Mostra de Cinema Árabe Feminino // Catálogo

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Tradição e afeto em “Uma substância mágica flui em mim”, de Jumana Manna ANA FRANÇA

Uma gravação de 1936 abre o filme Uma substância mágica flui em mim, de Jumana Manna. É Robert Lachmann, um musicólogo judeu alemão que se dedicou ao estudo dos cantos orientais - árabes e judeus - e manteve um programa de rádio na Palestina com seus achados. Fez expedições no norte da África, gravando e documentando cantigas do Marrocos, Palestina, Tunísia, entre outros países. Ele convidava, uma vez por semana, comunidades que encontrava em suas viagens para tocarem ao vivo em seu programa. Em uma conversa com um judeu curdo, Jumana Manna nos fala sobre Lachmann e sobre seus trabalhos enquanto, de pé na cozinha, saboreiam Mkhalal, um prato em conserva típico da região. Minutos depois, sobre fotos de Lachmann, de grupos musicais e de instrumentos, ainda na voz de Jumana, compreendemos uma das teses do musicólogo radialista: alguns grupos árabes, especialmente aqueles pertencentes a classes abastadas, que tiveram a chance de conhecer as casas de ópera do continente europeu, se dizem reformistas. Eles acreditam que os tempos mudaram e pedem um novo tipo de música árabe. No lugar do “novo”, porém, obtém-se o híbrido, que não é do Oriente, tampouco do Ocidente. Segundo Lachmann, é preciso encorajar uma produção local de música pura e genuína. A diretora faz como seu próprio personagem: anda pelos territórios e convida alguns grupos ao canto, passeando pelo que há de tradicional e o que há de novo na música, nas paisagens, na cultura, nos espaços. Dispersos em áreas rurais e urbanas, judeus curdos, judeus marroquinos, samaritanos e


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