Revista Convivência 6/2016

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Eduardo Portella era um desses intelectuais atuantes que argumentava com lucidez sobre assuntos de nossas letras e cultura. Graduado pela Faculdade de Ciências Sociais e Jurídicas da Universidade Federal de Pernambuco. Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lecionou até os últimos dias de vida. Ministro da Educação no governo do Presidente João Figueiredo, lutou pela anistia, foi demitido por ter dado apoio à greve dos professores universitários. Seu discurso de vida dirigiu-se para os parâmetros de um humanismo solidário com base na ordem da verdade. Foi interditado por aqueles que pensam ser suficiente para valer na dotação humana o poder que você exerce com o cargo. Dele é a célebre frase: “Não sou ministro, estou ministro”, para afirmar com isso, no tácito entendimento da palavra enunciada, que tudo é transitório ante o eterno que fica.

Crítico,

pesquisador, conferencista, editor, advogado e político brasileiro. Ocupou a presidência da Conferência Mundial da UNESCO. Foi diretor das Edições Tempo Brasileiro, divulgando Heidegger no Brasil e o Formalismo Russo de Yuri Tynianov. Membro titular da Academia Brasileira de Letras, recebido por Afrânio Coutinho. Naquela instituição recebeu João Ubaldo Ribeiro, Lígia Fagundes Telles e Zélia Gattai. Propôs um método crítico de base hermenêutica, teórica e filosófica. Sem inclinações para a interpretação da obra literária com base na inserção de autor e obra nos períodos históricos, nem decorrente de gratuitas impressões sobre a massa do que foi escrito, mas em função do estilo em que o autor se funda e marca sua obra na expressividade da escrita, tanto na forma como no conteúdo. Esteve à frente dos níveis usuais, sendo o responsável pela introdução da análise estilística nas letras brasileiras. Filtrou os pressupostos, métodos e ferramentas dos espanhóis Carlos Bousoño e Dámaso Alonso, propondo o julgamento como ato final na análise literária após a captura do fundamento que transita entre linguagem e uso da língua, responsável pela literariedade. Este fundamento é a visualização do entretexto. Sua tese de doutorado foi publicada sob o título Fundamento da Investigação Literária (1973), refundida em 1974. Deixou um legado constituído de 23 obras e, entre elas, Dimensões I (1958), Dimensões II (1959), África colonos e cúmplices (1961), Literatura e realidade nacional (1963), Dimensões III (1965), Teoria da comunicação literária (1970), Vanguarda e cultura de massa (1978) e A Sabedoria da Fábula (2011). Recebeu prêmios literários e títulos honoríficos de muito prestígio, como Gran Cruz de la Orden del Mérito Civil, 74


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