Revista Cenarium 03/2021

Março de 2021 • Ano 04 • Nº 09 • R$ 15,99

Os indígenas e o impacto da Covid-19

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Editorial www.revistacenarium.com.br EXPEDIENTE Diretora-Geral Paula Litaiff – MTb-793/AM www.paulalitaiff.com Editora-Executiva | Impresso Márcia Guimarães Editores-Executivos | On-line Carolina Givoni Alessandra Leite Editora-Executiva | TV Web Andréa Vieira Coordenadora de Redação Juliana Matos Reportagem Bruno Pacheco Carolina Givoni Gabriel Abreu Gisele Coutinho Jennifer Silva Luís Henrique Oliveira Marcela Leiros Márcia Guimarães Mencius Melo Michele Portela Paula Litaiff Paulo Guimarães Priscila Peixoto Victória Sales Caroline Viegas Ana Luiza Pastana Fotojornalistas Paulo Guimarães Ricardo Oliveira Arlesson Sicsú Editora de imagem Flávia Horta (on-line) Projeto Gráfico/Diagramação Hugo Moura (+55 92) 98100-5056 Gerente de Marketing e Comercial Gabriel Araújo (+55 92) 98202-1401 Social Media Marcele Fernandes Gisele Coutinho Designers Guilherme Reis Samuel Castro Revisoras Jesua Maia (impresso) Gracycleide Drumond (on-line) Gerente de Logística Wilson Gonçalves Gerente Administrativa Elcimara Oliveira Equipe Administrativa Edne Stphane de Queiroz Elcimara Oliveira Assessor Jurídico Christhian Naranjo (OAB 4188/AM) Telefone Geral da Redação (+55 92) 3071-8790 Circulação Manaus (AM), Belém (PA), Brasília (DF) e São Paulo (SP)

Ancestralidade em risco Estudo pouco divulgado pelas mídias tradicionais aponta que o risco de morrer por coronavírus é até três vezes maior para as minorias étnicas, segundo pesquisa da University College London (UCL) realizada, em 2020, com povos tradicionais da Inglaterra.

No Brasil, morreu o guerreiro Amoim Aruká, o último indígena do povo Juma, que, há 50 anos, formava uma população de mais de 15 mil indígenas. A morte de Aruká revela um elo entre as necropolíticas da ditadura militar e o governo Bolsonaro, que tenta instituir uma política pública de extermínio desses povos e comunidades, quando não garante o reconhecimento de seus territórios tradicionais e os abandona no meio de uma pandemia.

A iminente extinção de povos não é “exagero de ativistas”, como insiste em apregoar o presidente da República. Levantamento da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) mostra que, somente na Amazônia, pelo menos 830 indígenas perderam a vida para a Covid-19, sendo 145 de etnias diferentes.

Mas, o que esperar de um governo que ignora a trágica estatística de um brasileiro morto a cada minuto por Covid-19? Diante de tamanha omissão, a nova edição da REVISTA CENARIUM emite um alerta: o risco à ancestralidade brasileira é real!

Um réquiem aos marginalizados A pandemia de Covid-19 pintou em cores ainda mais fortes o descaso e a marginalização dos povos indígenas no Brasil. Historicamente, o “status quo” brasileiro tem uma relação de destruição com as populações tradicionais, o que foi evidenciado pela crise sanitária. O novo coronavírus é, por si só, um inimigo voraz, que, alimentado pela falta de ação do governo federal, má destinação de verbas e discriminação de indígenas em contexto urbano, acaba se tornando um mal ainda mais avassalador, como em um réquiem aos marginalizados. É essa vulnerabilidade em que estão os povos indígenas no Brasil que a REVISTA CENARIUM destaca na capa desta edição, ao abordar diferentes aspectos dos impactos da pandemia e alertar para o perigo de uma extinção iminente.

Esta edição traz também a tragédia da falta de oxigênio no Amazonas, com o aumento de casos graves de Covid-19, o fevereiro sem Carnaval, o avanço da representatividade indígena em cargos eletivos, o impacto da segunda onda da pandemia sobre a indústria e os reflexos da troca de presidente nos Estados Unidos, entre outras reportagens especiais.

Paula Litaiff

Márcia Guimarães

Diretora-Geral

Editora-Executiva

Sumário Março de 2021 • Ano 04 • Nº 09

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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE Renascimento............................................................ 06 Ipê ameaçado............................................................. 08 Solo fértil.................................................................... 10 Estrada para o Brasil................................................. 12

PODER & INSTITUIÇÕES

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Morte por asfixia........................................................ 14

ARTIGO – PAULA LITAIFF Tragédia em Manaus: negacionistas têm sangue nas mãos........................................................................... 17 Ocupação étnica........................................................ 18 Vossa excelência, o racismo..................................... 20

ECONOMIA & SOCIEDADE SAÚDE INDÍGENA Vítimas do descaso..............................................22 ‘Plano genocida’..................................................24 Fatia de 2,94% ...................................................26 “Precisamos que alguém nos escute”..................28 Atenção médica precária.....................................30 ‘Relação destrutiva’............................................32 Rastro de contágio..............................................34 Estoque reforçado..................................................... 36 Vírus da mentira......................................................... 38 Indústria fragilizada.................................................... 40 ‘Além das aspas’........................................................ 42

POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS De volta à Amazônia.................................................. 44 Viajante ilegal............................................................. 46 Resgate....................................................................... 48

MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS Discurso de união...................................................... 50 Mutação de alto risco............................................... 52 Apelo internacional................................................... 56

ARTIGO – FLÁVIA OLEARE Os pais de rede social............................................... 59

ENTRETENIMENTO & CULTURA Sem folia, sem lucro.................................................. 60 Show de solidariedade.............................................. 62 Saberes e sabores...................................................... 64

VIAGEM & TURISMO Socorro ao turismo.................................................... 66 Pouco a pouco........................................................... 68

ARTIGO – GABRIEL ARAÚJO Como montar meu negócio próprio dispondo de pouco dinheiro para marketing ............................... 70

MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE

REVISTA CENARIUM

RENASCIMENTO Especialistas apontam estratégias para recuperação de áreas devastadas em desmatamento recorde na floresta amazônica Victória Sales – Da Revista Cenarium

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Crédito: Ricardo Oliveira

ANAUS – Especialistas consultados pela REVISTA CENARIUM apontam estratégias e técnicas de reflorestamento e manejo do solo que têm o poder de tornar possível a recuperação dos 8.426 quilômetros quadrados da Amazônia desmatados em dezembro de 2020. O índice, segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), bateu recorde e se tornou o segundo pior desde 2015, alcançando ainda um crescimento de 14%, em relação a dezembro de 2019.

Para o biólogo e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Rogério Fonseca, as técnicas de recuperação de áreas degradadas são um ramo das Ciências Agrárias dedicado a esforços humanos, materiais e ecossistêmicos.

“Fazemos isso para restabelecer as condições anteriores aos impactos ambientais gerados em um ecossistema. Toda e qualquer área pode ser passível de recuperação.

No entanto, quando colocamos os custos financeiros e ambientais na mesma equa-

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ção, boa parte das pessoas opta em nada fazer”, destaca o biólogo.

‘ERRO GROTESCO’ Fonseca ressalta que a omissão é um “erro grotesco”, pois as perdas da função de um ecossistema degradado podem ser freadas ou potencializadas. “Sendo assim, após qualquer degradação, devemos sim empenhar medidas corretivas para ‘frear’ o avanço, especialmente de erosão”, ressalta.

SISTEMA DE ALERTA O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, mostrou, por meio de um alerta, quais sinais de alteração na cobertura florestal são mais perceptíveis. O sistema mostra ainda o processo de degradação florestal, como exploração de madeira, mineração, entre outros crimes.

Segundo o biólogo José Narbaes, a natureza se regenera com o tempo e por meio de diversas técnicas de plantio de sementes que já existem na natureza. “Outra medida é por meio do reflorestamento, que deve ser realizado, preferencialmente, com espécies nativas da região”, reforçou Narbaes.

O biólogo Rogério Fonseca alerta que o Brasil também é um país pioneiro na proteção, conservação e manejo do solo. “Nossa agricultura é focada em produtividade de alto rendimento e precisão, mesmo a agricultura familiar, ela sempre é realizada com as melhores práticas de medidas de desmatamento evitado”, destaca.

De acordo com o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, os números recordes de desmatamento na Amazônia são reflexo das políticas de destruição ambiental do atual governo federal.

“Bolsonaro tem dois anos de mandato e os dois piores anos de Deter ocorreram na gestão dele”, disse o secretário em entrevista ao portal G1, no início de janeiro.

“Hoje, o que os outros países do mundo poderiam fazer para evitar o desmatamento é deixar de comprar a madeira oriunda de condutas criminosas. E nossa Polícia Federal, assim como alguns (diga-se de passagem, poucos) órgãos de meio ambiente, colaborará diretamente nesse rastreamento da madeira”, finaliza o profissional da Ufam.

Recorde de desmatamento 2020 foi o segundo pior ano de desmatamento na Amazônia Legal, desde 2015.

Um total de 8.426 quilômetros quadrados de floresta foram desmatados em dezembro, segundo o Inpe.

O mês de dezembro teve um aumento

de 14%, no desmatamento, em relação a 2019.

O índice de 2020 ficou abaixo apenas do recorde histórico de dezembro de 2019,

com 9.178 quilômetros quadrados de áreas desmatadas.

Em dezembro de 2018, a extensão da área Segundo o Inpe, 8.426 quilômetros quadrados de floresta foram desmatados em dezembro de 2020.

desmatada foi de 4.951 quilômetros quadrados.

Fonte: Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Inpe.

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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE

REVISTA CENARIUM

IPÊ AMEAÇADO

Árvore alta, o ipê produz madeira de alta qualidade e durabilidade e, por isso, atrai desmatadores e contrabandistas

Espécie de árvore está entre as mais vendidas no mercado ilegal de madeira na Amazônia Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

No final de 2020, em ação conjunta com o MPF, a Polícia Federal (PF) apreendeu mais de 130 mil metros cúbicos de

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atua na Amazônia e está se tornando ainda mais vulnerável.

de que o Brasil tem até o final de 2021 para deliberar sobre o tema.

No final de novembro, o governo do presidente Jair Bolsonaro pediu a retirada do ipê de uma lista internacional de proteção de espécies ameaçadas, elaborada por convenção sobre o comércio internacional de espécies da fauna e da flora selvagem. O ipê constava na lista por causa da crescente exploração e venda ilegal. O pedido do governo federal foi feito, apesar dos alertas de técnicos para preservar a espécie.

Com as informações a serem prestadas e cópias de documentos ao MPF, a qualificação técnica ou eventual necessidade de produção de mais estudos serão analisados, bem como a urgência de reforço do sistema protetivo dessa espécie florestal.

A medida é objeto de procedimento do MPF no Amazonas. Dados consolidados

Ao contrário do que o atual governo vem fazendo, é preciso fortalecer os órgãos de controle e sua atuação”

Carlos Durigan, ambientalista. madeira retirada da floresta amazônica de forma ilegal. Foi a maior apreensão da história do Brasil e chamou atenção a grande quantidade de ipê entre as 43.700 toras derrubadas no Pará, ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns, em uma região que faz fronteira com o Amazonas, próximo de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus).

O ipê é uma árvore alta, bem copada e, no período da floração, apresenta uma peculiaridade: fica totalmente desprovida de folhas. É a espécie mais contrabandeada pelo mercado ilegal de madeira que 08

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da Operação Arquimedes, que apura a exploração ilegal de madeira na Amazônia, indicam que o ipê é a espécie mais explorada da região.

O Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e outras instituições estão levantando dados e identificando estudos sobre o tema para atender às requisições do MPF, que deverão subsidiar as providências adotadas pelo órgão. O posicionamento informado pela presidência do Ibama foi no sentido

No final de 2020, debateu-se ainda sobre a relevância de realização de um tabelamento mínimo do valor do ipê para comercialização, visando à transformação do atual consumo possivelmente predatório em exploração sustentável, com observância dos preceitos legais do Código Florestal e normativos específicos.

Segundo o ambientalista Carlos Durigan, o ipê está entre as árvores que produzem madeira de alta qualidade, o que faz com que seja muito valorizada, tanto pelo potencial de uso, quanto para a produção de móveis e para o uso na construção civil, pois é uma madeira de alta durabilidade.

Operação Arquimedes

“Ao contrário do que o atual governo vem fazendo, é preciso fortalecer os órgãos de controle e sua atuação, além disso, trabalhar pelo fortalecimento das iniciativas de manejo sustentável da floresta. Há muitas experiências na Amazônia voltadas ao uso sustentável de recursos naturais promovidas por universidades, instituições de pesquisa, empresas, comunidades e ONGs (Organizações Não Governamentais). É preciso reconhecer e apoiar estas iniciativas e trabalhar em conjunto para buscar soluções sustentáveis às práticas impactantes e ilegais que existem atualmente”, destacou o ambientalista.

Após questionamentos à administração do terminal portuário, verificou-se que a única fiscalização realizada se limitava à análise de notas fiscais.

Um alerta emitido pela Receita Federal e pelo Ibama constatou aumento incomum no trânsito de madeira pelo porto Chibatão, em Manaus, em 2017.

Diante de fortes indícios de irregularidade, foi deflagrada a primeira fase da Operação Arquimedes, no dia 14 de dezembro de 2017, pela Polícia Federal, em conjunto com o Ibama e a Receita Federal do Brasil.

Crédito: Ricardo Oliveira

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ANAUS – O ipê (Handroanthus) está entre as espécies de árvores mais exploradas e contrabandeadas da Amazônia, de acordo com dados levantados pela Operação Arquimedes, do Ministério Público Federal (MPF).

Como produz madeira de alta qualidade e durabilidade, a espécie acaba sendo muito valorizada, tanto pelo potencial de uso, quanto para a produção de móveis e para o uso na construção civil.

Na primeira fase da operação, foram apreendidos 444 contêineres de 63 empresas com carga de madeira suspeita de ilegalidade.

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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE

REVISTA CENARIUM

Apesar do solo da Amazônia ser “ pobre em fertilidade, existe uma

camada formada por matéria orgânica que mantém a floresta vistosa”

Solo fértil Fogo e enchente deixam solos férteis e beneficiam agricultura na Amazônia, diz especialista Ana Pastana – Da Revista Cenarium

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ANAUS – Com as enchentes e os rastros de fogo, é possível que os solos da Amazônia tenham ficado mais férteis, de acordo com o consultor na área de agrimensura voltada à preservação, Ricardo Ninuma. Por ser um ambiente propício para a proliferação de bactérias e fungos, criando macro e micronutrientes, esses acontecimentos são muito bons para a agricultura, segundo o especialista.

Os solos férteis são áreas que sofreram queimadas constantes, criando uma camada de terra com bastante cálcio e fósforo, de acordo com Ninuma. “Desde

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que respeitemos o desenvolvimento de bactérias e fungos nutritivos para o solo, esse ciclo se torna eterno e faz bem ao meio ambiente”, diz.

O homem do campo vai continuar aproveitando a fertilidade ocasionada anualmente pelas enchentes. “Estão abandonando as queimadas para a fertilidade, pois é um processo longo de criação do ambiente propício para o desenvolvimento da matéria orgânica”, explicou Ninuma.

Os solos férteis podem ser desenvolvidos por meio de compostagem natural, independente de enchentes ou queima-

das. No Amazonas, a mancha de fertilidade é conhecida como “Terra Preta de Índio da Amazônia”. Atualmente, usam resíduos de serraria, carvoaria, esterco animal e vegetal para a decomposição.

Antigamente, pesquisadores teorizavam que a “Terra Preta de Índio da Amazônia” foi formada pela queima controlada da biomassa da floresta. Essa visão alimentou a indústria de produção de carvão vegetal a partir de biossólidos, como o biochar, carvão vegetal usado como correção para o solo, em que tais solos são considerados modelo de agricultura sustentável.

Crédito: Clóvis Miranda

Ricardo Ninuma, especialista em preservação.

Solos férteis são áreas que sofreram queimadas constantes, criando uma camada de terra com bastante cálcio e fósforo

No Amazonas, Iranduba (a 27 quilômetros de Manaus) é o município mais reconhecido pela grande extensão de mancha fértil e por ser objeto de pesquisa arqueológica, porém, não é o único que possuí solo de fertilidade no Estado.

De acordo com Ninuma, “apesar do solo da Amazônia ser pobre em fertilidade, existe uma camada formada por matéria orgânica proveniente de decomposição vegetal e animal. Essa camada é o que mantém a floresta amazônica vistosa como conhecemos”, conta.

“A roça tradicional, que usa corte e queima, libera nutrientes muito rapidamente para o solo e rapidamente é lavado pelas chuvas e absorvido pelas plantas. Após o terceiro e quinto ciclos o solo está esgotado. Nos sistemas agroflorestais, em que se propõe manter a vegetação e acumulando folhas, a cada ano, o solo está estruturalmente e nutricionalmente melhor. O que isso mostra?

O solo pode ser fértil, mas a agricultura despeja”, explicou a etnobotânica Veridiana Vizoni.

Lucas Silva, professor de Estudos Ambientais da Universidade do Oregon,

nos Estados Unidos, explica que as descobertas ressaltam a necessidade de uma visão mais ampla da evolução da paisagem como um caminho para entender a formação das terras pretas amazônicas e redirecionar as aplicações para o uso e conservação sustentável da terra.

“Nossa hipótese iria transformar nosso entendimento da influência humana na Amazônia, abrindo novas fronteiras para o uso sustentável de paisagens tropicais daqui para a frente”, finaliza o ambientalista.

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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE

Dnit lança edital sobre estudo ambiental para asfaltar 400 quilômetros da BR-319 Com informações da assessoria

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A empresa que vencer a licitação deverá produzir obrigações ambientais necessárias para obtenção da Licença de Instalação e Autorização de Supressão de Vegetação

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RASÍLIA – O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) publicou edital de licitação, no dia 12 de janeiro, para contratar empresa para elaborar estudos ambientais para a reconstrução e pavimentação do chamado “Trecho do Meio” da BR-319 (Manaus-Porto Velho-RO). Essa parte da rodovia está localizada entre o km 250 e o km 655,7, considerado o trecho mais crítico. Segundo o órgão, os projetos de engenharia para o segmento já estão em fase de elaboração.

A empresa deverá produzir Plano Básico Ambiental, Inventário Florestal, Projeto Arqueológico, Estudos de Malária, execução de campanhas de fauna e demais obrigações ambientais necessárias para obtenção da Licença de Instalação e Autorização de Supressão de Vegetação.

A BR-319 é a única ligação rodoviária entre Manaus, capital do Amazonas, e Por-

Nosso plano é que em “ 2022 nós tenhamos toda

a extensão da rodovia 319 contratada e em serviço”

Crédito: Gabriel Abreu

Estrada para o BRASIL

REVISTA CENARIUM

Tarcísio Freitas, ministro da Infraestrutura.

to Velho, capital de Rondônia. De Porto Velho, há ligação por estrada que permite a conexão com as outras regiões do Brasil.

Com a contratação, o Dnit visa atender às obrigações ambientais requeridas no processo de licenciamento ambiental para a realização da obra. O prazo de execução será de dois anos.

A licitação será realizada na modalidade Regime Diferenciado de Contratação (RDC), por meio eletrônico, tendo como critério de julgamento o menor preço. O edital poderá ser obtido na Coordenação-Geral de Cadastro e Licitações ou por meio dos sites: www.dnit.gov.br ou www. gov.br/compras.

A entrega das propostas começou às 8h do dia 12 de janeiro, no site www.comprasnet.gov.br. E a abertura das propostas ocorreu às 15h do dia 02 de fevereiro, no site www.comprasnet.gov.br.

Em setembro do ano passado, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, anunciou a pavimentação e recuperação do lote C – conhecido como lote Charlie –, entre os quilômetros 198 e 250. Na ocasião, afirmou que já estava trabalhando no processo de licenciamento do “Trecho do Meio” e que planeja estar com toda a BR-319 em obras até 2022. “Nosso plano é que em 2022 nós tenhamos toda a extensão da rodovia 319 contratada e em serviço”, disse.

A BR-319 começa no Porto da Ceasa, na zona sul de Manaus, e segue em alguns trechos pela margem do Rio Negro. São 13 quilômetros de barco até o Porto do Careiro da Várzea, depois continua por terra até o Estado de Rondônia. Os primeiros 198 quilômetros da rodovia estão pavimentados, assim como os 164 quilômetros finais. Apenas o lote Charlie, de 52 quilômetros, e o “Trecho do Meio”, de 400 quilômetros, não estão pavimentados.

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PODER & INSTITUIÇÕES

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ANAUS – O governo federal foi avisado do agravamento da pandemia do novo coronavírus no Amazonas no início do ano, que culminou com a falta de oxigênio nos hospitais de Manaus para os pacientes com Covid-19, mas não deu importância. Os alertas foram feitos por integrantes do governo amazonense e da empresa que fornece oxigênio na formulação medicinal, a White Martins, mas o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o próprio presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, preferiram manter o discurso vazio do tratamento precoce, com cloroquina e ivermectina, este último indicado para combater piolho, pulga e carrapato, e que não possui qualquer comprovação de eficácia sinalizada pela comunidade científica internacional.

MORTE POR ASFIXIA 14

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A Polícia Federal (PF) abriu inquérito para apurar se Pazuello foi omisso em relação à crise no Amazonas. A investigação nasceu de um pedido do partido Cidadania ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que encaminhou o pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Ricardo Lewandowski ordenou a abertura do inquérito. Aras também abriu uma apuração preliminar contra Bolsonaro e Pazuello para apurar a possível omissão em medidas no enfrentamento à crise de Covid-19 em Estados da Região Norte, no Pará e no Amazonas, em especial na capital Manaus.

Governo federal foi alertado sobre falta de oxigênio no Amazonas, mas ignorou problema e deixou de tomar medidas com força para evitar o caos Gisele Coutinho – Da Revista Cenarium

A omissão foi destaque nos principais veículos de comunicação. No dia 17 de janeiro, os jornais Folha de S. Paulo e Estadão publicaram matérias de destaque afirmando que Pazuello foi avisado sobre a escassez crítica de oxigênio em Manaus, não só pelo Governo do Amazonas e pela White Martins, mas também até mesmo por uma cunhada sua que tinha um familiar “sem oxigênio para passar o dia”. Pazuello também foi informado sobre problemas logísticos nas remessas, segundo as publicações.

DENTRO DE CASA Os avisos foram dados pelo menos quatro dias antes do colapso total dos hospitais que atendem pacientes com Covid-19, segundo reportagem da Folha, inclusive um hospital federal, o Getúlio

Vargas. E, mesmo estando em Manaus nos três dias anteriores ao caos, Pazuello não tomou as providências necessárias para garantir o fornecimento de oxigênio.

“Estamos vivendo uma crise de oxigênio? Sim. Quando eu cheguei na minha casa ontem, estava a minha cunhada com o irmão sem oxigênio nem para passar o dia. ‘Acho que chega amanhã. O que você vai fazer?’ ‘Nada, você e todo mundo vão esperar chegar o oxigênio e ele ser distribuído. Não tem o que fazer.

Então, vamos com calma”, disse o ministro, no dia 11 de janeiro, em evento para lançamento de um plano de enfrentamento à Covid-19 no Amazonas.

O general sabia da escassez de oxigênio, já que a atuação no Estado vinha ocorrendo de forma conjunta, informaram ao jornal Folha de São Paulo integrantes do Governo do Amazonas. A White Martins também vinha alertando sobre o problema e, a partir do dia 7 de janeiro, alertou que seria impossível o fornecimento acompanhar o aumento da demanda. Com o contágio acelerado, a demanda por oxigênio chegou a 70 mil metros cúbicos por dia, o triplo da capacidade de produção, segunda a empresa.

Na primeira onda da pandemia, entre abril e maio de 2020, o pico de consumo foi de 30 mil metros cúbicos.

Nada, você e todo “ mundo vão esperar

chegar o oxigênio e ser distribuído” Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, ao ser questionado por uma cunhada sobre o que faria para ajudar o irmão dela que estava com oxigênio no fim.

Como resultado, em diversas unidades de saúde de Manaus e do Amazonas, dezenas de pacientes com Covid-19 morreram por asfixia quando o oxigênio acabou.

MENTIRA Em Brasília, mesmo diante do caos humanitário instalado em Manaus, o presidente da República, Jair Bolsonaro, simplesmente ‘lavou as mãos’. Disse que o que podia ser feito pelo Amazonas, ele já havia feito, repassando R$ 8,91 bilhões para o Estado enfrentar a pandemia. O presidente mentiu.

A maior parte dos valores repassados pela União ao Estado em 2020 foram verbas constitucionais, obrigatórias, como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que vai direto para as contas das prefeituras; o Fundo de Participação dos Estados (FPE); e o próprio Fundeb, que custeia parte do ensino básico. Porém, a

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, esteve em Manaus dias antes do colapso total

Crédito: Izaac Nóbrega | Fotos Públicas

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PODER & INSTITUIÇÕES

ARTIGO – PAULA LITAIFF

Crédito: Divulgação

Tragédia em Manaus: negacionistas têm sangue nas mãos

Crédito: Izaac Nóbrega | Fotos Públicas

Paula Litaiff*

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o presidente Bolsonaro minimizaram alertas de colapso no sistema de saúde do Amazonas

‘fake news’ foi repetida como um mantra nas redes sociais, como se uma mentira se transformasse em verdade quando dita diversas vezes.

As transferências feitas ao Amazonas, incluindo ao Governo do Estado e prefeituras municipais para o combate à Covid-19 correspondem a 7,3% dos R$ 8,91 bilhões repassados por meio da União à unidade federativa, em 2020, segundo o Portal da Transparência. Foram R$ 650,44 milhões, ao todo.

As informações são alimentadas pelo próprio governo federal, na plataforma que engloba dados sobre o Fundo Nacional de Saúde (FNS). Portanto, não é verdade que o Governo do Estado tenha recebido mais de R$ 8,9 bilhões para o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, como tem sido propagado.

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Também são públicos os dados de repasses às capitais, os quais constam no site do FNS. Por meio deles, é possível perceber que Manaus ficou entre as que menos receberam repasses para o combate à pandemia, quando se considera a proporção populacional. Ao analisar os dados, Manaus ficou em 25º lugar, entre as 27 capitais.

Dos recursos destinados ao Executivo Estadual, via Fundo Nacional de Saúde (FNS), por meio da modalidade de transferência “fundo a fundo” (quando o repasse é feito a um fundo estadual ou municipal – no caso do Amazonas, ao FES), foram contempladas ações como a estruturação da rede de serviços públicos, incluindo assistência farmacêutica, atenção básica de saúde, gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e vigilância em saúde, informou em nota o Governo do Amazonas.

R$ 650,44 milhões

O valor repassado pelo governo federal ao Amazonas para o combate à Covid-19, em 2020, foi de R$ 650,44 milhões.

R$ 8,91 bilhões

O presidente Jair Bolsonaro afirma que repassou para o combate à Covid-19 no Amazonas o valor de R$ 8,91 bilhões.

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comportamento de negacionistas aos riscos da Covid-19 e o discurso de oportunistas da pandemia mostram o grau de hipocrisia e crueldade em meio à morte de centenas de pessoas por uma doença que, sabidamente, é transmitida em aglomerações humanas.

Quem pede a intervenção federal no Amazonas, hoje, são aqueles que criticaram o Poder Público, “ontem”, por decretar a restrição no comércio após as festas natalinas em Manaus e defender o empresariado com o argumento de “não parar” a economia.

Eles foram aqueles que convocaram, em suas redes sociais, protestos nas ruas do Centro de Manaus, utilizando-se do desespero de pais de famílias, pois a maioria não compreende cientificamente a consequência nefasta da Covid-19.

CONTRÁRIOS À CIÊNCIA Essa mesma classe faz parte ainda do grupo que, insistentemente, “receita” cloroquina e ivermectina como tratamento e prevenção, respectivamente, da Covid-19, mesmo sem reconhecimento da eficácia desses medicamentos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Eles também procrastinam a vacinação por se negarem a acreditar na eficácia do antídoto contra a doença. Fala-se em variante do novo coronavírus, um caso nunca levantado por esse grupo que nega opiniões de estudiosos.

Em um cenário recente, debatia-se com representantes do comércio o fechamento gradual do mercado de serviços e produtos não essenciais no Amazonas, após sinais de alerta da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS).

A FVS chamava a atenção para o aumento dos casos de Covid-19 em Manaus. Esses representantes comerciais buscaram apoio para fazer valer o interesse particular em detrimento do coletivo.

CONTRÁRIOS À JUSTIÇA Foi necessária uma decisão judicial para fazer fechar o comércio em Manaus, após pedido do Ministério Público do Estado (MP-AM), e nem assim o ato foi respeitado por negacionistas.

Agora, com a crise da falta de oxigênio gerada pelo alto índice de internações em Manaus, com o grande número de novos casos de Covid-19 (mais de 3 mil/dia) fala-se em ineficiência de gestão.

PRINCÍPIOS BÁSICOS Como planejar a entrega de um serviço, se não há controle de procura versus oferta? Como calcular uma demanda, se não se sabe a origem dela? Esses são princípios básicos da Economia e Administração.

Com o aumento de 28 mil metros cúbicos de oxigênio para 70 mil diariamente, em menos de uma semana, a principal empresa fornecedora admitiu colapso no Amazonas.

EUROPA E EUA Hoje, até o Reino Unido e cidades dos Estados Unidos citam colapso na produção de oxigênio hospitalar em meio à disparada dos casos graves da Covid-19.

Em Estados da América do Norte e da Europa, ao contrário do Amazonas, autoridades juntam forças para salvar a população e não negam a Ciência para se destacar sobre a tragédia humana, visando likes ou votos.

Os negacionistas têm sangue nas mãos. *Paula Litaiff é jornalista com especialização em Gestão de Políticas Sociais.

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PODER & INSTITUIÇÕES

Ocupação étnica Vitória: 236 indígenas assumem cargos no Executivo e no Legislativo, após vencer eleições municipais de 2020 Com informações da APIB

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ANAUS – As eleições municipais de 2020 testemunharam a vitória de 236 candidaturas de 71 povos indígenas que agora assumem cargos nos poderes Executivo e Legislativo, de acordo com informações da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). A organização aponta que esse é o maior número de “parentes e parentas” eleitos na história do Brasil.

Em plena pandemia de Covid-19,

ta @campanhaindigena. Uma iniciativa que visou ampliar a representação dos povos tradicionais nos espaços de poder, por meio da visibilidade e do suporte jurídico aos candidatos e candidatas.

Os dados parciais apurados pela campanha indicam que dos 236 eleitos, 214 são indígenas que passam a ocupar as Câmaras Municipais como vereadores, 10 se tornaram prefeitos e 12 vice-prefeitos. A entidade também declara que os

A pauta comum entre todos é a retomada da “ demarcação dos territórios indígenas, ainda que tenham pontos de vista políticos” Dinaman Tuxá, um dos coordenadores da Apib. candidatos e candidatas indígenas enfrentaram a crise sanitária e ocuparam cargos no Executivo e no Legislativo, em 127 cidades de 24 estados, em todas as regiões do país. O ano anterior também marcou a participação de 2.212 candidatos indígenas nos 5.568 municípios do país – representando um aumento de 27% em relação às eleições de 2016.

MOBILIZAÇÃO No ano de 2020, a Apib lançou a mobilização “Campanha Indígena” nas redes sociais mais populares com a con18

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dados estão em constante modificação e que, até o momento, são passíveis de alteração.

Segundo Dinaman Tuxá, um dos coordenadores da Apib, o maior interesse na política institucional se deve à ampliação do debate sobre a necessidade da representatividade dos povos indígenas.

Tuxá ainda declara que “a pauta comum entre todos os candidatos é a retomada da demarcação dos territórios indígenas, ainda que tenham pontos de vista políticos distintos e sejam filiados a partidos diversos”, detalhou.

HISTÓRICO Nos registros históricos, no ano de 1969, o primeiro indígena eleito no Brasil foi Manoel dos Santos, conhecido como “Seu Coco”. O vereador era originário do povo Karipuna e cumpriu o mandato parlamentar na cidade de Oiapoque, no Amapá. Já em 1976, o Cacique Angelo Kretã ganhava uma cadeira na Câmara Municipal de Mangueirinha (PR), após lutar na Justiça pelo direito de se candidatar.

No âmbito federal, Mário Juruna se tornava o primeiro indígena a ocupar o cargo de deputado federal, em 1982. Seis anos depois, os direitos indígenas eram reconhecidos na Constituição Federal. O primeiro prefeito indígena foi eleito no ano de 1996, segundo está registrado pelo movimento indígena. João Neves, do povo Galibi-Marworno, comandou o Executivo do município de Oiapoque, no Amapá.

A partir de 2014, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passou a incluir registro de cor/raça dos candidatos. Em 2016, concorreram às eleições municipais 1.715 indígenas. Deste total, foram eleitos 169 vereadores, 6 prefeitos e 10 vice-prefeitos.

A presença feminina nos pleitos eleitorais se consolidou em 2018, com a eleição de Joênia Wapichana (REDE) como deputada federal e com a participação de Sônia Guajajara em uma chapa para a presidência da República que, até então, nunca havia sido pleiteada por uma indígena.

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PODER & INSTITUIÇÕES

REVISTA CENARIUM

VOSSA EXCELÊNCIA, O RACISMO

Vereadora de Belém sofre ataques racistas como primeira secretária negra da Mesa Diretora da Câmara João Paulo Guimarães – Da Revista Cenarium

Apesar da fala controversa, Josias da Silva Higino, de 54 anos, se declara como pardo, segundo registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após perceber o mal-estar que se instalou na Casa, o vereador citou a Bíblia, numa tentativa de sanar a situação inconveniente.

Outro vereador conhecido por atitudes agressivas também se pronunciou quando Lívia Duarte se dirigia para a Casa. Mauro Freitas (PSDB), de 49 anos, foi eleito com 6.392 votos, apesar de ter ensino superior incompleto. Ele também gritou para Lívia Duarte enquanto ela fazia sua intervenção na tribuna.

“P*** que pariu. Agora, vou ter de estudar Chimamanda”, disse ao lembrar de Chimamanda Ngozi Adichie, escritora e feminista nigeriana.

Após o episódio, a vereadora se pronunciou nas redes sociais sobre a agres20

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são de Mauro Freitas, citando Marielle Franco, a vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018. “De minha parte, manas, repito o dito por Marielle que ecoou em tantas outras mulheres: ‘Não seremos interrompidas’”.

Lívia conversou com a REVISTA CENARIUM sobre o ocorrido e sobre os desafios das mulheres negras em posições de liderança. “Ter uma mulher negra em um espaço que, predominantemente, sempre foi masculino e branco é uma ameaça. Cada vez que ocupamos esses espaços, movemos a estrutura de uma sociedade e, automaticamente, quebramos um ciclo. Incomodamos quando estamos nesses espaços e a única forma que eles sabem como reagir é sendo machistas, misóginos e racistas. Não nos calaremos”, disse.

Lívia afirmou, ainda, que a Câmara de Belém tem hoje apenas três mulheres negras, e que ela é a primeira mulher negra que assume a primeira secretaria da Casa, o que, segundo ela, rompe com toda a estrutura masculina e branca imposta por anos. “Estamos subvertendo uma lógica e dizendo que não vamos arredar o pé, que esse espaço é nosso. Ser primeira secretária é representatividade, poder, luta e resistência. Queremos marcar a história lutando e ocupando, cada vez mais, espaços. Eu sou mais uma semente que vai disputar o espaço da política institucional, ainda, tão hostil

às mulheres, em especial às mulheres negras”, afirmou.

A vereadora disse ainda que a caminhada dela será longa e que serão quatro anos de muitos desafios. “Esse foi só o primeiro de muitos que vamos precisar enfrentar. Vamos ecoar nossas vozes e construir um mandato antirracista, feminista e classista”, concluiu.

por Marielle que ecoou em tantas outras mulheres: ‘Não seremos interrompidas’” Lívia Duarte, vereadora de Belém, ao responder a ato racista e machista de seus pares na Câmara Municipal.

Lívia Duarte é presidente do Psol em Belém e faz parte de um movimento de mudança política no Pará, assim como da resistência que se iniciou na capital paraense, onde o novo prefeito eleito, Edmilson Rodrigues, também do Psol, derrotou um candidato bolsonarista anti meio ambiente, o delegado federal Eguchi, do Patriotas, aliado do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Crédito: João Paulo Guimarães

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ELÉM – A fala de dois vereadores da Câmara Municipal de Belém, no Pará, vista como racista por algumas entidades, causou comoção e revolta nos primeiros dias do ano. A vereadora Lívia Duarte (PSol), eleita com 5.599 votos, fazia seu pronunciamento como a primeira mulher secretária negra na Mesa Diretora da Casa Legislativa, quando o vereador do Patriotas Josias Higino, eleito com 2.364 votos, gritou para seus colegas: “Tem que bater palma para os brancos também”.

De minha parte, “ manas, repito o dito

MAIS SOBRE CHIMAMANDA Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora feminista, nigeriana e uma das mais importantes autoras anglófonas da atualidade (anglofonia é o conjunto de identidades culturais de países onde a língua inglesa é a língua pela qual um povo se comunica). A escritora, que também cursou Medicina por um ano e meio, já foi traduzida para 30 línguas e um de seus destaques é o livro Hibisco Roxo, vencedor do prêmio de melhor livro do Common Wealth Writers, em 2004.

A vereadora Lívia Duarte fazia seu primeiro discurso como secretária da Mesa Diretora, quando foi interrompida por comentários racistas 21

ECONOMIA & SOCIEDADE

SAÚDE INDÍGENA

Crédito: Roque de Sá Agência Senado | Fotos Públicas

VÍTIMASDO DESCASO

Crédito: Guilherme Reis

ECONOMIA & SOCIEDADE – SAÚDE INDÍGENA

Sem plano de enfrentamento à Covid-19, Amazônia contabiliza 33 mil indígenas infectados com quase mil mortes pela doença Luís Henrique Oliveira e Márcia Guimarães Da Revista Cenarium

Contágio acelerado Os povos indígenas são uma parcela significativa dos casos de infectados e mortos pela Covid-19, mas entre os não-indígenas, a pandemia já infectou 1.412.801 de pessoas na Amazônia Legal, segundo dados compilados pela reportagem em consulta aos sites oficiais dos governos de cada Estado da região.

O ranking da pandemia na Amazônia é liderado pelo Estado do Pará, que possui 328.800 diagnósticos positivos para Covid-19, com 7.618 mortes. O Amazonas é o segundo da lista com 261.574 pessoas infectadas, sendo 7.793 óbitos. O terceiro lugar no ranking de casos de Covid-19 entre os nove Estados da Amazônia é ocupado pelo Mato Grosso, com 215.555 casos e 5.095 mortes, seguido do Maranhão, com 207.145 casos e 4.678 mortes.

Os indígenas enfrentam o forte impacto da pandemia de Covid-19, agravado pelo descaso do governo federal

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ANAUS – A pandemia de Covid-19 escancarou a histórica relação de violência do Brasil com seus povos tradicionais. Alimentado pela ausência de um plano federal de enfrentamento especializado e coordenado, pela falta de prioridade na aplicação de verbas, preconceitos e marginalização, o novo coronavírus e suas mutações avançam de forma avassaladora sobre os indígenas, que temem o extermínio de etnias como um risco real.

A tragédia é mensurada em expressivos 33 mil indígenas infectados e 757 mortos na Amazônia, até o dia 28 de janeiro, segundo dados da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). No Brasil, são 47,7 mil infectados e 948 mortos até 3 de fevereiro,

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de acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Porém, as perdas são irreparáveis, com a morte de lideranças e anciãos, que são guardiões de culturas transmitidas pela oralidade.

Embora sejam fortes, os povos indígenas também estão entre os mais vulneráveis quando postos frente a frente com um vírus novo, que se espalha rapidamente e pode matar em poucos dias. Dados da Coiab sustentam o descaso. Segundo a entidade, o Amazonas é o Estado com o maior número de indígenas mortos em decorrência de complicações pela Covid-19, com 238 mortes. Em seguida, aparecem o Mato Grosso, com 150 indígenas mortos; Pará, com 101; Roraima, com 100; Maranhão, com 69; Rondônia, com 36;

Acre, com 28; Amapá, com 20 e Tocantins, com 15 indígenas mortos.

O Amazonas lidera também o ranking de indígenas infectados pela Covid-19 com o total de 8.467, seguido do Pará, com 6.330, Roraima, com 5.175, Mato Grosso, com 4.471, Acre, com 2.445, Rondônia, com 2.058 indígenas infectados, Maranhão, com 2.005 casos, Amapá, com 1.633 e Tocantins, com 1.174 indígenas com Covid-19.

A aplicação de verbas federais no enfrentamento à Covid-19 entre indígenas não ocorre de forma tão intensa quanto o avanço da doença. Um levantamento feito pela REVISTA CENARIUM no Portal da Transparência do Governo Federal mostrou que, em 2020, a Fundação Nacional do Índio (Funai), responsável pelas políticas sociais e de saúde voltadas aos

indígenas, registrou um total de gastos de R$ 510 milhões, dos quais gastou apenas 2,94% com ações de combate à Covid-19, ou seja, aplicou apenas R$ 14.997.328,05 no combate à doença.

A coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, afirma que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, fez a sua própria seleção para o plano de enfrentamento da pandemia entre os povos originários e só garantiu a vacina para indígenas aldeados.

“Tudo que ele [Bolsonaro] fez foi sob medida judicial, sob pressão da sociedade e mobilização dos movimentos. Se não fosse toda essa mobilização a situação estaria muito mais grave”, disse Sônia.

Atualmente, vivem no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-

Integram a lista, ainda, Rondônia, com 123.200 casos positivos de Covid-19 e 2.216 óbitos confirmados pela doença. Além de Tocantins, com 101.666 casos, sendo 1.371 mortes. Com menos de 100 mil casos está o Amapá, com 76.688 casos e 1.057 mortes, seguido de Roraima, com 73.909 casos e 856 mortes confirmadas e, por fim, o Estado do Acre, com 24.264 infectados e 665 mortos.

tística (IBGE), aproximadamente, 896,9 mil indígenas, distribuídos em 805 etnias.

Segundo o IBGE, são 7.103 localidades indígenas no país, distribuídas em 827 municípios. A região Norte concentra a maioria das comunidades indígenas, com 4.504, 63,4% do total. Depois vêm as regiões Nordeste (1.211), Centro-Oeste (713), Sudeste (374) e Sul (301). O Amazonas, com suas 2.602 localidades indígenas, possui também o município mais indígena do Brasil, São Gabriel da Cachoeira (a 850 quilômetros de Manaus).

Para Sônia Guajajara, há risco real de extermínio. “Considerando a população e o número de indígenas no Brasil ser menos de 1 milhão, segundo o IBGE, e o número de mortes ser maior entre os indígenas que na população em geral, então corremos risco, sim, de um extermínio em massa”, disse.

Nesta reportagem especial, a REVISTA CENARIUM mostra o tamanho da vulnerabilidade dos povos indígenas afetados pelo novo coronavírus e violentados por um Estado que não os protege.

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ECONOMIA & SOCIEDADE

SAÚDE INDÍGENA

O governo nada “ fez para garantir

o atendimento à saúde e a proteção dos povos durante a pandemia” Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Apib.

Crédito: Divulgação Apib

‘Plano genocida’ João Paulo Guimarães – Da Revista Cenarium

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ELÉM - O Plano de Enfrentamento e Monitoramento da Covid-19 para os Povos Indígenas Brasileiros, criado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), foi distorcido pelo governo federal, de forma leviana e articulada, no sentido de não atender a todos os indígenas no país. A avaliação é de lideranças indígenas que afirmam, ainda, que as medidas de proteção estão longe de serem implementadas.

Logo nas primeiras palavras do plano, fica claro que o documento falta com a verdade sobre a situação dos povos ancestrais em relação à pandemia, assim como teoriza de forma romântica a relação do governo federal com as medidas que deveriam ser tomadas em relação às

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etnias. “Desde o início da pandemia, os esforços da União têm sido contínuos e integrados no sentido de proteger a vida e a saúde dos povos indígenas diante da Covid-19”, diz trecho do documento apresentado pelo governo federal ao Supremo Tribunal Federal (STF), que é considerado fantasioso pelas lideranças indígenas.

Na realidade, todas as iniciativas do governo federal foram realizadas e executadas sob ordens judiciais, como a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709, movida pela Apib no Supremo, e não em um esforço coletivo junto às lideranças indígenas. A ADPF é um tipo de ação busca evitar ou reparar danos a algum princípio básico

da Constituição Federal. A Apib ingressou com a medida em conjunto com o PSB, PCdoB, PSOL, PT, REDE e PDT, em julho de 2020.

“O Governo nada fez para garantir o atendimento à saúde e a proteção dos povos durante a pandemia. Tudo que ele fez foi sob medida judicial, sob pressão da sociedade e mobilização dos movimentos indígenas para que a gente pudesse amenizar e evitar mais danos”, afirma Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Apib.

Na decisão mais recente no processo, assinada no dia 18 de dezembro de 2020 e publicada no dia 8 de janeiro de 2021, o ministro Luís Roberto Barroso, relator da ADPF, negou a homologação da ter-

ceira versão do plano apresentado pelo governo federal, “por persistirem deficiências essenciais à sua exequibilidade, efetividade e monitorabilidade”. E determinou a apresentação de uma quarta versão do plano, com a inclusão de elementos e providências que tornem o planejamento mais específico e detalhado.

“Impressiona que, após quase 10 meses de pandemia, não tenha a União logrado o mínimo: oferecer um plano com seus elementos essenciais, situação que segue expondo a risco a vida e a saúde dos povos indígenas”, disse Barroso, em sua decisão.

A decisão de Barroso foi tomada após análise do plano feita por diversas entidades ligadas à Justiça, à saúde e aos direitos indígenas, que apontaram que

o documento “permanece genérico, o que não permite a avaliação de sua suficiência e exequibilidade, tampouco possibilita o monitoramento da sua implementação”. As entidades apontaram uma série de deficiências específicas, que devem ser corrigidas.

Diante da situação emergencial, Barroso determinou então que a União execute provisoriamente o plano geral que está em andamento e prossiga com ações já em curso, até que sejam concluídos os ajustes ao plano.

VACINAÇÃO A Apib, junto ao STF, conseguiu incluir indígenas nos grupos prioritários da vacinação, inclusive o povo Warao,

refugiado da Venezuela. Porém, esses esforços sofrem boicote do governo, que limita as ações sanitárias e de imunização apenas aos indígenas aldeados e Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (PIIRCs). O plano também exclui indígenas que vivem em terras não homologadas e sem demarcação. “Bolsonaro fez a sua seleção. Só garantiu a vacina para indígenas aldeados e, com isso, fica de fora metade da população indígena”, afirma Sônia Guajajara.

De acordo com a Apib, foram excluídos da vacinação cerca de 379.535 mil indígenas, o equivalente a 42,3% do povo ancestral. O plano de imunização federal prevê a vacinação de 517.383 mil (57,7%) dos indígenas.

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ECONOMIA & SOCIEDADE

SAÚDE INDÍGENA

Fatia de Carolina Givoni – Da Revista Cenarium

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ANAUS - Um levantamento feito pela REVISTA CENARIUM sobre o orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai) aponta que, até o dia 2 de fevereiro de 2021, o órgão gastou com ações de enfrentamento à Covid-19 apenas 2,94% de seu total de gastos em 2020. De acordo com dados publicados no Portal da Transparência do governo federal, a Funai gastou, no ano passado, um total de R$ 510 milhões, dos quais apenas R$ 14.997.328,05 foram destinados à proteção dos indígenas na pandemia.

No total, a Funai dispôs de um orçamento de R$ 625,29 milhões, oriundo da aprovação do Congresso Nacional, que estipulou à União um valor total de R$ 3,6 trilhões de aporte orçamentário..

A Lei Orçamentária Anual (LOA) estima as receitas e fixa as despesas da União, ou seja, tudo que é recebido pelo governo e todos os seus gastos.

A verba da Funai corresponde a 0,02% dos gastos da União e no detalhamento dos dados apresentados no Portal da Transparência, a distribuição total nas ações do Programa de Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas é de apenas R$ 58.847.560, 67.

COMPARATIVOS No universo dos R$ 510 milhões já executados pela Funai, os R$ 58.847.560,67 destinados aos direitos indígenas são apenas 11% do total, enquanto que os 26

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2,94%

R$ 451.054.926,02 consumidos do Programa de Gestão e Manutenção do Poder Executivo equivalem a 88%. Já o dispêndio com aposentadoria e pensões civis da Funai é de R$ 175.832.453,09, correspondendo a 34,47% da despesa total do orçamento já executado pela Fundação. É possível observar, ainda, que dos R$ 451.054.926,02 do Programa de Gestão e Manutenção do Poder Executivo, além dos R$ 175.832.453,09 executados com aposentadoria e pensões civis, outros R$ 168.793.701,44 são de gastos com ativos civis da União e R$ 58.516.541,37 são despesas com administração da unidade.

Já na distribuição da despesa nas ações do Programa de Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas, a aplicação é dividida entre ações dos direitos dos povos indígenas com R$ 22.578.180,52; regularização, demarcação e fiscalização de terras indígenas com R$ 21.193.068,06; além dos R$ 14,9 milhões com enfrentamento da pandemia.

QUESTIONAMENTOS A equipe de jornalismo da REVISTA CENARIUM entrou em contato com a Funai para que o órgão pudesse especificar como as verbas para as ações de proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas em 2020 foram aplicadas e quais povos indígenas ou Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), unidades gestoras descentralizadas do

Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) receberam esses recursos.

Também foi questionado por que a Funai gastou mais com aposentadorias que com o enfrentamento à pandemia. A Funai não respondeu aos questionamentos, até o fechamento desta edição.

FONTES OFICIAIS Uma publicação do governo federal do dia 21 de janeiro de 2021 afirma que a Funai já destinou mais de R$ 37,7 milhões a medidas de combate à Covid-19 junto aos povos indígenas. No entanto, o valor é maior que o registrado no Portal da Transparência. O governo diz que cerca de 425 mil cestas de alimentos foram distribuídas a 207 mil famílias indígenas em todo o país.

A Funai também alega na publicação que já entregou quase 70 mil kits de higiene e limpeza a indígenas, a fim de reforçar a adoção de medidas preventivas. E que os servidores da fundação vêm atuando na conscientização dos indígenas para que eles evitem receber pessoas de fora das aldeias, bem como realizar aglomerações. A Funai informa que, ainda em março de 2020, já havia suspendido as autorizações para ingresso em Terras Indígenas e, atualmente, dá suporte a mais de 300 barreiras sanitárias para impedir a entrada de não-indígenas nas aldeias.

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ECONOMIA & SOCIEDADE

SAÚDE INDÍGENA

30mil A população de indígenas que vive em área urbana de Manaus ultrapassa os 30 mil, segundo dados da Apib.

Crédito: Clóvis Miranda

São muitas as etnias “ morando em áreas urbanas. Quando chegam à cidade, não perdem a sua identidade indígena e origem”

Sem unidade de saúde, a comunidade montou um hospital de campanha improvisado, com a ajuda de voluntários

Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Apib.

“PRECISAMOS QUE ALGUÉM NOS ESCUTE”

Ana Pastana – Da Revista Cenarium

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ANAUS – O Parque das Tribos é o primeiro bairro indígena de Manaus, com 700 famílias e 35 etnias, sendo 90% indígenas e 10% não indígenas, de acordo com levantamento feito pelas lideranças da comunidade.

Vivendo no bairro Tarumã, Zona Norte da capital do Amazonas, os moradores da área sofrem com a ausência de unidades de saúde. Com a pandemia de Covid-19, a situação se agravou.

Com o alto índice de contaminação pelo novo coronavírus no Amazonas, o Parque das Tribos foi fortemente afetado pela pandemia, com impactos não só sobre a saúde de muitos moradores, mas também com o desemprego e a perda do cacique Messias Kokama, fundador da comunidade.

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Ignorados por políticas públicas federais e sem amparo do município, os indígenas do Parque das Tribos ergueram, com a ajuda de técnicas de enfermagem e voluntários, um improvisado hospital de campanha, onde é feito o acompanhamento de pacientes com Covid-19 em estado leve e moderado. Os voluntários também ajudam doando mantimentos e realizando mutirões de serviços.

Uma das voluntárias, a técnica de enfermagem Vanda Ortega, da etnia Witoto, se tornou um dos símbolos da resistência indígena na pandemia e atua no atendimento à saúde no Parque das Tribos, desde 2020. Não por menos, o rosto de Vanda estampa a capa desta edição.

Clotilde Mendes, da etnia Tikuna, é outra técnica de enfermagem voluntária. Segundo ela, a comunidade precisa

de mais atenção e agora, com o segundo pico da Covid-19 no Estado, 65% dos moradores já foram contaminados.

No site da Prefeitura de Manaus, o Parque das Tribos é reconhecido pelo município como bairro, mas não existem Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e nem Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) próximas à comunidade. “Precisamos que alguém nos escute para que um dia coloquem uma UBS para a comunidade. A unidade básica mais próxima está sendo desativada, não está fazendo atendimento, então temos que ir para a UPA do Campos Sales. Precisamos que seja feita uma UBS na comunidade, sofremos com essa vulnerabilidade”, disse Clotilde, enfatizando que os moradores do local precisam de atenção especializada.

Para a coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, o que ocorre no Parque das Tribos é uma pequena demonstração do desprezo do Brasil pela população indígena e os problemas da comunidade são reflexo do tratamento dado a indígenas em contexto urbano.

“São muitas as etnias morando em áreas urbanas. Estão lá por uma série de fatores, mas quando chegam à cidade, não perdem a identidade indígena e origem.

Porém, o que o governo está fazendo é tratar assim, excluir de qualquer política ou plano do governo federal”, afirma, destacando que a população indígena urbana de Manaus é de mais de 30 mil indivíduos, e que a pandemia tornou mais evidente a marginalização dessa parcela da sociedade.

A REVISTA CENARIUM procurou a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa) para esclarecimentos sobre a ausência de UBSs e UPAs na região da comunidade, mas não houve resposta até o fechamento dessa edição. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) informou que indígenas não aldeados ou que vivem em contexto urbano também são atendidos nos hospitais do Estado, dependendo do caso clínico, a exemplo do que acontece com os demais habitantes da cidade.

O Ministério Público Federal (MPF) informou que acompanha, desde 2014, a ação de reintegração de posse no Parque das Tribos e tem atuado com outros órgãos para garantir a permanência no local de mais de 500 famílias. A reintegração de posse chegou a ser determina-

da pela Justiça, mas, diante do estágio avançado de urbanização, o MPF e outras instituições têm buscado articular a regularização fundiária da área pela Prefeitura de Manaus.

Sobre o atendimento de saúde, o MPF informou que instaurou procedimento para apurar as medidas implementadas pelas instituições competentes para prevenir a disseminação do novo coronavírus entre os povos indígenas e comunidades tradicionais no Amazonas como um todo. Como parte desse procedimento, o MPF articulou, com o Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTI) Saúde Indígena, a inclusão do campo “raça/cor” no cadastro de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), para o melhor acompanhamento de indígenas em atendimento também nas cidades.

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SAÚDE INDÍGENA

ATENÇÃO MÉDICA PRECÁRIA

Eu estava muito “ cansada e com dor de

cabeça, recebi injeções para amenizar, quando fui encaminhada para outra área na UPA, comecei a sentir novamente os sintomas, enjoo, falta de ar, dor de cabeça” Eliane Lopes, da etnia Baré, paciente de Covid-19.

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ANAUS - “Me sentia muito fraca, não conseguia me levantar nem para ir ao banheiro, pela falta de ar, desmaiei duas vezes”. O relato é de Eliane Lopes, da etnia Tanamari, que afirma estar se tratando de Covid-19 pela segunda vez. Moradora do Parque das Tribos, em Manaus, Eliana diz que muitos moradores da comunidade contaminados pelo novo coronavírus escolhem ficar no hospital de campanha improvisado montado no local, em vez de ir a uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Ela é um desses pacientes. Com a ajuda da filha de 8 anos, que também já testou positivo para o vírus, Eliane conseguiu se deslocar até uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) mais próxima e, onde recebeu o diagnóstico de Covid-19, mas disse que foi mal atendida.

Segundo Eliane, está sendo atendida melhor e teve uma melhora no quadro clínico, após ir para o hospital de campanha indígena. “Eu estava muito cansada e com dor de cabeça, recebi injeções para amenizar, quando fui encaminhada para outra área na UPA, comecei a sentir novamente os sintomas, enjoo, falta de ar, dor de cabeça. No retorno com o médico, comuniquei que estava bem, pois

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sabia que iriam aplicar medicações e isso estava me fazendo piorar. Quando recebi alta, fui ao hospital de campanha, recebi medicamento para dor de cabeça e, finalmente, consegui descansar. Pela manhã, passei mal de novo e comecei a receber tratamento com oxigênio. Me senti melhor”, diz.

Eliane acredita que correria risco de morte, se continuasse na UPA. “Me sentia muito fraca, não conseguia me levantar nem para ir ao banheiro, pela falta de ar, desmaiei duas vezes e, na primeira vez, segundo a pastora que estava me acompanhando, demorei para retornar e, no intervalo de 15 minutos, tive outro desmaio e eles não fizeram nada além de aplicar medicações”, relata. É fácil encontrar casos de reinfecção na comunidade. Assim como Eliane, Clauciane Nogueira, da etnia Baré, também paciente na unidade de campanha, afirma que já teve Covid-19. Segundo ela, essa é a terceira vez que se trata da doença. E, na segunda, diz Clauciane, teve um infarto e passou a ter problemas do coração como sequela.

Clauciane conta que procurou atendimento em uma UPA e diz que presen-

Crédito: Clóvis Miranda

Ana Pastana – Da Revista Cenarium ciou a falta de preparo dos profissionais da saúde na unidade. De acordo com ela, estão aplicando remédios e ignorando os sintomas dos pacientes. “Cheguei para atendimento às 20h, fui ser atendida à 0h10. O médico foi mal educado, não me deixou explicar o que estava sentindo e mandou eu tomar medicação.

Aferiu minha pressão e estava quase em ‘20’ e ele informou que com a medicação iria melhorar. Sem estar bem, recebi alta”, afirma.

Após a alta, Clauciane procurou atendimento no hospital de campanha, com muita falta de ar e dores, foi socorrida pelos voluntários da unidade. “Assim que cheguei na comunidade, deitei um pouco para descansar e senti uma ‘porrada’ no coração, meu corpo começou a tremer. Ao aferir os batimentos, meu coração estava em 130 batimentos, senti que iria morrer. Queriam me levar novamente para a UPA, mas preferi ficar aqui, iriam me matar se fosse, ‘acabei de sair de lá, tô toda furada, se eu retornar para lá, vão me mandar direto para o necrotério’. Comecei a fazer exercícios respiratórios e melhorei, fui para casa e retornei para acompanhamento. Estou bem melhor aqui, sem comparação”, conclui.

Clauciane Nogueira e Eliane Lopes, que se tratam no hospital de campanha indígena, afirmam já ter tido Covid-19 outras vezes

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ECONOMIA & SOCIEDADE

SAÚDE INDÍGENA

Sob um governo de política reacionária e em um contexto de queimada da Amazônia e de avanço do novo corona-

‘Relação destrutiva’ Jennifer Silva – Da Revista Cenarium

Tratamento “ diferenciado”

deve significar o compromisso de reparar as dívidas históricas da sociedade nacional com estes povos” Luiz Fernando de Souza Santos, sociólogo.

vírus na região, diz o professor, essa disposição política só se acentuou.

“Por isso, toda forma de resistência política, científica, econômica, que garanta o direito à vida e ao território pelos povos indígenas é necessária. Em tal contexto, “tratamento diferenciado” deve significar o compromisso de reparar as dívidas históricas da sociedade nacional com estes povos. E, no caso da vacinação contra a Covid-19, considerar as diversas condições de reprodução da existência indígena é fundamental”, afirma Luiz Fernando.

Para o sociólogo, há que se considerar a vacinação dos indígenas aldeados, aqueles com nenhum ou pouco contato, aqueles que estão no interior da Ama-

zônia, mas não estão em território demarcado e aqueles que vivem em espaço urbano. Em Manaus, são, aproximadamente, 45 mil indígenas de diversas etnias, explicou o sociólogo.

O professor ressalta, ainda, que uma política séria de vacinação dos povos indígenas deve considerar a realidade em que os índios estão inseridos, com a falta de atendimentos essenciais de saúde da família, humanização, integralidade, direito à saúde, dentre outros fatores. “Pelo exposto, considero que a vacinação prioritária dos povos indígenas e quilombolas deve ser observada. Sem isso, o que fica é uma política etnocida”, destacou Luiz Fernando.

Grupo prioritário Após a técnica de enfermagem Vanda Ortega, da etnia Witoto, ser a primeira indígena amazonense a receber a vacina contra a Covid-19 no Amazonas, a Secretaria de Saúde informou que o imunizante seria distribuído para 265 aldeias indígenas, em 16 municípios do Estado.

A distribuição seria feita pelo Distrito Sanitário Especial Indígena de Manaus (Dsei), vinculado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde. Lanchas rápidas fariam a logística das equipes e das vacinas para as comunidades, com o apoio de embarcações de grande porte.

Com 30.240 indígenas do Estado, segundo o coordenador do Dsei Manaus, Januário Neto, apenas 15.300 indígenas devem ser vacinados nesse primeiro momento, que tem como grupos prioritários os trabalhadores da saúde, idosos de 75 anos ou mais, pessoas com mais de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência e a população indígena.

Crédito: Marcelo Camargo | Ag Brasil

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ANAUS – O professor de Sociologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e coordenador do curso de Licenciatura Indígena, Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, Luiz Fernando de Souza Santos, avalia que a sociedade nacional, em raros intervalos contrários, sempre teve uma relação destrutiva com os povos indígenas. Para o sociólogo, é importante considerar essa condição desfavorável, apesar de a sociedade ameríndia ter desenvolvido anticorpos para múltiplas doenças do mundo ocidental.

No caso da vacinação contra a Covid-19, as políticas públicas devem considerar as diversas condições de reprodução da existência indígena

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ECONOMIA & SOCIEDADE

SAÚDE INDÍGENA

Jennifer Silva – Da Revista Cenarium

O profissional estava “ com Covid-19 e deu início a uma cadeia de contaminação na população local”

Apib, em trecho de relatório sobre impacto da pandemia.

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ANAUS - O primeiro caso de Covid-19 entre os povos indígenas, confirmado em 8 de abril do ano passado, foi o de uma mulher de 20 anos do povo Kokama, na região do Alto Rio Solimões, no Amazonas, que trabalhava como agente indígena de saúde. A infecção ocorreu depois de um médico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão do Ministério da Saúde responsável pelo atendimento nas terras indígenas, passar as férias em São Paulo e voltar àquela região em 25 de março para atender os indígenas, segundo o relatório da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

“O profissional estava com Covid-19 e deu início a uma cadeia de contaminação na população local. A doença havia sido caracterizada como pandemia pela OMS, em 11 de março de 2020, e menos de dez dias depois, o governo já havia confirmado a transmissão comunitária no país. Hoje, os Kokama são o segundo povo mais atingido pela Covid-19, com 59 mortes e milhares de contaminados, atrás apenas dos Xavante, com 68 óbitos.

Mas, há ainda os mortos sem identificação de etnia, que somam 307. Também foram integrantes da Sesai que levaram o vírus a tribos que praticavam isolamento voluntário e de recente contato no Vale do Javari, no Amazonas, e no Alto Rio Purus, no Acre, segundo a Apib. Na região do Parque Tumucumaqui, na divisa entre o Amapá e o Pará, o vírus chegou aos indígenas locais por meio de equipes do Exército”, afirma a entidade.

Segundo a médica Mariana Maleronka, professora da Faculdade de Ciên-

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Crédito: Niaid | Fotos Públicas

Rastro de contágio cias da Saúde Albert Einstein e consultora do Conselho Nacional dos Direitos Humanos para a Saúde Indígena, o plano da Sesai para fazer a contenção da pandemia foi divulgado com atraso e era falho. “Não tinha indicador nem meta, e nenhum tipo de organização que pudesse dar conta do desafio de enfrentar a pandemia de uma população supervulnerável que está em área remota”, afirma. Um dos erros do órgão, segundo a médica, foi usar testes rápidos de sorologia, que indicam se a pessoa já teve a doença, em vez do teste PCR, que mostra quando a pessoa está infectada.

A Apib também se opôs ao envio de missões governamentais a territórios indígenas com o objetivo de fazer relações públicas. Em 30 de junho do ano passado, uma comitiva com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o coordenador da Sesai, Robson Santos Silva, deslocou-se até a Terra Indígena Yanomami, o que “desrespeitou a decisão dos indígenas pelo autoisolamento” e atraiu cerca de 20 jornalistas. A missão entregou 33 mil comprimidos de cloroquina à unidade de saúde dos Yanomami, medicamento sem eficácia comprovada contra a Covid-19.

Em alguns povos indígenas, a contaminação se deu por meio de membros dessas comunidades que trabalham em frigoríficos próximos e contraíram a doença de colegas de trabalho. Foi o caso da Terra Indígena Oco’y, no Paraná, da Terra Indígena Xapecó, em Santa Catarina, e na Reserva Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul.

Um médico da Sesai levou o novo coronavírus para a região do Alto Solimões em abril de 2020, após passar férias em São Paulo

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ECONOMIA & SOCIEDADE

Crédito: Bruno Zanardo | Secom

Estoque reforçado Governo do Amazonas mantém insumos hospitalares para unidades de saúde no combate à Covid-19

Com informações da assessoria

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ANAUS – Mesmo com o aumento da demanda por medicamentos hospitalares utilizados na entubação de pacientes, em virtude do crescimento do número de internações por Covid-19, o Governo do Amazonas vem mantendo os estoques desse tipo de medicação nas unidades de saúde, garantindo o atendimento para pacientes que apresentam quadro grave da doença.

Conforme dados da Central de Medicamentos do Amazonas (Cema), unidade vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), o Estado ainda dispõe, em estoque, de mais de 422 mil doses de componentes que fazem parte do chamado “kit de entubação”. Também estão programadas entregas de mais de 373 mil produtos ainda na segunda quinzena deste mês.

Os kits de entubação são compostos por 19 medicamentos, tendo funções

como bloqueadores neuromusculares, reversores, hipnóticos, sedativos, dentre outros. Todos os itens são padronizados pelo Estado e distribuídos pela Cema para todas as unidades de saúde, tanto da capital, quanto do interior do Amazonas.

Ao todo, o estoque da Cema concentra, atualmente, a quantidade de 422.912 doses de medicamentos utilizados em entubação como: atracúrio, rocurônio, suxametônio, etomidato, propofol, midazolam, flumezanil, lidocaína, sulfato de magnésio, fentanila, morfina, tramadol e naloxona. As 373.330 doses para os medicamentos neostigmina, dextrocetamina, dexmedetomidina, clonidina, fentanila, reminfentanila, segundo a Cema, chegaram na segunda quinzena de janeiro, considerando os pedidos de urgência feito aos fornecedores e a alta demanda para esse tipo de medicamento em todo o país.

Central de Medicamentos O Estado ainda dispõe, em estoque, de mais de 422 mil doses de componentes que fazem parte do tratamento de pacientes em estado grave 36

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A Cema é responsável por abastecer toda a rede estadual de saúde da capital e do interior. Atualmente trabalha com cerca de 1.300 itens, entre medicamentos e insumos hospitalares. Com ajustes e reestruturação da rede, em dezembro de 2020, a Central de Medicamentos atingiu a marca de 75% de abastecimento, enquanto que em janeiro de 2019, quando começou a gestão, esse índice era de apenas 12%.

De acordo com o coordenador da Cema, Cláudio Nogueira, a demanda pelos insumos aumentou consideravelmente nas últimas semanas, tendo em vista o aumento de internações e pacientes necessitados de entubação. Ele considera que, mesmo com a grande procura pelos insumos, a situação do Amazonas é melhor que em outros Estados.

“Os medicamentos estão sendo distribuídos para as unidades, tentando garantir o tratamento da população. O Governo do Amazonas, apesar de estar no pico pandêmico, está em um cenário melhor que muitos estados. É importante frisar que fizemos planejamento para a aquisição de medicamentos, porém o grande problema é a entrega e a produção das indústrias farmacêuticas, que ficaram fechadas no final do ano. Fica o nosso apelo para que este mercado fique aberto para socorrer os estados”.

19 Os kits de tratamento são compostos por 19 medicamentos, tendo funções como bloqueadores neuromusculares, reversores, hipnóticos, sedativos, entre outros.

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ECONOMIA & SOCIEDADE

REVISTA CENARIUM

Vírus da mentira Divulgar ‘fake news’ sobre pandemia pode gerar multa de até R$ 10 mil no Amazonas Com informações da assessoria

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A disseminação de informações falsas desorienta a população e prejudica os esforços de prevenção e enfrentamento à pandemia de Covid-19.

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Crédito: Arte Guilherme Reis | Foto Leonardo Sá - Agência Senado | Fotos Públicas

ANAUS – Quem divulgar intencionalmente notícia falsa sobre epidemias, endemias e pandemias no Amazonas, por meio eletrônico ou similar, poderá pagar multa de R$ 1 mil a R$ 10 mil. É o que estabelece a Lei nº 5.369, de 5 de janeiro deste ano, publicada no Diário Oficial Eletrônico do Estado (DOE).

Apesar de a lei já estar em vigor, ainda não está definido por quem será feita a fiscalização. A multa estabelecida será revertida para o apoio do tratamento de epidemias no Amazonas. A lei é oriunda do Projeto de Lei nº 147/2020, proposto pela deputada da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) Joana Darc (PL), e aprovado no dia 15 de dezembro de 2020.

A disseminação de notícias falsas tem trazido prejuízos à sociedade no enfrentamento à pandemia de Covid-19, ao desorientar a população sobre medidas restritivas e de atendimento do sistema de saúde, o que vem gerando tumultos.

No dia 8 de janeiro, uma publicação feita nas redes sociais afirmava que o Exército Brasileiro iria construir um Hos-

pital de Campanha em Manaus. A informação foi negada pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) no dia seguinte e informava que a unidade hospitalar estava passando por uma reestruturação, além de já ter atingido 100% dos leitos ocupados. O Exército também informou que está sendo feita uma ampliação da capacidade da unidade hospitalar usada exclusivamente para o público interno.

Em outro caso, áudios disseminados em redes sociais difundiram informação inverídica de que os supermercados deixariam de funcionar a partir de um novo decreto estadual com medidas restritivas.

O resultado foi tumulto e longas filas em todos os supermercados de Manaus no dia 23 de janeiro, um sábado, o que acabou provocando aglomerações em diversos pontos da cidade e expondo a população a um maior risco de contágio pelo novo coronavírus.

R$ 1 mil A Lei nº 5.369 prevê multas de R$ 1 mil a R$ 10 mil para quem disseminar intencionalmente informação falsa sobre epidemias, endemias e pandemias no Amazonas, por meio eletrônico ou similar.

A verdade é que, com o novo decreto, os supermercados seguiram funcionando dentro do horário das 6h às 19h, e apenas foi limitada a entrada de pessoas nos estabelecimentos ao número máximo de um integrante por família.

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REVISTA CENARIUM

ECONOMIA & SOCIEDADE

retomadas o quanto antes. Já no Brasil, ao contrário disso, a vacinação engatinha porque o governo federal insiste em diminuir a pandemia, mesmo que esta já tenha feito mais de 200 mil vítimas fatais.

Ainda que incipiente, a vacinação brasileira só pôde iniciar em meados de janeiro, porque o Governo de São Paulo fechou contrato com o laboratório chinês durante o primeiro pico da pandemia, em junho do ano passado, quando as pesquisas para a vacina começaram.

O presidente Jair Bolsonaro, ainda hoje, tenta desqualificar a vacina, em uma postura que prioriza a rixa política com o governador paulista, João Dória, e não a saúde da população e a retomada da economia brasileira.

A Moto Honda da Amazônia suspendeu a produção, por falta de insumos e pelo alto índice de contágio por Covid-19 entre os funcionários

PRODUÇÃO INTERROMPIDA A Moto Honda da Amazônia informou que a suspensão da produção se

deve ao agravamento da pandemia no Amazonas e seu impacto na cadeia de fornecedores de insumo. Há informações de que cerca de 300 funcionários da empresa também foram infectados pelo novo coronavírus.

Segundo o comunicado da empresa, a retomada da produção foi condicionada a uma avaliação do cenário dos impactos da pandemia. A Moto Honda também destacou que está contribuindo em diversas ações no combate à pandemia.

“Recentemente, em caráter emergencial, a empresa doou 454 cilindros de oxigênio para o Estado do Amazonas e seguirá empenhada na recarga e reabastecimento dos mesmos. A rede de concessionárias de todo o país uniu-se a essa mobilização para ampliar o volume disponibilizado ao sistema de saúde local.

Além disso, a Honda realizou a doação de 20 mil máscaras do tipo faceshield”.

29,5% A indústria responde por cerca de 29,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Amazonas, segundo a Secretaria de Planejamento do Estado.

Crédito: Ricardo Oliveira

INDÚSTRIA FRAGILIZADA

Falta de plano nacional de combate à pandemia volta a afetar produção da Zona Franca de Manaus Paula Litaiff e Carolina Givoni – Da Revista Cenarium

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ANAUS – A falta de um plano nacional de enfrentamento à pandemia, que agora deveria estar distribuindo vacina para toda a população, agrava, novamente, a crise sanitária, com forte impacto na economia.

No Amazonas, o elevado número de infectados pelo novo coronavírus já começa a paralisar fábricas do Polo Industrial da Zona Franca de Manaus (ZFM).

No dia 22 de janeiro, por exemplo, a Moto Honda da Amazônia, responsável pela maior parte das motocicletas produzidas no país, comunicou que estaria suspendendo a produção até, pelo me-

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nos, início de fevereiro. Faltam insumos, além de parte dos próprios funcionários estarem com Covid-19.

Para o Governo do Amazonas, a paralisação das atividades da multinacional atinge considerável parcela da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Além de ser uma das maiores fábricas do Polo Industrial de Manaus, a Moto Honda movimenta fornecedoras de peças para as linhas de produção. A paralisação gera um movimento em cadeia, agravando a perda de ICMS.

A economia do Amazonas gira em torno das fábricas instaladas na capital em um parque fabril que é o maior da América Latina. Os demais setores econômicos, por outro lado, dependem da riqueza movimentada pela indústria. Segundo a Secretaria de Planejamento do Estado, só a indústria responde por cerca de 29,5% do Produto Interno Bruto (PIB) amazonense.

Nos Estados Unidos e em países da Europa, que começaram a vacinação ainda em dezembro, a ordem é acelerar a imunização da população para que as atividades sociais e econômicas sejam 41

ECONOMIA & SOCIEDADE

REVISTA CENARIUM

‘ALÉM DAS ASPAS’ Treinamento com especialista reforça Jornalismo de Dados na REVISTA CENARIUM Mencius Melo – Da Revista Cenarium

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ANAUS – Aprofundar o universo da pesquisa jornalística para produzir reportagens sistemáticas e técnicas. Esse é o objetivo da consultoria aplicada pelo jornalista amazonense Raphael Cortezão, especialista em Jornalismo de Dados, aos colaboradores da REVISTA CENARIUM. O Jornalismo de Dados é a vertente da comunicação que trabalha com a análise de contas públicas e levantamentos estatísticos. Estão no ciberespaço dados de gastos governamentais, não governamentais, organismos internacionais, além de informações sobre órgãos de controle financeiro, instituições legislativas, judiciárias, entre outros.

Sobre o conteúdo programático da consultoria à equipe da CENARIUM, Cortezão explicou que o treinamento visa a oferecer ferramentas para que a redação da revista possa embasar melhor as reportagens.

“O jornalismo tem a necessidade de buscar formas para utilizar esse amplo universo de informações, que podem conferir muito mais credibilidade às reportagens”, observou o profissional.

MAIS CREDIBILIDADE Para a diretora da REVISTA CENARIUM, jornalista Paula Litaiff, o uso das técnicas estabelecidas na consultoria de Jornalismo de Dados dará ainda mais credibilidade ao conteúdo elaborado pe42

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los profissionais, garantindo assim uma produção diferenciada.

“Desde a sua concepção, a REVISTA CENARIUM – nas versões on-line e impressa – comprometeu-se em prezar pelo jornalismo técnico e investigativo. Diante de tantas mudanças no espaço virtual, procuramos na consultoria de Rapahel Cortezão o aprimoramento da nossa missão”, explicou Paula.

Ela disse ainda que as ferramentas apresentadas pela consultoria demonstram a possibilidade de confrontar os “números oficiais” de instituições governamentais, por exemplo. “É possível, praticando esse tipo de recurso jornalístico, saber se um dado numérico lançado em sistemas de transparências públicas é factível ou desvirtua a realidade para o produto ou serviço”, apontou Litaiff.

Raphael Cortezão explicou que a aplicabilidade do treinamento voltado para o Jornalismo de Dados garante a quebra de opiniões que seguem o contexto do senso comum. “Comparado ao jornalismo norte-americano, que é a escola da qual o Brasil muito se utilizou, esse tipo de jornalismo vai além das aspas oficiais”, observou o especialista.

FIM DE JUGO Para o professor universitário, a prática de tomar sempre a “palavra oficial”

como verdade inquestionável é resultado da Ditadura Militar a qual a sociedade brasileira foi submetida, em 1964.

“Esse jugo acabou e precisamos avançar”, completou Raphael Cortezão.

Outro ponto importante da prática do Jornalismo de Dados é o combate às ‘fake news’. Tanto Paula Litaiff quanto Raphael Cortezão concordam que a técnica é a melhor opção para se combater a disseminação de conteúdos falsos.

“Quando o jornalista confronta uma informação falsa apresentando dados reais e as fontes desses dados, ele está dizendo ao público que é necessário fazer esse tipo de checagem para que a informação seja considerada verdadeira”, concluiu Cortezão.

REPORTAGEM 4.0 A consultoria de Raphael Cortezão denomina-se ‘Reportagem 4.0: técnicas de pesquisa e apuração jornalística na era digital’. A técnica consiste em conhecer e dominar as principais ferramentas e técnicas de pesquisa e apuração jornalística disponíveis na internet.

Com esses instrumentos, o repórter é capaz de garimpar dados sobre os temas de interesse de sua linha editorial disponíveis na internet, montar pautas melhor estruturadas e transformar esses dados em histórias interessantes para o seu público.

Raphael Cortezão explica que o treinamento visa a oferecer ferramentas para embasar melhor as reportagens

“

Desde a sua concepção, a REVISTA CENARIUM, nas versões on-line e impressa, comprometeu-se em prezar pelo jornalismo técnico e investigativo” Paula Litaiff, diretora da Revista Cenarium.

Perfil profissional Raphael Cortezão tem experiência de 15 anos em Jornalismo, Comunicação Organizacional Integrada e Mídias Digitais. É especialista em Publicidade, Propaganda e Marketing. Atuou como repórter e correspondente em grandes veículos jornalísticos locais e nacionais. Possui habilidades em Jornalismo de Dados desenvolvidas por meio de cursos internacionais e práticas laboratoriais.

Lecionou em cursos de graduação em Jornalismo e Publicidade e especialização na área de mídias digitais. O especialista, também, é assessor-chefe de Comunicação do Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas, onde trabalha há mais de dez anos.

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POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS

REVISTA CENARIUM

M Crédito: Ronan Frias - Semas Pará | Fotos Públicas

De volta à Amazônia Madeira ilegal brasileira exportada para os EUA deve retornar ao Brasil Ana Pastana – Da Revista Cenarium

130 mil Em dezembro de 2020, foram apreendidos 130 mil metros cúbicos de madeira ilegal, em operação da Polícia Federal.

43.700 Órgãos federais brasileiros articulam com o governo norte-americano medidas contra empresas que exportaram madeira ilegal para os EUA 44

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As 43.700 toras de madeira foram apreendidas no Pará, ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns, fronteira com o Amazonas pelo município de Parintins

ANAUS – O Ministério Público Federal (MPF), a Receita Federal do Brasil e a Polícia Federal (PF) deram início, no mês de janeiro, uma articulação com o governo norte-americano para adoção de medidas em relação a empresas que exportaram madeira ilegal para os Estados Unidos (EUA). Na Operação Handroanthus-GLO, desdobramento da Operação Arquimedes, em dezembro do ano passado, foram apreendidos mais de 130 mil metros cúbicos de madeira ilegal para exportação.

A Secretaria de Cooperação Internacional (SCI), do MPF, atuou no encaminhamento das informações aos Estados Unidos. Dentre as medidas enviadas para as autoridades norte-americanas, está a identificação das empresas brasileiras que negociavam a madeira ilegal para a exportação. Após esta verificação, será providenciada a devolução das cargas comercializadas pelas empresas.

genas o aumento do número de desmatamento na região.

Ao lado do superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, Bolsonaro questionou ao delegado se a ação era possível. Visivelmente constrangido pela fala do presidente, Saraiva respondeu que já aconteceu da madeira em terra indígena ser negociada por valores pífios, mas a grande causa do desmatamento era a fraude nos processos administrativos.

MERCADO DE LUXO Um carregamento inteiro de madeira especial, destinado às movelarias de alto padrão, estava ancorado no munícipio de Parintins, Amazonas, na divisa com o Pará, em dezembro passado. Ao que tudo indica, trata-se de uma rede bem organizada de contrabando, que atua nas brechas da lei e na inércia dos órgãos de fiscalização governamental.

Nos portos americanos foram coletadas amostras de ipê, jatobá e outras espécies exportadas do Brasil para serem comparadas com o banco de amostras da área declarada como origem da exploração florestal. A técnica de isótopos (são aqueles que ocorrem de forma comum na natureza) e recursos tecnológicos desenvolvidos no Brasil serão utilizados para essa identificação.

A carga era composta de madeiras nobres, mas não se destinava a carvoarias, pelo contrário, compõe a indústria do design de móveis projetados. Fontes entrevistadas pela REVISTA CENARIUM afirmam que o produto tinha como destino a Europa ou o disputado mercado de móveis nos Estados Unidos.

Em razão dos crimes constatados nas investigações criminais no Brasil, as cargas de madeira vinculadas às empresas envolvidas na Operação Handroanthus-GLO estão formalmente apreendidas em inquérito policial. Considerando a ilegalidade de origem, pela Lacey Act (legislação americana que trata do comércio de produtos vegetais), essa madeira também é considerada ilegal nos Estados Unidos.

‘TORA POR CERVEJA’

A Polícia Federal (PF), durante a Operação Handroanthus GLO, apreendeu, em dezembro de 2020, mais de 130 mil metros cúbicos de madeira retirada da floresta de forma informal, sendo considerada a maior da história do país. Em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), a operação alcançou 43.700 toras de madeira no Pará, ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns (região que faz fronteira com o Amazonas pelo município de Parintins, a 369 quilômetros de Manaus.

O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), gerou revolta em instituições que representam os indígenas e povos tradicionais da Amazônia, após falar em live que existiam locais onde o índio trocava uma “tora” por uma Coca-Cola ou cerveja. A intenção do atual presidente era atribuir aos indí-

A ação levantou o debate entre especialistas que apontaram ser um “dano irreparável” ao meio ambiente. De acordo com o MPF, as investigações tiveram início em meados de novembro do ano passado, após a apreensão de uma balsa em Parintins, com 3 mil metros cúbicos de madeira extraídos do Pará.

APREENSÃO HISTÓRICA

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POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS

REVISTA CENARIUM

Viajante ilegal No Pará, madeira extraída ilegalmente circula livre nas águas do rio Tapajós João Paulo Guimarães – Da Revista Cenarium

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ELÉM – Ao longe, vemos uma balsa carregando um volume alto se aproximando. Eu olho por cima dos ombros contra o sol e vejo que é madeira que vem subindo o Rio Tapajós. Ao lado de nossa bajara (canoa de madeira com motor) aparece uma lancha com outro grupo de indígenas avisando que vamos subir. O carregamento é gigantesco. É impossível contar quantas árvores foram derrubadas.

Cláudia Tupinambá é mestra em Engenharia de Pesca e está conosco na abordagem. Ela conta que as empresas madeireiras que têm o aval do governo

chegam às comunidades nativas e ribeirinhas com a promessa de manejo madeireiro. Pedem o apoio e a permissão para o corte legal em reservas extrativistas.

Com seu discurso de progresso e ganho financeiro, mentem e encobrem a realidade dessa prática.

Jéssica Anastácia Medeiros é engenheira florestal e mestra em Ciências da Floresta e explica a ameaça. “Ecologicamente, a retirada de madeira de florestas nativas tem um peso enorme para o ecossistema, pois uma árvore não são unicamente metros cúbicos de madeira,

Quando um grande empreendimento se instala, muitas vezes com o discurso de conservação, ele está, na verdade, abrindo portas para o etnocídio das populações que habitam seu entorno, segundo Jéssica Anastácia.

“Nós, povos da Amazônia, não queremos madeireiras, mineradoras, ‘sojeiras’ ou turismo desenfreado em nossas terras. Queremos o direito de viver do nosso modo, livres, produzindo como nossos ancestrais há mais de 10 mil anos produzem, sem destruir a floresta, afinal somos parte dela”, diz Jéssica Anastácia.

PROCESSO ILEGAL O manejo no Estado do Pará tem a chamada cadeia de custódia. Para as empresas madeireiras circularem com toras

de madeira legais, é preciso certificar a tora, dizendo sua origem. Em qualquer lugar que essa madeira circular no Brasil ou para onde ela for exportada, estará certificada através de uma placa metálica ou de plástico, com código, letras ou números. Outra placa idêntica com os mesmos dados desse tronco ou tora deverá estar no toco dentro da floresta no local onde a árvore foi cortada. Dessa forma, é feita a fiscalização por amostragem. Os dados dizem a espécie, local e o volume.

Assim é possível saber a origem da madeira que circula dentro e fora do país.

Esse seria o processo legal da indústria.

Mas, a realidade é outra. A indústria madeireira encontra meios simples de burlar o sistema visando ao lucro imediato. Uma placa aleatória pode ser afixada na tora ou tronco, indicando corte de manejo legal. Chama-se “esquentar

a madeira”. A indústria dá uma origem aparentemente legal para uma tora de madeira que tem sua origem de dentro de uma unidade de conservação.

O TESTE DE OCO Antes da derrubada de árvores é feito um teste chamado “Teste de Oco”, que é feito com a motosserra e consiste em inserir o equipamento na superfície da árvore para observar a densidade. Caso seja muito fácil a entrada da serra no tronco, significa que a espécie não deve ser derrubada. Caso haja algum erro nesse teste, a árvore derrubada, chamada árvore ocada, permanece no local, já que para as madeireiras, extrair árvores ocadas de uma área de manejo legal seria prejuízo, pois o valor pago é de acordo com o volume de madeira. No carregamento abordado pelos indígenas existia madeira ocada, revelando a extração ilegal.

Crédito: João Paulo Guimarães

A descrição é de uma abordagem de um grupo de indígenas a uma embarcação carregada de toras de madeira. As

abordagens às balsas estão no terceiro ano e os Tupinambá começam a ganhar adesão de outras comunidades, assim como força política através do voto em indígenas para cargos como o de vereador. Mas, no Estado do Pará, o agronegócio sempre foi forte politicamente.

No Tapajós, a passagem das balsas com madeira é aguardada pelos Tupinambá, Arapiuns, Borari e Kumaruaras.

uma árvore é a morada de outras plantas, animais e seres encantados”.

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Ecologicamente, a retirada de madeira de florestas nativas tem um peso enorme para o ecossistema”

Jéssica Anastácia Medeiros, Engenheira florestal e mestra em Ciências da Floresta.

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Indígenas têm realizado abordagens a balsas que transportam madeira pelo Tapajós, para coibir extração ilegal 47

POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS

Secretaria de Meio Ambiente de Belém apreende 350 caranguejos em feiras e devolve animais à área de manguezal Com informações da Agência Pará

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Os animais apreendidos foram devolvidos à natureza, em área de manguezal no interior. Os períodos de defeso foram estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em portaria publicada dia 31 de dezembro de 2020, no Diário Oficial da União.

A portaria proíbe a captura, o transporte, o beneficiamento, a industrialização, a comercialização de qualquer indivíduo da espécie Ucides cordatus, conhecido popularmente como caranguejo-uçá, nos Estados do Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

O primeiro período de defeso este ano no Pará ocorreu de 14 a 19 de janeiro, durante a lua nova. As datas seguintes à proteção dos animais durante a “andada” – período reprodutivo em que os caranguejos machos e fêmeas saem de suas galerias (tocas) e andam pelo manguezal, para acasalamento e liberação de ovos são de 29 de 48

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janeiro a 3 de fevereiro – lua cheia; 28 de fevereiro a 5 de março – lua cheia; 29 de março a 3 de abril – lua cheia.

FEIRAS Nas feiras da 25 de Setembro (na avenida Rômulo Maiorana) e dos bairros Terra Firme, Pedreira, Barreiro, Marambaia, Entroncamento, Una, Jaderlândia, conjunto Panorama XXI e avenida Dalva, em Belém, foram apreendidos 350 caranguejos.

Os animais apreendidos retornaram ao habitat natural, com soltura na região de mangue mais próxima do município de Belém, o manguezal do município de São Caetano de Odivelas, no nordeste estadual.

O gerente da Fiscalização de Fauna e Recursos Pesqueiros, da Semas, Marcelo dos Santos, coordenou a operação em Belém e informou que a ação contou com a participação de servidores da Diretoria de Fiscalização, motoristas e policiais do BPA. “Não houve prisões porque os infratores fugiram ao perceberem a aproximação dos carros utilizados na fiscalização”, disse o coordenador da equipe, Marcelo dos Santos.

Segundo a agente de Fiscalização Ambiental da Semas Moema de Jesus, a

Crédito: Edro Guerreiro - Ag Pará | Fotos Públicas

Resgate ELÉM – Combater o comércio ilegal de caranguejo-uçá (Ucides cordatus) durante o período de defeso do crustáceo foi o objetivo da fiscalização realizada em dez feiras de Belém pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), com apoio do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), no mês de janeiro.

O GOVERNO SEGUE FIRME NA LUTA PARA O AMAZONAS VENCER A GUERRA CONTRA A COVID-19.

Caranguejos são protegidos por períodos de defeso e não podem ser comercializados em qualquer época do ano

maioria dos vendedores de caranguejo-uçá vistoriados portavam a Declaração de Estoque emitida pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, “contudo, um pequeno grupo não possuía o documento, tendo o estoque apreendido”, afirmou.

As pessoas físicas ou jurídicas que atuam na manutenção em cativeiro, conservação, beneficiamento, industrialização ou comercialização do Ucides cordatus deverão fornecer, até o último dia útil que antecede cada período de defeso, relação detalhada dos estoques de animais vivos, congelados, pré-cozidos, cozidos, inteiros ou em partes, conforme Declaração de Estoque, anexo à portaria, que deverá ser entregue nas superintendências federais de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ou enviada por meio eletrônico, para o site do Mapa.

Em Manaus, o número de leitos foi ampliado em 195%. Já são 1.348 leitos exclusivos para Covid-19.

No interior, as prefeituras receberam mais de R$ 76 milhões em recursos do FTI. E todos os municípios têm UCIs com respiradores.

A Semas informa, ainda, que quando se tratar de Unidade de Conservação Federal, a relação detalhada também deverá ser entregue ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

Novas ações de fiscalização serão realizadas enquanto durar a temporada reprodutiva da espécie Ucides cordatus.

Aos infratores serão aplicadas as penalidades e as sanções previstas na legislação ambiental.

As vacinas estão chegando em todo o estado.

Mais de 31 mil empregos foram mantidos com o Crédito Emergencial. E o Governo reduziu de 3,5% para 2% a alíquota de ICMS para bares e restaurantes.

Auxílio Estadual de R$ 600 divididos em 3 parcelas para 100 mil famílias.

440 mil kits de merenda escolar entregues para alunos da rede estadual

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ESSA LUTA É DE TODOS NÓS

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MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS

REVISTA CENARIUM

Discurso de união

P

AÍSES BAIXOS – O democrata Joseph Robinette Biden Junior, de 78 anos, é oficialmente o 46º presidente dos Estados Unidos (USA).

No discurso de posse, na tarde de 20 de janeiro, ele ressaltou questões raciais e ambientais, celebrou a vitória da democracia, reforçou a necessidade de união e prometeu restabelecer alianças com o mundo.

Joe Biden assume comando dos EUA afirmando que ‘nem todo desacordo é causa de guerra total’

Durante o discurso que inspirou reconciliação, Biden insistiu em “unidade”, acrescentou que discordância não pode gerar desunião, principalmente em um momento tão difícil, e convocou o povo para um novo começo. O pensamento levantado pelo atual presidente se faz importante em um momento em que brigas partidárias tomam o espaço midiático.

Caroline Viegas – Da Revista Cenarium

Lideraremos não apenas “ pelo nosso poder, mas

“Vamos ouvir uns aos outros, ver uns ao outros. Vamos mostrar respeito. A política não precisa ser um fogo abrasador.

Nem todo desacordo é causa de guerra total. Não devemos nos ver como oponentes, mas como vizinhos”, convocou.

também pelo poder do nosso exemplo” Joe Biden, presidente dos EUA

Biden, que foi vice-presidente dos Estados Unidos durante a presidência de Barack Obama, retorna à Casa Branca com a tarefa urgente de abordar a crise econômica e de saúde causada pelo coronavírus. Além disso, sua posse chega em meio ao caos do confronto violento que culminou, em 6 de janeiro, com a tomada do Capitólio por partidários do ex-presidente Donald Trump.

DESAFIO Biden disse que o país está passando por um desafio jamais visto, mas que vai lutar com todas as suas forças para unir a América. “Vemos um ataque à democracia e à verdade. Um vírus desenfreado, desigualdade crescente, a dor do racismo sistêmico, uma crise climática. Cada um desses problemas já é um desafio intenso em si, mas devemos enfrentá-los todos ao mesmo tempo. Isso representa um dos maiores desafios já enfrentados neste país. Seremos testados”, disse.

RESTAURANDO ALIANÇA

Crédito: Suboficial da Marinha de 1ª Classe Carlos M Vazquez II | Fotos Públicas

Em seu discurso, Biden também rompeu com o curso mais isolacionista de seu antecessor Trump, que desfez laços com outros países. “Vamos restaurar nossas alianças e nos aproximar do mundo novamente. Lideraremos não apenas pelo nosso poder, mas também pelo poder do nosso exemplo”. Ele havia discutido anteriormente áreas em que a cooperação será necessária, como a pandemia

e as mudanças climáticas. “Nossa terra está clamando em agonia”, disse.

REPRESENTATIVIDADE HISTÓRICA O discurso oficial de poder do novo presidente veio logo após Kamala Devi Harris ser empossada como vice-presidente pelo primeiro membro hispânico da Suprema Corte, o juiz Sotomayor.

Harris fez o juramento com a mão em uma Bíblia que pertenceu a Thurgood Marshall, ícone dos direitos civis que se tornou juiz da Suprema Corte.

A ascensão de Harris fez dela a mulher a ocupar o cargo mais alto na história dos Estados Unidos. Além de ser a primeira mulher vice-presidente dos EUA, é a primeira negra americana e primeira pessoa de ascendência sul-asiática a ocupar o segundo cargo mais alto do país.

Kamala Harris celebrou as mulheres em vídeo postado nas redes sociais horas antes da cerimônia de posse. “Estou aqui hoje por causa das mulheres que vieram antes de mim”, escreveu Kamala como legenda do vídeo que trouxe trechos do seu discurso de vitória. “À mulher mais responsável pela minha presença aqui hoje – minha mãe, Shyamala Gopalan Harris, que está sempre em nossos corações. Quando ela veio da Índia para cá, com 19 anos, talvez ela não tenha imaginado esse momento. Mas, ela acreditava profundamente em uma América onde um momento como esse fosse possível”, narrou a vice-presidente no vídeo.

Estou aqui hoje por “ causa das mulheres que vieram antes de mim” Joe Biden toma posse na presidência de um Estados Unidos dividido e com relações fragilizadas com o mundo 50

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Kamala Harris é a primeira mulher a se tornar vice-presidente dos EUA

Kamala Harris, vice-presidente dos EUA.

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MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS

REVISTA CENARIUM

MUTAÇÃO DE ALTO RISCO

Algumas das variantes contêm mutações-chaves na proteína S do SarsCoV-2, que infecta as células humanas para se replicar

Variantes do novo coronavírus do Brasil, Reino Unido e África do Sul são mais transmissíveis Com informações do O Globo

“Baseado nas novas informações, o risco associado à introdução e à transmissão comunitária destas variantes preocupantes foi alterado para alto/muito alto”, disse o ECDC, em um comunicado.

As variantes, que contêm mutações-chaves na proteína S do Sars-CoV-2, que infecta as células humanas para se replicar, já foram detectadas em vários países da Europa, segundo o órgão.

“Nós estamos observando as situações epidemiológicas se deteriorando em áreas onde as variantes do Sars-CoV-2 se tornaram presentes”, afirmou Andrea Ammon, diretora do ECDC, em um comunicado. “Um número crescente de 52

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infecções levará a um aumento de hospitalizações e taxas de óbitos ao longo de todas as faixas etárias”.

Na avaliação do centro, os países-membros da UE “devem se preparar para uma futura escalada na demanda nos sistemas de saúde”.

O Reino Unido vetou a entrada de viajantes com origem no Brasil e outros países da América Latina, além de Portugal, e alguns países da UE consideram adotar medidas similares. O ECDC recomendou que apenas viagens essenciais sejam mantidas e urgiu para que governos europeus acelerem a campanha de vacinação para os grupos de alto risco.

A mutação britânica, denominada N501Y, pode tornar o vírus mais transmissível, levar a reinfecções e ainda prejudicar a eficácia das vacinas, segundo estudos preliminares.

Já a brasileira, chamada E484, foi identificada no Rio de Janeiro e em variantes em Manaus, como a identificação em japoneses que estiveram no Amazonas. Ela altera o RDB, o ponto da proteína S em que o Sars-CoV-2 se liga às células humanas.

No dia 21 de janeiro, especialistas de três universidades sul-africanas ligados

ao Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD, na sigla em inglês) publicaram um estudo no repositório bioRxiv que alerta para a possibilidade de a variante sul-africana do Sars-CoV-2 evitar a ação de anticorpos que a atacam em tratamentos com plasma sanguíneo de pacientes previamente recuperados e reduzir a eficácia da atual linha de vacinas.

Os pesquisadores agora tentam definir se as vacinas que estão sendo lançadas em todo o mundo são eficazes contra a chamada variante 501Y.V2. Estima-se que a 501Y.V2 seja 50% mais infecciosa do que as anteriores. Ela já foi identificada em, pelo menos, 20 países, desde que foi relatada à Organização Mundial da Saúde (OMS) no final de dezembro do ano passado.

O risco associado à introdução e “ à transmissão comunitária destas

variantes preocupantes foi alterado para alto/muito alto” Comunicado do Centro de Prevenção e Controle de Doenças Europeu (ECDC, na sigla em inglês), ligado à União Europeia (UE).

A variante sul-africana é tida como o principal gatilho da segunda onda de infecções por Covid-19 na África do Sul, que atingiu um pico diário acima de 21 mil novos casos em 24 horas no início de janeiro deste ano, muito acima da primeira onda.

Crédito: Niaid | Fotos Públicas

E

STOCOLMO — O Centro de Prevenção e Controle de Doenças Europeu (ECDC, na sigla em inglês), ligado à União Europeia (UE), anunciou que as mutações do novo coronavírus encontradas no Brasil, Reino Unido e na África do Sul representam um “alto risco” para a Europa, em razão de sua maior transmissibilidade em relação às demais linhagens do patógeno. Trata-se da declaração mais contundente das autoridades europeias, desde que a mutação britânica se tornou prevalente em áreas da Inglaterra, em dezembro do ano passado.

Anthony Fauci, médico conselheiro da Casa Branca, disse que as mutações da África do Sul e a do Brasil podem afetar um pouco a eficácia das vacinas, mas não é nada relevante que precise alterar os imunizantes.

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PARA O AMAZONAS VENCER A COVID-19, O GOVERNO TAMBÉM ESTÁ NA LINHA DE FRENTE.

Em Manaus, o número de leitos foi ampliado em 195%.

Já são 1.348 leitos exclusivos para Covid-19.

No interior, as prefeituras receberam mais de R$ 76 milhões em recursos do FTI. E todos os municípios têm UCIs com respiradores.

As vacinas estão chegando em todo o estado.

Mais de 31 mil empregos foram mantidos com o Crédito Emergencial. E o Governo reduziu de 3,5% para 2% a alíquota de ICMS para bares e restaurantes.

Auxílio Estadual de R$ 600 divididos em 3 parcelas para 100 mil famílias.

UNIDOS, VAMOS VENCER MAIS RÁPIDO.

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Apelo internacional Denúncia de cacique Raoni contra Bolsonaro em Haia fortalece luta indígena no cenário internacional Victória Sales – Da Revista Cenarium

Bolsonaro sempre “ incitou a violência contra nós. Eu não posso aceitar a maneira como ele nos trata”

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom - Agência Brasil | Fotos Públicas

Cacique Raoni Metuktire, liderança indígena.

Cacique Raoni denunciou o presidente Jair Bolsonaro por crimes contra a humanidade e ambientais, juntamente com o cacique Almir Suruí 56

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MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS

“

Nós do Vale do Javari esperamos que essa denúncia venha fortalecer a luta indígena no cenário internacional” Eliésio Marubo, advogado.

Lideranças indígenas entrevistadas pela REVISTA CENARIUM afirmam que responsabilizar o mandatário brasileiro no Tribunal Penal Internacional (TPI) fortalece a luta indígena no cenário mundial. O documento, que possui 65 páginas, visa a defender causas internacionais de direitos humanos.

“Os termos da denúncia também atendem às regiões amazônicas. Me sinto contemplado como representante do Vale do Javari, uma vez que, de fato, os termos das denúncias procedem”, disse o advogado e representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), Eliésio Marubo.

Segundo Marubo, a denúncia é emergente e não representa apenas as lideranças indígenas ameaçadas pelas decisões de Bolsonaro. “No caso da Amazônia, não é diferente. A denúncia, de fato, representa a omissão e o dano da política nacional, quando se trata de meio ambiente”, destaca.

FORTALECIMENTO DA LUTA Para o representante da Unijava, o movimento indígena se organiza em torno da agenda ambiental, proteção da terra e desenvolvimento sustentável.

“Nós do Vale do Javari esperamos que essa denúncia venha fortalecer a luta indígena no cenário internacional”, disse Marubo.

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Os pais de rede social

Para o periódico francês Le Monde, o cacique Raoni, chefe indígena de mais de 90 anos, explicou que não teve outra escolha. “Bolsonaro sempre incitou a violência contra nós. Eu não posso aceitar a maneira como ele nos trata”, ressaltou Raoni.

Na denúncia protocolada pelo advogado francês William Bourdon, conhecido por defender casos de “whistleblowers” (informante do bem), como Edward Snowden, Julian Assange e ativistas africanos, constam assinaturas de diversas Organizações Não-Governamentais (ONGs).

O pedido também solicita a suspensão da demarcação de territórios indígenas, o projeto de lei que permite a mineração e a exploração agrícola em áreas protegidas. Além da limitação “proposital” dos orçamentos das agências ambientais.

SOBRE HAIA Com sede em Haia, na Holanda, o TPI foi estabelecido em 1998 e é composto por cerca de 100 países, incluindo o Brasil. A corte recebe mais de 500 denúncias por ano, mas apenas cerca de 10 viram investigações e uma parte ainda menor é aceita pelo tribunal para ir a julgamento. Até hoje, a corte realizou 28 julgamentos.

Os juízes do TPI já emitiram 35 mandados de prisão e 17 pessoas foram detidas no centro de detenção da corte.

Treze seguem foragidas, de acordo com o site oficial, enquanto as outras morreram. Quatro pessoas foram julgadas e condenadas pela corte internacional. Em 2019, o julgamento de Bosco Ntaganda considerou o ex-líder rebelde do Congo culpado por crimes de guerra.

Crédito: Divulgação

M

ANAUS – As denúncias contra o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), sobre a prática de crimes contra a humanidade e ambientais foram levadas pelos caciques Raoni Metuktire e Almir Suruí à Suprema Corte Judiciária internacional em Haia, no dia 22 de janeiro.

ARTIGO – FLÁVIA OLEARE

Flávia Oleare*

N

ão é que este termo virou moda?

É o pai ou a mãe que não assume responsabilidade nenhuma em relação ao filho, mas quando o busca de 15 em 15 dias todo arrumadinho, cheiroso, bem-vestido, cabelo e unhas cortados adora exibi-lo nas redes sociais.

Apresenta-se com o filho como se fosse o pai/mãe mais presente e dedicado do mundo!

Como se estivesse sempre junto, preocupado com as atividades escolares, com a saúde e todas as demais necessidades que uma criança e adolescente possuem.

São os posts mais curtidos e comentados: “Parabéns, que filho lindo! Que amizade linda entre vocês…”

Pena que é tudo aparência.

O pai/mãe não participa de nada. Só busca as crianças de 15 em 15 dias e não se preocupa com nada em relação à vida deles. Afinal, moram com a mãe (ou pai) e não é dever dele (a)…

E ainda falam para os amigos que os filhos são maravilhosos e não dão trabalho algum!

Sim, podem ser maravilhosos, mas não há uma única criança ou adolescente na face da terra que não dê trabalho.

Dão trabalho porque não têm autonomia e não têm independência.

Até uma certa idade demandam que se acompanhe tudo da escola, é necessário acompanhar a saúde médica, odontológica e psicológica, levar para cortar cabelo, para consultas médicas, odontológicas, em festinhas, em casa de avós, primos e tios, aulas particulares, esporte, música, para encontrar os amiguinhos no shopping, praia, cinema… UFA! Poderia fazer mil linhas, mas vai ficar cansativo.

Mas para o pai/mãe de rede social, realmente, busca no sábado de manhã e devolve no domingo à noite (quando não tem compromisso mais importante), almoçam em um restaurante, depois vão para casa para ele descansar, assistem a um filme à noite e, no outro dia, inventa qualquer coisa e devolve para a residência das crianças. Ah, quando não

devolve mais cedo porque tem um compromisso!

E tal conceito se aplica à maternidade também, por óbvio.

No entanto, em pleno 2021, vemos que a regra ainda é que os filhos residam com as mães e os pais vejam as crianças de 15 em 15 dias. As outras formas ainda são exceção.

Quando você ouvir algum pai ou mãe falando que as crianças não dão trabalho algum… já pode identificar: trata-se de mãe ou pai de rede social.

Um novo conceito de paternidade/ maternidade, criação pós redes sociais.

Mais essa! (*) Flávia Oleare é advogada cível especialista em Direito de Família e Sucessões e membro da Comissão de Direito e Família e Sucessões e da de Direito de Idosos da OAB/ ES. Sócia do escritório Oleare e Torezani Advocacia e Consultoria (www.oleareetorezani. com.br), contato: flavia@oleareetorezani. com.br

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ENTRETENIMENTO & CULTURA

REVISTA CENARIUM

SEM FOLIA, SEM LUCRO

Crédito: Clóvis Miranda

Hoje, estamos sem “ perspectiva financeira e o futuro é incerto.

Já estou cogitando a possibilidade de mudar de profissão” Fabiano Fayal, carnavalesco.

Autônomos que se sustentam com o Carnaval ‘sentem no bolso’ cancelamento da festa Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

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NÃO É SÓ FOLIA

ANAUS – A pandemia de Covid-19 alterou a rotina agitada comum à época de Carnaval, cancelado em 2021 para evitar aglomerações. Por essa razão, autônomos do Amazonas se viram sem perspectivas econômicas com o cancelamento da principal fonte de renda ligada à folia.

Para os foliões, o período carnavalesco promete diversão ao lado de amigos e familiares. Mas, não é só isso. A festa marca um dos períodos de maior obtenção de renda de artistas e trabalhadores, que se desdobram para abrilhantar os eventos, que a pandemia, contudo, interrompeu.

Um dos afetados pela medida foi o carnavalesco Fabiano Fayal, que há 20 anos costumava ver o ateliê bem movimentado na época. Ele, que também é aderecista de carros alegóricos e coordenador da escola de samba Mocidade Independente de Aparecida, enfrenta incertezas.

Raimunda Lira Porto é vendedora de bebidas em blocos de rua há 15 anos e afirma que o período carnavalesco costuma ser a época mais lucrativa do ano. “Quando a festa é boa, dá para tirar R$ 800. No fim do Carnaval, a gente chega a lucrar de R$ 1 mil a R$ 15 mil”, afirma a autônoma.

“Hoje, estamos sem perspectiva financeira e o futuro é incerto. Já estou cogitando a possibilidade de mudar de profissão.

No entanto, todos os caminhos possíveis estão complicados”, destaca Fayal.

Porto ressalta que foi preciso encontrar outras fontes de renda. “Eu estava fazendo limpeza, mas agora com tudo fechado ninguém chamou mais. Eu faço empada e bolo, vou pela rua vendendo e dá para tirar o do pão. Esse mês de janeiro paguei o meu aluguel na graça de Deus, porque tive amigos que me ajudaram”, disse.

INCERTEZA Atualmente, o carnavalesco luta para sustentar a família com o faturamento escasso da produção de confecções. “Até isso deu uma parada, porque as pessoas não têm dinheiro para fazer roupa. Para você ter ideia, estou sobrevivendo com a ajuda do salário da minha esposa e da minha irmã, porque a minha renda foi totalmente comprometida”, reforça.

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FALTA DE APOIO Bel Costa trabalha há dez anos com alegorias de carnaval das agremiações carnavalescas de acesso e especiais, e também coordena junto ao esposo Itamar Marinho o barracão da escola de samba Andanças de Cigano. Com a pandemia, a única ren-

da foi interrompida e, agora, a família precisa encontrar outras formas de sustento.

“Eu resolvi fazer máscara e tiara para os meus familiares e vendi bastante. Investi um dinheiro em roupas de academia para vender, não deu muito certo, porque, até hoje, tenho um dinheiro para receber.

Também estou vendendo bonequinhos de feltro, fazendo curso de maquiagem, porque quero me aprimorar. Tento me virar de todas as formas”, destacou a artista.

A autônoma reforça que considera o cancelamento das festas necessário para evitar as aglomerações, mas destaca que é preciso mais apoio do poder público para os artistas e profissionais da cultura. “Não é momento de festa e o Carnaval é uma festa popular, tem que ter aglomeração”, reforça a artista de forma consciente.

CARNAVAL CANCELADO O Carnaval estava previsto para começar em 13 de fevereiro e se estender até o dia 17 do mesmo mês, mas foi cancelado no Brasil. O ponto facultativo do feriado também foi cancelado nos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Santa Catarina e Sergipe.

Em meio à grave crise sanitária, o Carnaval foi cancelado no Amazonas e em outros estados do Brasil 61

ENTRETENIMENTO & CULTURA

Show de solidariedade Palco de grandes espetáculos, Teatro Amazonas abre as portas para campanha de doações a artistas Mencius Melo – Da Revista Cenarium

REVISTA CENARIUM

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ANAUS – O majestoso Teatro Amazonas, localizado no Centro de Manaus, tornou-se o ponto de referência da solidariedade, abrigando doações de cestas básicas para uma das classes mais atingidas pela pandemia: a dos artistas.

São “ aproximadamente

O “Alimente Nossa Arte” foi idealizado pela Academia Amazonense de Música (AAM), em março de 2020, e retorna em 2021 para dar apoio à categoria artística. Os interessados podem doar das 9h às 17h, de segunda a sábado, com entrega pelo portão da lateral do teatro, na Rua 10 de julho, respeitando todas as normas sanitárias.

14 mil artistas no Estado e somente na Academia Amazonense de Música existem mais de 1.600 cadastros”

De acordo com o presidente da Academia Amazonense de Música, Josenor Rocha, o volume arrecadado durante toda a campanha, em 2020, no Amazonas foi de 2.650 cestas básicas. Parece muito, mas não foi o suficiente para dar suporte à realidade dos trabalhadores da arte do Estado.

Josenor Rocha, presidente da Academia Amazonense de Música.

“Ajudamos somente a capital, pois não conseguimos suprir sequer Manaus para poder encaminhar doações ao interior”, lamentou Rocha, que revela o volume de profissionais estagnados. “São, aproximadamente, 14 mil artistas no Estado e somente na Academia Amazonense de Música existem mais de 1.600 cadastros em diversas categorias”, informou.

CONTRAPARTIDA Os organizadores explicam que os empresários que fizeram doações podem ter uma contrapartida dos artistas.

A ideia é formar parceria com os diversos segmentos. “Para os que desejam contribuir, os artistas montaram um plano de contrapartida, com shows, vídeos institucionais ou locuções, dependendo da quantidade de cestas básicas doadas”, explicou Josenor.

Além das cestas básicas, existem também canais para o recebimento de doações monetárias. “A solidariedade se estende para quem quiser fazer doações em dinheiro por meio do PIX ou via PayPal”. Para saber mais das ações da campanha, o público pode acessar o Facebook ou Instagram da iniciativa.

DOAÇÕES As doações em dinheiro podem ser feitas por meio do PIX da Academia Amazonense de Música (AAM), no CPNJ 33.638.155/0001-07 ou via PayPal no e-mail alimentenossaarte@gmail.com.

Outras informações podem ser obtidas com Milena di Castro (92) 98437-6322 ou 98113-7191 (somente WhatsApp), ou Josenor Rocha (92) 99178-8999.

Como ajudar?

Doação em dinheiro Por meio do PIX da Academia Amazonense de Música (AAM) CPNJ 33.638.155/0001-07 Via PayPal no e-mail alimentenossaarte@gmail.com

O Teatro Amazonas tem sido um ponto de entrega de doações de cestas básicas para os artistas

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Crédito: Janailton Falcão - Amazonastur

Outras informações Milena di Castro (92) 98437-6322 ou 98113-7191 (somente WhatsApp) Josenor Rocha (92) 99178-8999

Doação de Alimentos As doações podem ser entregues das 9h às 17h, de segunda a sábado, com entrega pelo portão da lateral do teatro, na Rua 10 de julho, respeitando todas as normas sanitárias.

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ENTRETENIMENTO & CULTURA

REVISTA CENARIUM

Saberes e sabores

Crédito: João Paulo Guimarães

Reconhecimento e planos

Chef Zena e a busca pela alimentação saudável na gastronomia nativa da Amazônia João Paulo Guimarães – Da Revista Cenarium

A

LDEIA JAUARITUBA, RIO TAPAJÓS – No III Encontro Tupinambá dos Povos Ancestrais do Tapajós, me tornei amigo de um verdadeiro chef representante da gastronomia indígena brasileira, Zena do Carmo, que possui ancestralidade no povo Parintintins. Ele contou como a culinária interage com o que a natureza oferece de melhor à cozinha nativa e ao homem branco, que anseia por uma alimentação mais saudável e, consequentemente, mais natural. Apresento a vocês, chef Zena de Santarém.

Zena do Carmo é descendente da etnia Parintintins do Amazonas e pertence à quarta geração provinda da mãe. Nas-

“

porcionar maior longevidade para a humanidade, fazendo com que doenças crônicas, vasculares e até o câncer sejam inibidas. Dessa forma, evitando superlotação dos hospitais”, detalha Zena.

O chef de Santarém possui reconhecimento nacional e internacional pelo trabalho desenvolvido na gastronomia nativa, sendo premiado no EnchefsPará em 2019, pelo segundo lugar em concurso de gastronomia, realizado em Belém do Pará.

Ele também é embaixador da gastronomia nativa internacional no Brasil, título recebido da França; bem como o prêmio “Destino de La Carta”, recebido da Espanha. Além disso, foi

diplomado como delegado regional da gastronomia brasileira, título concedido pela “Chefs Associados de Latino America y el Caribe”.

Nos planos do chef Zena do Carmo estão a abertura de seu restaurante em Santarém e uma viagem neste ano para Tóquio, no Japão, como chef convidado de um grande evento culinário o qual ele prefere manter ainda em segredo.

Chef Zena explica que o grande potencial da gastronomia nativa está no uso de produtos 100% naturais, sem agrotóxicos

A busca por uma saúde “perfeita” há muito tempo exerce uma forte tendência no mundo. Com isso, a não utilização de produtos industrializados se torna a principal característica e identidade da gastronomia nativa, que busca justamente mostrar à humanidade que é possível ter uma qualidade de vida e longevidade, por meio de uma alimentação baseada em produtos naturais.

“São conhecimentos deixados pelos

Usamos insumos 100% naturais e saudáveis, que fazem da nossa gastronomia uma explosão de aromas, sabores e saberes”

Zena do Carmo, chef de cozinha. cido na comunidade Cacoal, município de Monte Alegre, ele já trabalha há 20 anos com a culinária e há cinco, na gastronomia nativa.

“O potencial da gastronomia nativa está no uso de produtos naturais e saudáveis tirados da natureza sem uso de agrotóxicos. A vantagem dela é pro64

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nossos antepassados por gerações, há 150 anos, que consistem em técnicas de caça, armazenamento, preparos de pratos exóticos e afrodisíacos. Usamos insumos 100% naturais e saudáveis, que fazem da nossa gastronomia uma explosão de aromas, sabores e saberes. Esses pratos são nossa ancestralidade”, explica o chef.

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VIAGEM & TURISMO

REVISTA CENARIUM

Socorro ao turismo

Ministério do Turismo destina mais de R$ 8 milhões para apoiar promoção de destinos turísticos Com informações da assessoria

Os recursos devem apoiar as secretarias estaduais de Turismo na construção de campanhas promocionais tanto de rotas turísticas quanto de produtos regionais, com foco no turismo interno e de proximidade (curta distância) que, seguindo tendências mundiais, será um dos principais impulsionadores da retomada do turismo.

“Queremos que o setor de turismo, tão impactado pela pandemia, possa se recuperar e promover o seu turismo interno, seguindo todas as regras de biossegurança que garantam a proteção de turistas e trabalhadores do setor. O objetivo é promover o turismo interno, ou seja, Pernambuco para os próprios pernambucanos, Minas Gerais para os mineiros, mostrar a Paraíba para todos os paraibanos, e assim por diante”, destaca o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto.

Para receber os recursos, as secretarias estaduais de Turismo precisaram cadastrar propostas de promoção dos seus destinos internos até outubro de 2020.

Ao todo, o Ministério do Turismo recebeu 26 propostas, sendo que Alagoas manifestou não ter interesse naquele momento. Após análise e aprovação pela Secretaria Nacional de Desenvolvimento e Competitividade do Turismo que, em alguns casos, pediu esclarecimentos adicionais sobre os projetos, os contratos 66

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Para auxiliar na retomada de atividades do setor, de forma segura e responsável, o Ministério do Turismo lançou, em junho de 2020, o selo “Turismo Responsável – Limpo e Seguro”. Atualmente, o certificado já foi emitido por mais de 25 mil estabelecimentos turísticos do país, declararam aderir a protocolos de biossegurança contra a Covid-19 para proteção de turistas e trabalhadores do setor. A elaboração dos protocolos sanitários para 15 segmentos que integram o Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur) teve o apoio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A pasta também desenvolveu um conjunto de orientações a visitantes.

R$ 500 mil

Cada Estado pôde pleitear um apoio de até R$ 500 mil.

25 mil

O selo “Turismo Responsável – Limpo e Seguro”, criado em junho de 2020, já foi emitido por mais de 25 mil estabelecimentos turísticos

foram firmados no final de dezembro do ano passado.

“

A liberação dos recursos ocorrerá após apresentação de documentação ao Ministério do Turismo pelos gestores locais relacionada à publicação dos editais para produção das campanhas promocionais, obedecendo aos critérios estabelecidos na Portaria Interministerial nº 424, de 30 de dezembro de 2016.

Queremos que o setor de turismo, tão impactado pela pandemia, possa se recuperar e promover o seu turismo interno”

O secretário nacional de Desenvolvimento e Competitividade do Turismo, William França, afirma que a intenção foi democratizar o acesso aos recursos para todos os Estados do país. Por isso, cada Estado pôde pleitear um apoio de até R$ 500 mil. “Realizamos, no ano passado, uma videoconferência com todos os secretários estaduais de Turismo, por meio do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo (Fornatur), quando explicamos como os gestores estaduais poderiam apresentar propostas e se candidatarem a receberem os recursos e, desta forma, a iniciativa pudesse alcançar a todos”, conta.

Ministro do Turismo, Gilson Machado Neto.

CAMPANHA DE RETOMADA Para promover a retomada do turismo, com responsabilidade e segurança, o Ministério do Turismo lançou uma das campanhas mais abrangentes da sua história.

Com o slogan “Viaje com responsabilidade e redescubra o Brasil”, a campanha Retomada do Turismo foi lançada no dia 10 de novembro do ano passado e encerrou no dia 30 de janeiro deste ano. Contou com peças gráficas para cada uma das 27 unidades da Federação para a promoção de destinos. A campanha integrou o movimento retomada do turismo.

Crédito: Clóvis Miranda Amazonastur

B

RASÍLIA – Pela primeira vez em sua história, o Ministério do Turismo ofereceu apoio financeiro para a realização de ações de promoção de destinos turísticos brasileiros a todas as unidades da Federação de uma só vez. O resultado foi a assinatura de convênio com 16 estados e o Distrito Federal, totalizando um investimento de R$ 8,3 milhões.

Selo Turismo Responsável

O turismo é um dos setores mais impactados pela pandemia e o projeto de retomada do setor foca nas viagens internas

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REVISTA CENARIUM

POUCO A POUCO Parado em 2020, turismo terá retomada lenta e ligada à vacina Com informações da Folhapress

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ANAUS – De ano promissor para o turismo, 2020 se revelou um balde de água fria para o setor, que tem uma recuperação lenta e difícil de prever.

“Em março e abril, havia a perspectiva de que a pandemia acabasse em junho. Foram raros os casos de projeções de longa duração, que incluíam novas ondas”, diz Mariana Aldrigui, professora do curso de Lazer e Turismo da Universidade de São Paulo (USP).

Mesmo com o início da vacinação no mundo, viagens voltaram a se retrair com o registro na África do Sul e no Reino Unido de variantes mais transmissíveis de coronavírus. Mais de 40 países, incluindo o Brasil, proibiram voos com origem ou passagem pelo território britânico.

Segundo a entidade, em 2019, foram transportados 4,5 bilhões de passageiros.

Com a chegada da Covid-19 em 2020, esse número caiu para 1,8 bilhão, o equivalente a 2003. Em 2021, a recuperação deve ser parcial, com a projeção de 2,8 bilhões de passageiros.

O efeito severo também se deu na hotelaria, que chegou a ter quase 80% dos estabelecimentos fechados no país, entre março e a primeira quinzena de junho, de acordo com Manoel Linhares, presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih). “A hotelaria está vivendo de feriado e fim de semana prolongado. Enquanto não tivermos vacinação, o setor ainda vai sofrer”, afirma ele.

O trânsito de pessoas entre países não vai ser restabelecido com rapidez, afirma Trícia Neves, sócia-diretora da consultoria em turismo Mapie. “Podem vir outras incertezas. Está difícil falar em reabertura de fronteiras”.

Para especialistas e representantes da área, é difícil fazer previsões para o turismo em 2021, depois de um ano com tantas oscilações. Mas, a retomada está atrelada à administração dos casos de Covid-19 com a chegada dos meses de alta temporada e com o calendário de imunização, diz Mariana Aldrigui, da USP.

A percepção também pode ser vista em números do setor aéreo, que teve o maior impacto negativo desde a Segunda Guerra Mundial, diz Dany Oliveira, diretor-geral da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) no Brasil.

De um lado, o começo da vacinação deve aquecer reservas. Por outro, muita gente pode adiar os planos de viajar com medo de que cidades proíbam repentinamente a entrada de visitantes, em decorrência do aumento de casos de Covid.

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Veja como a pandemia impactou o turismo em 2020 e como deve ficar o setor no ano que se inicia: VIAGENS INTERNACIONAIS E CORPORATIVAS EM BAIXA O mercado aéreo internacional deve continuar sendo muito impactado em 2021, já que as regras de quarentena e a dificuldade de voltar para casa, em caso de imprevisto, podem assustar turistas. No mercado doméstico brasileiro, é esperado que a demanda de passageiros seja semelhante à de 2019, diz Dany Oliveira, da Iata. Já nas viagens corporativas, Neves, da Mapie, prevê uma redução permanente. “Ninguém mais vai atravessar o país só para fazer uma reunião”.

NOVAS OPORTUNIDADES PARA DESTINOS BRASILEIROS Turistas devem seguir usando a restrição a viagens internacionais para conhecer melhor o próprio país. “Mas, os destinos têm de fazer sua lição de casa para que os viajantes continuem interessados pelo Brasil. Isso é um papel de todos os estados e do Ministério do Turismo”, diz Magda Nassar, presidente da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens). As atrações nacionais também precisam de mais serviços e experiência, diz Neves. Para ela, um exemplo bem sucedido é Gramado, no Rio Grande do Sul, que tem não só opções ligadas à serra, mas também parques temáticos e um calendário de eventos.

TECNOLOGIA PARA GARANTIR CONFORTO E CONTROLE SANITÁRIO Usados como reforço em protocolos de segurança, avanços como check-ins digitais e aplicativos de hotéis não devem retroceder. “Em um ano em que resolvemos tanta coisa por celular, esse movimento se reflete em outras experiências.

Você não quer mais esperar na fila de hotel”, diz Neves. Além disso, a tecnologia faz parte de uma discussão sobre a adoção de passaporte sanitário para viabilizar viagens. O documento também poderia ser usado para acessar restaurantes, hotéis e atrativos, diz Mariana Aldrigui, da USP.

“

Podem vir outras incertezas.

Está difícil falar em reabertura de fronteiras”

CONTINUA A PROCURA POR LUGARES MAIS ISOLADOS A tendência de buscar destinos mais afastados, com abundância de natureza e ar livre deve continuar em 2021. A depender do calendário de imunização, muitos escritórios e escolas podem oferecer alternativas à distância, que permitam deslocamento da residência para espaços menos urbanizados, no interior ou no litoral, diz Neves, da Mapie. Outra modalidade que também deve se fortalecer é o turismo de fim de semana. Essas viagens curtas, feitas de carro, podem oferecer uma maior sensação de segurança.

Trícia Neves, sócia-diretora da consultoria em turismo Mapie.

O turismo é um dos setores mais impactados pela pandemia e o projeto de retomada do setor foca nas viagens internas

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Crédito: Marcello Casal Jr. | Ag Brasil

VIAGEM & TURISMO

ARTIGO – GABRIEL ARAÚJO

Crédito: Divulgação

Como montar meu negócio próprio dispondo de pouco dinheiro para marketing Gabriel Araújo*

O

espírito empreendedor está cada vez mais presente na vida do brasileiro, que faz de tudo para sair do emprego tradicional e realizar o sonho de ser dono do próprio negócio.

quer começar um negócio próprio e não dispõe de poder de investimento alto.

De acordo com o último levantamento realizado pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM), com apoio do Sebrae, em 2019, estima-se que existam um total de 53,4 milhões de brasileiros à frente de alguma atividade empreendedora, envolvidos na criação de um novo empreendimento, consolidando um novo negócio ou realizando esforços para manter um empreendimento já estabelecido.

Decida quais produtos e/ou serviços serão oferecidos, levando em consideração a análise de mercado e a lei da oferta e procura.

Com a crise econômica causada pela pandemia do Covid-19, a tendência é que mais pessoas comecem a empreender. A grande questão é que toda atividade empresarial necessita de Marketing para sobreviver e crescer, e muitos têm a ideia equivocada de que Marketing é algo só para grandes empresas.

Na verdade, qualquer negócio de qualquer tamanho precisa de um trabalho de Marketing, por isso listei 8 pontos importantes a serem seguidos para quem

Defina quem será seu cliente. É crucial, antes de qualquer coisa, saber quem comprará seu produto ou serviços.

Escolha o nome fantasia que dará ao negócio e providencie a criação da marca. Uma boa marca contribui significantemente para o empreendimento.

O próximo passo é definir os preços a serem praticados na venda dos produtos ou serviços e as formas de pagamento (variedade nas formas de pagamento são muito importantes). Não esqueça que a precificação deve ser baseada na realidade do mercado e do público-alvo, levando em consideração a concorrência.

Preços definidos, agora planeje as promoções que fará nos diversos cenários. O objetivo é saber o seu limite, caso seja necessária uma estratégia promocional agressiva.

Em seguida, defina como vai divulgar seu novo negócio, que ferramentas uti-

O MUNDO DE OLHO NA AMAZÔNIA

lizará e qual valor dispõe para fazê-lo, lembrando que o valor gasto em propaganda não é uma despesa, é um investimento necessário. Comece investindo pouco, mas comece.

Existem opções mais baratas e extremamente eficazes, como por exemplo: o uso das redes sociais.

A logística é um ponto extremamente importante. É preciso alinhar como o produto ou serviço chegará ao cliente.

Em quanto tempo e de que forma.

Produto e/ou serviço vendido, agora é hora do pós-venda. Estabeleça estratégias de fidelização do cliente e captação de um banco de dados para futuras novas tentativas de venda.

O empreendedorismo faz bem para a economia do país, gera mais empregos e renda, por isso destaco que se você tem uma ideia de ter o próprio negócio, siga as diretrizes e tenha coragem para fazê-lo. (*) Gabriel Araújo, profissional de marketing estratégico, político e branding.

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