REVISTA CONVIVÊNCIA Nº 2 - 2012

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remanso dos herdeiros de aristocratas portugueses e diplomatas estrangeiros vindos com a família real em 1808. Casarios e sobrados remanescentes lembram ainda os quintais arborizados onde Vasco passou os verdes anos e onde o perfume dos abricóde-macaco talvez lhe evoque uma de suas primeiras “Madeleines”. A formação intelectual foi entre os jesuítas. No Colégio Santo Inácio, abrigo da elite carioca, Vasco diz ter sido aluno normal. Modéstia, tanto que no centenário da escola foi escolhido para ser um dos oradores nas comemorações que tiveram lugar no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Esportista, traço que conserva no físico até hoje, jogou futebol, vôlei e velejou nas águas de uma baía onde outrora golfinhos pulavam com alegria triunfante. Devorava com avidez os livros de Karl May, Júlio Verne e Emílio Sálgari. É muito provável que o mundo que então se abria para o jovem leitor com suas descrições geográficas sobre itinerários e cidades estrangeiras Paris, Londres, Budapeste, Genebra, - enfim, lugares que contextualizaram heróis e tramas, tenham pesado na decisão de ingressar na Marinha brasileira e conhecer o mundo. O projeto não foi adiante. Vasco é míope. Mas de onde essa vontade de viajar, de conhecer, de desbravar, de unir o sonho à realidade – como queria Julio Verne de cujas viagens extraordinárias foi leitor? Essa possibilidade de descobrir cenários com emoção, quem lhe trouxe foi sua mãe: Ana Vasco, a inesquecível “aquarelista do Leme”. Artista capaz de traduzir a delicadeza das ondas se espreguiçando na areia, o cristal da espuma, o canto dos granitos do Corcovado e Pão de Açúcar, a força vital das plantas tropicais nas Paineiras, as sombras do arvoredo da Lagoa. A figura desta mãe proustiana que lhe trazia o beijo à noite, Vasco perdeu aos 16 anos. Mas a paixão que ela lhe transmitiu pelas paisagens e pela música ficou. O aprendizado sobre a ausência materna foi preenchido pela figura de uma madrasta, que ao contrário das dos contos de fadas, o encorajou e amou como filho: Dona Acácia, segunda mãe que não lhe deu leite, mas lhe deu mel. Num ambiente familiar privilegiado, Vasco fez a escola de Direito e passou com brilho no concurso direto do DASP para entrar no Itamaraty. Se o Barão fosse vivo, certamente iria aprovar o jovem desempenado e guapo que entrava com elegância na diplomacia brasileira. Doravante, como Ulisses ou

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