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morro e canta os hinos funks da rebeldia, acabando com a tese da luta de classes. É uma luta muito maior. A este segmento é classificado de “rebeldes sem causa”, mas há uma causa que a sociedade não sabe responder porque não tem parâmetros para compreender os enormes desafios do Terceiro Milênio. Paulo Freire detestava o intelectual arrogante. Para ele, o intelectual de direita já era por convicção arrogante, mas o de esquerda erra por “deformação”. “Nem a arrogância é sinal da competência, nem a competência é causa de arrogância. Nem nego a competência, por outro lado, de certos arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que, não diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente mais gente”. Paulo Freire. O simples não se opõe ao concreto e ao complexo. Uma definição do povo brasileiro que odeia a intelectualidade pelo ar de arrogância, que levava a mãe da ministra Marina da Silva a obrigá-la a falar errado para “não ficar besta”. A busca pela linguagem do coração. A teoria do conhecimento de Paulo Freire reconhece que o ato de conhecer e de pensar estão diretamente ligados à relação com o outro. O conhecimento precisa de expressão e de comunicação, afirmava. Ele já intuía que a nova educação passaria ser o planeta porque haveria o entendimento que a Terra se tornaria o endereço comum. O novo paradigma educativo fundase agora na condição planetária da existência humana. Neste ambiente de tubarões e ideologias, o Brasil tem muito a contribuir. Digo mais, a ser a voz do milênio. E ele já está começando a pensar pela própria cabeça. Outro dia li uma reportagem com a família Marinho dizendo que a empresa vai ser familiar e protegendo setores estratégicos, contrariando as normas do neoliberalismo que havia adotado. Na foto, os irmãos abraçados para representar unidade de pensamento, o maior valor agregado. O Roberto Irineu reconhecia na reportagem que o Boni, colocado na geladeira pela ótica neoliberal, apesar de ser um brasileiro à frente de seu tempo, já pensava em programa interativo, como o “Você Decide”, antes de se falar em TV digital. Só não citou que as organizações Globo quitaram a sua dívida externa devido ao baixo valor do dólar, mas reconheceu que o povo brasileiro produz o melhor “Big Brother” do mundo e por aí vai, devido à enorme criatividade. Brasil, o desafio é a nossa energia. Este país de Macunaíma, o esperto, errante como o universo em caos, amante do anarquismo, terá a sua vez até porque o Ocidente começará a ficar preocupado do capital se deslocar para o Oriente com o fortalecimento da China, da Índia e da Rússia. Em algum momento, terá que haver um balanceamento que favorecerá o investimento maciço no Brasil. Será a fome com a vontade de comer e os políticos sabem disso. Os pecadores brasileiros serão exaltados porque

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EDIÇÃO 57 [OUTUBRO] p a r a m a i s . c o m . b r

o Brasil verá que eles só se anteciparam a um mundo movido pelo pecado onde o dinheiro será o diferencial, a periferia não terá valor e onde o direito à vida será assegurado apenas aos fortes. O maior exemplo é Jean Charles de Menezes, vítima das mesmas execuções de outros brasileiros esquecidos. Os pecadores são o chamamento para o entendimento da opressão, a massa, a criação de tempos que oprimia Leonardo da Vinci, entendido apenas 300 anos depois. Um tempo convivendo com outros tempos em busca do fim dos tempos, a unidade. Ganharemos o mundo porque teremos o melhor argumento, a regeneração do pecador, na prática, sem a influência do fariseu, a ideologia, que cria a lei para ser desrespeitada pelos fortes. O pecador que defende a tese do erro para ganhar a vida. A descoberta da massa para entender a beleza ou a dureza da alma que move os cinco sentidos e cria o céu e o inferno, apenas metafísica do ser humano, moldado pelas próprias mãos dos homens. A beleza é o maior valor agregado e é por ela que as águias se movem. A beleza da multiplicação de peixes é o seu maior desafio porque a dos pães promove a distorção e a opressão. O Brasil demonstrará a equação da inclusão social, não feita pelos fariseus, a teoria, mas na prática, a realidade. Vivenciada. Entendi a elite de meu país a partir da desvalorização de sua própria moeda: a realidade do homem. Era muita areia pro caminhão se ainda somos o Didi Mocó, os trapalhões. Mas a própria dinâmica dos fortes levará o povo brasileiro a pensar pela própria cabeça. Como dizia o profeta Raul Seixas: “Todo sonho sonhado por todos vira realidade”. Mas que sonho e que doutrina sem antes não fizermos a pergunta: “Quem somos nós?”. Tema de um filme à frente de seu tempo, mistura de ficção e realidade para nos mostrar que a realidade, da forma como a percebemos, é ilusória, porque nós assim a criamos, mas que podemos mudá-la. A física quântica demonstra que matéria não é sólida como pensamos e sim etéria e mutável e com nossos pensamentos podemos alterá-la. E que podemos ter controle sobre nosso corpo, as doenças e as emoções, pois temos o livre-arbítrio para escolher a realidade em que queremos viver e assim alterar nossas vidas. Um mundo ainda binário, movido pelo sim e pelo não. A incerteza que leva ao medo do desconhecido. Apenas um campo das possibilidades. o autor é Jornalista


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