Sistema financeiro e o desenvolvimento do Brasil

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Banco Central e política macroeconômica: o regime de metas de inflação

que a situação de forte incerteza exigia cautela e prudência. A Ata do Copom alertava que, se até então, o “efeito líquido da desaceleração global sobre a trajetória da inflação doméstica parece ser predominantemente benigno”, não estavam descartados os efeitos do pass-through cambial nos preços domésticos. A parcimônia do BCB no corte da Selic suscitou inúmeras críticas dos empresários e dos órgãos de representação de classe. Essas críticas aumentaram nas semanas que antecederam a reunião do Copom do dia 10 de março de 2009, que coincidiu com a divulgação pelo IBGE do resultado alarmante do PIB no quarto trimestre de 2008 (queda de 3,6% em relação ao terceiro trimestre), que explicitou a profundidade do impacto da crise global na economia brasileira. Em resposta aos críticos, o Banco Central insistia em seu mandato de guardião da estabilidade, esgrimindo argumentos sobre a lentidão da queda do IPCA comparativamente à queda no nível de atividade39. Todavia, na reunião do dia 10 de março, o Copom decidiu por uma redução de 1,5% da taxa Selic e indicou que havia espaço para a realização de novos cortes na taxa básica, em linha com as novas projeções para o IPCA abaixo do centro da meta em 2009 (4,0%) e em 2010 (3,9%). O corte da meta Selic em 1,5 ponto percentual desencadeou fortes pressões de diferentes setores para que a autoridade monetária adotasse ações mais agressivas para evitar uma recessão prolongada. Porém, em 29 de abril, o Copom realizou um corte menor na meta dos juros, reduzindo a meta da Selic em 1,0 ponto. Esse ritmo foi mantido nas duas reuniões seguintes do Copom, nos meses de junho e julho, e a Selic caiu a 8,25% ao ano, o seu patamar mais baixo desde sua adoção em 1999. O ciclo de cortes da meta da taxa Selic em 2009 foi encerrado em setembro, quando por unamimidade, o Copom decidiu manter a taxa em 8,75% ao ano. No breve comunicado, o Copom justificou a decisão, afirmando que “esse patamar da taxa básica é consistente com um cenário inflacionário benigno, contribuindo para assegurar a manutenção da inflação na trajetória de metas ao longo do horizonte relevante”. A expressão “horizonte relevante” foi interpretada pelos analistas do mercado financeiro como sinal da intenção da autoridade monetária de manter a meta da taxa Selic inalterada nas duas últimas reuniões de 2009, o que efetivamente se confirmou40. Embora tenha sido reduzida em 5 pontos percentuais no ano de 2009, a meta para a taxa básica de juros no Brasil se mantém em patamar muito elevado tanto em termos nominais como reais. Em termos comparativos, o Brasil 39 Além de declarações do presidente do BCB, Henrique Meirelles, defendendo o compromisso exclusivo com a estabilidade dos preços, o diretor de política monetária de BCB se declarava insatisfeito com o lento recuo das expectativas inflacionárias e apontava para a baixa sensibilidade da inflação ao nível de atividade. Ver Ribeiro (2009) e Guimarães (2009). 40 Embora as expectativas de inflação apontem para o IPCA abaixo do centro da meta de 4,5% em 2009 e em 2010, a grande maioria dos analistas do mercado financeiro aposta que a meta da taxa Selic terá de voltar a subir em 2010. Porém, não há consenso sobre quando terá início o ciclo de aperto monetário nem sobre o seu ritmo.

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