Flávio Siqueira - O Éden

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••ÉDEN••

– Por que se mostrou a mim? – Ed, a questão é que agora você consegue me ver. Eu nunca deixei de me mostrar a você ou a ninguém, de várias maneiras, nas mais diversas formas. Você só não conseguia ver. Sua alma estava intoxicada, sua mente blindada pela culpa e pelo medo. Mas você visitou seu Éden, reviu seus fantasmas, lidou com a sensação de que estava separado de mim e lhe fazia pensar que necessitava de intermediários que refizessem a conexão. Pois bem, estava enganado e agora pode me ver. – Vou continuar podendo lhe ver sempre? – Sempre que seu ponto de partida for o amor e olhar para o próprio caminho como quem enxerga um presente, sempre que mantiver seus olhos de criança, como quem absorve a vida com simplicidade, sempre que for assim me verá. Não será necessariamente como nesse momento, mas saberá que estou perto. Quem enxerga em amor, esse me vê. Ed apenas sorriu. Estranhamente não havia mais perguntas. – Quem me vê, viu o que precisava ver. Os que são meus me reconhecem e ouvem a minha voz, onde quer que esteja, saia de onde sair. Primeiro uma música suave.

Como o sol que se põe sem que a gente perceba ou a Terra que gira pelo espaço sem nos dar tontura, um som rasgou o silêncio. Veio aos poucos, embalando o sonho, fazendo-se perceber sem pressa, dando consistência ao vazio, alterando o ritmo do mundo sem cores e confuso que lentamente ia ficando lá atrás. Quando o ritmo muda, muda tudo. Tons agudos, quase sem melodia. O caminho de volta a consciência anunciando que o sono acabou.

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