Produção Cultural no Brasil volume 2

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Algumas famílias se instalam no Brasil, famílias europeias, grande parte de origem francesa ou italiana, e começam a viajar com o circo. Existem até famílias japonesas na história do circo brasileiro. Há aventuras narradas em livros, como é o caso do Circo Merino, que é o primeiro circo brasileiro a percorrer toda a costa e o interior, itinerando, levando seus espetáculos a vários pontos, já no século XIX. Mas todos esses circos tradicionais vão se vincular, de uma maneira ou de outra, a uma determinada região. Eles não conseguem ser nacionais. Durante o início do século XIX, você tem um símbolo muito forte, que é o Palhaço Piolim, muito ligado à cidade de São Paulo. Ele instalou o seu circo no largo do Paissandu, que ainda hoje é um ponto tradicional de encontro de artistas circenses. Às segundas e terças-feiras, ao final da tarde, artistas do Brasil inteiro se encontram em alguns bares da região, como o Café dos Artistas. Hoje, felizmente, existe o Centro de Memória do Circo, que fica na Galeria Olido, exatamente ao lado do Café dos Artistas. Ter um centro de memória e ser exatamente nesse local foi uma conquista importante, histórica, para os artistas circenses. A prefeitura promete construir lá um circo de alvenaria, um circo de inverno. Espero que seja realizado. Abrigaria o Centro de Memória, uma escola de circo e uma casa de espetáculos. Ali os modernistas assistiam ao Piolim. O Oswald de Andrade defendia que aquela linguagem era exatamente popular e brasileira, como ele achava que devia ser o modernismo. Enxergavam isso, a amplitude de comunicação, uma forma de manifestação expressiva tipicamente brasileira. O Piolim ganhou destaque nacional depois, mas que era muito fixado em São Paulo. Esses grandes circos que a gente ouve falar hoje em dia, como o Circo Garcia, que acabou tem pouco mais de dez anos, ou o Circo Ivanovitch, são empresas de caráter familiar, são famílias que há seis gerações mantêm a mesma estrutura, mas que contratam outras famílias, outros artistas, trupes que vivem no entorno desse circo, dentro de trailers, com a vida organizada para itinerar pelo país. E isso vai entrar em choque exatamente com aquele outro momento, que é na década 1980, quando pessoas de outra formação, em geral de classe média, ligadas a teatro e à dança, vão procurar as escolas de circo para se formar. Isso cria um embate no modo artístico e no modo de produção. Conte um pouco sobre a diferença entre os circos tradicionais, com domadores de animais, e o circo de escola da geração 1980. 205


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