandes volumes de leite, fator este que gera alta lucratividade aos produtores. O pecuarista Ronaldo Vieira, residente da cidade de Cruz das Almas, herdou essa atividade do pai. Desde criança ele já estava envolvido nesse ramo. Criador de gado Holandês, ele cita que ou-

tras características da raça são a facilidade no manejo e produção de leite diária, bem como a sua comercialização. “Pela manhã retira-se o leite, a tarde os bois são alimentados com ração e depois é só deixá-los no pasto para se alimentarem do capim verde”, comentou Ronaldo. A preocupação com a alimentação e com o tratamento são aspectos importantes na criação de gado leiteiro. A alimentação deve ser balanceada. “Eu utilizo farelo com milho e mandioca, além de frutas, como a jaca. Também coloco sal mineral no pasto, pois o gado precisa de cálcio”, completa. Segundo Vieira, o tratamento deve ser cuidadoso, incluindo a vacinação e a aplicação de vermífugo. Para o pecuarista, existe diferença entre essas medicações. A preferência sempre é dada para os medicamentos que tratam e também auxiliam no desenvolvimento do animal. A rentabilidade do negócio é garantida. “Retiro o meu lucro com a produção do leite. Torno a investir no próprio gado, na compra das rações e medicamentos”, finalizou Ronaldo.

Texto: Ivana Moreira Foto: Eliane Cruz

Eu utilizo farelo com milho e mandioca, além de frutas, como a jaca. Também coloco sal mineral no pasto, pois o gado precisa de cálcio.


CAPA

O macacão pode ser de brim ou nylon, deve cobrir todo o corpo e suas extremidades arrematadas com elástico, para impedir a entrada de abelhas na vestimenta

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UFRB estimula produção de mel no interior baiano O aumento da produção de mel no Nordeste tornou a criação de abelhas setor importante da produção agropecuária no Brasil Texto: Leonardo Gonçalves Foto: Bruno Brito

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ue as abelhas inspiram medo não é novidade, mas esses pequenos invertebrados têm suma importância para a manutenção da fauna e da flora do nosso planeta. Muitas vezes injustiçados pela natureza agressiva, esses insetos passaram por um processo de extermínio em massa por pulverização de inseticidas e destruição de colmeias. E é para evitar o aniquilamento desses animais que instituições de ensino promovem pesquisas e cursos. Uma dessas instituições é a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que possui uma Fazenda Experimental com laboratórios de apicultura no Centro de Ciências Agropecuárias, Ambientais e Biológicas, no campus de Cruz das Almas. Segundo o coordenador técnico da fazenda experimental,

Erivaldo Silva, a criação de abelhas na UFRB pretende educar alunos da universidade, apicultores, população externa e alunos de outras instituições. “O setor de apicultura oferta estágios para os estudantes da UFRB e para estudantes de outras instituições, geralmente Institutos Federais e Escolas Técnicas. Além disso, a gente também faz a parte de extensão fora da universidade. Participamos da Feira Internacional da Agropecuária (Fenagro) com stand de apicultura, mostrando para a população como funciona uma colmeia e a importância das abelhas. Nós oferecemos também um curso de treinamento técnico em apicultura”, concluiu. De acordo com a UFRB, a Fazenda Experimental tem como principal objetivo o aperfeiçoamento


CAPA

Potencial nordestino O nordeste brasileiro é um dos maiores produtores de mel, geleia real e pólen devido ao clima favorável em boa parte do ano e à flora diversificada. Segundo Pedro Nascimento, apicultor da UFRB, apesar da seca e das altas temperaturas que matam as abelhas, a região consegue, em época de chuva, alavancar os maiores níveis de produção do país. “Quando chove no semiárido brasileiro, vem a maior quantidade de produção. Analisando o período das chuvas, o volume do mel produzido triplica ou quadruplica. Ribeira do Pombal (cidade do semiárido baiano), por exemplo, é a maior

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O Apiário está localizado no Campus da UFRB em Cruz das Almas. A matéria Apicultura é ofertada como optativa para alguns cursos do Campus

potência em exportação e produção de mel do país” declarou. Ainda conforme Nascimento, a Universidade incentiva o apiculturismo, mas faz ressalvas quanto ao manejo dos insetos. “As pessoas que querem criar abelhas devem chamar a análise técnica para a verificação do local. A apícola deve ficar distante 500 metros de residências e criação de animais. Há também outros agravantes, mas essas são as medidas principais para manter a segurança” afirmou. Caso haja problemas com enxames em locais públicos ou residências, a UFRB disponibiliza, à população de Cruz das Almas e às cidades circunvizinhas, um serviço de atendimento e remoção em segurança das colmeias, o SOS Abelha. O projeto de extensão atende solicitações através do número de telefone (75) 3621- 3301 e preserva os enxames da ação destruidora do homem pelo uso do fogo e de inseticidas.

O setor de apicultura oferta estágios para os estudantes da UFRB e para estudantes de outras instituições, geralmente Institutos Federais e Escolas Técnicas. Além disso, a gente também faz a parte de extensão fora da universidade

Infográfico: Janeise Santos

da administração dos recursos gerados e consolidação das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão. E é por essa razão que outras instituições têm parcerias com a UFRB. Um exemplo dessa cooperação é o curso de férias para alunos do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano), que encaminha alunos para aulas práticas e teóricas nas instalações da Fazenda. “É uma experiência inédita. Eu não tinha esse contato com a abelha e fico fascinado com as diversas coisas que a abelha pode fazer. Essa oportunidade que estou tendo agora é de poder visualizar a área e querer investir. Há uma semana, por exemplo, trabalhamos com a produção de lâminas de cera e em uma hora as lâminas já estavam avaliadas em R$120,00.” contou Natan Pereira, estudante do IF Baiano- Campus Governador Mangabeira.

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ENTREVISTA

Reverso Rural Entrevista: Valber Carvalho Texto: Bruno Leite Foto: Reprodução

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uando liguei para Valber já passavam das 22h, e de maneira orgânica, como diz ele, a conversa foi se alongando por temas que atravessam não só a sua trajetória profissional, mas também a sua experiência de vida. Com quase vinte anos à frente do Bahia Rural, programa televisivo voltado ao campo e exibido nas manhãs de domingo da TV Bahia, o comunicador sabe muito sobre as peculiaridades da zona rural, e trata com desenvoltura desde aspectos relacionados à cultura até questões relacionadas ao meio ambiente. Formado em jornalismo pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), passou por diversos meios e ambientes de trabalho – jornal, agência de publicidade, rádio, assessoria de imprensa, revista –, mas foi no documentário que ele encontrou a maior satisfação: fugir do habitual. No seu programa, paletó é um traje proibido. Originalidade é a justificativa.

REVERSO: De onde e como surgiu a necessidade de fazer um programa voltado para o campo? VALBER: A ideia não é minha, eu fui convidado para fazer o programa, isso em agosto de 99 e gostei da ideia desde o início. Na verdade, não tenho certeza se o projeto veio do diretor da televisão ou de algum repórter. Ana Valéria Colares me falou outro dia que ela tinha tido essa ideia e apresentado. Já existia o Globo Rural, então a gente veio na sequência. O que eu acho importante dizer é que em 1999 o campo ainda era visto de uma maneira muito caricata. Em vários programas que existiam sobre o campo, ou as pessoas se vestiam como “tabaroas”, como pessoas bem excêntricas, ou então uma coisa muito regional. Ou as pessoas apresentavam vestidas como se estivessem indo para uma quadrilha de São João, ou elas tinham que se vestir como gaúchos de bombacha. Isso me chamava atenção porque era como se eu tivesse observando que ali tinha um olhar que não era o meu. Eu já tinha um olhar sobre o campo, me interessava muito e eu acho que esse programa já tinha essa noção desde o início.


ENTREVISTA

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R: Você já tem um bom tempo à frente do programa. Com essa experiência dá para ter uma noção de muita coisa. O que mudou na vida no campo? V: O campo mudou muito. Primeiro que o pequeno produtor rural, tanto por tentativa e erro quanto por política governamental, passou a ser mais orgânico. Ficou convencionado que o pequeno produtor não deve pegar em agrotóxico por conta dos riscos que ele corre ali em uma propriedade pequena. Agora, essa é uma vertente. O agricultor pequeno, ele se empoderou e se achou capaz disso. Eu não sou partidário de Lula, já votei nele e me desencantei muito, mas eu sou muito justo, ele fez uma coisa muito boa quando ele abriu crédito para o pequeno produtor. Abriu muito crédito em relação ao passado e mudou esse perfil do olhar dos órgãos governamentais em relação ao crédito ao pequeno agricultor. Acho que o grande produtor rural começou a entender também que ele tinha compromissos com a natureza, sob penalização da própria natureza.

Eu sou o cara que se mete onde não é chamado. É porque eu acredito muito na capacidade que todos nós temos de sugerir. Agora, se você não aceitar minha sugestão é um problema seu, eu fiz minha parte.

R: Há alguma matéria que te marcou nesses anos de programa? V: Tem uma minha que me marcou muito que é sobre uma cooperativa em Uauá. Nessa cooperativa, eles eram treze caras. Primeiro eles plantavam o feijão, aí em um belo dia se reuniram e falaram “vocês já notaram que de cada dez tentativas de safra a gente perde sete?”. Percebendo isso, começaram a criar bodes. De treze, sete desistiram e sobraram seis. Esses caras começaram a crescer e hoje são mais de mil associados. Eles produzem leite de cabra, que é vendido para as prefeituras da região, produzem pernil de cabra e eles me ensinaram muito, coisas assim, revolucionárias. Então, o presidente começou a tomar aulas de gestão em Irecê à distância... um deles é tão fera que propôs mudanças no sistema de silos para o Nordeste. Ele criou um silo rapadura, com dimensões de 1m x 3m. Nesses dezenove anos, surgiram algumas coisas assim, algumas pautas que eu gostaria até de repassar para o poder público como políticas de governo, mas nem sempre as pessoas estão dispostas a ouvir. R: Você é bastante propositivo nesse sentido ou é impressão minha? V: Sou. Eu sou o cara que se mete onde não é chamado. É porque eu acredito muito na capacidade que todos nós temos de sugerir. Agora, se você não aceitar minha sugestão é um problema seu, eu fiz minha parte. R: A Bahia tem alguns marcos nesses últimos anos no que se relaciona com o campo. O surto da Vassoura de Bruxa, a erradicação da Aftosa... Como é que você avalia cada um deles?

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V: Nós saímos de uma situação com febre aftosa. Começou-se a fazer um trabalho muito sério no governo Paulo Souto, que repercutiu em uma campanha em massa de vacinação. O governo César Borges continuou. Quando o PT entrou, algumas pessoas torceram o nariz, achando que não conseguiriam seguir com seriedade; então mudamos de estágio e hoje somos zona livre de aftosa com vacinação. Se até 2021 continuarmos sem casos, seremos livres da febre aftosa. Já a vassoura de bruxa, ela é uma doença endêmica da Amazônia; estive lá para visitar minha filha em 1989 e quando saí estava escrito na parede do aeroporto de Belém que era proibido sair com mudas de plantas e frutas, eu estava com cupuaçu na mochila para fazer sorvete e não entendia a proibição. Com a vassoura de bruxa, houve a derrocada de muita gente rica, houve o desespero de muita gente pobre. Então, muita gente não só empobreceu, mas perdeu a dignidade, no sentido de ir para a miséria. Acredito que, aos poucos, não sei se vai voltar ao que era, mas quem produz cacau hoje faz de forma híbrida, com espécies mais resistentes. R: E o boom do Oeste da Bahia? V: Eu estive no Oeste da Bahia em 1987 como jornalista de um documentário de uma professora de economia, eu vi o Oeste nascendo e eu vou te falar que é uma coisa assombrosa. A produtividade do Oeste baiano se equipara ou é maior do que a de várias regiões do mundo. Então, assim, o solo não é grande coisa, mas com a adição de alguns nutrientes ele se torna um solo que dá de tudo ali. Então é o solo que tem mais química, mais adição de coisas. O clima também é muito bom. Hoje o maior produtor de leite da Nova Zelândia está lá. R: Em relação às estratégias de convivência com a seca, o que você observa que mudou nesses últimos anos? V: Eu acho que a gente tem um problema básico de investimento. O governo brasileiro e o governo baiano precisa pagar tantas coisas, tantas dívidas e empréstimos tomados, que a capacidade de investimento acaba sendo pequena e acabamos dependentes da iniciativa privada, de um investimento do exterior. Eu acho que a coisa básica que eu não vejo é que falta internet. Não é possível você pensar hoje no desenvolvimento e capacitação de qualquer comunidade sem internet. Por quê? Porque eu posso fazer um curso de capacitação, ministrar aulas para você que tá na seca e quer se especializar. Então, eu acho essas pessoas ilhadas. Contudo, eu acredito que, tanto pela Embrapa, quanto pelo SENAR, pela tentativa e erro, temos um avanço bem legal.


PESCA E MARISCAGEM

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A Festa da Ostra contribui para a valorização desse molusco exótico Texto: Gabriella Feitas Foto: Jelson Junior

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stra é o nome usado para um número de diferentes moluscos tipicamente marinhos ou que vivem em águas relativamente salgadas. Apesar da aparência exótica, a ostra é muito apreciada na culinária de diversas comunidades nativas da região do Recôncavo baiano, dentre essas, as comunidades quilombola Kaonge e Dendê, na Bacia do Iguape. Essa iguaria marinha parece não ocupar local de destaque entre as preferidas no cardápio do povo brasileiro, firmemente ocupado por outras populares, como o feijão, arroz e carne. Mas, apesar de ser olhado com desconfiança, seja por sua aparência nua e gelatinosa, ou pelas temidas intoxicações que podem causar a quem não se atentar à sua procedência e higienização, esse alimento é rico em sais minerais e ômega 3, o que o torna naturalmente saudável e uma alternativa para complementar a dieta das pessoas que vivem próximas de onde pode ser encontrado (áreas de mangue). A ostra ainda possui menor teor de lipídios e de colesterol do que as carnes de frango, boi e porco, e apresenta menor proporção de saturados que a carne bovina. O consumo de ostras é cercado de preconceitos, tanto por fatores culturais, desconhecimento ou pela não-familiaridade da maior parte da população. Seu consumo acaba ganhando status de exótico e excêntrico porque é benéfico para os marisqueiros e marisqueiras do Rio Paraguaçu, que conseguem atrair cada vez mais turistas curiosos para a Festa da Ostra.

Festa da Ostra

Anualmente, a cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, recebe um dos maiores eventos de valorização ao cultivo dessas iguarias. A Festa da Ostra, que ocorre no mês de outubro, tem como objetivo valorizar e trazer visibilidade à produção de ostras que as comunidades locais desenvolvem, enfatizando a importância dessa atividade para a região e para o estado. Nilton Antônio, o “Seu Nico”, líder da cooperativa Núcleo das Ostras e presidente da comunidade do Dendê (localidade produtora de ostras), relata que, quando chegou ao quilombo, passou a ter grandes experiências no seu ofício e, em parceria com a Bahia Pesca, conseguiu ampliar e modernizar o projeto. “A festa acontece desde 2009. E todo ano nós temos esse compromisso de fazer acontecer a festa da ostra. É o principal motivo do nosso avanço nas vendas, porque isso surgiu com muito empenho e gente do mundo inteiro hoje sabe que existe esse evento aqui. Surgiram outros clientes, novas vendas, criadores de outros tipos de mariscos”, comentou Nilton. Depois da criação da festa, o progresso pôde ser alcançado a cada ano. Atualmente, são reunidas 5 comunidades e uma média de 32 marisqueiros e marisqueiras no total, que levam suas dúzias de mariscos saídas do criadouro para a comercialização nesses dias.


PESCA E MARISCAGEM

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Mariquilombo: você já ouviu falar? Texto: Liane França Fotos: Daniel Andrade Gabriela da Fonseca

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riada em 2016 e coordenada pelo administrador e tecnólogo em meio ambiente Daniel Andrade, o projeto Mariquilombo surgiu através da campanha Marisqueira com orgulho, quilombola para sempre! O grupo busca recuperar os estoques naturais de ostras nativas por meio da adoção de melhores práticas de manejo e da implantação de um cultivo de base comunitária. A princípio, a campanha fazia parte do programa Pesca Para Sempre, da Rare, ONG americana que atua em vários países promovendo a pesca sustentável. Na Baía do Iguape, mais precisamente nas comunidades de Capanema e Baixão do Guaí, em Maragogipe, a tentativa da Mariquilombo é de que, com o cultivo, o esforço de mariscagem das ostras diminua e a disseminação de outras sementes (termo utilizado pelas marisqueiras para denominar as ostras em fase inicial) aumente, fazendo com que os estoques naturais voltem a crescer. No início da campanha, a Secretaria Estadual de Política para as Mulheres ofereceu cursos sobre cooperativismo, gestão de negócios e comercialização, capacitando trinta marisqueiras no cultivo de ostras. A iniciativa surgiu para que elas pudessem gerir sozinhas o empreendimento. E desde então, em meio a muito trabalho e dedicação, começaram a chegar os primeiros retornos.

Em 2017, o cultivo comunitário de ostras foi um dos dez empreendimentos vencedores da 5º edição do Prêmio Consulado da Mulher, em São Paulo. “Recebemos do Consulado da Mulher o serviço de assessoria e apoio a gestão durante dois anos, eletrodomésticos e dez mil reais. Esses dez mil reais estão guardados para comprarmos nossa sede própria e sair do aluguel”, contou o coordenador Daniel Andrade. E não parou por aí. No ano seguinte, o Shopping Barra premiou um grupo de mulheres pelo exemplo em cooperativismo e empreendedorismo feminino pela primeira vez em nove edições do prêmio Barra Mulher. Janete Barbosa e Maria Rita Pires foram as representantes do Mariquilombo, que recebeu o prêmio ao lado de personalidades como Margareth Menezes e Virginia Rodrigues. Atualmente, o Mariquilombo não faz mais parte do programa “Pesca para sempre” da Rare, pois tornou-se uma ONG independente com CNPJ e contrato social. Andrade contou ainda que a expectativa para 2019 é conseguir resolver um impasse com a companhia de eletricidade do Estado, que está impossibilitando a venda do pescado. “Apesar de já termos comprado a máquina que realiza o processo de depuração, que é essencial para podermos comercializar nossas ostras, estamos sem energia. Quando solicitamos a ligação da rede, fomos informados que a linha da Coelba passava por cima da casa que encontramos disponível para alugar, e por isso não teriam como fazer essa ligação. Infelizmente estamos nesse dilema”, finaliza Andrade.

Infográfico: Janeise Santos



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