Mídias Sociais e Eleições 2010

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Mídias Sociais e Eleições 2010 de um objeto pelo outro, sem dar transparência (a outras possíveis relações) visando que o indivíduo - por exemplo, no caso de uma publicidade - seja levado a desconsiderar, o caráter de utilidade/instrumentalidade de um bem, ou de um produto, de um candidato ou de um interesse a ser reivindicado. Esse sistema que não é puramente racional, mas resultado também de atividades do psiquismo e é consubstanciado em práticas e reconhecido por seus sintomas e na sua experimentação. Permite caracterizar diferentes manifestações sócio-culturais, tais como a cultura política e o comportamento eleitoral. E permite perceber que não é só a dimensão difundida pelas mídias e a lógica do valor-signo (marketing) que é determinante para um dado juízo ou escolha. Dentro deste contexto, quais fatores estariam influenciando o eleitorado no período de 2010? Desde a reeleição de 2006, o enfoque para as realizações de governo de Lula (avaliação de governo e políticas públicas) havia tomado conta das referências do eleitorado.

Não é acertado tomar a vitória de Lula em 2006 somente em função de sua imagem como candidato e sua força simbólica. Lula venceu, sobretudo e também, pela avaliação positiva de seu governo, baseada na percepção de ganho que esta traduzia para uma parte da população brasileira (relação de uso = fruição de políticas públicas e relação de troca = melhor rentabilidade dos ganhos). Ocorre que este processo, depois de 2006, se alargou, alcançando, por meio de políticas de crédito (sobretudo habitacional), parte da classe média.

Serra estava diante de um dilema. Não poderia criticar diretamente ao governo Lula. Ao mesmo tempo, tinha o desafio de se apresentar como uma continuidade, sendo adversário direto do governo. Ademais, deveria evitar uma demasiada racionalização do eleitorado em seu discurso, vez que esta levaria a duas conseqüências: a um comparativo mais cuidadoso de políticas de governo (PT x PSDB, Lula x FHC – avaliação de governo comparativa) e denotaria a característica sisuda e séria do candidato tucano. A análise do comportamento de campaÉ por isso, que Dilma Rousseff detinha nha dos dois candidatos traduz este panoenormes chances de vencer, ainda que fos- rama. Vejamos o comparativo abaixo: se, de início, desconhecida pela maior parte do eleitorado. A relação simbólica da figura • Quanto as Políticas Públicas (categoria de Lula estava intrinsecamente relacionada à de longo e médio prazo): dimensão de uso e troca que favoreciam um juízo racional, prospectivo e economicista A campanha de Serra, em televisão e na ao eleitorado. A tarefa de Serra neste con- internet, buscou enfocar: continuidade texto era muito difícil, ainda que iniciasse em prospectiva, traduzida no discurso genéprimeiro lugar nas intenções de voto, já que rico do avanço, de que se pode fazer mais era uma figura conhecida de outros pleitos, com um candidato experiente (discurso já que tanto mais Dilma ficasse conhecida e subjetivo); e uma abordagem objetiva que fosse apresentada como figura chave desse apontava determinadas políticas similaprocesso de ganhos, o cenário se inverteria. res do governo FHC ou do governo do

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